Capítulo Cinqüenta

O AVISO

- Hermione? – Gina chamou a amiga, ligeiramente hesitante.

Harry e Gina fizeram como o combinado e passaram um bom tempo na biblioteca na madrugada de domingo para a segunda. É claro que acordar cedo na manhã de segunda-feira não foi lá uma das coisas mais fáceis que tiveram que fazer, mas ainda assim estavam entusiasmados com o que encontraram. Harry achara um livro com feitiços antigos, e um dos capítulos era só sobre Animagia. Encontraram mais dois outros livros, mas nenhum deles parecia melhor que o que Harry encontrara. E com um simples feitiço "Duplicare", Gina tinha uma cópia de todo aquele capítulo. Retirar o livro da biblioteca seria muito arriscado, levando em consideração que a Madame Pince parecia conhecer todos e cada um dos livros ali presente. Por isso, a opção foi uma cópia. Claro que Harry nunca imaginara que com mágica fosse possível ter sua própria máquina de xerox, mas Gina parecia saber o que fazer quando o assunto era feitiços, então Harry deixou esse departamento em suas mãos capazes.

- Que foi, Gina? – Hermione perguntou, enquanto misturava alguns ingredientes e separava outros.

Na segunda-feira mesmo, Dobby já havia lhes deixado alguns itens da lista na sala do corredor à direita, no terceiro andar; e Hermione, claro, já estava fazendo bom uso. Além de fornecer-lhes alguns ingredientes, Dobby obviamente havia limpado a sala também. Toda aquela camada de poeira que eles encontraram quando primeiro chegaram à sala havia sumido, e agora estava tudo na mais perfeita ordem. À primeira vista, Harry, Gina e Hermione tomaram um susto, e acharam até que mais alguém havia entrado na sala, mas quando encontraram o bilhetinho de Dobby, respiraram aliviados. O bilhete dizia em letras esforçadas, mas ainda assim difíceis de entender, que Dobby passara por ali, e que deixara os ingredientes, aproveitando para limpar a sala que estava muito suja. Hermione ficara tocada com o gesto, e mais ainda com o fato de ter sido o próprio Dobby quem escrevera o bilhete.

- Eu e o Harry encontramos isso, e eu tive lendo durante o dia, e eu acho que vai dar pra fazer... – Gina esticou o braço e entregou-lhe o papel onde havia copiado o que encontraram na madrugada anterior. – Isso é... se você achar que vá ajudar, né? – Gina acrescentou incerta.

- Harry? Tem mais sálvia por aí? – Hermione perguntou, enquanto pegava o papel que Gina lhe oferecera.

- Tem só isso... – Harry comentou, enquanto entregava para a Hermione o resto de sálvia.

- Vai vir mais quando entregarem o pedido que eu fiz... Deve vir amanhã. – Hermione disse enquanto jogava o resto de sálvia em sua mistura.

Hermione abriu o papel que Gina lhe oferecera e passou rapidamente os olhos.

- O que é isso? – Hermione perguntou curiosa e confusa.

- É de um livro bem antigo. – Gina respondeu. – Esse era um capítulo só sobre Animagia.

- Mas eu nunca ouvi falar nesses feitiços. Aliás, eles nem tem os moldes de feitiços estabelecidos pela Aritmância... – Hermione acrescentou, provavelmente tomando como base os seus quase três anos de curso.

- São feitiços antigos. Bem antigos. – Gina esclareceu. – E eu acho que sou capaz de fazê-los, mas claro, não em mim, nem pra mim... Essas são algumas condições da Feitiçaria...

- Você acha que consegue? – Hermione perguntou entusiasmada e recebeu um balançar de cabeça positivamente como resposta. – Isso iria ser ótimo! Poderia apressar ainda mais o processo!

- E pressa é o que a gente mais precisa... – Gina comentou abaixando a cabeça, e uma expressão triste tomando conta do seu rosto.

Por todo o tempo, Harry preferiu ficar de fora da conversa das duas meninas e apenas as observava. Hermione se entregava completamente ao trabalho, talvez como forma de não pensar no que estaria acontecendo com o Rony. Já a Gina, ela fazia o contrário. Ela passava longos momentos pensativa e entristecida. E além disso, ela passou a ter uma hesitação em seus atos, que não era comum a ela. Partia o coração vê-la daquela forma, mas Harry nada podia fazer a respeito. Rony e Gina sempre foram muito próximos quando eram menores, e talvez por isso, doesse tanto para a Gina não saber o que se passava.

- Eu preciso falar com vocês sobre algumas coisas. – Hermione disse, chamando a atenção do Harry e da Gina. – O meu elemento é a água, e eu tenho quase certeza que eu vou ser um animal marinho. Vocês precisam descobrir os elementos de vocês, para terem uma idéia de que animais que vocês vão ser... E, além disso, a gente precisa resolver como é que vai fazer quando a gente chegar a Hogsmeade... A gente não sabe ainda onde que o Rony tá, e talvez a gente precise de tempo pra encontrá-lo.

