Capítulo Vinte e Seis
TUDO QUE VAI, VOLTA
- E eles sabem onde o Mundungo mora? – Dumbledore perguntou alarmado.
- Sabem. – Severo Snape respondeu sério, como sempre, mas dessa vez sua voz carregava um tanto de preocupação também. – Sabem onde ele mora e o plano é seqüestrá-lo amanhã, e só avisar Arabella no Samhaim.
Gina olhou para o Harry assustada. Eles estavam em uma reunião extraordinária da Ordem da Fênix, porque o Snape tinha novas notícias sobre os planos do Voldemort com relação à Arabella Figg. Ao começo da reunião, os dois relataram todos os detalhes do pesadelo que tiveram e, depois, o Snape adicionou o que sabia e descobrira sendo espião para o Dumbledore.
- E essa informação custou-lhe muito, Severo? – Dumbledore perguntou com um tom de voz mais ameno, mas ainda preocupado.
- Até agora tem dado tudo certo. – Snape abaixou a cabeça. – Custar, sempre custa... mas nada que eu não possa suportar.
Dumbledore lançou um olhar grave para a mesa onde todos estavam sentados – todos menos o Lupin, Harry pensou – e com um suspiro triste, voltou-se para o Mundungo.
- Querido amigo, acho que você já sabe que não deve voltar para Hogsmeade...
- Não, Alvo! Eu tenho que ir! – Mundungo recebeu várias expressões de surpresa e, por isso, explicou melhor. – Tem que ser agora, Alvo. Agora a gente sabe quais são os planos do Voldemort, e nós podemos tentar fazer algo para evitá-los. Se a gente foge dessa vez, vai sempre ter uma próxima. – Mundungo olhou para a sua irmã e, com uma expressão mais triste e menos determinada, ele disse: – Ele não vai desistir da Arabella tão fácil... agora que ele sabe que ela tá viva, ele vai continuar perseguindo até conseguir matá-la. A gente tem que fazer o que tem que ser feito agora, que a gente não vai ser pego de surpresa. Se o Voldemort contar com a surpresa, a gente não vai conseguir evitar uma desgraça maior...
- Não! – Arabella levantou-se de sua cadeira. – Eu não vou perder mais alguém que eu amo, e nem vou deixar você sofrer por minha causa!
- Eu tinha medo que você dissesse isso, Mundungo... – Dumbledore disse com um tom de voz baixinho. – E apesar de doer muito o coração, eu sei que o que você diz é o correto.
- Não, Alvo! – Arabella aumentou o tom de voz. – A gente já conversou sobre isso, eu não vou perder mais ninguém!
- Bella, – Mundungo chamou a atenção da irmã. – Eu sei que você já sofreu muito, mas agora não depende mais do que você quer. A gente precisa fazer o que for melhor pra todo mundo e, no momento, você viva é mais importante do que eu vivo.
Arabella Figg sentou-se indignada com seus olhos cheios d'água. A expressão de Mundungo Fletcher era de muita dor, e Harry se admirava como ele também não estava chorando como a irmã.
- Belinha, quem pode decidir o futuro dessa guerra está sentado aqui, nessa mesa. Ou melhor, – Mundungo tirou sua atenção da irmã, para olhar para Harry e Gina. – estão sentados nessa mesa. – Mundungo mais uma vez olhou para a irmã. – Você disse que queria ajudar essa menina... se você morrer, ela não vai ter seu apoio. Outros vão ajudá-la, mas você e eu sabemos que não vai ser a mesma coisa...
Arabella dessa vez não agüentou e desabou em lágrimas com as mãos cobrindo o rosto. Os membros da Ordem entreolharam-se e, sem dizer nada, entraram em comum acordo. Todos – com exceção do Mundungo e do Dumbledore – se levantaram e se retiraram da sala secreta onde aconteciam as reuniões. Pelo menos por enquanto, nada mais seria dito. Nada que dissesse respeito a eles, isso é. Quando Harry e Gina saíram da sala, eles encontraram Sirius Black sentado na mesa do Diretor, aparentemente esperando pelo Harry para dizer-lhe algo.
- Harry... Gina... – Sirius forçou um sorriso, mas tanto sua voz quanto sua expressão estavam carregadas com cansaço.
- Oi. – Harry respondeu, sorrindo de volta.
- Ãh... – Gina começou meio incerta. – O Professor Lupin... Ele tá bem? Eu sei que ontem... ãh...
