Capítulo Treze
A ORDEM E A PROFECIA
A porta da sala do Dumbledore abriu, e Harry respirou fundo. Não tinha como dar para trás agora: teria que entrar e enfrentar seja o que fosse.
- Harry! – Dumbledore olhou para o menino e sorriu, apesar de estar muito sério. – Que bom que você chegou! Antes de apresentar os outros, eu vou chamar alguém aqui que você com certeza vai gostar de ver.
Dumbledore encostou sua varinha na parede e, com isso, uma porta apareceu. Harry olhava aquilo tudo surpreso e um tanto confuso. Dumbledore entrou na sala secreta e, pouco tempo depois, a porta abriu mais uma vez, mas não era o Diretor que saía dela. Era Sirius Black.
- Sirius!
Harry abriu um sorriso, e seu padrinho fez o mesmo logo em seguida. Não demorou muito, e os dois estavam envoltos em um abraço.
- Onde você tava esse tempo todo?
Harry perguntou quando os dois se separaram. Sirius estava bem melhor do que a última lembrança que Harry tinha dele. Seu cabelo continuava comprido, mas, aparentemente, fora aparado e penteado. Seu padrinho não se parecia mais nem um pouco com o homem dos pôsteres de "procura-se". Tinha ganhado peso – não com carne de rato, Harry esperava – e vestia-se bem, não mais com restos de roupas.
- Eu estive em vários lugares... – Sirius suspirou tristemente. – Não que eu concorde que você se junte à Ordem: pelo contrário. Mas a escolha é sua, então eu respeito. Eu estive esse tempo todo junto com Aluado fazendo uns trabalhinhos para o Dumbledore. Você provavelmente vai ficar sabendo de tudo dentro em breve.
Harry balançou lentamente a cabeça de cima para baixo, e seu padrinho parecia analisá-lo. Olhava para ele de tal maneira, que Harry não se atrevia a dizer nem uma palavra.
- Você não deveria estar aqui, Harry.
Os olhos de Sirius estavam tristes, mas Harry não conseguia simpatizar com as opiniões de seu padrinho depois desse último comentário. Ele, sinceramente, estava cansado de toda essa gente o tratando como se ele tivesse cinco anos de idade. Ele já vira e passara por coisas que muitos dos "adultos" não podiam nem imaginar. Por que ele é que tinha que ser marginalizado?
- Sirius, – Harry chamou a atenção sério. – você vai me desculpar, mas se for pra você ficar fazendo esse tipo de comentário, nem começa! Eu tô ficando de saco cheio de vocês acharem que eu não posso saber de nada! Quantos anos você acha que eu tenho? Eu já passei por coisas que muitos não conseguem nem imaginar... eu achei que você me entenderia. Mas se você for agir igual aos outros--
Harry foi interrompido por Sirius que parecia ansioso, mas ainda muito triste.
- Harry! Eu não sou igual aos outros; eu não penso igual aos outros. – Sirius deu uma pausa e respirou fundo. – A última coisa que eu quero é brigar com você, mas eu lembro muito bem como é ter quinze anos, e se tinha uma coisa que eu odiava é que me tratassem como criança. Eu sei muito bem como você se sente.
Sirius parou e olhou sério para Harry por um tempo, e então continuou com um tom de voz bem mais baixo do que quando começou.
- Meu único medo, é que você termine igual ao seu pai. Vocês já são tão parecidos, e agora as mesmas atitudes... Eu amei seu pai como um irmão, e amo você como se fosse meu filho. Eu não quero que a história se repita, Harry!
Harry olhou para o seu padrinho que estava, naquele instante, com os olhos cheios d'água. Agora não tinha como não entender por que Sirius ficara tão chateado com ele. Mas por mais que Harry compreendesse, algumas coisas ainda tinham que ser ditas, e elas já estavam entaladas na garganta de Harry por um bom tempo.
- Sirius... – Harry continuou quando seu padrinho olhou para ele. – Eu fico muito lisonjeado cada vez que alguém fala que eu pareço com meu pai. Mas eu não conheci meu pai, não sei quem ele foi... – Harry deu uma pausa e respirou fundo. Seria difícil continuar. Ele próprio nem sabia direito como dizer algo que há tão pouco tempo descobrira. Mal tinha admitido para si mesmo que pensava assim, e já teria que falar para o seu padrinho. – E a verdade, é que por mais que eu queira, eu nunca vou saber. Meu pai, por tudo o que vocês me contam, devia ser ótimo: perfeito. Mas eu não sou assim! Eu não sou o meu pai, nem nunca vou ser.