- Eu concordo... – Harry disse. – E eu também tive pensando sobre isso, e cheguei à conclusão de que a gente poderia usar a Casa dos Gritos. A entrada dela pelo Salgueiro Lutador tá fechada, mas se a gente tentar entrar por Hogsmeade, talvez a gente consiga acesso e possa ficar por lá enquanto a gente procura pelo Rony.

- É uma ótima idéia, Harry! – Hermione disse sorrindo e escrevendo rapidamente algo em suas anotações, que a cada hora que passava, aumentava de tamanho.

E assim foram se passando os dias. Aulas no período da manhã, e sessões de planos, pesquisas e poções até tarde da noite. Os ingredientes pedidos por correio-coruja chegaram sem problema algum, e Dobby trazia sempre que podia o restante. Hermione decidiu que eles treinariam mesmo antes da poção estar terminada. A verdade era que a poção ainda demoraria um pouco, e cada dia, cada minuto, era precioso para eles e para o Rony. A única que mostrava algum progresso em treinos sem a poção era a Hermione. Harry esforçava-se, mas seu progresso era mínimo, enquanto que Gina encontrava mais dificuldades ainda em seu caminho. Em contrapartida, a menina dizia que já conseguia fazer o feitiço encontrado no livro, o que precisava agora era aperfeiçoá-lo e ganhar confiança em seu feitiço, porque caso contrário, o tiro poderia sair pela culatra.

Foi uma semana e alguns dias depois do início de seus planos, que Harry e Gina foram chamados a uma reunião da Ordem da Fênix, e já logo sabiam que o assunto seria o Rony. Até o presente momento, nenhuma notícia havia chegado ainda, e eles mais a Hermione estavam aflitos e ávidos por notícia. Mais uma vez, Harry e Gina encontravam-se na sala secreta da diretoria. Dumbledore estava com uma expressão grave, e Harry temeu pelo pior. Ele sentiu a mão de Gina na sua, e olhou para a menina que estava preocupada, e tentou sorrir em conforto para ela, mas seu sorriso pareceu falso até para ele mesmo.

- Finalmente Voldemort nos contatou. – Dumbledore falou com a voz rouca, assim que todos os membros estavam presentes. Alguns sentados, como Harry e Gina, e outros em pé, até andando de um lado para o outro em nervosismo. Que era o caso do Snape. – Eu vou ler pra vocês. – Dumbledore disse, levantando um pergaminho de sua mesa.

"E mais uma vez eu consegui o que queria. Nesse momento presumo que você, Dumbledore, já saiba o que eu quero. Da primeira vez, meu plano concretizou-se em perfeição, mesmo sem o apoio de vocês. Meu objetivo era aniquilar a sexta feiticeira da sétima geração, e isso eu o fiz sem maiores problemas. Usando o mesmo plano agora, tenho em mãos mais uma vez um irmão de uma feiticeira. Dessa vez, a sétima da sétima geração. Quero que ela, e apenas ela, venha a mim. Você não vai querer arriscar o seu garotinho dourado, então Harry Potter ficará para uma próxima chance. Quem eu quero é Ginevra Weasley, e se ela não aparecer, ou vier acompanhada de alguém, pode apostar que o garoto que está em minhas mãos morre. Além disso, tenho certeza que a população de Hogsmeade não apreciaria mais um ataque... E claro, a culpa por isso seria só sua. Pense bem antes de ir contra os meus pedidos, Dumbledore. É muita coisa em jogo pra você, e nada pra mim. Eu só ganho, e você só perde. Em três dias, você receberá o sinal com a minha localização. É bom que a menina compareça. Lord Voldemort."

Vários olhos miraram a Gina depois da leitura de Dumbledore. Ela estava nervosa e agarrava-se à mão de Harry como se sua sanidade dependesse daquilo.

- E o que se pretende fazer? – Snape perguntou com sua voz oleosa de sempre, mas carregada de cansaço.

- AH!

Todo mundo passou o olhar da Gina para o Harry, que de repente sentiu uma dor aguda em sua cicatriz, e levou a mão à testa imediatamente. A dor era tanta, que ele nem conseguia enxergar o que se passava na sua frente. Sua cadeira foi arrastada para trás por ele mesmo com seus pés, e Harry abaixou a cabeça, quase a encostando em seus joelhos. Gina na mesma hora levantou-se de sua cadeira e ajoelhou-se do lado do Harry, fazendo-lhe perguntas as quais ele não conseguia compreender. A dor começou a ceder um pouco, e Harry sentiu um alívio enorme, sua visão e audição, começando a voltar ao normal. Nesse instante ele ouviu Gina sussurrar:

- Findi angustia. Sua dor é a minha dor.

Mais ninguém ouvira o que Gina dissera, e Harry olhou espantado para a menina, vendo em sua expressão que realmente parte de sua dor passara para ela.

