Capítulo Quatorze
AJUDA DE AMIGOS
Um mês já havia passado desde que Harry chegara a Hogwarts e ele se perguntava se era só isso mesmo. Mal começara o ano, e ele já se sentia exausto. Havia os treinos de quadribol, estudos de Animagia com Rony, – escondido da Hermione – e o dobro de lições de casa do que de costume porque "esse ano eles fariam os N.O.M.s". Harry não agüentava mais ouvir isso de seus professores. Parecia que tudo que eles faziam em sala de aula era para que conseguissem o maior número de Níveis Ordinários em Magia possível ao fim do ano. Harry não queria nem imaginar o quão pior seria quando chegassem ao sétimo ano e tivessem que fazer seus N.I.E.M.s.
Mas se fosse só isso, Harry acreditava que não estaria tão exausto – afinal, tantos outros alunos deviam passar por coisas parecidas. O que realmente lhe pesava era o segredo sobre a Ordem da Fênix. Agüentar o clima das reuniões, e saber de coisas que muitos provavelmente nunca nem queriam ouvir falar, era algo que Harry buscou, ele mesmo foi atrás de informações e decidiu se juntar à Organização. Mas ter que mentir e inventar desculpas para seus amigos cada vez que ele tinha que sumir por causa de alguma reunião estava sendo sufocante de mais. Além do que, como ele gostaria que seus amigos pudessem ajudá-lo. Ele, com certeza, agradeceria muito se pudesse contar com a inteligência da Hermione agora. Encontrar a segunda profecia de Helga Hufflepuff foi fácil, difícil agora, estava sendo interpretá-la.
E ele tentava mesmo: já olhara em vários livros da biblioteca, mas o problema é que ele não sabia exatamente o que procurar. Ele estava ficando cada vez mais frustrado, e começava a pensar que – mesmo sem querer – acabaria obedecendo ao Dumbledore: se não interpretasse essa profecia, seria quase como não ter se envolvido, tal qual o Diretor lhe aconselhara.
- Uma profecia? Que legal...
Na mesma hora que ouviu a exclamação, Harry fechou o livro que lia na mesa da biblioteca e tentou esconder o papel onde copiara a profecia, mas era tarde: Gina Weasley já vira sobre o que se tratava. Harry olhou para a menina que tinha apoiado seus livros na mesa em que ele estava pesquisando, e havia se sentado de frente para ele. Ela sorria, mas seus olhos pareciam um pouco magoados. Harry sentiu-se culpado mais uma vez. Ele tentara esconder suas coisas de Gina e ela, obviamente, percebera. Harry sentiu-se mal, porque a Gina era mais uma amiga de quem ele não queria ter segredos – apesar de já ter tantos.
Harry valorizava muito mais os treinos de quadribol hoje em dia. Desde que Gina entrara para o time, aquele era um momento deles. Ir e voltar dos treinos proporcionava conversas e risadas que só os dois dividiam. Por mais que gostasse muito de seus dois melhores amigos, a culpa de ter que mentir para eles pesava tanto, que Harry acabou inconscientemente se afastando dos dois. Por isso que ter encontrado mais uma amiga em Gina Weasley era tão importante para ele. E agora, olhando para aquele sorriso que ela forçava para que ele não percebesse que ela estava chateada, Harry sentia um aperto que não conseguia explicar. Harry respirou fundo e esticou seu braço com o papel da profecia, oferecendo-o para Gina. Com um sinal de negativo com a cabeça, ela disse:
- Harry, você não tem que me mostrar nada que não queira.
Harry olhou surpreso para ela. Ela parecia curiosa, mas, ao mesmo tempo, ele acreditava que ela estava sendo sincera, que ele realmente não precisava mostrar-lhe nada. Harry abaixou a cabeça e falou tão baixo, que Gina teve que chegar mais perto para entendê-lo.
- Mas eu quero. Apesar de não poder, eu quero...
Gina levantou-se de sua cadeira e sentou-se do seu lado. Com cautela, ela posicionou sua mão no braço dele e disse no mesmo tom de voz:
- É por isso que você tem evitado o Rony e a Mione?
