Capítulo Quarenta e Um
RESOLUÇÕES
- Espiões?? – Hermione perguntou horrorizada, levando a mão à boca.
Harry suspirou cansado e balançou a cabeça em concordância. Uma trégua ficou subentendida entre os três amigos, enquanto Harry relatava tudo o que acontecera nos últimos meses como prometido. Gina argumentara com Rony, e Hermione apareceu no banheiro que guarda a entrada para a Câmara Secreta como combinado.
- E você teve um pesadelo com isso... Você não viu quem eles eram? – Rony perguntou, tão abalado quanto Hermione.
- Não... As imagens que eu tenho em sonho nem sempre são bem definidas, e dessa vez, eu sabia que eles estavam lá, mas não conseguia discernir quem eram...
- Completamente frustrante! – Gina acrescentou.
- Mas então... alguma coisa tem que ser feita! O que o Dumbledore falou disso?
Harry voltou sua atenção à pergunta de Hermione, e sua expressão não era muito encorajadora. A menina ficou ainda mais ansiosa, e Harry resolveu responder.
- Nada... O Dumbledore não quer que esses Comensais desconfiem que haja qualquer coisa de diferente.
- Como assim, nada? – Rony perguntou indignado. – Mas... e a Gina? Você? Não é seguro!
- Nem pra você, nem pra Hermione e nem pra nenhum dos alunos que nada sabem sobre isso... – Gina suspirou tristemente e ergueu a cabeça para olhar para o irmão. – Mas ainda assim, é o melhor a se fazer...
- Melhor? – Rony perguntou, encarando incrédulo a irmã. – Eu não vejo por onde manter sei lá quantos Comensais da Morte nesse castelo seja melhor!
- Tenta entender, Rony... – Hermione interferiu-se delicadamente. – Se eles não se sentirem ameaçados, eles ficam mais aptos a cometerem erros e, com isso, o Dumbledore vai ter mais facilidade de identificá-los.
- Foi isso que ele falou... – Harry comentou, lembrando-se das palavras do Diretor. – Mas não é só isso.
Hermione e Rony desviaram suas atenções para o Harry. Seu tom era grave, e os dois amigos o olhavam preocupados.
- O Voldemort já desconfia da Gina há muito tempo... Inclusive, parte do motivo do Rabicho ter ficado uns dez anos na sua casa, era pra vigiá-la.
Gina abaixou a cabeça, e Hermione olhou horrorizada para a amiga.
- Esses espiões têm até recomendação de prestar especial atenção a ela... – Harry acrescentou.
- E eles já devem saber que sou eu... – Gina comentou baixinho.
- Filho da-- – Rony se levantou com raiva e esmurrou um dos lavatórios.
- Mas se o Você-Sabe-Quem ainda não fez nada, talvez ele ainda não tenha certeza! – Hermione interferiu com esperança nos olhos. – Ele não é lá muito famoso por esperar! Com certeza, se ele soubesse de algo, ele já teria atacado!
- Esse é o meu medo... – Gina declarou, chamando as atenções de Rony e Harry para si. – Como é que eu vou saber se ele já não tá planejando algo? Pelo que eu sei, ele pode muito bem atacar daqui a um mês, assim como amanhã mesmo...
- Mas a Ordem da Fênix também tem espiões dentre os Comensais, não tem? Vocês ficariam sabendo se tivesse acontecendo alguma coisa... – Hermione persistiu.
- Não necessariamente... – Harry disse com tristeza. – O Voldemort não confia mais nos seus seguidores como antes... O Snape, por exemplo, tem tido muito trabalho cada vez que ele é chamado pela Marca Negra. O Dumbledore tem medo até que numa dessas, algum dos espiões da Ordem não volte...
- Então tá tudo bem pior do que a gente imaginava... – Rony constatou. De repente, com mais veemência, ele voltou-se para o Harry. – E você pretendia manter isso da gente até quando?
- Rony, é melhor não!
O protesto de Hermione foi feito com os olhos sérios e tristes. Rony, por um momento, parecia que iria ignorá-la, mas com um suspiro triste, ele abaixou a cabeça e deixou o assunto de lado. Talvez, assim como o Harry, Rony aprendera a dar ouvidos à Hermione quando necessário.
