Capítulo Quinze
ALGUMAS VERDADES
- Não adianta, Harry! A gente não tem nem noção do que esses ingredientes são!
Rony parecia entregar os pontos, e Harry não podia deixar de concordar com ele. Os dois, mais uma vez, tentavam analisar se seria possível fazer as poções que o livro 'Assimilando Animagia – Aprenda, Aprimore, Aprecie!' indicava para facilitar o processo. A verdade é que, a melhor em poções dos três, era a Hermione. Não só em poções, Harry pensava ironicamente. Tudo que poderia ajudá-los a tornarem-se Animagos exigia ingredientes que ou eles não conheciam, ou não tinham nem idéia de onde conseguir. Harry lembrou de seu pai e seus amigos, e chegou à conclusão de que eles tinham um objetivo maior, então a força de vontade era grande. Mas Harry e Rony só queriam se transformar pelo barato da coisa. Talvez fosse melhor desistir mesmo... Chamar a Hermione estava fora de cogitação: ela era monitora, e podia perder seu distintivo se fosse pega. Não só o distintivo, Harry pensou alerta. Os três poderiam ser expulsos ou até coisa pior, afinal estavam fazendo algo ilegal. Era muito o que arriscar por tão pouco.
- É, eu também acho Rony. – Harry suspirou tristemente. – Bom, pelo menos a gente já conseguiu alguns progressos...
Harry sorriu e Rony fechou os livros e começou a juntar as coisas para que os dois voltassem para a Torre da Grifinória.
- É... eu tenho que admitir que ver você com uma perna menor que a outra foi definitivamente uma cena hilária.
Rony riu lembrando-se de uma das tentativas frustradas que os dois tiveram tentando transfigurar os próprios corpos. Harry balançou a cabeça e riu também.
Os dois, depois de colocarem tudo de volta em seus malões, saíram da sala que um dia fora proibida no terceiro andar. Ninguém entrava lá mesmo, então toda vez que eles discutiam algo importante, era para lá que eles iam.
No caminho, uma conversa chamou a atenção dos dois e ambos pararam onde estavam. O Simas conversando com o Neville não tinha nada demais, mas se o assunto fosse a Gina, Rony sentia-se na obrigação de parar e ouvir. Harry apontou uma estátua enorme no corredor para o amigo, e ambos esconderam-se atrás dela. Por algum motivo, Harry também estava demasiado curioso com o rumo daquela conversa.
- Você deu uma sorte, hein Neville? Quem diria que a ruivinha que você levou ao baile no ano passado ficaria gostosa desse jeito com só alguns meses de férias?!
Harry teve que segurar Rony atrás da estátua que estava pronto para sair e espancar o Simas se o deixassem. Neville estava meio sem graça – parecia não querer discutir essa assunto com o garanhão do quinto ano. Permaneceu quieto, e Simas continuou:
- Você vai investir nela esse ano? Se for, é melhor agir logo! Já ouvi cada coisa de alguns marmanjos... acho que ela não vai ficar dando sopa por muito tempo não...
Simas sorria tão aberto, e com tal expressão, que Harry teve que se segurar enquanto segurava o Rony mais uma vez. Se Simas dissesse mais alguma coisa desse calibre sobre a Gina, Harry não podia garantir que conseguiria segurar o Rony mais uma vez. Tinha suas dúvidas se ele próprio conseguiria se manter escondido também.
Neville, ainda sem graça, respondeu:
- Não... – O menino abaixou a cabeça. – Ela tá saindo com o Harry...
As reações foram diversas. Simas arregalou os olhos e olhou sorrindo para o Neville. Rony olhou furioso para o Harry, como se estivesse esperando por uma explicação. O que provavelmente estava, Harry pensou. E o Harry ergueu as sobrancelhas sem saber o que dizer ou fazer. De onde Neville tirara aquilo? Harry não acreditava que Neville mentiria assim. Alguém deve ter tido alguma besteira para ele, e ele acreditou. Harry balançou a cabeça em um sinal negativo para o Rony, desesperadamente querendo dizer que era mentira, mas o amigo foi distraído por Simas, que estava entusiasmado com a nova fofoca.
