Capítulo Trinta e Seis
A LISTA
- Eu quero que vocês dois venham comigo. – Snape disse com a voz baixa, controlada, e um olhar penetrante.
Harry e Gina entreolharam-se sem entender direito o que acontecia. Eles estavam no Salão Principal, já quase ao final do horário do jantar, e os poucos alunos que ainda lá estavam, cochichavam todos, olhando de rabo de olho para o Professor Snape chamando os dois alunos da Grifinória. Harry não lembrava de ter feito nada de errado, se bem que ele não tinha muita certeza se ele precisava ter feito algo de errado para que o Snape lhe chamasse a atenção. Mas o que soou como estranho é que o Professor de Poções pedia não só a companhia dele, Harry, mas a de Gina também.
Harry pensou no motivo de ele estar jantando com a Gina tão tarde, sem a companhia do Rony e da Hermione. Será que o Snape vira algo e queria repreendê-los? Mas Harry tinha tanta certeza de que ninguém os vira, e nem o Rony nem a Hermione desconfiaram do fato de que Harry estava indo para a Torre de Astronomia para ajudar Gina com sua tarefa. Bom, talvez eles estivessem preocupados demais um com o outro para notarem que Harry estava inventando uma desculpa esfarrapada, tendo as mesmas intenções que Rony e Hermione provavelmente estavam tendo.
- O que vocês dois estão esperando? – Snape perguntou, perdendo a paciência. – Eu quis dizer agora, ou vocês acham que eu tenho tempo de esperar vocês acabarem de comer?
Sem nenhuma outra saída, Harry e Gina levantaram-se, e foram atrás do Professor Snape. Todos os olhos do Salão Principal os seguiam, e Harry tinha certeza que, pelos sussurros, logo todo o castelo ficaria sabendo que Snape fora atrás dos dois e nem os deixou acabar de comer para que discutissem algo.
Assim que estavam nos corredores – mais escuros e vazios – Harry pegou a mão de Gina para chamar-lhe a atenção. Pelo seu olhar, Gina compreendera aquela situação tanto quanto ele: nada. E o que intrigava mais era que aquele não era o caminho para as masmorras, ou a Sala do Snape. Aonde será que ele estava os levando? E por onde? Harry não lembra de ter passado por aqueles corredores antes, e nem de saber que havia uma passagem atrás daquela armadura. Harry olhou para trás, e decidiu que ele definitivamente daria uma olhada no Mapa do Maroto assim que chegasse à Torre da Grifinória. Harry não ousou perguntar ao Snape onde ele estava os levando, e nem achou que receberia resposta se assim o fizesse. Ele simplesmente aproximou-se de Gina e, nunca deixando a sua mão, seguiu o professor para o que fosse.
Logo Snape parou, e dizendo "Lágrimas de Fênix", um gárgula abriu passagem para que os três entrassem em uma sala que já era bem conhecida por eles. Pelo menos durante esse ano, eles já passaram longas horas por lá. Todos os membros da Ordem da Fênix já estavam reunidos, e pelo que parecia, Harry e Gina eram os únicos que estavam faltando. Harry nunca havia notado antes que havia outra entrada para aquela sala, que não fosse pela Sala do Dumbledore. Mas também, como poderia? A própria parede se abrira para que se formasse uma passagem. Aquela devia ser uma "saída de emergência".
- Bom, agora que Severo nos fez esse favor, ele mesmo dirá quais são as novas informações. Então, por favor... – Dumbledore esticou seu braço na direção de Severo Snape, colocando-o no centro das atenções.
