Capítulo Oito

PROFESSORA E PROFECIAS

 - Eu queria dizer, Gina, que eu sinto muito... sobre a Melanie, e tal...

Harry estava indo para o Salão Principal, – era hora do almoço – e ao passar pelo corredor que levaria às escadas, vindo da Sala de Feitiços, encontrou Gina e uma menina a qual ele não conhecia conversando. Pelo uniforme, a menina era da Corvinal, mas Harry não podia ter certeza, porque assim que as viu conversando, saiu do meio do corredor, e escondeu-se atrás de armadura. Não era certo ouvir uma conversa que não lhe dizia respeito, mas Harry não queria atrapalhar. Era o segundo dia de aula, e Harry não pôde deixar de reparar que Gina só saíra de seu dormitório na Torre da Grifinória para ter aulas e comer. Harry não sabia que Gina tinha amigos que não fossem da Grifinória, então se essa fosse um deles, ele não queria interromper. Talvez algum amigo conseguisse melhorar o ânimo dela.

 - Tudo bem, Jô... pra ser sincera, eu ainda não tô acreditando que ela tenha morrido. – Gina respirou fundo e abaixou a cabeça. – Eu sei que pode parecer meio infantil, mas eu tô fingindo que ela e a família dela só estão fugindo de Você-Sabe-Quem... Tantas pessoas da escola não vieram esse ano... Eu acho que, talvez, essa tenha sido a maneira que eu encontrei de não ter que lidar com isso...

Harry reparou que Gina levantou a cabeça e sorriu de leve para a amiga. Jô – aparentemente o nome dela – sorriu de volta e parecia estar também bem triste.

 - É, eu sei o que você quer dizer... Muitos dos meus amigos da Corvinal também não vieram... Dois inclusive do nosso time de quadribol. Esse ano, acho que a gente não vai ganhar nem uma partida.

Gina olhou curiosa para amiga, e Harry pôde perceber em seu olhar todo o gosto por quadribol que ele notara durante a semana que ficara na casa das Weasleys.

 - Quem do time que não veio?

 - O Michel Bunton e a Cho Chang.

Cho? Será que Harry ouvira direito? A Cho não viera esse ano para Hogwarts? Mas se ela não tivesse vindo, Harry repararia, não é? Ele não iria deixar passar um detalhe desse! Mas pelo jeito deixou, porque se ele não estivesse ouvindo essa conversa, ele nem notaria a ausência da menina que por dois anos foi sua "quedinha".

 - A Cho Chang não veio? Então vocês perderam a melhor jogadora do time...

 - É... uma amiga me disse que ela voltou pro Vietnã com a família dela. Acho que ela deve ter ficado muito chateada com que aconteceu com o Cedrico. Eles passaram o ano passado inteiro juntos...

Gina olhou para a amiga e suspirou tristemente. Harry também não pôde deixar de sentir arrependimento e culpa. Já era natural, toda vez que ouvia falar em Cedrico. Mas desta vez, ele tentou deixar isso para trás e, um pouco envergonhado de si mesmo por o estar fazendo, ele continuou a ouvir a conversa.

Gina agora havia levantado a cabeça e forçado um sorriso.

 - Você devia tentar entrar pro time. Você é uma boa jogadora.

Jô sorriu, e parecia aliviada pela mudança de assunto.

 - Vamos ver... – Ela sorriu e continuou. – Eu preciso ir Gina, tenho que pôr umas coisas em ordem. A gente se fala, tá bom?

Gina balançou a cabeça confirmando e disse tchau. Depois que a menina da Corvinal tomou seu caminho, Gina virou-se para ir em direção à escada, e Harry saiu de seu esconderijo.

 - Gina, espera!

Gina parou de andar e deu meia volta para ver quem estava lhe chamando. Harry notou a surpresa em seu rosto, mas logo Gina mascarou com um sorriso.

 - Oi, Harry.