- Com o Harry??? Como você sabe disso?
Neville parecia nervoso, como se tivesse dito algo que provavelmente não deveria ter dito.
- Ãh... é... eu vi uma foto dos dois. Tava no chão, do lado da cama dele. Eu peguei e coloquei de volta...
A voz do Neville foi diminuindo até que Rony e Harry não podiam mais ouvi-lo. Os dois haviam chegado ao fim do corredor e virado a direita, provavelmente indo para a Torre da Grifinória. Harry e Rony saíram de trás da estátua e Harry engoliu seco. Rony olhava para ele com uma expressão séria e furiosa, e o Harry não tinha nem idéia do que dizer para se defender do amigo.
- Uma foto, né?! Há quanto tempo você anda aos amassos com a minha irmã???
- Rony! – Harry disse indignado. – Ouve o que você tá dizendo! Eu nunca faria isso com a Gina! Ela é minha amiga!
Rony parecia estar gastando tudo o que tinha de auto-controle, mas ainda assim, parecia a ponto de explodir a qualquer momento e partir para cima de Harry. Ele não tinha nem noção de que o amigo pudesse ser tão superprotetor com relação à irmã.
- E pra que que o Neville mentiria sobre ter visto uma foto?
- Rony, você tá nervoso por causa das coisas que o Simas disse. Eu não fiz nada! Quando que eu teria tirado uma foto com ela???
Rony parou um instante e, naquele momento, Harry achou que o amigo teria se acalmado, mas não teve tanta sorte.
- Não sei... talvez depois dos treinos de vocês... Treinos... sei, rá! Vocês sempre chegam depois de todo mundo e dizem que estão conversando... Conversando! Agora eu sei bem o que vocês fazem depois do quadribol!
Harry não sabia se foi para o melhor ou para pior, mas assim que o Rony acabou de falar, Draco Malfoy e seus dois capangas apareceram com um sorriso no rosto tão nojento, que Harry ficou com vontade de pular no pescoço dele só por ele ser irritante do jeito que era.
- Ora, ora... olha quem está brigando! Quem diria que os amantes de trouxas e sangue-ruim gritariam assim um com o outro.
Draco riu e Crabbe e Goyle o acompanharam alguns instantes depois.
- Cala a boca, Malfoy!
Foi tão rápido, que não deu tempo nem para o Harry piscar. Em um segundo, Rony gritou com o Draco e partiu para cima dele, dando um murro na sua cara. Não deu tempo de ninguém reagir. Malfoy foi para o chão e, na mesma hora, a Professora Minerva apareceu, escandalizada.
- O que está acontecendo, aqui??? Malfoy? Weasley? Eu quero os dois comigo! Agora! Andem!
Harry olhou para o Rony, e o amigo abaixou a cabeça xingando baixinho tudo quanto era nome. Os dois acompanharam a professora, e Harry juntou suas coisas e as do Rony para voltar para a Torre da Grifinória. O que ele menos queria agora era se envolver em uma briga também... Desolado, tomou seu rumo sem nem olhar para Crabbe e Goyle.
Depois de dar a senha para a Mulher Gorda do quadro, Harry entrou pelo buraco, e avistou Gina e Hermione conversando em um sofá perto da lareira. Aproximou-se das duas e jogou suas coisas e as do Rony no chão, sentando-se do lado dos malões logo em seguida.
- O que que foi, Harry? – Hermione perguntou e, ao notar que Harry estava com dois malões, continuou. – Cadê o Rony? Ele não tava com você?
Harry suspirou cansado e olhou para as duas. Como explicar tudo o que acontecera sem envergonhar a Gina e ele próprio?
- O Rony se meteu numa briga com o Malfoy, e a McGonagall viu tudo...
Gina trouxe a mão à boca, e Hermione balançava a cabeça de um lado para o outro reprovando a atitude do amigo.
- É nisso que dá! Eu falo pra ele ignorar, mas ele não me ouve... Qual foi o motivo dessa vez?
