Capítulo Dezoito
RONY E HERMIONE
- Que tumulto todo é esse? – Harry perguntou.
Assim que ele e o Rony desceram as escadas de seu dormitório para encontrarem Hermione e Gina para irem para o café da manhã, a cena que os encontrou foi um aglomerado de gente falando alto, com alguns ocasionais sussurros e risadinhas femininas.
- Ô... até que enfim, hein?! – Hermione puxou Rony pelo braço e arrastou os dois do meio da multidão.
Ao saírem pelo quadro da Mulher Gorda, Harry olhou confuso para a Hermione e Gina. Pelo jeito, elas estavam lá há mais tempo e, provavelmente, sabiam o que aquela confusão toda era. Hermione, como sempre, estava desperta e, depois da cena na Sala Comunal, um tanto aborrecida. Já a Gina... Harry ainda teria que se acostumar com ela pelas manhãs. Ela definitivamente não nasceu para acordar cedo, Harry pensou escondendo um sorriso.
- O que que tá acontecendo lá dentro? – Rony perguntou para Hermione enquanto os quatro se direcionavam ao Salão Principal.
- Eu tava fazendo as lições que eu não pude terminar ontem, qu--
Hermione não pôde terminar o que estava dizendo, porque naquele mesmo instante, Rony parou bruscamente e virou-se para ela com tamanha expressão de indignação. Gina, que estava atrás dele, morrendo de sono como todas as manhãs, não percebeu que seu irmão tinha parado e trombou com tudo nele.
Ela murmurou algo parecido com "Ô, Rony!", ou pelo menos foi o que Harry entendera. Rony nem deu conhecimento da irmã.
- Mas ontem foi Domingo! Que lição que você tinha pra fazer num Domingo??? – Rony perguntou indignado.
Hermione ficou alguns instantes em silêncio, olhando feio para o Rony. Harry é que não queria estar no lugar do amigo, mesmo sem entender direito o que estava se passando.
- Você quer que eu continue, ou não? – Hermione disse séria e pronunciando sílaba por sílaba.
Rony abaixou a cabeça e disse "desculpa" bem baixinho e enrolado. Gina, atrás dos dois e do lado do Harry, murmurou:
- Quando que foi o casamento, hein?! Porque eu não lembro de ter sido convidada...
Harry dessa vez não agüentou: não pôde conter a risada. Para quem estava com sono, Gina estava bem ligada no comportamento do irmão, e Harry não pôde deixar de concordar com ela.
Hermione e Rony, que não ouviram o comentário, olharam estranho para ele. Depois de dizer que não foi nada, os quatro voltaram a andar.
- Como eu estava dizendo, – Hermione continuou – hoje cedo, a Professora McGonagall colocou um aviso na Sala Comunal. É sobre o Dia das Bruxas: vai ter um baile. Acho que os professores estão tentando levantar os nossos ânimos depois do ataque de ontem...
Baile? Harry pensou alarmado. De bailes, para ele, bastou o do ano passado. Ele não queria ter que repetir aquela experiência por um bom tempo. Harry fez as contas e, mais alarmado ainda, percebeu que o dito cujo do baile seria na próxima terça-feira. Ele teria só uma semana até lá! Rony parecia não ter gostado muito da idéia também, porque logo perguntou:
- Que tipo de baile??? Igual ao do ano passado?
- Sei lá, Rony! – Hermione deu com os ombros. – Provavelmente... vamos comer, vamos...
Os quatro se sentaram e, mesmo com a tentativa de não falar no assunto, acabaram voltando nele por algumas vezes, porque parecia que todo o Salão só falava nisso. Principalmente as meninas, Harry pensou horrorizado. Ter que passar por todo o sufoco que ele passou no ano passado para encontrar uma acompanhante... Pelo menos a Cho não está aqui, Harry pensou chateado, lembrando-se da vergonha que passara no ano passado quando convidou a Apanhadora da Corvinal para ir com ele.
Com o café da manhã terminado, Colin Creevey, fiel à sua rotina, passou por eles para que ele e a Gina pudessem ir juntos às aulas. A menina levantou-se da mesa e, enquanto seguia Colin, Harry pôde ouvir um pouco de sua conversa.
- Já pensou com quem você quer ir ao baile, Gina? – Colin perguntou, ligeiramente corado, e com a cabeça abaixada.
- Ai, eu tô dormindo ainda, Colin! Quando eu acordar, a gente conversa...
