Capítulo Vinte e Cinco

LUA CHEIA

Harry se levantou o mais rápido que pôde e, preocupando-se apenas em pegar a sua varinha, seus óculos, e o seu medalhão, ele desceu as escadas correndo até a Sala Comunal. Frações de segundos depois dele, Gina Weasley descia as escadas dos dormitórios femininos, tão apressada quanto ele.

 - Harry, a gente precisa avisar--

 - Eu sei, Gina! – Harry parou e olhou no relógio. – Mas são três e quinze da manhã... Não tem ninguém acordado ainda! – Harry disse em um tom de voz exasperado.

 - Mas, Harry... isso é mais importante que uma noite de sono! É a vida da Professora Figg, e do irmão dela! – Gina estava muito aflita e gesticulava muito com as mãos enquanto falava.

 - Mas como é que a gente pode falar com eles? – Harry olhou perdido para a amiga. – Ninguém sabe onde ficam os dormitórios dos professores. E o do Dumbledore, a gente só sabe que tem acesso pela sala dele, mas... – Harry suspirou em desistência. – A gente devia ter pensado nisso antes...

Harry abaixou a cabeça, e tentou pensar em alguma saída, alguma maneira de contatar o Dumbledore, mas por mais que ele soubesse onde ficava o acesso para o quarto do Diretor, só isso não era o suficiente. A porta era provavelmente protegida por senha – assim como todos os cômodos pessoais do castelo – e Harry só sabia as senhas da Sala do Diretor, não do quarto dele... Harry ergueu a cabeça, intrigado com o silêncio, e a visão que ele teve o assustou demasiadamente. Gina estava em pé, parada com o corpo rígido, e seus olhos estavam completamente fora de foco. Estava muito escuro, – a lareira que fora acesa durante a noite já estava apagando – mas ainda assim, Harry pôde notar que o marrom dos olhos da Gina estava quase imperceptível, de tanto que suas pupilas estavam dilatadas.

Na mesma hora que percebeu o estado da amiga, Harry correu para o seu lado, mas por algum motivo, era como se existisse uma barreira em volta dela, e Harry não podia se aproximar demais da Gina. Desesperado, e demasiado preocupado, Harry começou a chamar por ela, tentando fazer com que ela voltasse a si. Ele não precisou chamar muito, porque logo Gina perdeu a concentração, e seu corpo que estava muito rígido, de repente perdeu toda a força, e ela cairia direto no chão, se Harry não tivesse sido mais rápido que ela, e abraçado a amiga para evitar a queda.

 - Gina, o que que tá acontecendo? Gina? – Harry perguntou, chacoalhando de leve a menina, e ajoelhou-se para posicionar a amiga em uma posição mais confortável.

Gina parecia acordar de um pesadelo e, assustada, seus olhos voltaram ao normal, e ela tentou se levantar, mas Harry a manteve sentada no chão.

 - Gina, por favor, fala alguma coisa! Tá tudo bem?

Gina balançou a cabeça em um sinal positivo e respirou fundo. Respirando da mesma forma por mais algum tempo para se acalmar, Gina ergueu a cabeça e olhou nos olhos do Harry.

 - Eu chamei! Eu não sei como, mas eu chamei a Professora Figg! – Sua voz era baixinha, e sua expressão era de surpresa. – Eu só queria encontrar uma forma de avisá-la, e quando eu dei por mim, eu tava sentindo a professora Figg. Era como se ela tivesse falando comigo, mas eu não ouvi nada, eu só senti... Ela disse que eu me acalmasse e fosse até sala do Diretor com você, que os dois estariam lá pra receber a gente...

Harry olhou admirado para Gina. Ela conseguira contatar a Sra. Figg, sem nem abrir a boca ou sair do lugar. Fora completamente espontâneo e sem querer, mas assim como as primeiras demonstrações de magia em uma criança, tinha dado certo! A Sra. Figg deve tê-la entendido por ser uma feiticeira também. E o fato de Gina, que acabara de descobrir que era uma, ter conseguido contatar alguém com a mente era assustador, mas ao mesmo tempo encorajador.

 - Você tem certeza que consegue ir até lá? Não é melhor você ficar? – Harry perguntou, olhando preocupado para a amiga. – Eu posso contar tudo, e digo que você não tava muito bem...

Gina levantou subitamente, e olhou séria para o Harry assim que ele também estava de pé.

