Capítulo Dez
SEGREDOS
- Você conhece a nova professora, Harry? – Gina perguntou, colocando calmamente a mão no braço dele.
A Sra. Figg era a nova professora? Mas como poderia ser? Harry podia lembrar das várias vezes em que teve que ficar na casa da velhinha com um milhão de gatos, e ele tinha certeza que nunca avistara nada de anormal que pudesse lembrá-lo de magia. Para ser sincero, agora que Harry lembrava da casa da Sra. Figg, ele não poderia imaginar casa mais trouxa que a dela – talvez a dos Dursleys, mas era a única. Lembrando-se que Gina tinha lhe feito uma pergunta, ele voltou sua atenção para a mesa.
- É... conheço, mas não pode ser ela....
Gina ergueu as sobrancelhas e olhou para Rony e Hermione.
- Por quê? De onde você a conhece? – Hermione perguntou cautelosa.
- Quando eu era menor, e os Dursleys tinham que sair e não queriam me deixar sozinho na casa, eles me deixavam na casa da Sra. Figg, uma vizinha. Mas aí é que tá: eu não lembro de ser uma casa de bruxo. Parecia bem trouxa para mim!
- Ah, Harry... – Hermione disse mais aliviada. – Talvez ela escondesse tudo que pudesse parecer suspeito, porque pensava que você era trouxa...
Rony olhou para a Hermione e balançou a cabeça negando. Gina estava com uma expressão parecida com a do irmão quando disse:
- Hermione, sem querer desfazer da sua lógica, mas se ela é uma bruxa, não teria como ela pensar que Harry Potter era um garoto trouxa.
Gina olhou para Harry com uma expressão que parecia pedir desculpas por mencionar o "famoso Harry Potter", e Harry sorriu de leve em compreensão. Ele não gostava que falassem muito do Menino-Que-Sobreviveu, mas sabia que seus amigos entendiam. A própria Gina uma vez o defendeu porque Malfoy usara isso contra ele, e Harry mal a conhecia.
- É verdade, Mione. – Rony continuou. – Se Harry Potter aparecesse na nossa casa, garanto que, fingir ser trouxa, seria a última coisa que passaria pela cabeça da minha mãe!
Hermione abaixou a cabeça sem graça e disse num tom mais baixo:
- É, talvez vocês estejam certos. Antes de receber a carta de aceitação, ninguém na minha família sabia quem era Harry Potter... mas para uma família da bruxos deve ser bem diferente.
Rony colocou a mão no ombro dela como que consolando a menina, e Harry reparou que Gina sorria com a cena. Dividiram um olhar conspiratório e Harry disse, tentando continuar a conversa:
- Bom, eu só vou saber se eu perguntar. Assim que o Dumbledore acabar de jantar, eu vou falar com ele. Ele tá me devendo umas respostas já faz um tempo.
- Harry... – Hermione disse, não gostando nem um pouco do olhar distante que Harry assumiu. – você não vai fazer nenhuma besteira, vai?
- Claro que não, Mione. – Harry disse, não soando muito convincente. – Eu só vou conversar...
Com isso, Harry começou a comer, e os outros três devem ter entendido a atitude dele como final de assunto, porque nenhum deles voltou a falar sobre isso a janta inteira.
Algum tempo depois, Harry viu o diretor levantar-se da mesa, acompanhado da nova Professora de Defesa Contra as Artes das Trevas. Respirando fundo e juntando sua coragem, Harry levantou-se também, e decidiu que agora era sua chance. Explicou aos amigos que estava indo atrás do Diretor, e assim que o mesmo e a Sra. Figg saíram do Salão Principal, Harry já estava atrás dos dois.
- Sra Figg? Professor Dumbledore?
Os dois viraram-se, e sorriram para Harry.
- Harry! Que saudade, querido. – A Sra. Figg disse enquanto abraçava o menino. Harry ergueu as sobrancelhas em desconfiança, e Dumbledore resolveu interferir.
- Arabella? – Ele chamou a atenção da senhora, que na mesma hora voltou-se para o Diretor. – Gostaria de pedir desculpas por não poder acompanhá-la até os seus aposentos, mas eu e o jovem Harry temos algumas coisas para conversar.
Olhou para Harry quando mencionou seu nome, e Harry percebeu que o usual brilho nos olhos que o Diretor usava toda vez que falava com ele desaparecera. Alvo Dumbledore estava sério, e Harry não se intimidou por isso. Aliás, achava bom que o Diretor o levaria a sério dessa vez.