Harry riu baixinho da resposta da Gina e, por algum motivo, desejou que ela não voltasse a falar naquele assunto. Pelo menos, não com Colin Creevey!
O dia inteiro, Harry ouviu sussurros e risadinhas nos intervalos de aulas e, por vezes, até no meio delas. Era incrível como o número de meninas no castelo crescia de repente quando havia o aviso de um baile. Da sua sala, Parvati era a única que já sabia com quem ia. Ela e Simas Finnigan eram o casal mais popular da escola, apesar das óbvias traições. Simas fazia questão de se gabar de cada menina com quem ele ficava, mesmo com todo mundo sabendo de seu namoro. E Harry tinha lá suas suspeitas se a Parvati Patil também não fazia o mesmo.
Com o "garanhão" namorando, aparentemente, Rony tinha sido o escolhido. E apesar de ele dizer que era um saco aquelas meninas dando em cima dele, Harry suspeitava que ele bem gostava. Era algo para acariciar seu ego. Rony crescera ainda mais nas férias e, apesar de Harry ter crescido um pouco também, ele continuava baixinho do lado do amigo. Todos na família Weasley, com exceção da Molly e da Gina, eram altos, mas Rony parecia que iria passar de todos eles. Só não era mais alto que o Gui, mas em pouco tempo, passaria dele também. Harry reparara nas mudanças que ele e o amigo passaram, e ainda estavam passando. A começar pela voz, que ainda falhava de vez em quando. Mas ele não se prendeu tanto às mudanças por que eles estavam passando.Prendeu-se, sim, às mudanças que suas amigas estavam passando.
Não havia como não reparar, principalmente porque quase todas as meninas que ele conhecia, já eram praticamente mulheres, e mudaram muito mais rápido que ele. Seus hormônios, com certeza, notaram também. Se ele achava que as mudanças da vida Trouxa para a vida de Bruxo foram complicadas, elas não eram nada comparadas à adolescência.
- Harry... posso falar com você? – Hermione perguntou meio incerta.
Era o fim da última aula do dia, e Harry estava muito grato por isso.
- Claro, ué! Precisa perguntar? – Harry respondeu sorrindo.
- É que é importante... – Hermione disse séria, e Harry começou a ficar preocupado. Será que ela descobrira alguma coisa?
- Tudo bem. – Harry respondeu meio incerto. – E o Rony?
- Ah... –
Hermione sorriu. – Eu já falei com ele. Ele vai
atrás da Gina enquanto a gente conversa.
- Ok. – Harry respondeu apreensivo.
Hermione parecia nervosa, e Harry começou a se perguntar por que tanto mistério. Os dois começaram a ir em direção à biblioteca e, com cada minuto que passava em silêncio, ainda mais perguntas se formavam na cabeça de Harry. Hermione era muito inteligente. E se ela tivesse descoberto a Ordem da Fênix? O que Harry diria para ela? Está certo que seria um alívio poder falar com ela sobre isso, sem ter a culpa de ter denunciado um segredo nas suas costas. Além do que, talvez a amiga pudesse ajudá-lo a compreender melhor e assimilar tudo o que a Sra. Figg tinha lhe dito na noite anterior. Mas para o seu alívio, ou talvez não, esse não era o assunto da conversa.
Os dois sentaram-se o mais longe da Madame Pince possível, para que a bibliotecária não expulsasse os dois dali por estarem conversando.
- Eu te trouxe aqui, porque eu tenho uma notícia séria pra te dar.
- Mione, você tá começando a me assustar... Diz logo o que é...
Hermione respirou fundo e começou a amassar as pontas de um pergaminho que estava em suas mãos.
- Ãh... é sobre o Rony. – A menina abaixou a cabeça.
- Que que tem ele? – Harry perguntou curioso. Era só impressão, ou a Hermione estava mesmo envergonhada?
- Na verdade, é sobre o Rony e... e eu.
- O Rony e você? – Harry perguntou sorrindo. Será que finalmente seus dois melhores amigos tinham aberto os olhos e percebido o que todo resto vira muito antes deles?
- É. É que nós dois... ãh...
Hermione estava de cabeça abaixada e massacrando o pobre do pergaminho que estava em sua mão. Harry sorria de orelha a orelha, e continha a risada.
- Mione? – A amiga levantou a cabeça e olhou para ele. – Você me chamou aqui, fez todo esse suspense, pra dizer que você e o Rony tão namorando?
