Capítulo Vinte e Oito

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 - AH!

Harry sentiu uma dor horrível em sua cicatriz e largou tudo o que estava carregando no chão. Seus livros caíram abertos, e quase tudo o que estava em seu malão caiu e se espalhou pelo chão também. A dor foi tão grande, que ele nem agüentou ficar em pé. Seus joelhos cederam e suas mãos foram automaticamente para a sua testa. Rony e Hermione, que estavam do seu lado, na mesma hora se abaixaram e tentaram segurá-lo. Poucas vezes eles tinham visto uma dor tão fulminante no amigo.

 - Rápido! – Hermione virou-se para os alunos curiosos que tinham tumultuado em volta do Harry para ver o que estava acontecendo. – Alguém chama a Madame Pomfrey, ou qualquer professor! Rápido!

Harry bem que tentou ficar acordado para ver o que estava acontecendo, mas todo aquele tumulto, vozes falando ao mesmo tempo, e o Rony e a Hermione em cima dele – provavelmente morrendo de preocupação – foram demais pra ele, e ali mesmo no corredor, ele apagou e não lembrou de mais nada.

Quando Harry abriu os olhos de novo, ele estava na tão conhecida enfermaria, e olhando para a janela, ele percebeu que já estava escuro lá fora. Sua visão estava desfocada, e ele percebeu que estava sem os seus óculos. Fechando seus olhos mais uma vez para que a luz não os machucasse, Harry tentou lembrar-se do que acontecera. Depois de falar com a Gina na hora do almoço, ele foi para as suas duas últimas aulas do dia, e quando estava saindo da última, – Transfiguração – ele só lembra que ele, Rony e Hermione estavam indo para a Sala Comunal da Torre da Grifinória, quando uma dor terrível o fez derrubar todo o seu material no chão. Ele lembra que a Hermione mandou chamar a Madame Pomfrey, mas depois disso... depois disso ele não lembrava de mais nada.

Abrindo um olho primeiro para se acostumar com a claridade, Harry reparou que ele não estava sozinho. Forçando os olhos para ver quem estava ali, Harry acabou por chamar a atenção de seus visitantes.

 - Harry! – A voz era com certeza da Hermione.

Harry esticou sua mão até a mesinha de cabeceira e pegou seus óculos. Agora ele podia ver quem estava no seu quarto: Rony, Hermione, Madame Pomfrey, e Dumbledore.

 - A gente tava tão preocupado! – Hermione continuou. – Tá tudo bem, Harry? – Hermione perguntou, enquanto Madame Pomfrey se aproximava dele para checar por ela mesma se tudo estava realmente bem.

 - Eu acho que tá... – Harry disse, forçando um sorriso em direção ao Rony que estava com o braço em volta dos ombros da Hermione.

Enquanto Madame Pomfrey o checava, Harry olhou em volta e deu falta da Gina. Onde será que ela estava? Harry podia ter certeza que ela viria quando soubesse que ele tinha sentido tanta dor a ponto de apagar. Será que ela não ficou sabendo? Será que ninguém contou pra ela? Mas se o Rony e a Hermione estavam aqui, ela também deveria estar... A não ser que alguma coisa tivesse acontecido. E se algo de ruim tivesse acontecido? E se ela tivesse se machucado também?

 - Harry??? – Hermione parecia preocupada, mas um tanto aborrecida.

 - Que foi? – Harry voltou-se para a amiga.

 - Tô te chamando há um tempão! Eu e o Rony estamos indo...

Harry olhou para o Diretor e percebeu que ele tinha algo de importante pra dizer, e que provavelmente fora ele quem pedira licença para o Rony e a Hermione. Harry voltou-se mais uma vez para os seus amigos e balançou a cabeça em um sinal afirmativo.

 - Tá bom! A gente se fala.

 - Fico feliz que você esteja bem, Harry.

Hermione aproximou-se dele e beijou-lhe o rosto. Ela voltou para o abraço do Rony, e os dois deixaram a enfermaria. Madame Pomfrey saiu logo em seguida, reclamando baixinho sobre algo como pessoas que não respeitam o descanso de seus pacientes. Assim que o Harry ficou sozinho com o Dumbledore, o Diretor disse:

 - Você pode fazer-se visível agora, Srta. Weasley.

Gina tirou a Capa de Invisibilidade de cima dela, e Harry respirou aliviado.

 - Desculpe-me, Harry, – Dumbledore disse sério e com um tom de voz cansado. – mas fui quem pediu para que a Srta. Weasley usasse sua Capa.

 - Não, tudo bem... – Harry disse, enquanto Gina se aproximava com um sorriso trêmulo e sentava-se na cadeira ao lado de sua cama.

