Capítulo Sete

DE VOLTA A HOGWARTS

Os últimos dias na Toca passaram rápido de mais para o gosto de Harry, e quando ele menos esperava, já estava arrumando todas as suas coisas para pegar o Expresso de Hogwarts no dia primeiro de Setembro. Harry conversara bastante com Rony durante esse tempo sobre o livro que ganhara de seu padrinho. A possibilidade de tornarem-se Animagos era mais que apelativa. Eles iriam tentar quando estivessem em Hogwarts, e fossem permitidos a usar magia, isso já estava decidido. O que ainda não estava certo era se Hermione deveria ou não ficar sabendo de seus planos.

 - Ela é monitora esse ano! Você lembra do Percy quando foi monitor? Ela não vai deixar a gente fazer nada...

Por mais que Harry tentasse achar uma saída, os argumentos de Rony pareciam mais fortes e convincentes que ele. Principalmente o último:

 - Além do que, se ela concordar e aceitar, mas algo der errado e nós formos descobertos, ela vai perder o distintivo... Imagina o quão arrasada ela vai ficar por ser proibida de der monitora...

Harry balançou a cabeça tristemente lembrando das várias conversas que ele e Rony tiveram sobre esse mesmo assunto. Não parecia certo deixar uma de suas melhores amigas fora disso, mas ao mesmo tempo, parecia ser o mais certo deixá-la sem saber para protegê-la. Com um suspiro, Harry terminou de pôr seus pertences no compartimento de bagagens ao alto de seu assento, no fundo do trem que o levaria de volta a Hogwarts.

 - Ô Harry? Tem menos gente nesse trem, ou é só impressão minha?

Agora que Rony mencionou, Harry percebeu, também, que tinha mesmo menos gente. Dessa vez, eles não tiveram problema algum para achar uma cabine vazia, provavelmente porque além da deles, várias outras também estavam.

 - É mesmo, Rony. Por que será? Impossível que toda essa gente tenha se atrasado pra pegar o trem...

Hermione entrou na cabine naquele instante, e sua expressão não era a que Harry e Rony anteciparam. Ela estivera até agora na primeira cabine, no começo do trem, numa reunião de monitores. Os meninos achavam que quando ela voltasse, estaria feliz, e cheia de segredos que não poderia contar por ser monitora: bem ao melhor estilo Hermione. Mas não foi bem assim. Silenciosamente, ela sentou-se e olhou para a paisagem pela janela. Rony olhou para Harry confuso, e Harry deu com os ombros. Ele é que não tinha idéia do porquê da tristeza de Hermione. Rony voltou-se para a amiga:

 - Tá tudo bem, Mione?

Hermione suspirou e virou-se de frente para os dois amigos.

 - Vocês estavam perguntando por que que tem menos gente esse ano?

Harry balançou a cabeça confirmando e Rony olhou para Hermione ainda mais confuso.

 - Os monitores-chefe falaram pra gente por que que tem menos gente esse ano. O Dumbledore os avisou para que não ficassem surpresos. Parece que muitos dos pais não querem que seus filhos voltem a Hogwarts.

Rony franziu as sobrancelhas, e Harry logo perguntou por quê. Hogwarts era a melhor escola de bruxaria do Reino Unido. Talvez até do mundo! Por que alguém não gostaria que seu filho a freqüentasse?

 - Porque, Harry, eles estão com medo... Uns não querem se separar de seus filhos porque sabem que Voldemort voltou. Outros estão saindo da Europa pelo mesmo motivo. E alguns... – Hermione fez uma pausa e respirou fundo. Olhou para o Harry séria, mas ainda assim com algo como pena e tristeza em seus olhos. – Alguns acham que Dumbledore é o culpado pelo que aconteceu com você no ano passado... Eles acham que Dumbledore falhou, e estão com medo que a próxima vítima seja um de seus filhos. Ninguém quer o mesmo destino de Cedrico...

Harry abaixou a cabeça e suspirou triste. De fundo, ele ouviu Rony protestar: "Mas o Dumbledore não tem culpa!". Apesar de concordar com o amigo, Harry não estava mais com ânimo para conversas. Aquele sentimento de culpa que sentira durante quase toda as suas férias ainda o assombrava de vez em quando. Se ao menos eu não tivesse insistido pro Cedrico pegar a taça comigo... Essa era a frase mais repetida para si mesmo durante esses momentos. E Harry sentia que esse era mais um deles. Com a cabeça latejando, ele virou-se para a janela, e ouvia, mas sem prestar atenção, a conversa de Rony e Hermione ainda sobre esse assunto.

Então era por isso que o trem estava tão vazio... Os pais de alunos estavam com medo. E Harry nem podia deixar de concordar com a lógica de alguns deles. Ele estava lá quando Voldemort voltara a um corpo físico. Foi o seu sangue que possibilitara essa volta. A população mágica tinha todo motivo para estar com medo. Harry mesmo estava com medo da possibilidade de a qualquer momento o Voldemort aparecer, e matar alguém querido para ele. Se o choque de ver Cedrico morrer já foi tão grande, Harry não conseguia nem imaginar se suportaria ver alguém que ele ama morrer pelas mãos ou ordens do mesmo homem que matara seus pais.

Naquele instante, a porta da cabine onde os três estavam abriu mais uma vez, e torcendo para que não fosse o Malfoy – Draco era a última pessoa que Harry gostaria de ver naquele momento – Harry tirou seu olhar da janela para ver quem era.

