Capítulo Quarenta e Sete

PLANOS

A reunião prometida por Dumbledore não informou nada de muito importante para Harry, e agora que estava encerrada, Dumbledore e Sirius queriam falar em particular com ele e Gina. Harry até sabia qual seria o assunto antes mesmo que essa "conversa" começasse. Como ele falara para a Hermione, Harry acreditava que Dumbledore pediria a Harry que deixasse esse assunto com a Ordem da Fênix, que ele e Gina eram fatores muito importantes para se arriscarem dessa forma, e coisas que Harry já ouvira algumas vezes antes.

 - A história é a seguinte, Harry: – Sirius foi quem falou primeiro e, pelo jeito, queria ir direto ao ponto. – Foi-nos avisado de que o Rony ficaria em Hogsmeade, e em troca dele, o Voldemort quer a Gina. Mas isso está fora de cogitação!

 - Sendo assim, – Dumbledore continuou num tom de voz mais calmo, provavelmente para cortar a afobação de Sirius. – Nós da Ordem estamos pensando em todas as maneiras possíveis de regatá-lo, mas vou ser sincero... não vejo muita esperança... – Gina fechou os olhos com força, e Dumbledore continuou. – Acho que eu sou redundante quando eu digo que vocês dois estão proibidos de saírem para ir atrás do Rony. – Nós temos três possíveis lugares em que ele possa estar, todas em Hogsmeade. Foi passado para nós que só teremos essa certeza, quando estivermos prontos para entregar a feiticeira. E para isso, Voldemort quis manter Rony o mais perto possível. Isso pode ser bom, como também pode vir a ser uma desvantagem. Tudo vai depender de como os nossos planos serão encaminhados...

 - E pra garantir que vocês dois vão ficar aqui, – Sirius interrompeu. – eu quero lembrar-lhes de que eu sei bem de cada saída secreta que leva a Hogsmeade desse castelo. E quero assegurar-lhes que essas saídas continuam sendo vigiadas vinte e quatro horas por dia, como tem sido feito já há algum tempo, na esperança de pegarmos algum rato solto por aí... – A expressão de Sirius foi de nojo por um tempo, mas logo ele se recompôs e olhou sério para o Harry. – Eu quero que você também se lembre da promessa que você fez pra mim, Harry. Acredito que você lembre bem dela.

Harry balançou a cabeça em um sinal afirmativo, e Sirius parecia ligeiramente mais aliviado.

 - Mas professor Dumbledore, – Gina disse em um tom de voz falho, chamando as atenções para si. – você vai pelo menos dizer pra gente o que tá acontecendo, não vai?

 - Claro que sim, Gina... – Dumbledore respondeu com uma expressão bem menos severa, quase paternal. – Ninguém aqui está castigando vocês. A gente só quer que vocês fiquem, porque vocês representam algo maior. Algo que não pode ser perdido. Nós temos aliados do nosso lado, e são pessoas capazes, que sabem da gravidade do assunto e o risco que correm. Não estamos cruzando os braços, apenas tentando garantir segurança ao maior número de pessoas possível.

O fim da conversa foi feito com assegurações de que todo o possível seria tentado, e que Rony voltaria são e salvo. Harry acreditava nas palavras do diretor, mas ainda assim não conseguiria ficar parado, ele precisaria fazer algo... O Rony era como um irmão pra ele, e a família Weasley era como se fosse a sua própria. Como é que ele poderia deixar os Weasleys na mão, se quando ele precisou, eles sempre ajudaram? Harry sentia-se mal quando pensava que quebraria a promessa que fizera a Sirius. Seu padrinho provavelmente perderia a confiança nele, e apesar disse doer muito só em pensar, Harry teria que arriscar seu relacionamento com o seu padrinho mesmo assim.

Harry e Gina foram direto ao banheiro da Murta-que-Geme ao invés de irem para a sala comunal. Hermione ficara com o Mapa do Maroto, e quando ela percebesse que os dois estavam deixando a reunião, ela também iria ao banheiro fora de ordem, pra que os três conversassem e começassem a decidir o que seria feito.