 - Temo que eu não tenha boas notícias... – Dumbledore disse, puxando uma cadeira para si e sentando-se de frente para os dois.

 - Foi na hora que a minha cicatriz doeu, não foi? – Harry perguntou meio incerto e bem baixinho.

 - Foi, Harry. E temo que a sua dor é proporcional à gravidade da minha notícia.

Gina pegou a mão do Harry e ele inconscientemente entrelaçou seus dedos.

 - Como eu disse antes, – Dumbledore continuou. – as notícias não são boas. Tudo parecia ir muito bem, como planejado. Só que Arabella perdeu o controle. Voldemort torturou Mundungo com esperança de que Arabella aparecesse e ele conseguiu o que queria. – Dumbledore enxugou o olho, e Harry engoliu seco. – Voldemort usou Avada Kedavra em Arabella, e Mundungo se pôs na frente. Arabella se desesperou, e Voldemort, é claro, usou-se desse momento de desespero. Acredito que sua intenção original era aprisionar Arabella, mas quando eu apareci em uma tentativa de resgatá-la, ele disse que não queria me enfrentar ainda. – Dumbledore suspirou tristemente. – Eu não fui rápido o suficiente...

Harry não sabia o que dizer. Ele estava completamente atônito.

 - Eles morreram? – Gina perguntou, uma lágrima solitária escorrendo de seu olho. – E os planos? Reuniões? Discussões? – Gina ergueu a cabeça e olhou para o Dumbledore. Ela estava triste, mas também parecia muito nervosa. – Tudo isso pra nada? Ele conseguiu o que queria então?

Dumbledore abaixou a cabeça e, depois de uma prolongada pausa, ele respirou fundo.

 - Srta. Weasley, – Dumbledore olhou diretamente para Gina. – acredite-me quando eu digo que eu entendo completamente o que você está sentindo. Mas esse não é o momento...

Gina abaixou a cabeça, e com um sussurro respondeu:

 - Desculpe... Você perdeu dois amigos... eu não tenho o direito--

Gina cobriu o rosto com sua outra mão. Harry sentou-se melhor na cama e trouxe Gina mais para perto, beijando sua cabeça em afeição.

 - Eu preciso ir agora, – Dumbledore levantou-se. – Tenho muitas coisas para resolver. Acredito que poderemos conversar melhor amanhã. – Dumbledore andou até a porta do quarto e parou. Virou-se mais uma vez para os dois e, antes de sair, disse: – Boa noite, Harry... Gina...

 - E agora, Harry? O que a gente faz agora? – Gina perguntou levantando a cabeça e olhando fixo para ele, assim que o Dumbledore saiu. – Eu perdi aquela que podia me ensinar a lidar com feitiçaria, e você perdeu sua fiel de segredo!

 - Talvez seja por isso que minha cicatriz doeu mais que o normal... – Harry sussurrou para si mesmo, nem percebendo que tinha dito em voz alta.

Gina ergueu a mão até a testa do Harry e, delicadamente, afastou a sua franja.

 - Tá tão vermelha... – Gina disse baixinho.

Naquele momento, tudo tinha parado para o Harry. Ele olhou para a Gina, e os seus olhos se encontraram. Harry tinha perfeita noção do quão perto ela estava dele. Nem se ele quisesse dizer algo, ele seria capaz de formular pensamentos coerentes. Era como se tudo e nada ao mesmo tempo estivesse passando dentro dele, e ele percebeu que seu coração estava muito acelerado. Tudo que ele conseguia ouvir era os seus batimentos cardíacos e as respirações dele e da Gina. Ela estava com a boca entreaberta, e sua respiração era pesada. Por algum motivo, Harry não conseguia de jeito nenhum tirar seu olhar dos lábios da Gina. Ele não tinha nem idéia do que estava acontecendo com ele, mas frio na barriga nenhum se comparava ao que ele estava sentindo naquele momento. Tudo que ele queria era se aproximar mais ainda da Gina, tocar os seus cabelos para sentir se eles eram tão macios quanto pareciam e sentir a textura daqueles lábios, que pareciam tão convidativos, entreabertos da maneira que estavam.

 - Harry, eu trouxe--

Gina e Harry se separaram na hora, um tanto assustados. Gina tirou sua mão da dele e levantou-se, corada até a raiz do cabelo. O próprio Harry também se sentia muito sem graça, enquanto Madame Pomfrey olhava desconfiado de uma para o outro.

 - Srta. Weasley? Algum motivo em especial de você estar aqui... a essa hora?

 - Não! – Gina respondeu, olhando para o chão. – Eu já tava indo... Tchau, Harry. – Ela virou-se na direção dele, mas não deixou de olhar para baixo.

