Capítulo Cinqüenta e Três

O SONHO

 - Por que será que tá demorando tanto? – Gina perguntou aflita, olhando mais uma vez que horas eram no relógio do Harry.

Ele próprio estava começando a ficar preocupado. Hermione estava demorando em demasiado, e Harry começava a se perguntar se algo de errado havia acontecido com a amiga. Mas a preocupação acabaria com o movimento que o salgueiro começou a ter, e quando finalmente a passagem se abriu, Harry respirou aliviado. Hermione conseguira! Ela atravessara o lago, andara por Hogsmeade até a Casa dos Gritos, e de alguma forma, conseguira abrir a passagem, que pelo menos por fora, estava inacessível.

 - Desculpa a demora... – Hermione disse, enquanto dava-lhes acesso. – É que demorou um pouco até eu entender como que abria por dentro...

 - Tudo bem... – Gina respondeu, entrando, sendo logo seguida por Harry. – É que a gente tava começando a ficar preocupado. Como é que foi a transformação? Me conta!

Gina estava ansiosa, e Harry, para ser sincero, também estava bem curioso sobre a transformação da Hermione.

 - Foi ótimo! Maravilhoso! – Hermione respondeu entusiasmadíssima. – Inclusive, eu queria te agradecer por aquele feitiço que você fez. Ajudou muito!

 - Mione... eu não te ajudei em nada. – Gina redargüiu, e antes que Hermione pudesse contrariar, ela continuou. – Você fez tudo sozinha. Aquele feitiço nem existe...  Você se concentrou, e você conseguiu. O mérito é só seu.

Hermione abaixou a cabeça com um sorriso, ligeiramente sem graça, e Harry suspeitava que, escondida pela escuridão, Hermione havia até ficado vermelha. Os três continuaram andando, e logo estavam na casa. Tudo continuava exatamente como Harry recordava. Provavelmente pelo não uso desde que Dumbledore fechou o local.

 - O que a gente faz agora? – Harry perguntou, largando a sacola que ele estava carregando no chão.

 - Agora a gente dorme por umas três horinhas... – Hermione disse bocejando. – Vocês não têm idéia o quão exaustivo é a primeira transformação... eu tô quebrada. – Hermione estendeu um cobertor enorme no chão e deitou ali mesmo.

 - Mas não pode ser por muito tempo... tem que ser só umas três horinhas mesmo... – Harry disse olhando para Gina, e recebendo um olhar confuso da Hermione.

 - Eu e o Harry estivemos conversando enquanto te esperávamos... – Gina explicou, olhando para a Hermione. – E a gente tava pensando que a primeira coisa que o Sirius vai fazer quando acordar é vir atrás da gente... e de um jeito ou de outro, ele vai encontrar a gente...

 - Vocês tem razão... – Hermione disse bocejando mais uma vez. – Mas é que eu tô com tanto sono... – Hermione foi se acomodando melhor, usou a sacola de travesseiro, foi fechando os olhos lentamente, e em questão de segundos, já estava dormindo.

 - É melhor deixar ela dormir mesmo... – Harry falou para Gina com um sussurro. – Já são quase duas e meia, e nessa escuridão toda, a gente nunca vai conseguir encontrar o Rony... Você devia dormir também... – Harry sugeriu.

 - E você também... – Gina respondeu.

 - É melhor um de nós ficar acordado pra gente não perder a hora. – Harry constatou. – Pode deixar que eu fico.

 - Então vamos ficar nós dois. – Gina disse convicta. – Eu não vou te deixar sozinho...

Harry sorriu em agradecimento e trouxe Gina para perto de si, abraçando-a e acariciando seus cabelos.

 - Você tem idéia do que a gente está prestes a fazer, Gina? – Harry perguntou, ainda com sussurros. Mesmo se o motivo não fosse para não acordar a Hermione, ainda assim o clima não pediria vozes altas. – É muito sério o risco que a gente vai correr, e eu não quero que nada aconteça a você...

 - Eu também não quero que nada aconteça a você, Harry... – Gina respondeu no mesmo tom. – Mas parece que o perigo te procura, te chama... Eu tô sempre preocupada contigo, Harry, sempre temendo que algo possa acontecer, mas não posso fazer nada a respeito. Pelo menos dessa vez, eu vou estar do teu lado e, talvez, até possa ajudar a salvar o Rony...

 - Mas é muito mais sério que isso, Gina... – Harry argumentou. – A gente tá quebrando inúmeras regras fugindo desse jeito. O Dumbledore vai ficar mais que furioso... E talvez, dessa vez, seja o limite dele com relação às minhas escapadas às regras...

 - Eu tenho plena consciência disso. – Gina disse séria. – Eu nunca faria algo pelo simples momento. Eu sei os riscos que eu corro, Harry. Mas dessa vez, os fins justificam os meios.