- Sem problemas, Alvo. Eu sei achar o meu caminho. – com um sorriso para o Harry, ela continuou. – A gente se vê amanhã na aula.
Com isso, Arabella Figg tomou seu caminho, deixando para trás Alvo Dumbledore e Harry Potter que olhavam um para o outro em silêncio.
- Harry, siga-me. Vamos conversar na minha sala, onde nenhum ouvido curioso possa nos ouvir.
E, em silêncio mais uma vez, foram à Sala do Diretor, cuja senha o Dumbledore disse quando chegaram até o gárgula que guardava na porta.
- Quindim.
A porta abriu e Harry franziu a testa. O Diretor era realmente um homem estranho. Cada vez que Harry vinha à sua sala, a senha era um doce trouxa diferente.
- Sente-se, Harry. – O diretor sugeriu enquanto fazia o mesmo. – Acredito que você tem algumas coisas para me perguntar.
Harry balançou a cabeça concordando enquanto fazia-se confortável na cadeira em frente à mesa do Diretor.
- Por que que a Sra. Figg mentiu ser trouxa e nunca me disse antes que eu era um bruxo?
- Arabella tem seus motivos, e eu acharia conveniente você perguntá-los a ela, e não a mim.
Harry continuou sério e balançou a cabeça concordando.
- Onde está meu padrinho?
- Essa é uma informação que eu não posso lhe fornecer.
- Então pra que você me trouxe aqui? – Harry respirou fundo tentando segurar sua raiva, mas encontrava muita dificuldade. – Tudo que eu pergunto, você não pode responder! Eu conto tudo que se passa, qualquer sonho que eu tenha, eu lhe escrevo. Por que você não pode fazer o mesmo? Eu tô começando a ficar cansado desse mistério todo! O Famoso Harry Potter; desculpe pela expressão; está ficando de saco cheio!
Dumbledore respirou fundo e passou a mão em sua barba de cima para baixo várias vezes. Harry aproveitava esse tempo para se acalmar. O que passou pela sua cabeça para falar com o Diretor daquele jeito?
- Eu concordo, Harry. Você está certo.
Harry levantou a cabeça e olhou curioso para o Diretor. Será que ele ouvira direito? Alvo Dumbledore concordou com a explosão de Harry, e ainda por cima a aceitou?
- Quê?
Dumbledore sorriu e Harry respirou aliviado. Não queria ser o responsável por ter deixado o homem bravo.
- Você está certo, Harry. Mas eu não podia lhe contar nada, até que você quisesse que eu lhe contasse.
Harry parecia confuso, e o Diretor resolveu explicar melhor.
- Eu nunca exigiria que você se envolvesse nessa luta. Até agora você foi obrigado por uma ocasião ou outra, mas se possível fosse, eu o manteria longe de Voldemort, assim como tento fazer com todos os meus alunos. Nunca falei nada dos planos contra Voldemort para você, assim como nunca os contei para aqueles que não fazem parte dessa luta. Dos nossos planos só faz parte quem quer.
Harry balançou a cabeça num sinal afirmativo e, depois de um tempo para que ele assimilasse o que Dumbledore dissera, o Diretor continuou.
- Eu vou explicar para você tudo o que nós temos feito até agora por essa luta. Mas não o faço para que você junte-se a nós, e sim para que você entenda, e decida-se se quer ou não fazer parte. Entendido?
- Entendido.
- Certo. Antes de qualquer outra coisa, eu quero deixar claro que esse assunto não sai dessa sala, nem mesmo se for pelo Sr. Weasley e a Srta. Granger. – depois de receber um sinal de concordância, Dumbledore continuou. – Durante o primeiro reinado de terror do Voldemort, eu e mais umas pessoas fundamos a Ordem da Fênix. O nosso objetivo era a destruição de Voldemort, mas como você bem sabe, não fomos nós que o paramos. Dessa vez que ele voltou, a organização juntou-se mais uma vez, e a gente faz o que pode para juntar informações, tentar evitar ataques, mas nem sempre temos sucesso. Muitas vezes, alguns dos nossos até morrem em batalhas.
Harry olhava para Dumbledore enquanto ele falava, e notou que mais do que nunca, a avançada idade pesava-lhe muito nos ombros. Seus olhos continham muita tristeza enquanto relatava o básico sobre a Ordem da Fênix.