- Agora eu quero falar do motivo pelo qual vocês brigaram. – Gina disse extremamente determinada, e antes que qualquer um deles pudesse redargüir, ela continuou. – Não que eu deva satisfações a você, Rony. Como deu pra perceber, eu tenho uma vida separada da sua e já tô bem grandinha. – Gina olhou séria para o irmão, que parecia ligeiramente contrariado. – E mesmo que você não goste, você vai ter que aceitar. Assim como vai ter que aceitar que eu e o Harry estamos juntos, e que você não pode fazer nada por isso.
Por um momento, Rony parecia surpreso, mas Harry desconfiava que a surpresa era mais pelo fato da irmã ter sido tão direta do que qualquer outra coisa. Harry observou bem as reações do amigo, mas sinceramente, não tinha nem idéia do que esperar. O Rony era tão volúvel no que dizia respeito às suas reações, que Harry não saberia dizer se ele ficaria chateado com irmã, bravo com o Harry, ou indiferente. Mas a reação que o Rony resolveu tomar surpreendeu muito ao Harry e, pelo jeito, agradou muito à Hermione.
- Mais tarde a gente conversa. – Rony disse, olhando sério para o Harry, mas sem rancor. – Eu não tenho escolha na decisão de vocês. – Rony voltou-se para a Gina. – Mas você continua sendo minha irmã, e vai ter que aceitar que eu me preocupo e me importo. Mesmo o Harry sendo meu melhor amigo.
Gina balançou a cabeça em aceitação, e todos os quatro respiraram aliviados de que não saíra nenhuma briga depois daquela confissão.
No dia seguinte, Harry jogou mais uma partida de quadribol. Dessa vez, contra a Corvinal. A partida não foi nem um pouco difícil, e Jô Halliwell – a nova apanhadora, substituta de Cho Chang – não apresentou muito desafio. O placar final foi 280 para a Grifinória, contra 40 da Corvinal. A Grifinória estava agora com 110 pontos na frente da Sonserina, que estava em segundo lugar. Era uma ótima vantagem, e Angelina estava vibrante. Sua única preocupação, porém, era o fato de que a Sonserina faria de tudo para recuperar esses 110 pontos durante sua próxima partida contra a Grifinória. E aí estava o problema. Angelina não duvidava nem por um instante de que essa partida seria cheia de faltas. E por isso, ela avisou Harry para que se preparasse. Porque afinal de contas, enquanto os Artilheiros da Sonserina iriam tentar fazer gols, os batedores e o apanhador iriam certamente tentar impedir que Harry pegasse o pomo antes que eles recuperassem a vantagem que a Grifinória tinha sobre eles. E durante esse processo, Harry poderia se machucar seriamente. Mas como eles haviam acabado de ganhar uma partida, Angelina decidiu que eles conversariam sobre isso com mais calma na próxima reunião do time. Agora era hora de festejar.
Na opinião de Harry, essa tarde de Sábado e todo o Domingo prometiam ser muito bons. Depois da conversa que ele, Gina, Rony e Hermione tiveram, a amizade entre os amigos havia sido restabelecida. Harry ficara contente de notar ainda que, naquela noite mesmo, Rony voltara para o dormitório masculino ainda mais tarde que Harry. E quando ele questionou o amigo se estava tudo bem, Rony simplesmente respondeu que estava tudo ótimo. Harry reparara que Rony havia ficado para trás para conversar com a Hermione, e pela expressão do amigo, os dois estavam juntos mais uma vez. Era estranho não saber exatamente de tudo que acontecia na vida dos seus dois melhores amigos, e saber que eles tinham uma vida completamente à parte da dele. Uma que só ficava entre eles. Não que Harry se sentisse mal com isso... Afinal de contas, ninguém poderia estar mais feliz por Rony e Hermione do que ele próprio. Mas é que os três nunca faziam nada separadamente, e Harry reparou que já no seu quarto ano, eles começaram a ter uma certa "individualidade". Harry pelo fato de que era um dos campeões de Hogwarts e tinha tarefas extras para cumprir. E, além disso, mais uma coisa que o diferenciou dos amigos no ano passado, fora o fato de que ele ficou isento de ter que fazer as provas finais. Ele não precisou estudar tanto quanto os amigos e acabou com mais tempo sozinho. Rony, quando brigou com Harry, achando que o menino havia posto seu nome no Cálice de Fogo para ter mais um momento de fama, isolou-se também. E como Hermione tomara o lado de Harry, Rony, com todo o seu orgulho, ficou um tempão sozinho. E já a Hermione, ela teve todo um histórico com Victor Krum, o qual nem Harry, nem Rony ficaram sabendo, e se surpreenderam como todos no Baile de Inverno. Era óbvio que o tempo que Hermione passava na biblioteca era um tempo que ela guardara só para si, e essa foi a vez da Hermione se separar dos amigos.