Harry e Gina sentaram-se, mas Snape preferiu ficar em pé, como era de seu costume. Harry não podia deixar de se sentir aliviado, mesmo estando bem nervoso sobre o motivo da reunião extraordinária. Era um alívio porque afinal de contas, o Snape não fora chamar a Gina e ele para dar-lhes detenção. Com a correria que estava sendo esse ano (excesso de lição, treinos de quadribol, e muita preocupação com o Voldemort), Harry não tinha mais tempo para detenção, se ele quisesse continuar são! A única coisa de que ele ainda fazia questão – mesmo que tomasse parte de seu tempo para as suas tarefas – era de prolongar o treino de quadribol para uma sessão a dois. Normalmente escondida de olhos intrusos. Harry e Gina já tiveram que, por vezes, inventarem alguma desculpa a qual nem eles achavam possíveis de se acreditar, para que Hermione e Rony não desconfiassem de seus "treinos-extras". Mas até agora, tudo estava dando certo, e Harry tinha que admitir que o segredo do relacionamento o deixava ainda regozijador. Mas ainda assim, ele mantinha a sua promessa de que, a partir do ponto que o fato da Gina ser uma feiticeira deixasse de ser um fator de risco para a sua vida, Harry faria questão de que todos soubessem. O Rony talvez seria um problema, como Gina já explicara a ele, mas o seu melhor amigo sobreviveria... O problema todo ainda estava em incidir a atenção na Gina, algo que Harry evitaria a qualquer custo. Só o fato de ela ter ficado sua amiga esse ano já era atrativo o suficiente.
- Durante esse último mês, eu redobrei meus esforços para garantir tudo o que se passa na Sonserina chegasse aos meus olhos e aos meus ouvidos. – Snape começou o que tinha a dizer com o seu tom de voz usual, que continuava produzindo o mesmo efeito único. – As chances são maiores de terem Comensais na Sonserina. É a minha casa, mas eu sou realista.
Snape pôs a mão por dentro de sua veste, e de lá tirou um pergaminho com escrita em vermelho. Ele o posicionou em cima da mesa, de frente para o Dumbledore.
- Encontrei isso no dormitório masculino do quinto ano, e um outro igual no do sétimo. Fiz uma cópia e os deixei onde foram encontrados.
Dumbledore lia o que estava escrito, e sua testa franziu. O Diretor suspirou tristemente, e todos os membros da Ordem da Fênix já estavam demasiados curiosos quando Snape voltou a falar.
- Isso é uma lista com nomes de meninas. Possíveis feiticeiras, e que Voldemort mandou prestar especial atenção. O nome Ginevra Weasley está nessa lista.
Vários olharam para a menina antes de voltarem sua atenção para o Diretor, que parecia ainda não saber muito bem o que faria. Harry pouco se importou com a platéia. Ele pegou a mão de Gina para que a menina olhasse para ele, e a teria abraçado e beijado se as suas cadeiras fossem mais próximas. Os seus olhos castanhos estavam cheios de aflição, e Harry se sentia impotente diante do fato. Ele nada podia fazer para mudar aquela situação, e Voldemort já desconfiava da Gina.
- Creio que Voldemort esteja planejando muito mais do que podemos saber... – Dumbledore disse com o tom de voz cansado e extremamente pesado.
- E o que a gente vai fazer agora? – Harry perguntou, não querendo aceitar derrota. – A gente não pode simplesmente ficar parado enquanto a Gina corre risco ainda maior! Vai saber o que aquele louco é capaz quando conseguir o que quer!
Harry estava a um passo de levantar-se e exigir respostas. A única coisa que o segurava sentado era mão de Gina, que apertava a sua cada vez que ele ameaçava levantar. Dumbledore olhou longamente para o Harry e, respirando fundo, ele disse:
- Harry, sua preocupação é exatamente a mesma que a nossa. Mas agora que Voldemort tem seu próprio corpo, ele não poderá entrar nesse castelo de jeito algum.
- E quem precisa entrar no castelo, – Douglas Connor interrompeu, tão impaciente como cada um dos membros estavam se sentindo. – quando se tem uma floresta daquele tamanho bem em frente? Ele poderia simplesmente se esconder por lá e atacar os alunos quando bem quisesse!
Dumbledore olhou de relance para Douglas, antes que seus olhos encontrassem os de Hagrid. O guarda-caças simplesmente balançou a cabeça em um sinal positivo, e Dumbledore voltou sua atenção para os outros membros mais uma vez.
- Outro motivo que eu proibi a entrada na floresta por qualquer aluno esse ano, é o fato de que temos "hóspedes" na floresta.