- Não vou mentir e dizer que ter você na luta contra Voldemort não seria importante para nós. Afinal, até hoje só duas pessoas saíram vivas de um confronto direto com Voldemort, e você é o único sobrevivente da maldição Avada Kedavra. Mas eu não quero que você se baseie nisso quando tomar a sua decisão. Seus pais fizeram parte da Ordem, e você sabe bem qual foi destino deles. Você é muito jovem ainda, e tudo relacionado com a Ordem é sério demais, e preocupante demais para a cabeça de um adolescente. Você estará tomando a decisão certa, seja ela qual for. E eu o respeitarei muito por isso.
Harry não sabia o que dizer. Era muita informação de uma só vez, mas o mais inquietante, era que a única coisa em que Harry podia pensar era que seus pais fizeram parte da Ordem da Fênix. Eles tentaram ajudar a derrotar o Lord das Trevas, eles tiveram a coragem de levantar a cabeça e descruzar os braços.
- Quantos anos meus pais tinham quando se juntaram à Ordem?
Dumbledore parecia avaliar se deveria revelar ou não para Harry essa informação. Até por isso, demorou um pouco em dar a resposta.
- Seu pai tinha a sua idade quando se uniu a nós. A sua mãe juntou-se mais tarde, pouco depois de começar a namorar seu pai.
Harry levantou a cabeça e respirou fundo. Parecia determinado.
- Eu--
- Você não precisa dar a sua resposta agora. – Dumbledore o interrompeu.
- Eu não preciso de tempo para pensar. – Harry continuou, como se não tivesse sido interrompido. – Eu quero juntar-me a vocês, eu quero fazer a minha parte. Posso não ser capaz de muito, mas eu quero ter na minha consciência que eu fiz o melhor que eu pude para ajudar.
Dumbledore respirou aliviado, e parecia que um peso enorme fora levantado de seus ombros. Harry notou felicidade nos olhos do velho Diretor, mas percebeu também um toque de nostalgia.
- Você é tão parecido com seu pai, Harry. – Dumbledore olhava diretamente nos olhos do menino enquanto dizia isso. Harry não se atreveria a desviar seu olhar por nada. – Ele me disse a mesma coisa quando eu lhe fiz essa proposta. As palavras eram outras, e as circunstâncias eram diferentes, mas ainda assim, vocês são tão parecidos...
Dumbledore levou sua mão direita ao olho e o enxugou. Harry olhava a cena perplexo: não podia lembrar-se de Dumbledore chorando antes. Naquele momento, percebeu o quão egoísta era por vezes, pensando só na dor que ele sentia, enquanto outros, como o Dumbledore por exemplo, deviam ter muitas saudades de seus pais também.
- Desculpe-me. – o Diretor disse com uma voz ligeiramente rouca. Pigarreou para limpar a garganta e continuou. – Agora que você tomou sua decisão, eu quero pedir-lhe mais uma vez que mantenha tudo isso em completo sigilo. Nada que seja dito sobre a Ordem deve ser repetido para aqueles que não sejam membros. Nem mesmo seus amigos, entendeu, Harry? Eu sei que é difícil, mas se você quiser voltar atrás, ainda está em tempo.
Ele não poderia falar nada sobre reuniões e planos para Rony e Hermione. Teria que sair escondido por vezes, e não dar explicações. Será que conseguiria manter o segredo? Harry, determinado, chegou à conclusão de que conseguiria, porque a segurança deles dependia disso. Harry não estava unindo-se à Ordem para acariciar o ego, estava unindo-se porque era uma forma de lutar contra Voldemort e proteger aqueles que ele ama. No trem mesmo, ao vir para Hogwarts, pensara como seria passar pelo que a Gina passou, e decidido que não queria ter que passar por isso, escolheria ajudar.
- Eu não vou voltar atrás. Eu tomei minha decisão, eu vou manter-me a ela.
- Ok, Harry. – Dumbledore sorriu. – Já está tarde, e é melhor você voltar para a Torre da Grifinória. Eu conversarei com os outros membros da Ordem, e lhe avisarei quando será a próxima reunião. Seu padrinho não vai gostar muito da notícia, – seu sorriso ficou maior ainda. – mas ficará muito orgulhoso, tenho certeza. Vá, a gente conversa outro dia.