Desde o ano passado, Harry, Rony e Hermione já estavam começando a se "separar" um dos outros. Não que fosse algo drástico ou ruim. Mas era apenas diferente. E o próprio Harry admitia para si mesmo que havia instantes que o que ele mais queria era ficar sozinho e esquecer por hora de que o mundo existia. Ele não duvidava que com Rony e Hermione fosse igual. E foi até por isso que ele começou a entender o porquê desse afastamento entre os amigos. Os três continuavam os melhores dos amigos, mas é que agora, nem tudo era feito em trio.
- Harry? Posso conversar com você? – Rony perguntou, aproximando-se do amigo.
Hermione e Gina olharam para os dois e, enquanto todos voltavam para o castelo com o final da partida, as duas meninas compreenderam e fizeram o mesmo, deixando os dois amigos para trás.
- Pode falar, Rony.
Harry suspeitava que a conversa seria o que Rony prometera na noite anterior. E decidiu que seria melhor fechar esse assunto de vez.
- Eu pensei sobre o que a Gina disse ontem... – Rony parecia ligeiramente desconfortável e passava a mão pelos seus cabelos, desarrumando ele todo. – E... bom, pra ser sincero, eu não queria que a minha irmã se envolvesse com menino nenhum e ponto final.
Harry estava pronto para protestar, mas Rony esticou a mão em um sinal para que Harry parasse, porque ele ainda tinha algo a dizer.
- Mas... se ela tem que sair com alguém, eu prefiro que seja você a qualquer um outro que eu não conheça, e que a faça sofrer mais tarde. Não que eu ache que você seja a melhor escolha. Sem ofensa, Harry, mas você é um alvo ambulante, e o Você-Sabe-Quem não vai parar de te perseguir até a hora que um de vocês morra. E se for você, eu tenho certeza que a Gina vai sofrer bastante, e eu nem vou poder te encher de porrada por causa disso...
Rony forçou um sorriso sem jeito, e Harry o retribuiu. Estava sendo um esforço enorme para o Rony falar tudo aquilo, e Harry reconhecia esse esforço do amigo.
- E... sei lá. – Rony continuou. – Acho que com tudo o que tá acontecendo, a Gina tá correndo risco com ou sem você, então... Então pelo menos ela estando contigo, você pode cuidar dela por mim. Já que nessa parte, ela já não é mais a minha irmãzinha, e eu não posso mais cuidar dela...
Rony carregava um certo tom de tristeza, e Harry lembrou-se de uma vez quando a Gina lhe contou que o Rony sempre a protegia quando os dois eram crianças. Rony sempre cuidava dela, e os dois eram muito amigos. Até que ele veio para Hogwarts e a irmã mais nova começou a "perder a graça". Harry acreditou que, naquele instante, Rony se arrependeu de ter "esquecido" da irmã por uns quatro anos. E talvez, os quatros anos dos quais Gina possivelmente precisara mais dele. Mas agora não era hora de pensar nisso, afinal de contas, nem que o Rony quisesse, ele poderia voltar no tempo e refazer esses últimos anos. O jeito era impedir que isso voltasse a acontecer e, qualquer dia, Harry se certificaria de conversar sobre isso com o amigo.
- Pode deixar, Rony. No que depender de mim, ninguém vai machucar a Gina.
Rony sorriu genuinamente, e os dois começaram a caminhar em direção ao castelo.
- Ah, Harry! – Rony ganhou um brilho maroto nos olhos, e seu sorriso ia de orelha a orelha. – Me diz... cê sabe que dia que é terça-feira?
- Ãhn... – Harry fez umas contas rápidas e respondeu. – Quatorze. Por quê?
- É... quatorze de fevereiro. Você sabe o que isso significa? – Rony perguntou calmamente, ainda sorrindo. – Eu te aconselho a lembrar bem desse dia. Quando a Gina fica brava, ela realmente fica brava.
- Quê? – Harry ainda estava confuso. O que o Rony estava querendo dizer com aquilo.
- Harry, meu velho... você ainda tem muito o que aprender. Dia dos Namorados, Harry. Terça-feira é o Dia dos Namorados. E se você não quiser que a Gina fique brava, eu te aconselho a lembrar disso.
Rony riu, e Harry balançou a cabeça de um lado para o outro. Claro! Como é que ele poderia esquecer?!
Continua no Capítulo Quarenta e Dois...