 - Você tá indo pro Salão Principal?

Gina franziu as sobrancelhas e chacoalhou a cabeça num sinal afirmativo.

 - Ótimo, eu também. Vamos? – Gina olhou estranho para o Harry, e ele achou melhor começar a andar e puxar assunto para não criar um clima desconfortável. – Eu vi você conversando com uma menina. Sua amiga?

 Gina deve ter pensado que a idéia de Harry era boa, porque ela disfarçou o desconforto, e começou a conversar com ele como se fizesse isso com uma certa freqüência. Harry sentiu-se aliviado e agradecido.

 - Mais ou menos... eu brincava muito com ela quando a gente era menor, mas a gente perdeu o contato, e agora é como se ela fosse só uma conhecida.

Gina sorriu e os dois desceram as escadas em silêncio. Quando chegaram ao Salão Principal, foram em direção ao Rony e a Hermione, mas enquanto Harry parou para sentar-se, Gina continuou andando depois de um breve "oi" de reconhecimento para o irmão e a amiga. Na mesma hora, Harry virou-se, e mais uma vez chamou pela Gina. Ela olhou para ele, esperando pelo que ele diria, e Harry percebeu que ele mesmo não sabia bem ao certo o que queria dizer. Ele balançou os ombros e falou:

 - Ãh... senta com a gente...?

Hermione deve ter notado o desconforto dele, porque na hora ela acrescentou:

 - É Gina! Pra que sentar tão longe? Senta aí!

Hermione sorriu, e Gina, agradecida, sorriu de volta e sentou-se à mesa.

Enquanto comiam, conversavam sobre várias coisas, mas basicamente sobre suas aulas e lição de casa – que "o maldito do Snape passou no primeiro dia de aula!", como Rony colocou. Até que Jorge e Fred chegaram e sentaram-se ao lado do Harry, e o assunto passou a ser quadribol.

 - Escuta, Harry, a McGonagall falou que a gente tem que marcar uma reunião hoje à tarde, depois da última aula.

Harry balançou a cabeça concordando, e Fred interrompeu o irmão dizendo:

 - Eu tenho uma boa e uma má notícia. Que que você quer ouvir primeiro?

Harry balançou os ombros e disse:

 - Deixa a boa notícia pro final.

 - Ok. A má notícia, é que a gente tem dois jogadores a menos: além de substituir o Wood, nós vamos ter que substituir a Alícia Spinnet.

Harry olhou para os gêmeos confuso, e percebeu que não só ele estava interessado no que Fred estava dizendo. Rony, Gina e Hermione, também estavam em silêncio e esperando que ele continuasse.

 - É... a Angelina disse que os Spinnets saíram da Europa.

 - Mas a boa notícia, é que a gente já tem quase certeza de quem vai ser a substituta.

 - Ótima substituta, por sinal! – Fred interrompeu a explicação do irmão, e Harry se sentia num jogo de tênis, olhando de um gêmeo para o outro enquanto eles interrompiam e terminavam suas próprias frases.

 - Só vai depender da aprovação da McGonagall e do futuro capitão.

Os gêmeos sorriam e Harry estava curioso.

 - Vocês não estão falando da Gina, estão?

Dessa vez foi Rony que interrompeu, e Harry virou sua cabeça ligeiramente para trás para olhar para o amigo. George respondeu "claro!" com um sorriso que ia de orelha a orelha. Rony parecia indignado.

 - Vocês estão loucos! É muito perigoso! Imagina! Eu vou falar pra mãe essa idéia de vocês: aposto que ela não vai gostar nadinha!

Agora a indignada era a Gina, que bateu a mão na mesa com tanta força, que alguns pratos até quicaram.

 - Escuta aqui, Ronald Weasley. Quem você pensa que é pra dizer o que eu posso ou não fazer? Quantos anos você acha que eu tenho? Eu não sou mais uma menininha que você pode enganar e mandar fazer tudo o que você quiser. Eu não sei se você notou, mas eu já estou bem crescidinha pra saber o que eu devo ou não fazer.