Harry olhou nervoso para a Hermione, e tentou disfarçar. Deu com os ombros e disse em um tom desinteressado:
- Ah! O de sempre... – Antes que Hermione fizesse mais perguntas, Harry resolveu mudar de assunto. – Eu recebi uma carta do Sirius hoje.
Hermione arregalou os olhos de tal maneira, que Harry começou a se perguntar o que tinha dito de errado. Na hora que ele ouviu a Gina, com um tom de horrorizada, perguntar "Sirius? Sirius Black?" foi que ele se tocou do que dissera, e para quem dissera.
- Ãh... calma, Gina!
Harry voltou-se para a menina pensando que hoje, definitivamente, não era seu dia. Resolveu que o melhor seria contar tudo mesmo. Gina tornara-se uma boa amiga, e Harry acreditava que o segredo de seu padrinho não correria risco se ela soubesse dele também. Respirando fundo, Harry olhou em volta para certificar-se de que não havia muitas pessoas em volta deles. Satisfeito de que ninguém parecia prestar atenção neles, Harry levantou-se do chão e sentou-se do lado da Gina.
- É uma longa história, mas se você quiser que eu te conte, você tem que jurar que mais ninguém vai ficar sabendo dele por você!
Gina olhou para a Hermione e de volta para o Harry. Ele estava ligeiramente nervoso, e Gina parecia aflita, mas ela logo mascarou esse sentimento.
- Como eu já te disse antes, Harry, você não precisa me dizer nada que não queira...
Harry olhou para a menina cujo cabelo brilhava em vários tons de vermelho por causa do fogo que vinha da lareira, e lembrou-se da noite em que eles conversaram sozinhos, tarde da noite, naquela mesma sala. Engolindo o nó de nervoso que formara em sua garganta, Harry percebeu que não havia motivo para guardar nada dela. Ela vinha sendo uma ótima amiga, e ele agradecia muito por isso.
- Tudo bem, Gi... eu quero... – Harry disse e posicionou sua mão em cima da dela.
Os dois ficaram quietos olhando um para o outro, até que Hermione limpou sua garganta para chamar a atenção deles.
- Eu acho melhor vocês falarem sobre isso em outro lugar. Talvez no corujal... Alguém pode ouvir se vocês ficarem aqui. – Harry parecia meio incerto, e Hermione continuou. – Podem ir. Eu espero pelo Rony.
Com isso, os dois levantaram-se e deixaram a Sala Comunal. Harry não pôde deixar de notar o sorriso do Simas ao ver os dois saírem juntos. Decidiu que seria melhor ele contar a história do Sirius o mais rápido possível, ou pelo menos, que os dois voltassem antes do Rony. Não queria nem imaginar o que o amigo diria se visse os dois voltando juntos.
Chegando no corujal, os dois arranjaram um lugar confortável para se sentarem, e depois de um breve olá para a Edwiges, Harry começou a contar tudo. Desde a Capa de Invisibilidade, ao Mapa do Maroto, ao Salgueiro Lutador, e o Vira-Tempo – do qual ele não podia falar, mas disse mesmo assim. Explicou tudo sobre o Aluado, Almofadinhas, Pontas e Rabicho. Falou do Perebas, de seu patrono, a fuga com o Hipogrifo... tudo! Quando começou, não pôde mais parar. Estava guardando tantos segredos nesses últimos tempos, que contar tudo aquilo para Gina era um alívio. Não era exatamente tudo o que ele queria contar, mas ainda assim, foi um peso enorme que se levantou de seus ombros. Ele foi interrompido uma vez ou outra com alguma exclamação ou pergunta, mas no geral, Gina o deixou falar quase que ininterrupto.
- Nossa! Então ele é seu padrinho, e vocês se correspondem?
Harry balançou a cabeça confirmando. A última vez que o tinha visto tinha sido na primeira reunião de que ele participou da Ordem da Fênix. Depois disso, ele saiu em uma missão com Remo Lupin, e não apareceu mais. Mandara agora uma carta, que foi exatamente o motivo dessa conversa. Harry a tirou do bolso, e a entregou para a Gina.