Gina estava muito sem graça, mas parecia preocupada, e Sirius ao vê-la, sorriu sinceramente. Ele provavelmente tivera uma noite cansativa já que fora lua cheia e, além disso, ele tinha viajado bastante, vindo da Romênia, local da sua atual missão.
- Ele tá bem, Gina. Mandou dizer aos dois que não se preocupassem, mas acho que é besteira dizer isso para o filho de Lílian Evans, né, Harry? – Sirius voltou-se para o seu afilhado. – Você e sua mãe sempre se preocuparam com tudo e com todos... – Sirius sorriu com muito afeto tanto para o Harry, como em lembrança de uma de suas mais velhas amigas. – Mas... mas eu esperei por vocês porque eu quero saber como vão as coisas. Você recebeu minha carta, Harry?
- Você não quer que eu te espere lá fora, Harry? – Gina interrompeu, falando baixinho, sentindo-se um pouco sem graça por estar no meio de uma conversa entre padrinho e afilhado que não se vêem com tanta freqüência.
- Não precisa, Gina. – Sirius foi quem respondeu. – Agora, mais do que nunca, vocês devem ficar juntos e dependerem um do outro. Eu lembro bem quando o Thiago juntou-se à Ordem e não podia contar para ninguém. A gente nunca teve segredos um com o outro, e isso tava pesando muito nele. Todos sabíamos que havia algo de errado, mas só a Lílian, que sempre teve uma quedinha por ele, foi quem percebeu o quê que havia de errado. – Sirius suspirou tristemente e continuou. – Sua mãe sempre foi muito inteligente, Harry, e não levou muito tempo para ela sacar o que estava acontecendo. Ela não tinha muitos amigos antes de começar a namorar o seu pai. Acho que ela não gostava muito das meninas do ano dela... – Sirius disse com um sorriso.
- Do ano dela? – Harry perguntou confuso. – Vocês não eram da mesma série?
- Não. – Sirius disse como se fosse algo óbvio. – Ela era um ano mais nova que a gente! Você não sabia?!
- Não. – Harry respondeu com a testa franzida.
- Ué, mas você sabia que seu pai e sua mãe foram monitores-chefes, não sabia? – Harry respondeu com um sinal afirmativo de sua cabeça, e Sirius continuou. – Então! Como é que os dois poderiam ser monitores-chefes, se só um monitor de cada Casa é escolhido por ano? – Sirius perguntou com um sorriso.
Harry abaixou a cabeça, ligeiramente sem graça, e disse baixinho:
- Eu não tinha pensado nisso...
Sirius riu baixinho e balançou a cabeça de um lado para o outro.
- Tudo bem, Harry! Ninguém tá te condenando por causa disso. – Harry levantou a cabeça, e Sirius sorriu mais uma vez para o afilhado. – Mas o que eu queria dizer com tudo isso, é que o Pontas tava se sentindo muito mal, e tudo isso porque achava que estava sozinho. A Lílian mostrou para ele que não era bem assim, e ele voltou a ser o que era e todo mundo respirou aliviado. – Sirius olhou sério para o afilhado. – Você não pode se isolar, Harry. Nem você, Gina – Ele se voltou para a menina, que continuava um tanto envergonhada. Sirius deu uma piscadinha para ela, e ela ficou ainda mais vermelha, e abaixou a cabeça. – O Thiago fez isso, várias vezes por sinal, e nenhuma das vezes esse isolamento fez bem pra ele. Vocês têm que agradecer que têm um ao outro como amigos, e que estão passando por isso juntos. Com o Pontas foi mais complicado, mas com vocês não precisa ser! – Sirius acrescentou com um sorriso.
- Obrigado, Sirius. – Harry disse com um sorriso sem jeito.
- Eu tava aqui pra isso, Harry... Mas agora eu preciso ir. Tenho coisas a fazer, e um Aluado pra cuidar. – Sirius deu uma piscadinha para os dois. – Mas não deixa ele saber disso! E acho que vocês também devem ter algumas explicações para dar a alguns amigos... Tomem cuidado com o que vão dizer! A Hermione é muito esperta, mesmo com o Rony pra distraí-la de vez em quando...
Com risadas e abraços, Harry e Gina deixaram a sala do Diretor e se despediram do Sirius. Pelo fato de ser uma tarde de Domingo, a maioria dos alunos estavam fora do castelo, então eles nem se preocuparam tanto em trazer a Capa de Invisibilidade. As chances de eles serem vistos eram mínimas.
