Capítulo Quarenta e Dois
ACABA O SEGREDO
Harry acordou na terça-feira, dia 14 de Fevereiro, um tanto nervoso. Ele não esquecera o Dia dos Namorados, afinal. Inclusive, no Domingo mesmo, era dia de visita à Hogsmeade. A data foi, provavelmente, estrategicamente escolhida, e Harry agradeceu por isso. Ele pôde comprar algo de presente para a Gina. Não que ele pudesse fazer da ocasião um grande evento. Afinal de contas, ainda era segredo para o resto do castelo que eles estavam juntos. Mas ainda assim, ele quis comprar algo pra ela. Algo que pelo menos demonstrasse a ela que ele não havia esquecido. E enquanto estavam Rony, Hermione, Gina e Harry em Hogsmeade, junto com vários outros alunos, Harry deu uma escapadinha dos amigos com o Rony, dando a desculpa que falariam com o Neville. Os dois amigos compraram, então, os presentes que lhes garantiriam namoradas calminhas e felizes no Dia dos Namorados. Harry sinceramente não entendia por que a data era tão importante, mas para a Gina devia ser, e Harry não queria "pisar na bola". Afinal de contas, quando ele estava no seu segundo ano, Gina lhe provou que considerava a data importante quando lhe mandou aquele poema... Harry balançou a cabeça de um lado para o outro, lembrando com humor da ocasião, enquanto se vestia.
Rony e Harry desceram as escadas e encontraram Hermione e Gina já os esperando. Rony não pensou duas vezes e partiu pra cima da Hermione, envolvendo-lhe num beijo que chamou a atenção de todos que estavam na sala comunal. Hermione ficou muito corada, mas foi-lhe impossível esconder o sorriso que moldava seus lábios enquanto Hermione e Rony se olhavam.
Gina pigarreou alto para chamar a atenção dos dois, e a menina estava segurando a risada enquanto o fazia. Rony e Hermione estavam desligados do resto do mundo, e quando eles ficavam assim, era difícil trazer-lhes de volta à realidade. Harry sorriu para a Gina e ofereceu-lhe uma piscadinha, que lhe rendeu um sorriso de volta. Enquanto os quatro iam ao Salão Principal para tomarem café da manhã, Harry aproximou-se de Gina e sussurrou discretamente em seu ouvido que ele não havia esquecido, e que os dois conversariam melhor mais tarde. Gina olhou-lhe com um olhar maroto, e Harry resistiu a vontade de fazer o mesmo que Rony fizera há pouco com a Hermione. Havia vezes que ele simplesmente queria que os outros explodissem, e que ele pudesse, no mínimo, ficar com a Gina quando lhe desse vontade. Mas não era bem assim.
A mesa do café da manhã estava bem turbulenta. Para todos os lados eram cochichos, risadinhas, e várias corujas que chegavam com pacotes ou cartas de amor. Para se sincero, Harry estava achando tudo aquilo um tanto ridículo, mas em todo o caso, as meninas gostavam sabe-se lá por quê, e os meninos, por suas expressões, gostavam porque uma namorada feliz parecia, pelo menos para eles, mais vantajoso.
- E cadê a grande surpresa do Harry Potter pra namorada?
Harry olhou assustado na direção da voz e reconheceu Simas, sorrindo de orelha a orelha atraindo bastante atenção com o seu comentário.
- Quê? – Harry perguntou confuso e um tanto desconcertado com tanta gente olhando para ele, e interessados na pergunta de Simas.
- Tá todo mundo ganhando presente, flores, chocolate... – Simas disse ainda sorrindo. – Eu esperava mais de você, Harry. O que a nossa querida Gina vai pensar? – Simas perguntou, enquanto se sentava do lado da menina e passava-lhe o braço em volta dos ombros dela.
Harry olhou em volta e reparou que várias pessoas estavam cochichando e, entre um sussurro e outro, Harry podia identificar seu nome e o nome da Gina, seguidos de expressões de surpresa. Harry olhou sério para Simas, e Gina tirou o braço do menino dos seus ombros.
- Ih... qual é? – Simas perguntou, levantando-se. – Por acaso vocês brigaram? Eu vejo vocês sempre juntos. Achei que isso seria impossível. Vai dizer então que a Gina tá livre nesse Dia dos Namorados? Ô... mas isso é uma maravilha!
- Cala a boca, Simas! – Rony exclamou, levantando-se também, mas com mais velocidade. – Quem você pensa que é pra falar da minha irmã desse jeito?
- Foi mal, Rony... – Simas concedeu com um sorriso charmoso. – Você tá certo! Tô saindo...
