Capítulo Vinte e Nove
O RETORNO DE UM AMIGO
- E eu quero dizer também, – Dumbledore
continuou seu aviso durante o café da manhã. – que como dito ontem, hoje vocês
voltam às aulas normalmente. Um bom amigo aceitou ocupar o cargo de professor de
Defesa Contra as Artes das Trevas provisoriamente, e ele foi gentil o
suficiente de vir às pressas depois do meu pedido. Gostaria que vocês
recebessem de volta o professor Lupin.
As reações foram diversas quando Remo Lupin levantou-se. A mesa da Grifinória em sua maioria estava eufórica, e a justa Lufa-Lufa também estava bem contente de receber o querido professor. Mas muitos alunos estavam assustados. Já era de conhecimento geral que Remo Lupin era um lobisomem. E se tinha alguém que odiara a notícia particularmente, Harry notou, foi Draco Malfoy. De onde Harry estava, ele conseguia ouvir "Meu pai vai ficar sabendo disso!", ou então "Um lobisomem ensinando! Onde já se viu?!". Harry ficou enojado só de ouvir o que Malfoy falava. Ele voltou-se para Remo Lupin e se admirou quando notou que ele estava completamente imparcial. Não estava nem feliz, nem chateado com as reações que recebera. Ele simplesmente estava lá para cumprir o que prometera. E mais uma vez, Harry pôde notar as expressões de cansaço e tristeza nos rostos dos membros da Ordem da Fênix, depois da perda da Sra. Figg e do Mundungo Fletcher.
- O p-professor Lupin? – Neville perguntou baixinho e um tanto nervoso. – Mas ele não é um lobisomem?
Hermione virou nervosa para o colega de sala e respondeu:
- É! E enquanto ensinava você no ano retrasado, ele já era um lobisomem. E eu não lembro de nenhuma queixa sua!
Neville abaixou a cabeça sem graça, e sussurrou:
- É, mas eu ainda não sabia que ele era um lobisomem...
Hermione ficou ainda mais brava, e Harry até se admirou com a amiga. Ela sempre fora tão condescendente com o Neville, e agora ela estava prestes a gritar com ele se aquela discussão continuasse, e tudo para defender o professor Lupin.
- Eu não acredito que você tá dizendo isso, Neville! Logo você! – Nesse ponto, todos da mesa da Grifinória que estavam perto o suficiente para ouvir a conversa tinham se voltado para a mesma, e Hermione tinha uma boa platéia. – O professor Lupin te defendeu! Ele contradisse o professor Snape por você! Eu achei que de todos, você seria o primeiro a se sentir feliz por o professor Lupin ter voltado... – Hermione balançou a cabeça de um lado para o outro, e seu olhar era de descrença. – Você tá sendo muito injusto, Neville... Ele era um dos seus professores favoritos, e ele nunca fez nenhum mal a você! De repente, só porque você descobre algo que ele sempre foi desde que começou a dar aulas, ele passa a ser perigoso?
Hermione mais uma vez balançou a cabeça de um lado para o outro, e vários alunos que estavam ouvindo a conversa bateram palmas para ela. Os alunos de outras mesas não entendiam nada, e Hermione – apesar de ainda estar muito brava – ficou um tanto sem graça com o excesso de atenção.
- Ah, ê! – Rony passou o braço em volta dos ombros da Hermione que estava sentada do seu lado. – Tão vendo? Essa é a minha garota... – Rony beijou o seu rosto. – Sempre pronta para defender os fracos, oprimidos e injustiçados!
Hermione ficou ainda mais corada, e alguns alunos riram da demonstração. Logo tudo voltou ao normal, e os alunos voltaram para os seus pratos.
- Desculpa, Hermione... – Neville disse
envergonhado para a amiga. – Você tá certa...
Hermione sorriu, desculpando o amigo, e com um tom de voz muito mais ameno do
que usara anteriormente, ela disse:
- Tudo bem, Neville... Você é uma boa pessoa, e eu sei que você não disse aquilo por mal...
Neville sorriu de volta e suspirou aliviado. Harry entendia muito bem o alívio do colega. Enfrentar uma Hermione enfurecida não é trabalho fácil, e nem para qualquer um!
- Vamos, Gina? – Colin chamou a amiga como fazia todos os dias para irem juntos para as suas aulas.
- Vamos... – Gina juntou suas coisas e levantou-se da mesa. – Tchau, a gente se vê no almoço.