Gina apertou forte em suas mãos a Capa de Invisibilidade do Harry e foi em passo um tanto apressado em direção à porta. Harry olhou Gina sair, ainda corada, e mesmo depois que ela se foi, ele continuou olhando para a porta, tentando descobrir e se perguntando o que tinha acabado de acontecer. Madame Pomfrey pigarreou com um pouco de exagero para chamar a atenção de Harry e ele, mais uma vez sem graça, voltou-se para a enfermeira.

 - Eu trouxe essa poção pra você dormir. Tome tudo, anda!

Enquanto Harry tomava a poção, ele reparou que a Madame Pomfrey estava segurando um sorriso. E toda vez que ele olhava para ela, ela assumia uma postura rígida e séria, o que contradizia completamente o sorriso que Harry via enquanto ela achava que ele não estava olhando. Harry preferiu não analisar muito o que a Madame Pomfrey estava pensando, já que ele já tinha coisa demais na cabeça no que pensar.

Harry terminou a poção e entregou o cálice para a enfermeira, que logo o deixou. Harry começou a pensar em tudo o que havia acontecido naquele dia: a notícia do Dumbledore, ele desmaiando de dor na sua cicatriz, Gina mudando a memória do irmão, Gina... Ele não sabia muito bem o que acontecera há apenas alguns minutos, e apesar de novo e assustador, o sentimento que ele teve foi maravilhoso. Harry bocejou e nem se deu conta quando a poção fez efeito e ele caiu em um sono profundo.

No dia seguinte, Madame Pomfrey o deixou voltar para a Sala Comunal bem cedo para que ele pudesse tomar café da manhã no Salão Principal com seus amigos. Aparentemente, Dumbledore pedira-lhe que o fizesse, pois ele tinha um aviso muito importante para dar logo pela manhã e gostaria de todos os seus alunos presentes. Harry vestiu-se e esperou pacientemente até que seus amigos acordassem e eles pudessem ir ao Salão Principal. Hermione foi a primeira a descer e, enquanto Rony e Gina não desciam, os dois ficaram conversando, e Hermione relatou o que acontecera na tarde do dia anterior quando sua cicatriz doeu.

 - E o Dumbledore te falou o que aconteceu? O porquê da sua cicatriz ter doído daquele jeito?

Harry abaixou a cabeça lembrando da notícia que o Dumbledore lhe dera, mas ele não foi capaz de reproduzir. Harry deu com os ombros e, sem olhar diretamente para a amiga, ele disse:

 - Acho que ele vai falar o que aconteceu agora, no café da manhã. Foi por isso que a Madame Pomfrey me deixou sair da enfermaria.

Hermione não perguntou mais nada e, em pouco tempo, Gina e Rony desceram também, e os quatro foram ao Salão Principal. Não demorou muito, e o Dumbledore chamou a atenção de todos e, com a voz pesada de cansaço, ele deu seu aviso:

 - É com muito pesar que eu venho avisar vocês que uma professora muito querida nos deixou. – O silêncio no Salão era tamanho, que daria até para ouvir um alfinete caindo. – Arabella Figg foi vítima de um ataque e morreu ontem à tarde. Seu assassino foi ninguém menos que Voldemort.

Muitos alunos exclamaram assustados, surpresos, e alguns chocados. Logo, os sussurros dos alunos se espalharam pelo Salão todo e Dumbledore teve que mais uma vez pedir silêncio.

 - As aulas serão canceladas hoje, em respeito a uma amiga muito querida. – Em qualquer outra ocasião, esse tipo de notícia seria motivo de gritos de alegria entre os alunos, mas não dessa vez. O silêncio permaneceu. – Algumas adaptações serão feitas e um professor substituto será chamado. Ele deverá chegar amanhã, e as aulas voltarão à sua normalidade. – Dumbledore suspirou tristemente. – É só...

O resto do café da manhã foi passado em silêncio, com exceção de ocasionais sussurros e lágrimas de algumas alunas. Harry olhou em volta e percebeu que ninguém mais ria. A mesa da Lufa-Lufa, em especial, estava muito silenciosa, e Harry percebeu com um aperto no coração, que eles deviam estar lembrando de Cedrico Diggory. Foi aí que Harry, e com certeza vários outros alunos, perceberam de verdade o peso de uma guerra e as conseqüências que ela traz. Mais alguém morreu e muitos outros ainda morreriam em um futuro próximo. Abaixando a cabeça e olhando para o seu prato, Harry chegou à conclusão de que afinal de contas não estava com tanta fome assim. E olhando em volta, reparou que os outros também não comeriam muito naquela manhã. O impacto da guerra tinha atingido aqueles adolescentes e, pelo jeito, mais ninguém poderia negar que realmente havia uma guerra.

Continua no Capítulo Vinte e Nove...