- Você falou de mim pra ele? – Gina interrompeu sua leitura, e levantou sua cabeça olhando para o Harry.
- É... eu falei que você se juntou ao time, é irmã do Rony, e minha amiga. – Harry sorriu e Gina retribui, voltando à leitura. – Eu já tinha falado de você pra ele quando eu contei sobre a Câmara Secreta.
Gina balançou a cabeça de cima para baixo e quando acabou de ler a carta, voltou-se mais uma vez para o Harry entregando-lhe o papel.
- Então você vai vê-lo nesse fim de semana?
- É... é fim de semana de Hogsmeade, então eu vou encontrá-lo numa caverna que tem nos limites do vilarejo. Eu vou chamar a Mione e Rony para virem comigo. Você quer vir também? – Quando Harry percebeu que ela podia hesitar, ele acrescentou. – Por favor? Eu realmente gostaria que ele te conhecesse.
Harry olhava para ela com olhar de pedinte, e Gina sorriu entregando os pontos.
- Seria uma honra conhecer o famoso Sirius Black. Seu padrinho...
Harry sorriu de volta e olhou para o relógio que ganhara de aniversário do Rony. Rony! A essa hora ele com certeza já tinha voltado, e Harry estaria perdido tentando explicar o que ele e a Gina estariam fazendo voltando tarde daquele jeito...
- Nossa! Já é tarde! A gente tem que voltar pra Torre da Grifinória!
Os dois, alarmados, voltaram tomando o maior cuidado possível para que nenhum professor os visse tão tarde fora da cama. Deram sorte de ter os corredores vazios e, em pouco tempo, estavam de volta.
Rony e Hermione eram os únicos na Sala Comunal, e estavam certamente esperando pelos dois. Harry, aflito, aproximou-se dos amigos.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Rony já logo esticou o braço e disse:
- Desculpa, Harry. Foi mal! É como você disse: eu tava nervoso, e...
- Tudo bem, Rony. – Harry interrompeu aliviado. – Deixa pra lá...
Rony sorriu e explicou:
- Eu tava conversando com a Mione quando eu cheguei, e ela me disse que era tudo besteira. Ah, e por falar nisso, detenção no sábado. Não vou poder ir pra Hogsmeade. – Rony parecia chateado, mas deu com os ombros. – Bom, pelo menos agora o Malfoy tem um olho roxo pra explicar pros seus amigos.
Eles riram, e Harry resolveu aproveitar que tudo estava bem com o seu amigo.
- Então, quer dizer que quando eu falo, você não acredita. Mas quando a Mione diz...
- Ah! Qual é, Harry!
Harry riu mostrando que estava brincando, e Rony aceitou a brincadeira.
- A Mione me disse que você contou pra Gina sobre o seu padrinho...
Harry olhou para a Gina e sorriu.
- É... falei. – voltando mais uma vez para o seu amigo, ele disse: – O Sirius quer que eu o encontre nesse Sábado na caverna, mas pelo jeito, você não vai poder ir...
Rony suspirou chateado, e Hermione foi quem respondeu.
- Nem ele, nem eu. – Todos se voltaram para a menina. – Eu tenho reunião de monitores de manhã. E aí, já que eu vou estar aqui mesmo... – Hermione abaixou a cabeça meio sem graça. – eu vou ficar o resto do dia pra fazer companhia pro Rony...
Harry e Gina entreolharam-se e dividiram um sorriso maroto.
- Tudo bem então, Mione. – Harry segurava a risada. – Ainda bem que eu contei pra Gina então, né?! Senão eu teria que ir sozinho...
Gina deu uma risadinha, e balançou a cabeça.
- Vocês são impossíveis! Eu vou dormir que já tá tarde. Boa noite!
Depois de três "boa noite"s como resposta, Gina subiu as escadas para o seu dormitório. E não muito tempo depois, os três resolveram seguir seu exemplo e foram, também, descansar e dormir.
Continua no Capítulo Dezesseis...