Harry continuava sorrindo, mas Hermione tinha uma expressão de descrença, estava atônita. Harry não agüentou e riu tanto da reação da amiga, quanto da situação.
- Harry! – Hermione sussurrou exigente para ele e, quando ele lembrou que estava na biblioteca, a Madame Pince já estava olhando bem feio para ele.
Harry engoliu a risada e olhou para a amiga. Ela ainda estava sem-graça, mas parecia exigir respostas.
- Mione, não me leva a mal, mas eu acho que até demorou pra vocês perceberem o que sentem um pelo outro. É tão óbvio que até eu percebi...
Hermione sorriu, e Harry sentiu-se aliviado de que sua amiga tinha voltado ao normal. Ainda bem, Harry pensou, porque vergonha não era exatamente um sentimento que combinasse com a Hermione.
- Então tá tudo bem, Harry?
- Claro! – Harry sorriu. – E por que não estaria?
- Não sei... – Hermione deu com os ombros. – Você já anda meio afastado da gente, e eu pensei que talvez você fosse pensar que eu e o Rony estávamos excluindo você ainda mais...
Harry esticou seu braço sobre a mesa e pegou a mão da Hermione, em um gesto de conforto.
- Mione... – Harry começou com um tom de voz mais suave. – Seu problema é que você pensa demais... – Os dois sorriram. – Eu nunca acharia ruim ver os meus dois melhores amigos felizes...
Hermione suspirou aliviada.
- É que foi tão de repente... – Ela começou.
Harry ergueu uma única sobrancelha em sarcasmo. Hermione abaixou a cabeça e, sorrindo, continuou:
- Tá, talvez não tão de repente pra você, mas pra mim foi... Quando eu terminei a reunião, eu fui esperar por ele, e a gente passou o dia interiro juntos...
Hermione suspirou feliz, e Harry pensou que ele provavelmente não gostaria de ouvir exatamente como que os dois ficaram juntos. Mas ao olhar para a amiga, ela parecia tão feliz, com tanta vontade de contar o que acontecera, que Harry não se opôs nem um segundo ao relato dela.
- A gente não fez nada de importante, só conversou... Mas o Rony tava tão diferente... talvez porque estava só comigo, sem ninguém que o cobrasse alguma reação. E de repente, a gente parou de conversar, e deve ter ficado uma eternidade olhando um para o outro. E eu nem percebi como, mas quando eu dei por mim, a gente tava se beijando, e nada pareceu tão certo na minha vida antes disso...
Hermione tinha um olhar distante enquanto revivia aquele momento e Harry admirou-se do quão romântica sua amiga podia ser. Ele estava acostumado com a Hermione durona, que sempre tinha uma palavra de repreensão e que sempre enxergava o lado racional das situações. De repente, deparar-se com uma menina que contava do seu namorado era algo atípico para Harry. Ele começou a pesar as palavras da Hermione e chegou à conclusão de que ela devia estar sinceramente feliz. E apesar de ele próprio sentir-se feliz por seus amigos, Harry não pôde deixar de sentir uma pontinha de inveja do que eles tinham. Será que ele também encontraria alguém que passaria esse sentimento de tudo estar certo com o mundo? Será que um dia existiria alguém que o considerasse a pessoa mais importante em sua vida?
Harry ficou calado por alguns instantes, pensativo, e Hermione olhou para ele com um pouco de preocupação.
- Harry?
Ele olhou para a amiga e decidiu que se ela foi tão sincera com ele, talvez ele pudesse, no mínimo, tentar ser também.
- Mione, você lembra no terceiro ano, quando você ficou o ano inteiro sem poder contar pra gente sobre o Vira-Tempo? – Hermione balançou a cabeça em um sinal positivo, e Harry continuou. – Como é que você agüentou? Guardar o segredo, eu quero dizer.
Hermione olhou crítica para ele e, naquele instante, Harry sentiu-se tão fácil de ler quanto um livro. Sentia-se exposto, mas ao mesmo tempo, queria dizer o que estava sentindo.
- É por isso que você tem se afastado da gente, Harry? Você tem um segredo que não pode contar?
Harry apenas balançou a cabeça confirmando. Hermione respirou fundo e continuou:
- Se você não pode dizer, Harry, eu não vou cobrar nada. Afinal, eu também já passei por isso. Mas se de repente você quiser desabafar, você sabe que eu nunca contaria um segredo seu pra ninguém. Nem mesmo pro Rony...