Harry olhou para a Gina, e ela tinha a mesma expressão nos olhos. Tanto tempo escondendo, para chegar no Dia dos Namorados, e tudo acabar assim? Àquele ponto, nem adiantava tentar desmentir. Boatos se espalhavam com velocidade incrível naquela escola. Ainda mais sendo sobre casais e sobre Harry Potter. Harry não dava até a hora do almoço para que todos ficassem sabendo, e que a história tivesse ficado incrivelmente absurda até lá. De conto em conto, aumenta um ponto. E em Hogwarts, era bem esse o caso.
- Acho que o café da manhã acabou, né? – Hermione comentou, enquanto levantava-se para acalmar e conter Rony.
- É... acho que sim. – Harry concordou, enquanto juntava as suas coisas. – Mas antes tem alguém com quem eu quero tirar satisfações...
E antes que qualquer um de seus amigos pudesse lhe impedir, Harry saiu da mesa e, aproveitando o tumulto restabelecido no Salão Principal, ele puxou Simas de lado para que os dois conversassem.
- Como é que você ficou sabendo? – Harry perguntou bem sério, e direto ao ponto.
Simas olhou para o colega, estranhando a rispidez, e sem entender de onde vinha aquilo. Os dois estavam conversando lado a lado e caminhando para fora do Salão Principal.
- Do que cê tá falando? – Simas perguntou, começando a se incomodar.
- Do que você acha? De mim e da Gina! – Harry respondeu baixinho, para que só Simas ouvisse. Mesmo depois de tudo, ele ainda servia-se de precaução.
- Pô! Eu já sei há um tempão... O Neville me disse um dia aí, e você e a Gina tão sempre juntos... eu nunca questionei!
Harry queria bater em si mesmo pelo descuido. Ele lembra desse dia. Foi antes do baile, quando ele e Rony ouviram escondidos uma conversa entre o Neville e o Simas. Neville vira uma foto de sua mãe e seu pai, e achara que era Harry e Gina na foto, chegando à conclusão de que os dois estavam namorando. Mais tarde, Harry se explicou ao Neville, mas Simas nunca ficara sabendo que os dois não estavam namorando. Pelo menos não na época!
- Tudo bem, Simas... – Harry disse com a cabeça baixa, em um tom grave, e sem chateação para com o amigo. – Foi mal... é que era mais ou menos um segredo, e... Bom. Deixa pra lá! – Harry ergueu a cabeça e olhou para o amigo com os olhos mais simpáticos. – Você não tem culpa, não tinha como você saber...
- Foi mal se eu atrapalhei em alguma coisa, Harry. – Simas disse agora, aparentemente sendo verdadeiro. – Eu não sabia--
- Não, tudo bem! – Harry interrompeu. – Vamos só deixar esse assunto de lado...
- Ok...
Simas olhou mais uma vez para o Harry, com os olhos como que pedindo desculpas, e continuou seu caminho. Harry ficou parado onde estava, esperando algum de seus amigos, os quais ele tinha certeza que o seguiriam. Ele não se decepcionou.
- Harry! – Hermione o chamou, e Harry virou-se e encontrou a amiga e o Rony caminhando em sua direção.
- E a Gina? – Harry perguntou preocupado.
- Ela e o Colin foram pra sala de aula... – Rony foi quem respondeu.
- E ela falou alguma coisa? – Harry perguntou com cautela, quase que temendo a resposta.
- Não... – Hermione respondeu com sinceridade e uma voz amigável. – Acho que ela ainda tá confusa com o que aconteceu. E o Simas? Você acha que ele pode ser suspeito?
Hermione fez sua última pergunta com um sussurro tão baixo, que Harry teve que ler os seus lábios para entender. Ele balançou a cabeça de um lado para o outro e suspirou cansado.
- Na verdade a culpa é minha... uma vez o Neville viu uma foto dos meus pais, comentou com o Simas que achou que era eu e a Gina, e eu acabei esquecendo disso... Se o Simas fosse suspeito, ele já teria usado isso há algum tempo.
- Mas também isso não é o suficiente pra acusarem a Gina... – Rony interferiu, no mesmo tom baixo da conversa, enquanto os três caminhavam para sua própria sala de aula. – Talvez o fato de vocês terem escondido pode ser, mas eu tenho certeza que eles podem pensar diferente quando o Fred e o Jorge resolverem tirar satisfações com você!
- Ah... muito obrigado pelo incentivo, Rony! – Harry comentou com a voz cheia de sarcasmo e já temendo o próximo encontro com os gêmeos. – Mas você tá certo... Eu vou conversar com a Gina mais tarde, e a gente não vai se deixar abalar por causa disso. Quanto mais nervoso a gente ficar, mais bandeira pra esses comensaizinhos mirins...
- É isso aí! – Hermione disse, sorrindo em encorajamento. – Agora vocês vão ter um tempo pra esfriar a cabeça, e você vai ver que tudo vai ficar melhor no fim do dia... Talvez o pessoal até esqueça disso.