- Gina, – Harry começou enquanto os dois estavam se direcionando à Sala Comunal da Torre da Grifinória. – Você tem alguma desavença com o Snuffles?
- Desavença? – Gina perguntou confusa. – Não... por quê?
Harry deu com os ombros, e disse ainda olhando para frente, sem olhar diretamente para a amiga que estava ao seu lado:
- Sei lá... Você é sempre tão quieta quando ele tá perto, e fica meio sem graça...
Gina abaixou a cabeça e ficou quieta. Harry olhou para ela de rabo de olho, e percebeu que ela estava ligeiramente corada.
- É que... – Gina disse ainda olhando para baixo. – Ah, é difícil de explicar, Harry... A Hermione deve me entender...
- E por que a Hermione deve te entender e eu não? – Harry perguntou, um tanto magoado.
Gina ergueu a cabeça e olhou para ele com um sorriso. Os dois chegaram até o quadro da Mulher Gorda, e pararam em frente ao retrato.
- Vamos fazer assim: – Gina abriu ainda mais o sorriso. – Você pergunta para Hermione. Se ela te responder, aí você fica sabendo. Se ela não disser o que é... aí então você vai ter que aceitar que é coisa de mulher. Fechado?
Gina esticou o braço oferecendo sua mão para ele, e Harry, um tanto desconfiado, apertou a sua mão e disse:
- Tudo bem! Pomo de Ouro.
O retrato da Mulher Gorda desprendeu-se da parede por um lado, e deu acesso aos dois à Sala Comunal.
- Eu não acredito! – Rony disse, levantando-se do sofá onde estava sentado com a Hermione.
Harry e Gina olharam surpresos para o Rony, que nem percebera que os dois tinham adentrado a Sala Comunal.
- Levou anos, mas eu finalmente descobri algo antes da Hermione! Eu sou um gênio!
Rony riu e sentou-se de volta no sofá, passando o braço em volta da Hermione, que parecia não estar gostando muito da cena que seu namorado estava armando.
- Que houve? – Gina perguntou para Hermione, mas foi Rony quem respondeu.
- Eu descobri algo antes da Mione! – Rony abriu um sorriso enorme para a Gina e o Harry.
- E o que foi que você descobriu? – Harry perguntou. – Ou será que eu nem quero saber? – Harry ergueu uma sobrancelha e abriu um sorriso sarcástico.
- Não é nada disso, seu corrompido! – Rony respondeu, levantando-se mais uma vez, só que agora com um livro na mão.
- Eu tava fazendo minha tarefa--
Rony começou, mas logo foi interrompido por risadas tanto do Harry quanto da Gina.
- Tarefa? – Gina perguntou entre risadas.
- Num Domingo? – Harry completou.
- Onde foi que eu ouvi isso antes, Harry? – Gina voltou-se para o amigo. – Eu me lembro muito bem de um certo irmão meu, tirando sarro da namorada por estar fazendo tarefa num domingo. Você lembra? – Gina perguntou com tom de voz irônico e um sorriso que ia de orelha a orelha.
- Ah... Mas não deve ter sido o Rony... – Harry respondeu com o mesmo tom de voz. – Ele nunca faria tarefa num domingo!
Harry e Gina riram ainda mais, e até Hermione desfez a cara emburrada e se juntou à risada.
- Rá-Rá! Muito engraçado, Harry, Gina... – Rony disse abrindo o livro. – Deve ter sido o seu irmão Carlinhos quem disse isso, Gina. É a cara dele. Mas continuando...
Rony folheou o livro até a página que queria e, ignorando completamente o momento em que todos riram dele, ele continuou sem perder a pose.
- Aqui está! – Rony apontou o parágrafo que ele queria. – Hermione, me empresta essa pena. – Sem nem esperar resposta, Rony esticou o braço e pegou a pena. – E aqui vai mais uma anotação no seu livro, Harry.
Harry abaixou a cabeça para ver que livro que era, e leu "Animais Fantásticos & Onde Habitam".
- Mais uma, menos uma, né Rony?! – Harry balançou a cabeça de um lado para outro, com um sorriso no rosto.
- Rony é um gênio e descobriu o que é o Bichano. – Rony dizia em voz alta enquanto escrevia. – Ó! Lê!
Rony entregou o livro ao Harry, e ele chegou mais perto da Gina para que os dois lessem juntos o que eram os "Amassos".