Com isso, ela retirou-se da mesa pedindo licença para a Hermione e o Harry, e saiu furiosa do Salão Principal. Várias pessoas estavam olhando para o grupo boquiabertas depois da explosão da mais nova dos Weasleys. Harry não entendera nada do que tinha acontecido, e ao olhar para a Hermione, notou que ela, também, estava perdida.

De repente, Fred e Jorge começaram a bater palmas enquanto olhavam para o Rony. Harry olhou de sobrancelhas franzidas para a cena.

 - Parabéns, Roniquito! Você acabou de bater o recorde de "quanto tempo leva pra Gina virar uma fera?"! – Jorge disse sorrindo.

 - Mas eu não fiz nada! – Rony parecia aborrecido e perdido.

Fred e Jorge começaram a gargalhar e Fred disse:

 - É vai pensando assim. Talvez um dia você aprenda! – E com isso, os gêmeos deixaram a mesa, e todo mundo que estava olhando para eles voltou para suas próprias conversas percebendo que nada mais de interessante sairia dali. Rony olhou para o Harry confuso e disse:

 - Que que eu fiz? A menina que é doida, e a culpa é minha? Mulheres...

 - Ora, Rony, francamente! – Hermione disse e levantou-se indignada da mesa e tomou o mesmo caminho que Gina tomara antes.

 - Hã! Como eu disse: Mulheres!

Harry abaixou a cabeça e a balançou de um lado para o outro, rindo do amigo

 - Vamos, Rony! A gente vai se atrasar pra aula de Adivinhação...

Juntando suas coisas, Harry levantou-se e esperou por Rony que estava um pouco mais atrapalhado com seus livros, e demorou um tanto mais para aprontar-se. Enquanto isso, Simas – que provavelmente também estava a caminho da Sala de Adivinhação – parou do lado do Harry e falou baixinho para que Rony não ouvisse:

 - Ela disse que já tá crescidinha? Isso, eu acho que toda a população masculina do castelo já notou! Só os irmãos é que não percebem...

Com uma risadinha, Simas deixou Harry, que por algum motivo, não gostara nenhum pouco do comentário do colega de quarto. É verdade que a Gina tinha crescido, e que agora já era quase do tamanho do Harry – que ainda faltava um pouco mais para crescer. Verdade também que ela estava diferente – principalmente no corpo – impossível Harry não ter notado isso. Mas o Simas não tinha o direito de falar da Gina daquela maneira! Era como se ela fosse uma dessas meninas quaisquer, que o Simas vive tirando vantagem, e depois vem contar tudo para os outros meninos do quinto ano. Harry não entendia de onde vinha nem o que era esse sentimento de raiva pelo Simas, mas naquele momento, ele decidiu que era provavelmente porque ele estava "adotando" a Gina como irmã. O Rony está sempre protegendo a irmã, sempre com ciúme dela... Vai ver o Harry estava adquirindo alguns desses sentimentos do melhor amigo. É! Devia ser isso.

 - Ô Harry! Qual é? Você vai ficar parado aí o dia inteiro?

 - Ãh?

Provavelmente não foi a coisa mais brilhante que ele poderia ter dito, porque Rony caiu na risada, e puxando Harry pelo braço, os dois saíram do Salão Principal e foram para a Sala de Adivinhação para descobrirem de que maneira morreriam esse ano.

Quando estavam chegando à escada que os levariam ao alçapão, Rony virou para Harry e perguntou:

 - Preparado pra morcega velha?

Harry riu e subiu as escadas, e o cheiro da sala da Professora Trelawney, que podia ser sentido desde o começo do corredor, agora estava ainda mais forte. Harry chacoalhou a cabeça para trazer de volta seus sentidos, prometendo que um dia ainda descobriria o que era aquilo que o deixava tão tonto.