Harry olhou para a Gina e, por um momento, perdeu-se do presente. Quando foi que Gina deixou de ser aquela menininha que lhe mandara um poema tão infantil de dia dos Namorados? Cadê aquela garotinha que se acabara em choro nos braços da mãe porque achava que seria expulsa depois de ser resgatada da Câmara Secreta? Na frente dele, encontrava-se uma mulher. Harry é que se sentia um crianção do lado dela. Mesmo ele tendo que fazer a barba que volta e meia o incomodava, ele sentia como se, comparado à Gina, ele não tinha crescido nada. Sentia-se tão garoto...
- Harry?
Percebendo que estava encarando a Gina já há algum tempo, Harry balançou a cabeça para se trazer de volta à conversa.
- Desculpa Gina, mas é que eu tenho tanta coisa na cabeça...
Gina sorriu e disse:
- Você quer conversar sobre isso? – Antes que Harry pudesse responder ela acrescentou – Você não precisa falar tudo! Só o que você puder. Talvez ajude...
Harry deixou-se contagiar mais uma vez pelo sorriso da ruivinha.
- A Mione tem comentado comigo que você está mais distante esse ano. – Gina começou, já que Harry só sorrira e não dissera nada. – Ela não falou nada pra você porque achou que talvez você precisasse de tempo. E como você volta e meia desaparece com o meu irmão... ela achou que se você tivesse algum problema, conversaria com ele...
Harry olhou para a Gina e abaixou a cabeça. Então a Hermione percebera que ele havia se distanciado. Talvez até por isso que ela tenha ficado mais próxima da Gina. Porque nesses dias, ou os quatro estavam juntos, ou separados dois a dois.
- Harry, eu não te disse isso pra que você se sentisse culpado. Eu só estou te dizendo, pra que você perceba que seus amigos te entendem, e só querem seu melhor. – Harry ergueu a cabeça e Gina sorriu com um olhar maroto. – Além do que, acho que a Mione não tem muito o que reclamar de todo o tempo que tem passado com o Rony...
Harry riu, e Gina o acompanhou logo em seguida.
- Você é uma ótima amiga, Gina...
A menina ficou corada e abaixou a cabeça, mas antes que ela pudesse se sentir muito sem graça, Harry continuou:
- Essa é a profecia que você viu.
Harry ofereceu-lhe o papel mais uma vez e, dessa vez, Gina o aceitou e leu.
"O leão que perdeu e sobreviveu,
Seu sangue ao mal se deu.
Ao mundo, esperança de futuro,
Mas que com a morte, faz dele obscuro.
O amor foi sua maior proteção,
Seu sangue a maior traição.
Quando novamente "eis lorde",
Não há expectativas senão a morte.
Mas o rubro ainda é a esperança:
7ª das 7 em 700 na menarca.
Leão a salva, e cria a grande aliança.
Pelo bem, por muitos perigos ele aguarda.
Com o amor novamente, fim da criança,
E ao melhor futuro, ambos deixam sua marca."
- Você quer saber o que significa, mas não pode me dizer por que, estou certa?
Harry balançou a cabeça em um sinal afirmativo, e olhou para Gina com um olhar que parecia pedir desculpas. Gina sorriu e disse:
- Tudo bem, Harry. Eu entendo. Posso? – Ela perguntou apontando para um pedaço de papel e uma pena. Harry consentiu que ela fizesse uma cópia e, enquanto ela o fazia, Harry disse:
- Eu tenho um livro com várias profecias e interpretações, mas essa, talvez porque não aconteceu ainda, não tem a interpretação.
Gina, terminando sua cópia, olhou para o Harry, e com um olhar de compreensão, perguntou:
- Se eu garantir que ela não vai fazer nenhuma pergunta, você quer que eu peça a ajuda da Hermione?
Harry franziu as sobrancelhas e perguntou confuso:
- E como é que você vai conseguir isso?
- Se eu te garantir que ela não vai te fazer nenhuma pergunta; eu posso?
- Claro! Mas como?
Juntando suas coisas, Gina, apressada, levantou-se da mesa e disse ao Harry:
- Espera um pouco. Não sai daqui!