Harry agradeceu, levantou-se, e saiu da sala do Diretor. Sua cabeça latejava com tanta coisa sobre o que pensar. Harry odiava mentir, mas parecia que não teria outra alternativa. Aprenderia a mentir pelo bem de seus amigos, mesmo que lhe custasse.
Determinado, tomou seu rumo à Torre da Grifinória, mas não sem antes encontrar pelo caminho alguém que ele sinceramente preferiria evitar: Draco Malfoy. Tinha tido tanta sorte até agora, já que ainda não vira o Malfoy, mas parece que a sorte terminara. Draco estava sozinho, o que não era comum. Normalmente, vivia acompanhado daqueles dois guarda-costas aonde quer que fosse. Mas desta vez, além de sozinho, Malfoy parecia perturbado. Harry decidiu que se por ventura, fosse "ignorado" pelo Malfoy, aproveitaria a chance calado e continuaria seu caminho. Não estava com ânimo para encarar um filhinho-de-papai metido a importante.
Parece que as estimativas de Harry estavam certas: Draco não arriscou parar para provocá-lo sem seus guarda-costas. Apenas olhou feio e ameaçador quando passou por ele e continuou andando. Harry deu com os ombros: não ia ser agora que começaria a ter medo de cara feia.
Aproximando-se do quadro da Mulher Gorda, Harry disse-lhe a senha (balaço) e respirou fundo. Estava certo de que seus amigos não teriam ido dormir ainda. Com certeza estavam esperando por ele, e Harry teria que mentir pela primeira vez.
Não deu outra. Sentados no sofá perto da lareira, estavam Rony, Hermione e Gina conversando sobre algo, que no momento, era a última das preocupações de Harry.
- Oi. – Harry disse, quando aproximou-se do trio.
- Cai fora, Gina. – Rony disse sem nem olhar para a irmã.
- Ai, Rony, você é tão grosso! – Hermione disse, enquanto Gina silenciosamente levantava-se de cabeça baixa.
Harry olhava para aquilo, pensando como Rony podia falar assim com a irmã. Naquele dia mesmo, a Gina falou dele com tanta adoração... Não estava certo, e o Rony não tinha o direito de falar daquele jeito!
- Pode deixar, Mione. – Gina virou-se para a amiga. – ele é esse amorzinho mesmo.
Antes que Gina continuasse seu caminho, Harry a interrompeu.
- Fica, Gina. Você não precisa ir embora porque eu cheguei...
- Pode deixar, Harry. – Gina sorriu. – Eu sei que vocês têm seus segredos. Eu não vou me meter.
- Mas--
Gina não deixou Harry continuar.
- Não tem problema. – ela forçou um sorriso. – já tá tarde, mesmo. A gente se fala amanhã. Boa noite.
E com isso, ela subiu as escadas que levariam aos dormitórios femininos. Harry não conseguia entender por que Rony fizera aquilo. Além de destratar a irmã, ainda o fez na frente de amigos! Harry até esqueceu seu dilema sobre mentir naquele instante.
- Por que que você fez isso, hein, Rony?!
Rony franziu as sobrancelhas e olhou para o Harry como se ele estivesse maluco.
- Qual é, Harry? Eu sempre mandei ela ir embora antes, e você nunca se importou! – Rony disse contrariado e deu com os ombros.
- Você não deveria ter feito isso! Ela é sua irmã! – Harry respondeu indignado.
- Eu sei que ela é minha irmã! Eu tenho seis deles! Eu sei muito bem disso.
- Eu não quero brigar, Rony. Eu vou dormir.
Com esse último comentário, Harry deixou os dois amigos, e fez a mesma coisa que Gina. Já tinha muito no que pensar, uma briga com Rony, com certeza, não seria a melhor solução para os seus problemas.
Vestindo seu pijama, Harry deitou-se na cama e pegou uma foto que colocara debaixo de seu travesseiro. Nela, seus pais estavam deitados num campo gramado – provavelmente o campo de quadribol – e sua mãe apontava para o céu e ria cobrindo seu rosto com a mão enquanto seu pai acariciava suas mechas vermelhas.
Parecia que eles já eram um casal nessa foto, isso queria dizer que eles já faziam parte da Ordem. Harry suspirou triste e posicionou a foto de volta no seu lugar. Era melhor dormir e deixar tudo isso para o dia seguinte. Com um bocejo, Harry deitou-se, e em pouco tempo já estava dormindo.
Continua no Capítulo Onze...
Continua no Capítulo Dez...