 - Boa tarde, queridos! Esse ano, como vocês já sabem, vocês farão os N.O.M.s.; aqueles que chegarem vivos até lá, isso é. – A Professora olhou com os olhos cheios de tristeza para o Harry, e o Rony murmurou: "já começou!" – E vocês devem estar bem preparados, porque é o futuro de vocês que vai ser escrito! E eu não vejo um futuro brilhante para alguns de vocês!

Dessa vez a vítima foi o Neville, que quando viu a Professora olhando para ele, engoliu seco e abaixou a cabeça.

 - Além de muitas outras coisas, esse ano a gente vai ver Profecias. É exatamente com elas que nós vamos começar. Abram seus livros... Profecias é uma ótima maneira de exercitar a visão do terceiro olho...

Rony chegou perto do ouvido do Harry e disse: "É! E já que o treino não deu certo pra ela, talvez ela esteja precisando de lentes corretivas pra esse olho!"

Harry riu do comentário, e Parvati e Lilá olharam feio para ele. Elas provavelmente eram as únicas que prestavam atenção a essa aula. Harry não conseguia entender como alguém podia gostar de uma matéria tão cheia de baboseiras... Esse ano então que as aulas de Adivinhação eram depois do almoço, Harry tinha sérias dúvidas se conseguiria manter-se acordado para ouvir o que a bruxa velha tinha a dizer. Teria que ter muito auto-controle para não ganhar detenções por dormir nas aulas de Adivinhação. Bom, talvez pudesse usar a velha desculpa de que os aromas da sala da Professora Trelawney inspiravam sonhos proféticos, e que Harry não conseguia resistir. Talvez ela caísse por mais um ano.

Bocejando, Harry começou a ler a profecia que Professora mandara ler em classe e trazer interpretada para a próxima aula.

"É órfão, sozinho e abandonado.

A esperança surge quando o descobre.

Seu futuro nos 4 e seu reinado

É descende da cobra, vira nobre.

Quando aquele do nome do medo

Procurar da cobra seu rival

No entre-mundos, final de enredo:

Cairá, encontrará seu igual.

Leão agora é órfão e sozinho, bendito.

Vira herói, o salvador do mundo,

Porque o raio marcou seu destino

Anos de paz após o choro profundo.

Será sempre reconhecido o menino,

Que derrotou a rival cobra num segundo."

Harry abria um sorriso enquanto lia a profecia, e Rony olhava para ele com cara de descrença.

 - Do que você tá rindo, Harry? – Rony sussurrou. – Isso aqui a gente não vai poder inventar. A gente tá perdido! Vamos repetir, e ainda em Adivinhação... Imagina a vergonha!

Harry riu baixinho da cara de desespero do amigo, que aumentava ao ver o Harry tão relaxado com toda a situação.

 - Rony, relaxa! Esse ano vai ser o mais fácil de todos em Adivinhação...

 - Você tá louco? Eu não entendo nada disso, e a Mione não vai querer fazer as lições pra gente!

Harry balançou a cabeça, trouxe o livro mais para perto e apontou a profecia.

 - Isso aqui, caro Rony, tá tudo bonitinho e explicadinho no livro que eu ganhei de aniversário do Hagrid!

Rony começara a entender o que Harry queria dizer com aquele comentário, e agora ele também sorria.

 - O Hagrid disse que tinha uma profecia falando de mim, e eu resolvi procurar uma noite em que eu não conseguia dormir. Era exatamente essa! E lá tá tudo explicado!

Harry e Rony começaram a rir – e por mais que a intenção fosse rir baixo – ambos receberam olhares feios de Lilá, Parvati, e da Professora Trelawney. Calaram na hora, mas toda vez que olhavam um para o outro, tinham que conter a risada. Uma matéria a menos para se preocupar com lição de casa!

Continua no Capítulo Nove...