Capítulo Dezessete
TODA A VERDADE
- Mundungo, você estava lá. Você conseguiu ver quem foi?
Harry estava na reunião da Ordem que fora marcada logo depois do ataque de Hogsmeade. Nem todos estavam lá, só aqueles que estavam por perto e puderam comparecer. Vários professores foram para o vilarejo assim que Dumbledore avisou do ataque para resgatar os alunos que pudessem estar por lá. Por sorte, ninguém morreu, mas houve vários feridos, e a Madame Pomfrey estava trabalhando feito louca na enfermaria, tentando socorrer os que precisam, e expulsar os curiosos e preocupados.
- Eles chegaram todos encapuzados, de preto... Nem se chamaram pelo nome... Eles planejaram tudo muito bem. Nenhum dos nossos espiões sabia desse ataque.
Mundungo abaixou a cabeça desolado. Mundungo Fletcher era um homem velhinho, de expressão séria, e hoje parecia mais cansado do que nunca. Ele estava sempre na companhia da Sra. Figg e, naquele dia, ele estivera em Hogsmeade exatamente por esse motivo. Ia encontrar a amiga quando aconteceu o ataque.
Dumbledore suspirou tristemente, e Arabella Figg olhou em volta da mesa. Parecia querer dizer algo, mas hesitava. Olhou fixamente para Harry e, respirando fundo, tomou sua decisão.
- Eu os ouvi falando da profecia.
Todas as cabeças voltaram-se para ela.
- Quando eu percebi que eram Comensais da Morte, eu me concentrei para ver se descobria o que eles queriam, e parece que eles estavam atrás da Feiticeira.
Harry estava confuso. O que a Sra. Figg queria dizer com"Eu me concentrei"?
- Mas eles não sabem quem ela é, sabem? – William Jones, um homem que devia estar se aproximando dos seus quarenta anos, perguntou. Estava com uma expressão quase de desesperado. – Se eles souberem...
William Jones engoliu seco, mas respirou aliviado quando Arabella Figg balançou sua cabeça em um sinal negativo.
- Eles não. Os Comensais estavam muito confusos. Mas eu não sei se o Voldemort sabe.
A reação foi geral. Todos assumiram uma expressão de preocupação imensa e, até Harry, só de ver aquilo começou a ficar extremamente preocupado. Então a Hermione estava certa. A profecia falava mesmo de uma feiticeira.
- Nós temos que agir rápido! – Dumbledore disse de repente. Parecia muito aflito. – Vocês já têm alguma suspeita?
Dumbledore voltara-se para o Professor Flitwick e a Professora Vector quando fez sua pergunta. Harry não estava entendendo nada, mas pelo menos, dessa vez, não se sentia excluído. Era como se o Diretor tivesse até esquecido que o Harry estava ali.
- Hermione Granger continua sendo a melhor aluna em Feitiços. – Flitwick começou, e Harry na mesma hora que ouviu o nome da amiga, prestou mais atenção ainda à conversa, se é que isso era possível. – Mas eu continuo achando improvável que seja ela. Nunca existiu uma feiticeira de família trouxa, mas sempre pode haver uma primeira vez. Esse ano, porém...
Todos estavam apreensivos e prestando muita atenção ao que o minúsculo professor de Feitiços tinha a dizer.
- Esse ano, mais três alunas me chamaram a atenção: Ana Abbot e Padma Patil do quinto ano, e Ginevra Weasley do quarto. Elas estão superando o resto de seus colegas.
- Padma Patil e Ginevra Weasley também têm aulas comigo. – Professora Vector interferiu. – E apesar de ainda ser cedo neste ano, posso garantir, que elas já estão com certeza, à frente de muitos em Aritmância.
Os olhos de Dumbledore pareciam ganhar esperança. Foi uma mudança tão repentina, que Harry ainda estava tentando entender o que estava acontecendo.
- Então eu quero que todos os professores fiquem de olho nessas quatro meninas. Principalmente você, Arabella, mas acho que você já sabe o que tem que fazer. – Arabella balançou a cabeça em um sinal positivo, e Dumbledore continuou. – Acho melhor então ficar por aqui. Os alunos ainda devem estar muito preocupados, e seria melhor voltarmos às nossas funções. A gente volta a se encontrar com qualquer nova informação.
Com isso, todos começaram a se levantar e se direcionar à porta secreta. Harry ainda estava confuso, e permaneceu onde estava. Dumbledore e Arabella Figg entreolharam-se, e a professora falou baixinho: "Deixa comigo.", permitindo que o Diretor saísse para acalmar o resto dos alunos, que ainda deveriam estar chocados com o ataque.
- Harry?
O menino levantou sua cabeça e olhou para a mulher que um dia já fora sua babá. Ela estava sentada do seu lado e, apesar de cansada, parecia disposta a ter uma longa conversa com ele.
- Harry, está na hora de você compreender melhor algumas coisinhas. Farei o que puder para explicá-las a você.