- Mas, Rony... – Gina disse quando terminou de ler a descrição da criatura. – Aqui tá dizendo que os amassos são pequenos. E o Bichano é enorme.
- É, – Rony respondeu. – mas aí também tá dizendo que os amassos cruzam com gatos. Vai ver os pais do Bichano eram um amasso e um gato bem, bem grande... Mas essa é a única descrição que não bate. Todo o resto bate! Cara amassada, detecta pessoas suspeitas... – Rony disse com um sorriso.
- É, Mione... – Gina voltou-se para a amiga. – Acho que dessa vez meu irmão pode estar certo. – Gina sorriu em solidariedade. – Pergunta amanhã pro Hagrid...
- É. – Hermione disse. – Eu sou uma boa influência nele. – Ela sorriu, e Harry e Gina riram da expressão de indignação do Rony
- Ah, então quer dizer que eu descubro algo, e o mérito é seu?! – Rony perguntou sentando-se mais uma vez ao lado da Hermione.
- Claro, seu bobinho! – Ela respondeu. – Afinal de contas, eu estava fazendo minha tarefa, mas você não faz tarefa num domingo, não é mesmo? – Hermione fez uma cara de inocente, e Rony cedeu.
- Tá bom, então! – Ele suspirou em desistência. – Você venceu, você sempre vence!
Harry imitou o barulho de um chicote e voltou-se para a Hermione.
- Ele tá no chicote, hein, Mione? Antes, qualquer coisinha era briga, agora só tá faltando o "Sim, querida"!
Harry, Gina, e até o Rony riram. Hermione virou-se um pouco e beijou brevemente os lábios do Rony, que retribui com um sorriso.
- Ah, Mione... – Harry olhou para a amiga, depois de lançar um olhar significativo para Gina. – Eu tenho uma coisa pra te perguntar.
- Fala, Harry...
- Que que tem o Snuffles?
Hermione franziu as sobrancelhas e, brilhantemente, perguntou:
- Quê?
- O que tem mulheres e o Snuffles? – Harry perguntou para a Hermione, mas olhava para a Gina.
- Mulheres? – Hermione perguntou confusa, mas com um breve olhar para a Gina, ela teve seu momento de compreensão. – Ah! Mulheres! – Ela disse com um sorriso. – Pode falar, Gina?
- Pode... – Gina deu com os ombros. – Eu tô começando a ficar com peninha do Harry. – Gina sorriu.
- Tá, tá! – Harry voltou-se para a Hermione. – Diz logo!
- Ah, Harry... O Snuffles se transforma no bicho errado! Ele não é um cachorro, ele é um gato!
Harry ficou um tempo sem entender, mas quando finalmente o fez, parecia indignado. Gina e Hermione riram, e ela continuou.
- Não deve ter uma mulher que não ache o Snuffles lindo, Harry. Ele é maravilhoso!
- Tá! Chega! – Harry disse. – Eu não quero mais ouvir!
- Você também acha isso, Mione? – Rony perguntou com as sobrancelhas cerradas.
- Claro, ué! – Hermione respondeu e caiu na risada com a expressão do Rony.
- Ah... Deixa o Snuffles saber disso! – Harry disse abrindo o sorriso e olhando em conspiração para o Rony.
- Você não se atreva! – Gina parou na hora de rir, e ficou de frente para o Harry
- Ah-Rá! Então quer dizer que agora eu tenho um trunfo sobre você, Gina?
- Harry... – Gina disse com a expressão mais de coitada que Harry já vira. – Isso é chantagem... e você não faria isso comigo, faria? – Gina terminou a pergunta baixinho e quase fazendo biquinho.
Harry olhou para a amiga e se sentiu derrotado. Ela nem tinha feito nada, mas só a expressão dela já não deixava que ele dissesse não... Devia ser algum feitiço. Só podia ser um feitiço.
- Claro que não, Gi...
Harry abaixou a cabeça e teve que ouvir várias risadas quando ouviu Rony imitar o barulho de um chicote que ele próprio tinha usado para tirar sarro do amigo.
- Tá tendo aulas com a Mione, Gina?
Tudo bem que ela não tinha rido, mas ainda assim, Harry se sentiu muito envergonhado. Quem cospe pra cima molha a testa, Harry pensou para si mesmo enquanto esperava o Rony e a Hermione pararem de rir para poder mudar de assunto.
Continua no Capítulo Vinte e Sete...