Harry viu Gina sair do Salão Principal acompanhada pelo Colin, e mais uma vez lembrou-se da noite retrasada na enfermaria. Nada de demais tinha acontecido naquela noite, mas então por que será que Harry se pegava pensando nela o tempo todo? Ele nunca sentira antes o que sentira naquela noite, e agora, Harry se repreendia por corar todo o tempo que estava conversando com a Gina. Conversar não era exatamente a palavra apropriada. Os dois não falaram nada sobre a noite retrasada, e para ser sincero, Harry notou com um nó na garganta, as únicas coisas que eles tinham dito um para o outro eram "bom dia" e "boa noite". Harry não queria que essa situação continuasse, ele queria sua amiga de volta. Afinal, como Sirius dissera, eles só podiam contar um com o outro, mas Harry sabia que algo muito importante havia mudado naquela noite, e talvez só tempo dissesse se a mudança havia sido para melhor ou para pior.
- Já tá na hora?! – Rony perguntou para a Hermione, que se levantava da mesa. Hermione simplesmente balançou a cabeça em um sinal positivo, e Rony continuou. – A primeira aula é D.C.A.T., não é?
- É. – Hermione respondeu. – Vamos ver se a
gente consegue chegar mais cedo que o resto, que assim a gente pode perguntar
pro professor Lupin como anda o Snuffles.
Rony e Harry levantaram-se também e caminharam em direção à Sala de Defesa
Contra as Artes das Trevas. Ao chegarem lá, o professor Lupin já estava
arrumando suas coisas em cima da mesa, mas ele não estava sozinho. Um enorme
cachorro preto estava deitado no chão e acompanhava Remo com o olhar, para onde
quer que ele fosse.
- Professor Lupin! – Hermione exclamou com carinho.
Remo virou-se, e sorriu ao ver os três na entrada da sala.
- Podem entrar!
Os três entraram e deixaram seus malões em suas habituais carteiras. Logo voltaram para a frente da sala, e Hermione disse:
- Bom, a gente ia perguntar do Snuffles, mas pelo jeito, ele tá bem... – Ela sorriu e apontou com a cabeça para o enorme cachorro preto.
Remo sorriu e ia responder, mas naquele instante, o sinal bateu e o restante dos alunos entrou.
- Bom dia, classe. – Remo disse depois que estavam todos sentados. – Primeiro eu gostaria de apresentar um amigo, que vai juntar-se a nós em, provavelmente, várias aulas. – Remo se aproximou do cachorro, que continuava deitado e extremamente calmo. – Esse aqui é o Almofadinhas, um cachorro de que eu tô tomando conta.
Harry riu para si mesmo ao ver a expressão do Sirius quando Remo dissera que estava tomando conta dele. O próprio Remo estava escondendo um sorriso.
- Ele é bem treinado, – Remo voltou-se mais uma vez para a turma. – e vocês não precisam se preocupar, porque ele não vai atacar ninguém. Não é mesmo? – Remo sorriu e deu umas palmadinhas na cabeça do cachorro.
Harry notou com humor que o cachorro rosnou baixinho e franziu os olhos para o Remo. O professor riu e voltou-se mais uma vez para a turma.
- Bom, mas vamos deixar esse cachorro velho de lado... Como vocês estão? Senti falta de vocês...
E a aula Defesa Contra as Artes das Trevas fluiu normalmente, e como prometido, o enorme cachorro preto não mordeu ninguém, mas olhava feio para o professor cada vez que ele passava por ele. O professor Lupin, ao final da aula, pediu discretamente ao Harry, se quando ele tivesse tido todas as aulas do dia, ele não poderia dar uma passada na sua sala para dar uma palavrinha com ele. Harry ficou momentaneamente preocupado, mas quando Lupin sorriu, ele decidiu que talvez ele só quisesse conversar mesmo, e que nada de muito grave estivesse acontecendo.
Foi exatamente por esse motivo que quando Harry, Rony, e Hermione saíam de sua última aula – Feitiços – Harry pediu licença e deixou os dois irem para a Sala Comunal sozinhos. Harry duvidava muito que a Torre da Grifinória seria seus destinos afinal de contas. Quando Harry disse que iria conversar com o professor Lupin, Hermione e Rony se entreolharam de tal maneira, que Harry teve certeza que naquele dia, Hermione não faria sua tarefa logo depois das aulas.
- Professor? – Harry disse quando chegou mais uma vez à porta da sala de Defesa Contra as Artes das Trevas.
- Entra, Harry... e por favor, feche a porta...
Harry fez o que foi pedido e puxou uma cadeira para perto da mesa de Remo Lupin. Logo que a porta foi trancada, Sirius Black voltou à sua forma humana e abraçou o afilhado.
- Que história é essa de cachorro de estimação? – Harry perguntou com um sorriso, meio que tirando um sarro do padrinho.
- É... que história é essa de cachorro de estimação? – Sirius perguntou, voltando-se para Remo Lupin.
- E como é que você queria que eu explicasse um cachorro na minha sala de aula? – Remo respondeu com um sorriso.
- E o que você quis dizer com "vamos deixar esse cachorro velho de lado"?
Remo e Harry riram, e até o Sirius sorria quando fazia sua pergunta.