Harry olhou para a sua professora que sorria, mas tinha uma expressão séria em seus olhos. Será que finalmente alguém lhe contaria alguma coisa?
- Eu vou começar por quem eu sou. – Harry franziu as sobrancelhas confuso. – Há muito tempo, durante a guerra contra Grindelwald, quase toda a comunidade bruxa me conhecia. Eu era um motivo de esperança para muita gente. Vários bruxos continuavam lutando, porque acreditavam que eu os salvaria.
Harry conseguia relacionar-se com aquele discurso. Quantas vezes ele já ouvira aquilo: bruxos e bruxas que o agradeciam por ter livrado o mundo de Voldemort? Quantos já não disseram a ele que o mundo estava seguro por sua causa? Era uma responsabilidade que lhe pesava muito, e ele imagina que a Sra. Figg deveria ter passado pelo mesmo que ele.
- E foi o que aconteceu. Mas me custou muito. – Os olhos de Arabella encheram-se de lágrimas. – Eu sou a 6ª da 7ª geração de Feiticeiras. Por isso que tanta gente se apoiou em mim.
Harry lembrou da profecia que dizia que ele, o Leão, junto com a Feiticeira livrariam o mundo do Voldemort. Será que a Feiticeira era a Sra. Figg? A professora enxugou os olhos e continuou.
- A verdade é que Grindelwald sabia que eu seria capaz de derrotá-lo com a ajuda do Alvo e, por isso, tentou me atingir de todos os jeitos. Meu marido morreu por isso.
Harry olhou surpreso para a Sra. Figg. Ele sempre achara que Dumbledore tinha derrotado o Grindelwald sozinho. Não só ele, porque ele tinha certeza de ter lido livros sobre o assunto, e nenhum deles mencionava uma feiticeira como parceira de Dumbledore no fim de Grindelwald.
- Eu já sofri muito, Harry. E depois da morte do meu marido, eu só consegui seguir em frente porque o Alvo e o meu irmão Mundungo me ajudaram. Mas não teve jeito. Depois que a minha responsabilidade estava cumprida, eu resolvi abandonar tudo e fui morar como trouxa.
Arabella Figg enxugava os olhos mais uma vez. Devia ser muito doloroso ter que relembrar tudo aquilo, mas Harry estava demasiado curioso.
- Você abandonou ser feiticeira? Mas e a profecia... o Voldemort...?
Arabella levantou a cabeça e olhou diretamente nos olhos do Harry. Ela estava séria, e ele não ousou nem piscar.
- Voldemort não é obrigação minha! Ser feiticeira foi a minha maior maldição e, se eu puder evitar que a próxima tenha que passar pelo que eu passei, eu vou lutar com unhas e dentes...
Harry não estava acreditando no que estava ouvindo. A Sra. Figg participava de todas as reuniões da Ordem da Fênix, Dumbledore confiava nela, e cá estava ela, dizendo que evitaria o fim de Voldemort?
- Como a Sra. pode dizer isso? O Dumbledore confia em você!
Com um sorriso fraco, Arabella Figg levantou sua mão para evitar que Harry pudesse prosseguir.
- Não é isso que você está pensando, Harry. Eu não vim aqui para impedir a luta, eu vim aqui para reconhecer e proteger a próxima feiticeira. – Ela disse em um tom baixinho, com muito pesar em sua voz.
- Próxima feiticeira? Isso quer dizer que não é você na profecia? – Harry perguntou confuso.
- Não querido... a feiticeira da profecia é a 7ª da 7ª geração. Eu sou a 6ª. Eu nasci em 1878. Nesse último século do milênio, nasceu a 7ª, e eu não quero que ela tenha que passar pelo que eu passei. Mesmo me afastando do mundo dos bruxos, eu ainda assim fiz um favor para o Dumbledore: garantir que o Leão chegasse ao seu décimo primeiro aniversário. E para isso, eu fui sua Fiel de Segredo.
Harry estava atônito. Era muita informação junta... Quer dizer então que a velhinha com um milhão de gatos, cuja casa cheirava mal, estava na verdade o protegendo? Era sua Fiel de Segredo, assim como Sirius seria de seus pais?
- É por isso que o Dumbledore sempre faz questão que eu vá para a casa dos Dursleys todas as férias? – Harry perguntou, ainda confuso.
Sra. Figg balançou a cabeça em um sinal afirmativo. Depois de alguns instantes em silêncio para que Harry pudesse processar toda aquela informação, ela continuou:
A 7ª feiticeira está aqui. Eu posso sentir isso. Mas não consigo identificar quem ela é... É como um sistema de proteção que nós feiticeiras temos: sentimos presenças, mas só somos reconhecidas se nós quisermos isso. Alguma menina nesse castelo deve estar muito confusa, e precisando de ajuda. E é por isso que eu vim para cá. Com a volta de Voldemort, a profecia se aproxima, e eu tenho que proteger essa menina. Eu tenho... por tudo que eu passei.