Harry sentia-se mal de ter dito tudo aquilo para o Sirius, que parecia chocado. Ele, próprio, estava com os olhos suspeitamente molhados. Mas Sirius logo se recuperou e disse:
- Você está certo, Harry. E tá mais do que na hora de eu começar a tratar você como sua própria pessoa. Você não é só o filho do Tiago, é muito mais que isso.
Sirius abaixou a cabeça e, depois de um tempo, ergueu-a para olhar para o Harry. Parece que estava tudo certo de novo entre eles. Com um sorriso, Harry disse "obrigado", e os dois entraram pela porta secreta.
Harry não sabia o que esperar, mas quando viu aquilo, ele sinceramente pensou que devia ser algum tipo de brincadeira. Nada soava tão clichê quanto aquela enorme mesa redonda no meio da sala. O ambiente inteiro tinha um tom medieval, e Harry começou a pensar que, agora, só o que faltava era Dumbledore revelar para ele que na verdade, o Diretor de Hogwarts é somente um dos vários disfarces do Mago Merlin, e que ele era o próprio. Harry segurou o comentário sarcástico e olhou para o Sirius com uma sobrancelha erguida. Seu padrinho deve tê-lo entendido, porque na mesma hora ele balançou a cabeça em um sinal negativo, e sorrindo, sussurrou:
- É melhor nem comentar! Depois eu explico!
Todos os diversos focos de conversa cessaram, e Harry agora começava a sentir-se sem graça por estar no centro das atenções. Sirius começou a ir em direção à mesa, e Harry foi atrás.
- Que bom que vocês chegaram. Sentem-se, e a gente pode começar.
Harry sentou-se como sugeriu Dumbledore. E, enquanto isso, olhava em volta da mesa para ver quem estava também na reunião. Já avistara a Sra. Figg, o Professor Lupin, – que sorrira em reconhecimento para ele – e alguns dos outros professores de Hogwarts, como a McGonagall, por exemplo, e o Snape. O Professor Snape continuava olhando para ele com aquele seu usual olhar de desdém, que Harry conhecia bem. Não era surpresa que o Snape fizesse parte desse grupo. Harry descobrira há algum tempo que Severo Snape fora um Comensal da Morte no passado, e ainda tinha a marca no braço para lembrar-lhe disso. Mas também sabia que o Dumbledore tinha plena confiança nele, e já desconfiara que o Snape fosse algum tipo de espião para o Diretor ou coisa assim. Mas à mesa, também havia várias outras pessoas que Harry tinha certeza que nunca vira antes.
- Como eu comentei com vocês, – Dumbledore deu início à reunião. – hoje temos mais um membro.
Várias pessoas balançaram a cabeça confirmando e/ou olharam para o Harry dando-lhe boas-vindas. Dumbledore continuou:
- Recebi mais informações, e agora eu posso dizer a vocês de quem, – O Diretor esticou o braço em direção ao Harry. – de que o Voldemort já sabe e está atrás da profecia. Matou McHammer por não ter informações.
Várias pessoas pareciam chocadas, mas não disseram nada para não interromper Dumbledore.
- Agora, mais do que nunca, nós temos que nos certificar de que a profecia aconteça, não importa como. – Dumbledore pausou e procedeu à reunião. – Alguém tem alguma nova informação?
Enquanto vários conhecidos e desconhecidos relatavam suas missões realizadas em diferentes lugares da Europa, Harry pensava de volta no começo da reunião. Se ele já estava curioso sobre a profecia antes, agora então, ele não conseguia parar de se perguntar que profecia seria essa. Já ouvira Voldemort falar dela e até matar um homem por causa dela; e agora, toda a Ordem da Fênix estava de prontidão pelo mesmo motivo. Que profecia seria aquela?
Harry passou boa parte da reunião pensando só na profecia. Ele tentara prestar atenção por várias vezes, mas a verdade é que ele nem entendia muitas das missões, levando em conta que ele não estava atualizado sobre o que tinha acontecido nas reuniões anteriores. Além do que, muitos dos que informavam sobre suas descobertas e achados ao Dumbledore, Harry nem conhecia.
Foi exatamente durante o conto de um deles, que Harry resolveu que perguntaria ao Dumbledore, ao fim da reunião, sobre a profecia. Se o Diretor não lhe contasse nada, – algo que Harry achava muito provável – ele ainda assim procuraria saber que profecia era essa. Nem que tivesse que entrar escondido na Sala do Dumbledore e pegar ele mesmo – por mais impossível que soasse.
- Bom... eu acho que é só isso, então. Vocês sabem o que devem fazer, então não preciso repetir. Boa sorte a todos e, por favor, tomem cuidado!