- E como andam as coisas, Harry? – Remo perguntou, enquanto Sirius puxava para si uma cadeira e sentava-se ao lado do Harry.
- Bem... eu acho... – Harry respondeu meio sem graça.
Como é que as coisas poderiam ir bem durante uma guerra? Harry não sabia muito bem o que dizer, e como que adivinhando o que ele estava pensando, Remo continuou:
- Eu quero dizer com você, Harry. Esquece um pouquinho do Voldemort... como anda você?
- É... – Sirius acrescentou. – E o time de quadribol, como vai?
Harry riu baixinho e respirou aliviado. Ele não queria mesmo falar de nada que fosse relacionado com a guerra. O assunto era muito sério e pesava demais para que ele ficasse pensando naquilo o tempo todo.
- A primeira partida da Grifinória vai ser esse sábado, – Harry disse respondendo ao Sirius primeiro. – Durante essa semana, só os artilheiros e o goleiro é que estão treinando, porque tem gente nova. Mas eu, o Fred e o Jorge fomos dispensados...
- Gente nova? – Sirius perguntou interessado. – Quem?
- O Colin Creevey é o novo goleiro, e a Gina é a nova artilheira.
- A Gina? – Remo perguntou com um sorriso. – Faz um tempo que eu não a vejo... Como ela tá?
Harry olhou curioso para o professor Lupin, que parecia genuinamente interessado em como estava Gina Weasley. Sirius deve ter percebido sua curiosidade, pois antes que Harry pudesse responder, ele comentou:
- Todo professor tem um aluno que é o seu xodó... A Gina era o do Aluado – Sirius explicou ao Harry, mas olhava com um sorriso para o Remo enquanto dizia.
- Ela lembra tanto a sua mãe, Harry... – Remo disse balançando a cabeça de um lado para o outro e com um olhar distante.
- O Sirius falou... Quase pôs a Gina pra correr de tanto susto, mas depois ele se explicou. – Harry acrescentou com um sorriso.
- Tá, – Sirius disse. – Mas de volta ao
quadribol... O time tá bom? Dá pra ganhar a taça?
- Não sei... – Harry deu com os ombros.
– Se você tiver aqui no sábado, você vai poder tirar sua próprias conclusões.
A verdade é que Harry queria muito que o seu padrinho assistisse à sua estréia nesse ano. Ele sabia muito bem que o máximo que Sirius poderia fazer, é aparecer na forma do Almofadinhas. Mas só de saber que ele estaria lá, já seria uma ótima notícia.
- É por essas e por outras que eu e o Aluado estamos aqui, Harry. – Sirius estava muito sério, e o Remo também.
- Eu não viria dar aula mais uma vez se não fosse por você, Harry.
Harry se sentiu estranhamente emocionado com aquele depoimento.
- Não que você precise muito da gente... – Sirius disse olhando fixo nos olhos do Harry. – Você já enfrentou perigos que muita gente não vê em uma vida inteira... Mas a gente se preocupa, Harry. E por mais que você não goste de ser tratado assim, como se precisasse de muita atenção, – Sirius sorriu para o afilhado. – ainda assim, a gente se preocupa.
- Você é muito querido pra gente, Harry, e se depender de nós, você não vai mais ficar sozinho. – Remo Lupin disse, ainda muito sério.
Harry estava muito emocionado ao ouvir aquilo. Ele nunca ouvira tais palavras direcionadas para ele. Na Toca, os Weasleys sempre o tratava como um deles, como se ele fosse parte da família, mas ouvir isso assim de alguém, frente a frente, era algo que Harry nunca ouvira antes. E depois de ouvir aquilo, Harry sentiu-se bem, como se um vazio tivesse sido preenchido, como há muito tempo não fora feito. O Sirius dissera que ele não precisava muito dos dois, mas Harry sabia que precisava deles mais do que o Sirius podia imaginar.
- Obrigado... – Harry abaixou a cabeça e disse com a voz rouca e carregada.
- Que é isso, Harry! – Sirius posicionou sua mão no ombro do afilhado. – Além do que, se a gente não tomar conta de você, é capaz do Pontas voltar e puxar nossos pés durante a noite!
Harry sorriu para o padrinho e, naquele instante, aquela sensação de estar sozinho que ele sentia freqüentemente desapareceu. Ele finalmente abriu os olhos e percebeu que à sua volta, existia muita gente que gosta, e muito, dele. Ele nunca tivera amigos e, agora, aquele castelo estava cheio deles. E além disso, ele tinha uma família agora. Não havia nenhum laço de sangue entre eles, mas isso não importava. O importante é que ele não se sentia mais sozinho, e com um sorriso, Harry posicionou a mão sobre o medalhão com as fotos de seus pais. E talvez... talvez, ele nunca tenha estado...
Continua no Capítulo Trinta...