 - Como estão as coisas na enfermaria? – Foi a primeira coisa que Gina perguntou quando viu Hermione já no banheiro.

 - Corridas. Mas acho que vai ficar tudo bem... E a reunião?

 - A gente sabe muito pouco... Só que o Rony tá em Hogsmeade, sem certeza de exatamente onde, e que como eu pensava, o Dumbledore não vai deixar a gente mover um dedo. – Harry suspirou cansado, e Gina sentou-se no chão, que estava anormalmente seco.

 - Mas então, – Hermione falava em um tom esperançoso. – se ele tá em Hogsmeade, já é meio caminho andado... chegar em Hogsmeade  não é problema pra gente!

 - Não era problema... – Harry comentou, sentado-se de frente para a Gina, Hermione seguindo o seu exemplo. – Todas as entradas pro castelo estão fiscalizadas, inclusive a do Salgueiro Lutador, que tá fechada... Nem o professor Lupin tem usado...

 - Então a gente vai ter que achar outra maneira... – Hermione disse convicta.

 - E como é que você tá planejando que a gente faça isso? Alguma idéia? – Gina perguntou, olhando para a amiga, tentando confiar no intelecto de Hermione.

 - Pra dizer a verdade... – Hermione lançou um sorriso maroto. – Eu acho que eu tenho. Quando eu digo que "Hogwarts, Uma História" é um utensílio muito útil, vocês dão risada, mas agora eu vou poder provar...

 - Como assim? – Harry perguntou curioso e interessado.

 - Um dos capítulos do livro é só sobre o lago de Hogwarts, e todo mundo sabe onde o lago começa e acaba.

 - A estação de Hogsmeade! – Gina exclamou sorrindo e cheia de esperança.

Harry pensou na mesma coisa. Todo aluno do primeiro ano sai direto da estação de Hogsmeade para o lago que os leva a Hogwarts. Seria brilhante, se não fosse um pequeno detalhe:

 - Mas o lago tá vigiadíssimo, Mione... A gente nunca vai conseguir passar despercebido... – Harry comentou desiludido.

 - A parte de cima do lago tá vigiada... – Hermione continuava sorrindo. – Mas não a parte de baixo! No livro "Hogwarts, Uma História" tem uma visão bem detalhada dos povos e espécies que habitam o lago, e até um mapa dele! E além disso, você mesmo, Harry, já foi lá em baixo e sabe como é!

 - É... – Harry concordou. – Já fui, e posso te garantir que não foi uma experiência muito agradável... o povo sereiano não gosta de humanos, e eles só toleraram aquele dia porque foi o Dumbledore quem pediu.

 - E além disso, – Gina acrescentou. – a gente ainda tem que levar em consideração a extensão do lago... a gente nunca conseguiria ficar tanto tempo sem respirar, mesmo se a gente tivesse guelricho como o Harry usou no ano passado...

 - É aí que entra a segunda parte do meu plano! – Hermione concluiu e começou a sussurrar consigo mesma. – O ideal seria que todos fossem aquáticos, ou voadores... é voadores acho que seria melhor...

 - Do que você tá falando, Mione? – Harry perguntou impaciente e ávido por saber o porquê do entusiasmo da amiga.

 - Talvez a gente nem precise do lago, mas acho que ele seria a melhor saída. Eu tô falando de Animagia! Se a gente conseguisse virar animagos, a gente poderia passar despercebido sim! Você não me falou uma vez, Harry, que achava que seu pai tinha conseguido e você não, porque ele tinha um propósito maior? Eu acho que agora você tem motivação suficiente!

 - Do que vocês tão falando? – Gina perguntou confusa.

Harry olhou para ela, e sua expressão deve tê-la animado, porque na mesma hora ela sorriu e ficou ainda mais curiosa. Talvez agora, que Harry realmente precisasse virar um animago e tivesse o intelecto da Hermione para ajudá-lo, ele conseguisse... Da primeira vez, ele próprio desistira, mas dessa vez, o Rony dependia dele, e ele conseguiria de qualquer forma!