Alguns membros entreolharam-se confusos, e Dumbledore continuou:
- Hagrid esteve ausente de várias reuniões, porque estava em uma missão que exigia completo sigilo. Primeiro esteve conversando com seus amigos centauros na floresta, que disseram que não teriam como ajudar, mas que não interfeririam em nada que pudesse nos atrapalhar. Tendo isso em mente, Hagrid foi pedir ajuda de alguns de seus parentes. Não temos todo o apoio dos gigantes que gostaríamos, mas entre eles, e os olhos astutos e ajudantes dos centauros, posso garantir que a nossa floresta está guardada.
O que Dumbledore dissera, com certeza, ajudou e muito para acalmar algumas das preocupações, mas não todas. Isso seria impossível até que Voldemort estivesse morto e incapacitado de fazer qualquer mal. O próprio Harry conhecia entradas para o castelo, as quais Rabicho, com certeza, conhecia também. O que impedia Voldemort de usá-las? Harry sabia que uma das primeiras informações que Remo Lupin e Sirius Black dera ao Diretor era exatamente a localidade de todas as entradas secretas para que as mesmas fossem guardadas. Mas guardadas como? De nada adiantaria deixar um bruxo em cada porta. Se Voldemort quisesse mesmo entrar, não seria um único homem que o deteria. E além do que, quem garantiria que as passagens ficariam seguras 24 horas por dia, 7 dias por semana? Harry lembrou-se do seu primeiro ano e de Fofo. Aparentemente era impossível passar por ele, mas não apenas Voldemort conseguira, como três crianças de onze anos. O próprio Hagrid disse que o segredo de uma besta era saber como acalmá-la... Não existia o guarda ideal, e as passagens continuavam lá. Harry estava demasiado curioso por saber quais haviam sido as atitudes tomadas por Dumbledore com relação a isso. Mas sabia também que Dumbledore era extremamente capaz, e que tinha à sua disposição uma legião de seguidores. E, além disso, Dumbledore também tinha o seu horário cheio, e Harry não queria gastar seu tempo com algo que pareceria "cobrança".
- Por enquanto, – Dumbledore continuou. – acredito que a única precaução a ser tomada é certificarmos de que não exageremos em preocuparmo-nos publicamente com a Srta. Weasley. – Dumbledore olhou significativamente para Harry. – Qualquer mudança em nosso comportamento para com ela chamará especial atenção para cima dela mesma. Não podemos deixar isso acontecer.
Harry não precisou que lhe explicassem melhor essa lógica. Ele mesmo havia pensado bastante sobre esse tópico nesse último mês.
- Os que têm algo a relatar, e que não precisam da atenção de todos, por favor, fiquem. Os outros podem ir. Principalmente vocês dois. – Dumbledore disse, olhando para Harry e Gina. – Já é tarde, e não queremos levantar desconfianças. Severo foi chamá-los por esse motivo...
A maioria se levantou para saírem, enquanto alguns ainda ficaram, com certeza para discutir suas missões. Harry sabia que havia muito do que se passava lá fora, do qual ele nem tomava conhecimento. Talvez fosse uma forma do Dumbledore protegê-lo, mas para ser sincero, Harry era grato de ser poupado de alguns detalhes. Sua preocupação seria ainda maior, e o fato de não poder fazer nada pela situação o deixaria ainda mais chateado.
Harry tirou a Capa de Invisibilidade que guardara no bolso quando fora à Torre de Astronomia. Era provável que não houvesse ninguém nos corredores naquela hora, mas com espiões no castelo, todo cuidado era pouco. Antes que Harry pudesse cobrir Gina e ele, a menina o abraçou forte sem dizer nada, apenas procurando consolo. Harry concedeu sem a menor hesitação, e os dois ficaram por um tempo em silêncio, abraçados, antes de tomarem caminho para a Torre da Grifinória. Ele estava tão cansado daquela situação toda... E para ser sincero, com muita raiva! Por que Voldemort tinha que existir? Tantas coisas seriam diferentes se aquele megalomaníaco não estivesse tentando conquistar a tudo e a todos... Harry teria crescido com o amor e o carinho dos seus pais; teria sabido que é um bruxo desde que tivesse idade o suficiente para notar a diferença... não teria que ter vivido com os restos do Duda, não precisaria ter que esperar onze anos para ter um amigo... Sua vida seria tão melhor se não fosse pelo Voldemort! Aquilo tudo era tão injusto!