Harry olhou para sua ex-babá, dessa vez, com tremenda admiração. Apesar de todo o sofrimento que a vida reservara para ela, Arabella Figg ainda continuava firme e forte, com a intenção de proteger. Não havia nada mais nobre que isso, e Harry a respeitava muito por isso.
- E por que a Sra. tá me contando tudo isso? Aposto que o Dumbledore não vai gostar muito...
Arabella sorriu e suspirou cansada.
- Não... provavelmente não vai gostar muito. Você não deveria saber disso, afinal, você é parte da profecia. Mas eu decidi que assim seria melhor. Você é forte como o seu pai, Harry. E como ele, merece toda a verdade.
- O que a Sra. quer dizer com isso? Você conheceu meu pai?
Arabella sorriu mais uma vez com a afobação de Harry.
- Conheci, Harry. E como com você, fui eu quem lhe contei a verdade. Quando Dumbledore consentiu que eu conversasse com você, acho que ele provavelmente já sabia que eu lhe contaria tudo. Mas... ainda falta uma grande peça nesse quebra-cabeça. A mesma peça que eu contei ao seu pai. – Arabella respirou fundo e ajeitou-se na cadeira. Seus 117 anos evidentes na tamanha experiência que seus olhos refletiam. – Dumbledore me contou que você usou a espada de Godric Gryffindor...
Arabella esperou a confirmação de Harry que veio com um sinal de sua cabeça.
- Você já se perguntou por que você conseguiu retirá-la do Chapéu? – Mais uma vez, Harry respondeu silenciosamente que sim. – Você conseguiu, querido, porque ela é sua de direito. Assim como a Capa de Invisibilidade que o Dumbledore te entregou quando você tinha onze anos.
- A espada também era do meu pai? – Harry perguntou inocentemente.
- Sim e não Harry. – Arabella sorriu quando ele franziu a testa em confusão. – Elas foram do seu pai, mas muito antes disso, pertenceram a Godric Gryffindor: um de seus mais antigos ancestrais.
Harry estava boquiaberto. Então era por isso que o descendente de Salazar Slytherin fora atrás de seu pai, e estava agora atrás dele? Harry era descendente de Godric Gryffindor? Talvez por isso seu pai lutara também quando era jovem. Dumbledore o protegera por isso e, agora, fazia o mesmo com o Harry.
- Quer dizer que-
- Isso mesmo, Harry. – Arabella interrompeu. – Voldemort matou seu pai por isso, e tenta matá-lo até hoje pelo mesmo motivo. Mas diferente de seu pai, Harry, você terá uma feiticeira ao seu lado. Helga Hufflepuff previu isso, e ela era uma verdadeira vidente. Acertou a primeira vez e, com certeza, acertará a segunda. A gente só precisa ter certeza que Voldemort não impeça isso.
Harry engoliu seco e abaixou a cabeça, que agora doía como se tivesse acabado de ter um pesadelo com o Voldemort. Ele nunca pedira por tudo aquilo. Por que tudo acontecia com ele mesmo assim? Ele estava cansado daquele megalomaníaco que fazia de sua vida perseguir e acabar com a dele. Seus pais morreram por isso, e agora Harry teria que enfrentá-lo sozinho. Sozinho, não: Harry lembrou-se das palavras da Sra. Figg. Teria uma feiticeira ao seu lado. Alguém que ele nem conhecia, e que ainda nem sabia que era uma feiticeira. Pensando em feiticeira, Harry olhou mais uma vez para a Sra. Figg. Ela tinha passado por tudo o que Harry estava passando e, ainda assim, continuava em frente. Pelo menos por enquanto, Harry seguiria seu exemplo.
- Obrigado, Sra. Figg. Significa muito pra mim, saber de tudo isso.
Arabella sorriu mais uma vez, mas como muitas das outras vezes, seu sorriso não chegava aos olhos. Harry sabia que muitos deles eram forçados e que, apesar de tudo, ela sofria por ter que contar tudo aquilo. Harry era ainda mais grato a ela por isso.
- Tudo bem, Harry. É um direito seu saber. – Arabella pausou e respirou fundo. – Eu acho melhor voltarmos agora. Já estamos conversando há muito tempo, e com certeza já notaram a sua ausência.
Harry balançou a cabeça em um sinal positivo, e com mais um "obrigado", direcionou-se à Torre da Grifinória. Arabella Figg dera-lhe muito no que pensar, mas apesar de grato, Harry sentia-se muito cansado, e depois do dia cheio e terrível que teve, tudo que ele queria naquele momento era a sua cama. Esquecer que o mundo existe e depende dele por algumas horinhas. Tentar fingir que ele era um garoto comum, e que sua única preocupação era ir bem em seus N.O.M.s. Quando acordasse, voltaria a ser o Famoso Harry Potter, e pensaria em tudo o que foi dito naquela noite, mas por enquanto... por enquanto o mundo dos sonhos o chamava, e ele iria de bom grado.
Continua no Capítulo Dezoito...