 - Um livro que eu ganhei do Sirius, Gi! Lembra que eu te disse que o meu pai tinha virado animago com o resto dos marotos pra ficar com o professor Lupin quando ele se transforma? – Gina balançou a cabeça em afirmação. – Então, eles usaram um livro pra isso, que tem vários detalhes e dicas! E esse livro tá comigo!

 - E você quebraria todas essas regras pelo meu irmão, Mione? – Gina perguntou emocionada. – É ilegal...

Hermione ficou séria, olhando diretamente para Gina, e quando respondeu, não havia dúvida nenhuma com relação à sua sinceridade.

 - Pelo Rony, eu faria qualquer coisa.

Gina balançou a cabeça em concordância e agradecimento

 - Se calhar de os três serem animais marinhos, vai todo mundo pelo lago. – Hermione continuou seu planejamento. – Se for voador melhor, mas se for terrestre, a gente tem que rezar pra não ser muito grande, e não chamar muita atenção, porque isso seria um problema...

 - Mas meu negócio é feitiços, Hermione...  eu não sou lá muito boa em Transfiguração... – Gina disse um tanto apreensiva.

 - Eu também não... – Harry concordou. – Minha melhor matéria é D.C.A.T., mas se um ajudar o outro, talvez a gente consiga... Tanto porque, Transfiguração é a melhor matéria da Mione, né? – Harry perguntou sorrindo e começando a sentir-se imensamente melhor de que seus planos estavam dando em algo.

 - Com certeza. – Hermione concordou. – E se não fosse, passaria a ser a partir de hoje... Agora o que a gente precisa decidir, antes de qualquer coisa, é o tempo. A gente quase não tem tempo livre, e isso vai ter que mudar se a gente quiser chegar a algum lugar.

 - A Angelina já diminui bastante a quantidade de treinos, e ela vai entender se eu deixar de ir em algum... afinal de contas, o Fred e o Jorge também não devem estar nas melhores condições de jogar quadribol... – Harry ofereceu.

 - O mesmo comigo, mas além disso, – Gina continuou. – eu ainda tenho duas matérias extras a mais do que eu preciso... eu posso largar duas matérias e dar a desculpa de que os treinos com o Dumbledore e o Flitwick tão me cansando demais... nenhum professor vai me pressionar por causa disso...

 - E eu posso deixar a turma de feitiçaria avançada do Flitwick. – Hermione concluiu. – Você não pode, mas eu sim, e se eu diminuísse a quantidade de horas de estudo, eu teria bastante tempo livre... Então é isso! – Hermione sorriu. – Acho que a gente vai conseguir! Ainda tem bastante coisa a decidir, mas a gente lida com isso quando elas chegarem, vamos começar pelo começo... – Hermione bocejou, e em reflexo, Harry e Gina também o fizeram. – E esse começo é Animagia.

 - Que horas são, hein? – Gina perguntou para o Harry, que era o único presente com relógio.

 - Quase duas horas... – Harry respondeu. – Por isso que a gente tá tão cansado.

 - Eu acho que a gente devia ir dormir e pensar no resto amanhã. – Gina disse bocejando mais uma vez.

 - Quanto mais cedo a gente começar, mais cedo a gente termina! – Hermione exclamou, escondendo seu próprio bocejo.

 - Mas amanhã é domingo! – Gina indicou.

 - E a gente vai ter o dia todo pra pensar nisso, Mione... – Harry continuou. – Quanto mais descansado a gente estiver, melhor vão ser os nossos resultados. Hoje foi um dia muito cansativo, em especial pra você, Mione. Eu concordo com a Gina. A gente vai dormir, esfria um pouco a cabeça, e amanhã as coisas vão sair com muito mais facilidade. Você vai ver...

Hermione ficou ligeiramente resignada, mas concordou com a lógica do Harry, e os três retornaram à Torre da Grifinória, com as cabeças já maquinando no que poderia ser feito, e em detalhes adicionais aos seus planos. É... talvez, afinal de contas, seus planos dariam certo.

Continua no Capítulo Quarenta e Oito...