- Eu sei que eu pergunto sempre, – Harry sussurrou quando eles já estavam na relativa segurança da Sala Comunal da Grifinória. – mas como andam seus treinos com o Dumbledore?
Gina sorriu de leve e sentou-se em um dos sofás.
- O Dumbledore diz que não há muito o que ele possa fazer por mim... – Gina continuou a conversa em um tom baixinho, e Harry sentou-se do lado dela para ouvi-la melhor. – Ele disse que é um talento meu, e que com o tempo e a necessidade, eu vou aprender a controlá-lo melhor...
- Então vocês continuam nos livros de feitiços antigos? – Harry perguntou, enquanto trazia sua mão para acariciar os seus cabelos vermelhos.
- Bem por aí... – Gina suspirou e deitou sua cabeça no ombro de Harry. – Já tem até alguns feitiços que eu consigo fazer sem usar varinha. Mas o Dumbledore disse que eu ainda tenho muito o que aprender... Lembra que tinha vezes que a professora Figg nem falava nada quando fazia algum tipo de magia ou outra?
Harry balançou a cabeça em um sinal positivo, e Gina continuou a conversa de sussurros.
- Principalmente quando ela queria algum objeto perto dela. Eu lembro que os olhos dela mudavam de cor, e logo seja lá o que ela quisesse vinha flutuando na sua direção.
Harry não disse nada, mas continuou o movimento de sua mão nos cabelos dela. Harry não entendia bem o propósito daquela conversa, – ele se lembrava muito bem de como a morte da Sra. Figg abalou a Gina – mas se ela quisesse falar e relembrar a velha feiticeira, Harry não iria impedi-la. Ele não sabia exatamente o que ela estava sentido, mas se ela queria evitar conversar sobre o que se passara na reunião, Harry evitaria o assunto com ela.
- Você acha que algum dia eu vou conseguir ser igual a ela? – Gina perguntou tão baixinho como vinha fazendo. – É que tudo é tão... surreal! Eu ainda não consigo acreditar que é de mim que a profecia tá falando. Que eu sou uma feiticeira! Eu não sei... eu não tenho nada de especial. Isso seria algo do tipo que aconteceria com alguém como a Hermione, não comigo! Eu nunca fui mais do que a caçula dos Weasleys. E hoje, até a namorada do famoso Harry Potter eu sou!
Gina disse o último comentário com um sorriso triste, e Harry levantou o queixo dela para que ele pudesse olhá-la nos olhos.
- Você é muito mais que isso, Gina! – Harry continuou com um tom de voz baixo, mas agora ele estava sério. – Eu nunca disse isso antes pra ninguém, mas não tem como eu ter dúvida. Eu não tenho nem como explicar o quanto você é especial pra mim, sendo uma feiticeira ou não! Eu te amo, Gina. E mesmo não tendo com o que comparar, eu tenho certeza que eu te amo.
Os olhos de Gina estavam vidrados, e nenhum som saía de sua boca. Harry só sabia que o que ele dissera não a tinha incomodado, porque seus olhos mostravam tanta felicidade, que Harry não tinha como confundir com qualquer outra coisa.
- Mas eu tenho com o que comparar, – Gina disse com a voz falha. – e tenho a mesma certeza. Eu te amo.
Gina disse com tanta certeza, e com os olhos tão fixos nos de Harry, que ele quase foi "engolido" por aquelas palavras. Ele nunca ouvira isso de ninguém antes, e sabia que mais ninguém que viesse a dizer isso para ele conseguiria o mesmo efeito que Gina conseguiu. Seu coração estava tão acelerado, que ele estava certo de que qualquer um poderia ouvi-lo. Com uma certa urgência, Harry levou seus lábios até os de Gina e certificou-se, com gestos, de que tudo que havia sido dito era verdadeiro. E não importava quantos megalomaníacos surgissem para querer conquistar tudo, aquele momento era só seu, e ninguém poderia tirar isso dele.