 - Eu vou quer você queira, quer não! Você já se isolou demais, Harry, e eu não vou deixar você continuar a fazer isso!

Gina estava séria, e até um tanto brava, mas Harry não pôde deixar de se sentir emocionado com as palavras da amiga. Ela não estava brava porque ele tinha sugerido que ela ficasse. Gina estava brava porque ele tinha sugerido que ele fosse sozinho. Com um sorriso, Harry balançou a cabeça em um sinal afirmativo.

 - Tudo bem, então... eu vou pegar a Capa de Invisibilidade, e pôr alguma coisa por cima do pijama.

Gina olhou para si mesma e, ligeiramente corada, ela sorriu quando percebeu que ela também precisaria subir para pôr algo por cima do pijama. Gina virou-se para ir ao seu dormitório, mas Harry pegou sua mão, antes que ela pudesse ir muito longe.

 - Gina... – A amiga virou-se de frente para ele. – Obrigado!

Harry aproximou-se dela e beijou-lhe o rosto. Sem esperar uma reação, ele soltou a mão da Gina e foi para o seu próprio quarto fazer o que tinha dito. Harry não sabia exatamente por que fizera o que fez, mas ele se sentia realmente grato pelo fato de que a Gina não deixaria o seu lado, e ela falou que não deixaria que se isolasse de tal maneira, que não tinha como ele não se sentir grato por aquilo.

Harry fez o máximo de silêncio possível, e abriu o seu baú para pegar as capas. Uma ele jogou por cima de si mesmo, e a outra ele pôs no bolso. Com o máximo de cautela, ele fechou o baú e saiu mais ima vez do quarto. Descendo as escadas, ele esperou um pouco pela Gina, mas logo ela desceu também, e os dois saíram da Torre da Grifinória para irem à sala do Diretor.

O único problema que os dois tiveram no caminho foi o Pirraça. Mas por sorte, eles o viram e puderam sair do caminho antes que o poltergeist saísse gritando que tinha aluno fora da cama. Em pouco tempo, chegaram à Sala do Dumbledore, que já estava com a porta aberta, e a Sra. Figg os esperava. Quando ela os viu, a primeira coisa que fez foi abrir um sorriso enorme para Gina, e sussurrar.

 - Parabéns, querida! Você se saiu maravilhosamente bem!

Saindo do caminho da porta, Sra. Figg convidou os dois para entrarem, e assim que o fizeram, avistaram Dumbledore, ainda de pijama, sentado na sua cadeira. Harry teve que segurar a risada quando olhou melhor para o pijama do Dumbledore. Ele era azul Royal, cheio de estrelinhas, cometas, e planetas em amarelo escandaloso. Harry não sabia bem por quê, mas a imagem do bruxo mais poderoso daquela era, vestido com um pijama tão ridículo, era extremamente hilária, e ele teve que evitar ao máximo olhar para o Diretor.

 - A Arabella me acordou dizendo que você a contatou mentalmente, Srta. Weasley. Fico feliz que já consiga ter acesso a alguns de seus poderes sem nenhum treinamento. Meus parabéns. – Dumbledore sorriu para a Gina, e ela ficou levemente corada com o elogio. – Mas agora vamos ao motivo que nos trouxe aqui: o pesadelo deve ter sido extremamente urgente... Você sempre espera chegar a manhã, Harry.

Harry balançou a cabeça concordando, e olhou de rabo de olho para a Gina. Ela mordeu o lábio inferior em um gesto nervoso, e Harry resolveu que o melhor seria que ele falasse.

 - Foi sim, Diretor. O Voldemort tá planejando um ataque no Samhaim.

 - Eu já imaginava isso. – Dumbledore disse, confirmando as suspeitas de Harry sobre a data do baile de Dia das Bruxas.

 - Só que dessa vez, Diretor... – Harry olhou para Gina mais uma vez e, respirando fundo, ele continuou. – Dessa vez o plano é matar a Sra. Figg, usando Mundungo Fletcher como refém...

Harry olhou para Arabella Figg e ficou intrigado com a sua reação. Ela não estava surpresa, nem horrorizada, nem chorando... Seus olhos estavam simplesmente vazios, e se tinha uma coisa que dava para sentir emanar dela, era dor. Nem era necessário olhar para ela, só de estar perto da Sra. Figg, já dava para saber que o que ela sentia naquele momento, era dor.