- Gina, pára! – Harry disse, sem se preocupar com quem poderia perceber o que Gina estava fazendo. Ela abriu os olhos e olhou para o Harry, diretamente em seus olhos. Harry não queria que Gina tivesse que sofrer algo que era dele, e que ele tinha que lidar.

Mas mais nenhum comentário foi preciso. Tão de repente como a dor veio, ela cessou, e tanto o Harry quanto a Gina pararam de sentir dor. Harry apertou a mão de Gina que estava na sua – ele nem se lembrava da Gina tê-la pego mais uma vez. – para chamar a sua atenção. A menina fez um movimento silencioso com sua boca que dizia claramente "mais tarde". Harry balançou a cabeça positivamente e pôs sua cadeira de volta no lugar.

- Isso foi um aviso. – Dumbledore comentou com a voz mais cansada do que nunca. – Voldemort quer nos lembrar que ele ainda tem o controle da situação. E eu não vejo muito o que fazer, a não ser esperar que nos seja dito onde ele está, daqui a três dias, e tentar tirar o Sr. Ronald Weasley de lá. Mas não a qualquer custo. – Dumbledore acrescentou, olhando significativamente para a Gina, e depois para o Harry.

Harry ainda estava pensando na dor que sentira há instantes. Esse era o modo doentio de Voldemort avisar-lhes de que o Rony ainda estava com ele. Harry se sentia enojado com aquilo e imensamente preocupado. O que será que eles fizeram com o Rony para que Harry sentisse sua cicatriz doer daquele jeito? Harry pensou nas várias maneiras possíveis que Voldemort e seus comensais poderiam ter usado para causar dor ao Rony, e se obrigou a parar de pensar nisso imediatamente. Seria muito pior. Agora era hora de se concentrar, terminar aquela reunião e correr até a Hermione para avisá-la do que estava acontecendo. O prazo era três dias. Em três dias eles teriam que terminar tudo o que estavam planejando. Não poderia passar disso, e a dor em sua cicatriz era uma prova e um sinal disso.

- A verdade é que o plano é dos mais simples. – Dumbledore continuou. – Não temos muito o que fazer. A gente vai esperar o sinal de Voldemort, e eu mais alguns iremos até a localização e tentaremos salvar o máximo de pessoas possível. – Dumbledore disse, provavelmente pensando na ameaça do ataque a Hogsmeade. – Quem estiver disposto a ir, por favor, fique e vamos resolver isso agora. Os outros, por favor, podem voltar às suas atividades.

Dumbledore nem olhava mais para os outros membros da Ordem quando falou por último. Seu tom de voz era de tamanho desânimo e, pela primeira vez, Harry deixou a reunião de bom grado, mesmo sabendo que as discussões que continuariam talvez lhe interessassem.

- A gente precisa falar com a Hermione. – Gina falou para o Harry depois que os dois deixaram a diretoria.

- E tem que ser agora. – Harry completou, os dois apressando o passo. Mas ainda havia algo que Harry queria perguntar à Gina. De preferência sem a presença da Hermione, e como a pressa era grande, teria que ser naquele instante mesmo. – Que feitiço foi aquele? – Harry nem precisou especificar. Gina sabia bem do que ele estava falando.

- É um feitiço que eu tenho pesquisado e aperfeiçoado há algum tempo. – Ela respondeu sem olhar diretamente para o Harry. Continuou andando rápido e olhando para frente. – Eu não sabia se daria certo porque fui eu que fiz, mas naquele instante eu precisava fazer algo.

- Foi você que fez? – Harry perguntou pasmo e extremamente orgulhoso. – E o que ele faz exatamente? – Harry parou de andar e olhou fixo para a Gina, que acabou por fazer o mesmo.

- Ao pé da letra, ele diz "dividir dor". E é isso que ele faz. Já faz bastante tempo que eu tô aperfeiçoando esse feitiço. Eu odeio quando a sua cicatriz dói por alguma coisa que o Voldemort faz. Eu odeio quando você acorda com dor, ou então quando você esconde pra todo mundo que tá doendo, achando que todos acreditam. Eu não gosto de ver você sofrer assim, Harry. E eu tinha que fazer alguma coisa. De que me adianta essa droga dessa feitiçaria que eu nem pedi, se eu não posso usá-la pra ajudar aqueles que eu amo? – Os olhos de Gina se encheram de lágrimas, e Harry sabia que ela provavelmente estava falando também do Rony, que acabara de sofrer sabe-se lá o que, e nem ele nem a Gina podiam fazer nada para amenizar essa dor.

- Vai dar tudo certo, Gina. – Harry disse lhe abraçando. – Eu te amo. – Harry aproximou-se dela e beijou-lhe os lábios até com certa urgência, numa promessa e esperança de que realmente daria tudo certo.

Continua no Capítulo Cinqüenta e Um...