Harry achava que nem Hermione acreditava cem por cento nas suas palavras, mas naquele instante, era tudo o que ele tinha, e ele se prenderia na esperança de que elas se concretizariam.
Durante a hora do almoço, Harry notou que Gina chegou bem mais tarde do que ele, Rony e Hermione. Mas a menina não comentou o motivo de sua demora. Simplesmente sentou-se à mesa e manteve o assunto de suas conversas o mais longe possível do que acontecera no café da manhã. Para ser sincero, tudo o que Harry mais queria era deixar sua comida de lado e ir conversar com a Gina, mas a menina mal olhava para ele, e quando se pegava o fazendo, virava o olho e puxava qualquer assunto com a Hermione. Harry não compreendia direito aquele comportamento, mas como Hermione dissera, eles esfriariam a cabeça, e talvez Gina estivesse ainda nervosa, e por isso estava agindo tão estranhamente.
As duas últimas aulas do dia demoraram uma eternidade na opinião do Harry. E ter que agüentar as risadinhas e sussurros que o acompanhavam quando ele passava por algum grupinho de meninas estava começando a encher a paciência. Harry não via a hora da aula de Herbologia acabar para que ele pudesse procurar a Gina. Até as meninas da Lufa-Lufa pareciam olhar pra ele e comentar algo entre si. Algumas até olhavam Harry com um olhar de derrotada, como se tivessem perdido algo de importante, e não tivessem mais esperança...
- E eu quero que vocês pesquisem bastante as Heras cortantes pra essa tarefa, porque elas podem cair nos seus N.O.M.s. – A Professora Sprout deu suas últimas recomendações com um tom gentil e um olhar ansioso que revelava que provavelmente as Heras cortantes iriam cair nos N.O.M.s. – Agora vocês podem ir!
Com um sorriso, a professora Sprout liberou os alunos do quinto ano da Grifinória e da Lufa-Lufa, e Harry sentiu-se aliviado por esse dia ter finalmente chegado ao fim. Bom, pelo menos as aulas... O dia para ele ainda teria muito pela frente.
- Ô, Hermione... – Harry chamou a amiga baixinho para não chamar a atenção dos outros alunos. – Pede pra Gina me encontrar na cabana do Hagrid antes da janta?
Hermione ergueu uma única sobrancelha em curiosidade, e Harry resolveu explicar melhor.
- O Hagrid teve que sair hoje, alguma coisa a ver com uma tal de Olímpia e ele não dar aulas hoje... Bom, mas eu fiquei de dar comida pro Canino, e eu pensei que lá eu poderia conversar com a Gina sem que ninguém ficasse olhando muito...
Hermione abriu um sorriso misterioso, e Harry ficou ligeiramente incomodado com aquilo. Mas a menina prontamente concordou com ele, e ela e o Rony deixaram a estufa, enquanto Harry usava do pretexto de ter dúvidas sobre as Heras cortantes para ficar para trás. Depois que todos os alunos já haviam deixado a estufa, e ele simplesmente não conseguia mais pensar em nada o que perguntar à professora Sprout, Harry caminhou em direção à cabana do Hagrid. Canino o recebeu com todo o entusiasmo que um cachorro que ficou sozinho o dia inteiro é capaz de ministrar. Harry sorriu despreocupadamente e serviu ao Canino o que Hagrid separara para ele. Depois da tarefa cumprida, Harry abriu a gaveta da cômoda de seu amigo e tirou de lá um pacote embrulhado. Hagrid concordara – e até gostara da idéia – com que Harry escondesse seu presente na cabana do amigo. E até por isso, encontrar com a Gina ali – algo que ele até já estava planejando – seria uma ótima idéia.
Harry depositou o embrulho de volta na gaveta e foi dar um pouco de atenção ao Canino. Mesmo sendo possível que o cachorro estivesse com fome, ele ainda assim parou de comer e foi receber os carinhos e as brincadeiras de Harry. Parecia que sua carência era maior que sua fome. Depois de algum tempo – em que Harry checava o seu relógio constantemente – alguém bateu na porta, e Harry prontamente foi receber seu visitante.
- Entra, Gina...
Harry a recebeu com um sorriso, que a menina retribuiu. Ela ainda estava um pouco afligida, mas como Hermione previra, ela já estava bem melhor.
- Harry, desculpa pelo jeito que eu agi no almoço... – Gina disse enquanto entrava na cabana e tirava o seu casaco. – Você não tem culpa, é que...
- Não, tudo bem, Gina... – Harry sorriu mais uma vez e pegou o casaco dela para depositar nas costas da poltrona. – Eu entendo. Eu também tava um pouco nervoso...
Gina sorriu e abraçou Harry. Tão forte, que Harry sentia como se todas as partes do seu corpo estivessem encostadas nela.