Com isso, Gina saiu da biblioteca, deixando para trás o Harry ainda mais confuso. Respirando fundo, decidiu que seria melhor fazer algo de útil enquanto esperava: voltou a ler o livro que lia antes da Gina chegar.
Depois de algum tempo, Gina e Hermione entraram na biblioteca e foram direto para a mesa que o Harry estava sentado. Gina, olhando o que Harry estava lendo, já logo disse à Hermione:
- O Harry estava me ajudando, mas a gente decidiu que sem você, a gente não iria muito longe... E eu estava certa, tá vendo? Agora eu vou conseguir terminar essa lição de Adivinhação em tempo!
Gina deu uma piscadinha para Harry sem que Hermione visse, e ele entendeu seu plano. Talvez desse certo, afinal! Harry olhou para a Hermione, que parecia apressada, mas não queria ter que deixar a amiga na mão. A Gina deve ter inventado uma história e tanto para que Hermione a ajudasse com Adivinhação, matéria da qual ela tinha horror.
- Gina! Eu já falei que muita coisa eu teria que pesquisar mais antes de te dizer o que significa. Só a décima linha que eu tenho alguma idéia. E só vim aqui para te mostrar em que livro está. Você é que vai ter descobrir o resto, afinal a lição é sua! Espera só um momentinho que eu já volto!
Hermione levantou-se e foi em direção às prateleiras cheias de livros. Antes que ela voltasse, Gina olhou para o Harry e disse:
- Ela acha que é para mim, então não vai fazer perguntas. Tudo o que ela disser, eu anoto, e depois te dou o papel. Espero que ajude.
A última frase, ela já disse bem baixinho porque a Hermione aproximava-se da mesa com um livro enorme debaixo dos braços.
- "Sétima das setecentas na menarca" – Hermione disse depois de sentar-se e enquanto folheava o livro. – Por aqui... cadê? Aqui! – Apontou para a página e entregou o livro para a Gina. – É sobre isso que eu acho que essa frase está falando.
Gina olhou para o que Hermione apontava e olhou confusa para a amiga.
- Feiticeira?
Hermione balançou a cabeça, confirmando e disse:
- Eu tenho certeza! Ô Gina, não que eu não queira te ajudar, mas como eu te disse antes de vir pra cá, eu tenho reunião de monitores antes da janta. Eu realmente preciso ir.
- Tudo bem, Mione. – Gina sorriu. – Não precisa pedir desculpas, você já ajudou bastante! Vai lá! A gente se encontra na janta!
Hermione sorriu aliviada e deixou a biblioteca. Gina voltou-se para o Harry mais uma vez.
- Você já sabia dessa parte?
Harry balançou a cabeça em um sinal negativo e começou a trazer o livro para perto de si para ler o que Hermione tinha encontrado.
"... As feiticeiras têm poderes mágicos canalizados nelas mesmas. Poderes extremos que só se mostram depois da menarca..."
- Eu nem sabia que feiticeira e bruxa não eram a mesma coisa...
Gina sorriu da expressão de confusão de Harry.
- Como está escrito aí, as feiticeiras são muito raras. Só nascem sete em setecentos anos. A última é a do século passado, mas ninguém sabe quem ela é porque ela preferiu não se expor... Talvez o Dumbledore saiba, porque muitos dizem que eles eram amigos, mas eu não tenho nem idéia!
Harry começou a fazer algumas anotações, e depois de algum tempo, Gina juntou mais uma vez suas coisas, e disse:
- Bom, eu vim aqui para retirar um livro para um a tarefa. Se você precisar de ajuda, me fala. Eu vou estar na Sala Comunal.
Harry parou o que estava fazendo, e enquanto Gina se levantava, ele posicionou sua mão em cima da dela.
- Obrigado... você me ajudou muito.
Harry olhava sério para ela, e Gina, ligeiramente corada, sorriu e disse:
- Fico feliz que eu tenha ajudado.
A menina deixou a mesa e, enquanto ela se direcionava para mesa da Madame Pince, Harry ficou se perguntando por que que, perto da Gina, tudo parecia tão simples...
Continua no Capítulo Quinze...