Não era o Malfoy – para sorte de Harry – mas sim a Gina, que estava tão triste que Harry podia jurar que ela estava contendo as lágrimas. Na hora que ela entrou, Rony nem deixou a menina dizer uma palavra sequer. Logo já estava na sua frente com suas mãos nos ombros dela.

 - Que houve Gina?

Gina olhou para o irmão, balançou a cabeça, e forçou um sorriso.

 - Nada demais, Rony. Eu posso ficar aqui com vocês?

Hermione olhou para a menina mais nova e na hora respondeu um: "Claro!". Depois que Gina estava sentada, Hermione olhou para o Rony como se estivesse perguntando o que ele acha que acontecera. Rony simplesmente balançou os ombros e chacoalhou a cabeça. Ele também não tinha nem idéia.

Harry que estava sentado do lado da janela, olhou para a menina que se sentou à sua frente e que agora olhava também a paisagem. Resolveu arriscar e perguntar:

 - Aconteceu alguma coisa, Gina?

Gina levantou a cabeça e, quando viu que todos os três olhavam para ela, involuntariamente, uma lágrima escapou de seu olho. Na mesma hora, Rony sentou do seu lado, e passou o braço nos ombros da irmã. Gina encostou a cabeça no ombro dele e começou a falar:

 - Eu não recebi resposta da Melanie, minha melhor amiga, nas últimas semanas de férias. O Píchi sempre voltava com as cartas que eu mandava. No começo, eu achei que ela pudesse ter viajado, ou coisa assim, mas ela também não apareceu na plataforma hoje. – Gina respirou fundo e mais lágrimas escorreram de seus olhos. – Eu fui perguntar se alguém sabia onde ela tava, e aí a Diana me disse que a família da Melanie tinha sido atacada durante as férias... Ninguém sobreviveu! Só se sabe quem foi por causa da Marca Negra que ficou horas em cima da casa deles!

Gina agora não segurava mais as lágrimas, e estava chorando no abraço do Rony, que estava cada vez mais preocupado com a irmã. Harry olhava aquela cena atônito. Agora mesmo ele estava pensando o que faria se alguém de quem ele gostasse morresse... Gina devia estar arrasada. Harry olhou para os seus amigos e se perguntou o que ele faria se Rony ou Hermione morresse.

Gina esfregou os olhos e enxugou suas lágrimas. Ela olhou em volta e pediu desculpas, mas logo Hermione a interrompeu:

 - Que é isso, Gina! Nós somos amigos, não tem por que pedir desculpas...

Gina sorriu de leve, levantou-se, e ajeitou sua roupa. Hermione a abraçou e sugeriu:

 - Acho melhor a gente se trocar. Nós já estamos quase chegando – disse depois de uma rápida olhada pela janela. – Vamos, eu vou com você. Harry e Rony podem se vestir aqui.

Hermione deu um sorriso de encorajamento e de mãos dadas, ela e Gina saíram da cabine. Rony olhou para o Harry que ainda estava perplexo:

 - A melhor amiga dela morreu... – Harry sussurrou e Rony balançou a cabeça confirmando tristemente. – Eu não sei o que eu faria se você ou a Hermione morresse...

Rony olhou sério nos olhos de Harry e disse:

 - Vamos esperar que não chegue a isso.

Rony silenciosamente levantou-se, e vestiu o uniforme preto, seguido por Harry. Nenhum dos dois saberiam dizer quanto tempo passou enquanto ambos esperavam o trem parar. Harry e Rony não disseram mais nada um ao outro até chegar à estação de Hogsmeade. Estavam perdidos em seus próprios pensamentos e hipóteses. Não precisavam dizer nada: provavelmente estavam pensando as mesmas coisas.

Ao sair do trem, Rony passou o braço no ombro da irmã e sorriu pra ela. Gina sorriu de volta e eles, mais o Harry, direcionaram-se a uma carruagem para irem a Hogwarts. Esperaram por Hermione, que estava cumprindo suas primeiras funções como monitora: abrir as portas e guiar os alunos do primeiro ano até Hagrid. Logo, a carruagem ocupada por eles – que onde deveria ter cavalos para puxá-la, não havia nenhum – começou a andar e juntar-se às outras.

 - Gina?

A menina olhou para o irmão que estava tentando achar palavras de conforto para dizer, mas que, pelo visto, não conseguira encontrar nenhuma. Gina sorriu tristemente, e abraçou Rony que estava do seu lado.

 - Obrigada, Rony...

Rony levantou a cabeça confuso:

 - Por quê?

 - Por estar aqui quando eu preciso. Obrigada.

Harry, que estava sentado do lado da Hermione, e de frente para os dois irmãos, não pôde deixar de notar que Rony ficara avermelhado, mas que estava feliz pelo reconhecimento. Harry sentia-se um pouco desconfortável por presenciar uma cena que provavelmente era importante e pessoal, mas ele teve que confessar para si mesmo que apesar de tocante, essa cena também lhe proporcionava um sentimento de vazio. Seria bom ter alguém para confortá-lo daquela maneira. Alguém que gostasse dele incondicionalmente...

A viagem até o castelo seguiu em silêncio. Quando os quatro desceram da carruagem e entraram no salão principal, nenhum deles pôde conter um sorriso. Verdade que o castelo estava mais vazio, mas quando eles olharam as mesas decoradas, a cadeira na frente para os alunos do primeiro ano serem selecionados, e aquele teto que era enfeitiçado para refletir o céu, sentiram segurança, algo que só poderia ser proporcionado por aquele castelo.

 - Algumas coisas nunca mudam... – Harry disse baixinho, e só percebeu que tinha dito em voz alta, não só pensado, quando Gina respondeu:

 - Ainda bem...

Continua no Capítulo Oito...