Harry sorriu da boa vontade da amiga e agradeceu toda e qualquer divindade por ter-lhe concebido amigos tão leais e confiáveis quanto os que ele tinha.
- Obrigado mesmo, Mione. Só isso já ajuda muito... – Harry sorriu – Mas acho melhor a gente ir. Eu é que não quero ser o responsável por fazer você atrasar suas lições e, hoje, a gente tem muitas...
Hermione riu, e os dois juntaram suas coisas para irem à Torre da Grifinória. O jantar só seria em algumas horinhas, e eles faziam por rotina passar esse tempo na Sala Comunal.
No meio do caminho, Hermione pediu desculpas e disse que tinha que ir ao banheiro, mas o encontraria mais tarde. Harry achou estranho que ela de repente tenha se lembrado de algo, e quase que em desespero saiu correndo para o banheiro. Estava aí mais uma coisa sobre garotas que ele nunca iria entender: essas lembranças repentinas de que tinham que ir ao banheiro.
Balançando os ombros e resolvendo que deixaria estar, Harry continuou seu caminho, que foi interrompido mais uma vez. Só que pelo seu outro melhor amigo, agora.
- Até que enfim, Gina! Tô te procurando há um tempão... – Rony puxou Gina pelo braço.
- Ai, Rony! Me larga! O Colin ficou me prendendo e só deu pra eu vir agora... – Gina disse afastando-se de seu irmão.
- Eu preciso falar com você! – Rony continuou e Harry ia ao encontro deles, mas parou e se escondeu quando ouviu seu nome. – É sobre a Mione, eu e o Harry.
- Ah... o que foi dessa vez? – Gina perguntou meio aborrecida.
- Eu tô namorando a Mione. – Rony disse, erguendo a cabeça que tinha abaixado quando começou a falar.
- Grande novidade, Rony! – Gina disse sarcástica e Harry conteve o riso. – Que que isso tem a ver com o quê?
Rony respirou fundo e olhou sério para a irmã.
- Eu quero te pedir um favor. Já que você já se meteu entre a gente--
Gina interrompeu o irmão com um suspiro cansado.
- Rony, é sempre a mesma coisa! Você vai vir de novo com esse discurso de que eu me meti entre vocês? Se for, poupa meu tempo, porque eu já ouvi trocentas vezes...
Harry estava perplexo. Rony dissera aquilo para a Gina? E ainda mais de uma vez? Harry gostava muito de seu melhor amigo, mas naquele instante, sentiu uma certa proteção pela Gina. A menina tinha lhe dito outro dia que sentia falta do irmão que fora seu melhor amigo, e o Rony falou para ela que ela estava se metendo entre eles? Harry teria que ter uma conversinha com o seu amigo.
Rony balançou a cabeça em um sinal negativo e continuou:
- Cala a boca, Gina. Pelo menos uma vez, me deixa falar. – Gina parecia magoada e indignada, mas pelo jeito, seu irmão nem percebeu. – Eu quero te pedir pra ficar mais tempo com o Harry.
- Quê? – Gina perguntou confusa, e Harry se perguntou a mesma coisa.
- É que eu conversei com a Mione e a gente não quer que o Harry se sinta excluído...
Gina respirou fundo e, pelo que Harry pôde perceber, ela estava furiosa.
- Eu tô pouco me importando com o que você decidiu! Você tá pensando o quê? Isso é jeito de falar de um amigo? Seu melhor amigo? Eu achei que você o considerasse mais que isso. – Gina pegou o malão que tinha largado no chão e, ferozmente, continuou o que estava falando. – Eu vou mesmo me aproximar dele, mas não porque você tá pedindo, e sim porque ele merece... Esse teu namorinho com a Mione tá te cegando, e eu sinto muito por isso...
Gina levou a mão ao olho e, brava, o enxugou enquanto saía pisando forte em direção à Torre da Grifinória.
- TPM... Só pode ser TPM! – Rony sussurrou enquanto seguia sua irmã a uma certa distância.
Harry saiu do corredor onde estava e, virando a esquina, entrou no corredor onde Gina e Rony discutiram. Pelo jeito, Hermione era muito melhor com as palavras do que Rony. Respirando fundo, Harry também, direcionou-se à Sala Comunal da Torre da Grifinória.
Continua no Capítulo Dezenove...