Harry não sabia o que fazer ou dizer, e por isso resolveu esperar que outra pessoa o fizesse. Ele olhou mais uma vez para Gina, que dessa vez também olhava para ele, e percebeu que ela estava tão intrigada e confusa quanto ele. Quem quebrou o silêncio foi ninguém mais ninguém menos que a própria Arabella Figg.

 - Então finalmente chegou o dia... – Arabella voltou sua atenção para o Dumbledore. – Anos e anos escondida, Alvo... E agora... agora as pessoas que eu amo correm perigo outra vez!

Alvo Dumbledore olhou para a amiga, que agora estava com os olhos cheios d'água, mas nenhuma lágrima escorrera.

 - A gente vai fazer o que for possível e o que for necessário, Arabella...

 - Não adianta, Alvo – A Sra. Figg respondeu com um tom de voz mais severo. – Você e eu sabemos muito bem que nada disso vai adiantar em nada!

Dumbledore permaneceu olhando para amiga por um longo tempo, parecia nem piscar. Harry já estava começando a se sentir ligeiramente desconfortável por estar obviamente presenciando um momento íntimo entre amigos, quando o Diretor tirou os olhos de Arabella, que estava ao seu lado, e voltou-se para os dois que estavam sentados bem à sua frente.

 - Harry, Gina... peço desculpas, mas eu gostaria de pedir aos dois que se retirassem por favor. Arabella e eu temos... assuntos para discutir.

Harry e Gina entreolharam-se, e os dois se levantaram ao mesmo tempo, sem duvidar em nenhum momento que o Diretor e a Professora de Defesa Contra as Artes das Trevas teriam uma longa conversa.

 - Tudo bem, Diretor... – Gina disse, entrelaçando seus dedos com os dedos de Harry enquanto os dois caminhavam em direção à porta. – Não precisa pedir desculpas! A gente só veio porque era urgente.

 - Fizeram bem, minha querida. – Dumbledore sorriu, mas seu sorriso não chegava aos olhos.

Harry e Gina deixaram a sala e, em silêncio, voltaram para a Torre da Grifinória. Não havia nada a dizer naquele momento. Os dois estavam com a cabeça cheia de dúvidas, mas que com certeza não seriam resolvidas àquelas horas da madrugada. Com sussurros de "boa noite", cada um subiu as escadas que os levariam de volta aos seus próprios dormitórios.

Mais uma vez com o máximo de silêncio e cuidado possível, Harry voltou suas capas para o seu baú, e sentado na beirada de sua cama, ele posicionou sua varinha em cima do criado-mudo. Estava para fazer o mesmo com o seu medalhão, quando parou, e trouxe o medalhão para mais perto dos olhos. A lua estava cheia e fornecia luz o suficiente para que ele enxergasse bem o medalhão. A lua cheia o fez lembrar de Remo Lupin, que foi quem lhe dera de presente o medalhão que pertencera à sua mãe. Será que estava tudo bem com ele? Harry esperava que onde quer que Lupin estivesse, ele tivesse acesso à poção Mata-Cão, e que não estivesse sofrendo muito com sua transformação.

Harry abriu o medalhão e olhou para os rostos felizes de seus pais. Na época em que as fotos foram tiradas, o Voldemort já estava matando bruxos e trouxas com a intenção de ser o maior e mais temido bruxo, e mesmo assim, Harry não duvidava nem por um minuto, que aqueles deviam ter sido os melhores anos das vidas de seus pais. Morreram tão cedo, mas Harry tinha certeza que seus pais foram felizes, pelo simples fato de terem tido um ao outro. E pensando nisso, Harry sentia-se ainda mais sozinho e perdido. Olhou para os seus pais na foto e, mesmo sabendo que não ouviria resposta, ainda assim perguntou com não mais que um sussurro:

 - E agora? O que será que vai acontecer daqui pra frente?

Harry ficou olhando para o amuleto por ainda mais um tempo, até que o fechou, e o posicionou no criado-mudo ao lado de sua varinha, fazendo o mesmo em seguida com os seus óculos. Com o coração pesado e a cabeça cheia de dúvidas, Harry deitou-se e dormiu inquieto pelo resto da madrugada e manhã de Domingo adentro.

Continua no Capítulo Vinte e Seis...