- Pra ser sincera, – Gina sussurrou perto do ouvido dele, e Harry teve que se controlar para reprimir os impulsos que estava sentindo. – eu fiquei com um pouco de medo. Mas eu vi que é bobeira... a gente não precisa fazer uma tempestade num copo d'água...
Os dedos de Gina seguiam um movimento irregular na nuca de Harry, que teve sérios problemas em controlar o ritmo de sua respiração com aqueles gestos. Será que ela não percebia que aquilo estava sendo uma tortura? Harry olhou Gina nos olhos e beijou seus lábios com um pouco mais de intensidade do que de costume. Gina não o impediu, e quando ele ouviu um som inteligível sair da garganta da menina, ele teve que usar todo o seu auto-controle para parar enquanto ele ainda podia. Harry afastou-se um pouco de Gina e respirou fundo. Eles ainda não haviam conversado sobre esses momentos mais intensos, e Harry nem sabia se conseguiria conversar sobre isso. Mas era óbvio que os dois percebiam essas mudanças, que apesar de sutis, para eles eram como avalanches, enormes, e que mudam tudo por onde passam.
- Na verdade, eu te chamei aqui por dois motivos... – Harry comentou, enquanto Canino se aproximava de Gina, todo entusiasmado, e pedindo atenção. Ele aproveitou esse momento para mais uma vez abrir a gaveta da cômoda de Hagrid.
- E qual é o outro, além do que aconteceu no café da manhã? – Gina perguntou ligeiramente distraída, entretendo Canino.
- Eu disse que eu não tinha esquecido, e eu queria te dar isso...
Harry aproximou-se de Gina ligeiramente sem graça. A menina voltou sua atenção para ele e corou de leve com um sorriso no rosto.
- Mas eu não trouxe o seu presente... ele tá lá no meu quarto...
Harry balançou a cabeça de um lado para o outro, começando a se sentir um pouco melhor.
- Não tem importância! – Harry sorriu e entregou o pacote para ela. – Abre...
Gina mordeu o lábio inferior e fez o que lhe foi pedido. Seus olhos estavam cheios de curiosidade, e o próprio Harry estava começando a ficar nervoso para ver o que ela acharia do presente. Cada vez que Gina sorria, Harry imitava seu gesto. Era completamente involuntário, e ele nem percebeu que o fazia.
- Harry! – Gina levantou a cabeça e olhou boquiaberta para ele. – É lindo!
Harry sorriu abertamente quando notou Gina examinando o presente com felicidade estampada no rosto. Harry nem sabia ao certo como ele encontrara um presente – que na opinião dele – era tão perfeito para a Gina. Era como se aquela corrente com o pingente na vitrine tivesse o chamado, e ele não encontraria nada melhor para a Gina. A corrente era num tom acobreado – um dos tons do cabelo da Gina, Harry notou com um sorriso – enquanto que o pingente era nos três tons de ouro (o amarelo, o prata, e o cobre). Era um "7" todo prateado, enfeitado com detalhes que imitavam folhas em dourado, e duas pedras olho-de-gato no tom mais avermelhado que ficavam na parte superior do 7. Havia umas folhinhas em volta das pedras e, quando se olhava para elas, era como se um gato estivesse olhando de volta para você. Gina estava hipnotizada pela jóia.
- Mas Harry... – Gina levantou o olhar para ele. – Isso deve ter sido muito caro! Eu não posso aceitar...
Gina esticou o braço, oferecendo a corrente de volta para o Harry. Ele teve que admitir que gastara um pouco mais do que imaginava com o presente, mas Gina gostara tanto, que valeu cada nuque gasto. Além do que, ele estava tão orgulhoso de si mesmo por ter encontrado algo que Gina genuinamente gostara... ele ficava até meio que ofendido por ter o presente entregue de volta.
- Gina, se eu não pudesse, se tivesse sido muito caro, eu não teria comprado... – Harry disse, escolhendo bem suas palavras. Dinheiro era um assunto delicado com qualquer um dos Weasleys. – Quando eu vi, eu pensei na hora em você, e ele só combina com você. Mais ninguém.
Harry delicadamente fechou os dedos da Gina em volta da corrente e beijou-lhe os lábios brevemente. Gina ficou ainda um tempo de olhos fechados e, quando os reabriu, comentou olhando fixo nos olhos de Harry:
- Muito obrigada, Harry. Eu adorei, mas eu quero que você saiba que, por mais piegas que soe, não tem presente maior que você poderia me dar do que o amor que eu sinto por você. – Gina levantou-se e sentou-se no colo do Harry. – Eu te amo...
Harry beijou Gina mais uma vez e, de repente, ele começou a entender e gostar muito mais do Dias dos Namorados do que ele poderia imaginar.
Continua no Capítulo Quarenta e Três...