Dumbledore encerrava a reunião para todos, mas Harry ainda queria falar com Dumbledore e, por isso, permaneceu sentado enquanto todos – aparentemente muito cansados – levantavam e tomavam seus rumos. Apenas Black e Lupin ficaram na sala junto com ele e o Diretor.
- Sirius, Remo... – Dumbledore tirou seus olhos de Harry e virou-se para os dois. – Eu poderia dar uma palavra a sós com o Harry? Não vou me demorar; prometo.
Sirius olhou para o Harry, pôs a mão no ombro do afilhado e disse:
- Eu e o Aluado vamos estar te esperando lá fora, na outra sala.
Depois da confirmação de Harry, Sirius e Remo saíram, deixando Dumbledore e Harry para conversarem. Ele não sabia o que esperar, mas se certificaria de que não esqueceria de perguntar tudo o que queria saber sobre a profecia.
- Eu sei que você tem algumas perguntas, Harry. Se eu puder responder, agora é a hora.
Dumbledore recostou-se na cadeira e passava a mão de cima para baixo na sua barba em um movimento repetitivo. Harry levantou de sua cadeira e aproximou-se do Diretor puxando uma cadeira para sentar-se perto dele.
- Eu tenho várias perguntas! A começar por essa reunião, da qual eu não conheço quase ninguém! Mas eu vou me contentar se você me responder só uma. – Harry parou e respirou fundo. Tinha que se acalmar antes que estourasse. Não entendia porque estava tão rebelde de repente. – Eu já estou começando a me acostumar com não poder saber tudo relacionado ao Voldemort.
Dumbledore sorriu e Harry continuou:
- A única coisa que eu quero saber é sobre a profecia. Cada vez eu entendo menos os sonhos que eu tenho com o Voldemort, e eu tenho certeza que essa profecia tá relacionada com isso tudo.
- Harry, eu vou falar tudo o que eu sei, mas já vou avisando: não é muito, e você não vai gostar.
Harry balançou a cabeça num sinal afirmativo e Dumbledore continuou:
- São duas as profecias que Helga Hufflepuff previu quando estava em seu leito de morte. Ela foi a última dos quatro fundadores a partir desse mundo. Uma delas é sobre você e a queda do Voldemort.
- Eu já vi essa profecia. A gente teve que interpretar na Aula de Adivinhação!
Harry interrompeu e Dumbledore sorriu.
- Isso mesmo. A outra... a outra a gente não entendeu por muito tempo. Até esqueci dela durante uns doze anos... Até o ano passado. Quando você voltou de sua última prova e me disse que Voldemort tinha revivido através de seu sangue, na mesma hora eu lembrei da profecia. E essa lembrança me trouxe esperança. Se eu tivesse interpretado a profecia corretamente, no final, tudo daria certo.
- Então eu não me enganei! – Harry acrescentou, interrompendo Dumbledore mais uma vez. – Eu achava que tinha visto algo como triunfo nos seus olhos naquela noite. Eu não tinha entendido, e me convenci de que tinha visto coisa onde não tinha...
Dumbledore abaixou a cabeça e ficou em silêncio por um bom tempo.
- É verdade, Harry. Naquela noite, eu percebi que tudo estava se encaminhando na direção certa da profecia. Quando você me falou de seu sangue, eu tive certeza. Foi um alívio. Mas Voldemort sabe da profecia também e, dessa vez, ele não vai ignorá-la como da primeira vez. Você mesmo nos disse isso através de um sonho seu. – Harry balançou a cabeça em compreensão e Dumbledore, respirando fundo, continuou. – Agora vem a parte de que você não vai gostar: Você não deve interferir na profecia. Nós ainda não temos todas as peças desse quebra-cabeça, mas sabemos que você é uma delas. Qualquer coisa que interfira pode resultar em um fim não tão esperado quanto ao que Helga Hufflepuff previu. Por isso tanto segredo: nisso você não pode interferir.
Dumbledore estava muito sério, e Harry sentiu-se mal por ter que mentir mais uma vez. Disse ao Diretor que não interferiria antes de sair da Sala Secreta, mas sabia que faria exatamente o oposto disso. Ao fechar a porta, notou os tons avermelhados na sala onde Sirius e Remo esperavam por ele, e sabia que passaram a tarde toda lá, e que o crepúsculo dominava o céu agora. Com uma expressão neutra para disfarçar sua apreensão, Harry voltou-se para os dois velhos amigos de seu pai. Conversaria o máximo que pudesse com eles, mas a primeira coisa que faria quando saísse dali, seria procurar um certo livro que recebera do Hagrid de aniversário...
Continua no Capítulo Quatorze...