Harry e Gina permaneceram em silêncio por um bom tempo. Ela, provavelmente, pensando pelas mesmas linhas que ele. Essas horas demarcadas como de descanso foram gastas ponderando o que acontecera até o momento. Eles tinham dado um passo enorme. Já estavam fora do castelo, e tinham acesso a toda Hogsmeade para procurar pelo Rony. Sorte que o vilarejo não passava disso: um vilarejo; e que eles não teriam muitos problemas com extensão de procura. Mas ainda assim, as repercussões poderiam ser diversas. Desde uma bronca, até expulsão, ou mesmo a morte. Talvez para a Hermione essa não seria a ordem de prioridade, mas isso era outra história, da qual Harry lembrava-se com carinho, cada vez que pensava em seus primeiros meses de amizade com Rony e Hermione.

Dessa vez, Rony estava à mercê de Comensais da Morte, Gina era o objetivo de Voldemort, e ele e Hermione estavam indo bem de encontro a essa situação. Harry não estava bem certo o que esperar do que estava por vir, mas também, quando foi para salvar a Gina da Câmara Secreta, ele igualmente não sabia o que poderia se passar. A única diferença daquela primeira situação era é que, dessa vez, o Voldemort tinha anos de experiência nas costas e muito mais conhecimento. O jovem Tom Riddle tinha apenas a ambição de vir a ser Voldemort. O que, para ser sincero, já era uma diferença extremamente considerável.

 - O que é isso, Harry? – Gina perguntou, levantando-se de seu abraço e se direcionando à parede oposta a ele.

Harry a seguiu e observou interessado quando Gina sussurrou "Fiat Lux", e uma luz de brilho médio iluminou a parede pela qual Gina mostrava interesse. Logo ele entendeu o que chamara a atenção da menina. Era um pentagrama marcado na parede, envolvido em um círculo. Na ponta de cima da estrela, não havia nada escrito, mas em todas as outras quatro havia. E seguia: "2 - Terra: Verdade.", na ponta do lado esquerdo do Harry. "3 - Ar: Amor.", na ponta direita. "4 - Água: Sabedoria" na ponta inferior esquerda. E finalmente, "5 - Fogo: Conhecimento" na ponta inferior direita. Harry não se lembrava de ter visto essa figura quando estivera pela primeira vez na Casa dos Gritos, mas também, para ser sincero, ele não estava prestando muita atenção às paredes. Ele estava mesmo era integrado no que se passava sobre Sirius Black. A parede era a última de suas preocupações.

 - Eu não tenho nem idéia do que isso seja... – Harry lembrou de responder à pergunta de Gina.

 - Parece que já está aqui há bastante tempo... – Gina comentou, passando a mão sobre o símbolo. Muita poeira saiu em seu dedo.

 - Não deve ser nada demais... É melhor a gente acordar a Hermione que já está na hora. – Harry sugeriu, olhando o relógio e percebendo que realmente as horas já haviam passado.

 - Deixa que eu faço isso... – Gina disse e se direcionou à sua amiga, que não gostou nem um pouco de ser acordada com tão pouco tempo de descanso.

 - Eu tive um sonho estranho... – Hermione comentou, enquanto acordava melhor. – Foi com o Rony... Tinham lançado maldição Cruciatus nele, e ele sofria demais... – Hermione abraçou a si mesma, tremendo. De frio ou de medo, era uma coisa que Harry não podia definir. – Ele tava em uma daquelas cavernas que o Sirius te encontrou uma vez. Lembra, Harry? Não era exatamente a mesma, mas eu tenho certeza que era naquela área...

Gina olhou com os olhos arregalados para o Harry, e ele entendeu na mesma hora o espanto da menina. O Rony realmente havia sofrido o imperdoável. Harry sentira sua cicatriz doer na última reunião da Ordem da Fênix, e o Dumbledore disse que aquilo era um "aviso" do Voldemort. A Hermione não poderia ter "visto" isso em seu sonho... poderia?

 - Mione... – Gina voltou sua atenção para a amiga. – Você saberia... identificar essa caverna?

 - Se eu tivesse nela, eu saberia dizer qual é, mas assim de fora, eu não tenho nem idéia... Eu só estive lá uma vez... – Hermione disse baixinho. – Mas por que a curiosidade?

 - Porque você pode ter sonhado com a localização dele, Mione... A gente pode descobrir onde ele tá, seguindo o seu sonho... – Harry respondeu, nutrindo esperança.

 - Harry, você sabe muito bem o que eu penso sobre Adivinhação! – Hermione falou, com aquele tom de repreensão que só ela e a professora McGonagall eram capazes de ter. – É tudo um monte de besteir--

 - Mas você não tá entendendo, Mione! – Gina interrompeu a amiga. – O Rony realmente sofreu "Cruccio" como no seu sonho. Isso aconteceu há apenas algumas horas!

 - E como é que você sabe disso? – Hermione perguntou desconfiada.

 - O Harry sentiu dor na cicatriz durante a reunião... – Gina respondeu, voltando sua atenção para o Harry, com olhos que pareciam pedir desculpas.

 - E vocês não me falaram nada? – Hermione perguntou, ligeiramente exaltada.

 - Eu achei que seria melhor deixar você saber só depois da sua transformação... – Harry se explicou. – Isso seria só mais pressão em cima de você, e a gente precisava deixar o castelo o mais cedo possível.

 - E por isso, vocês acham que o Rony pode estar naquelas cavernas? – Hermione perguntou, ainda muito duvidosa.

 - É uma possibilidade, Mione... – Gina foi quem respondeu. – Além do que, a gente teria que começar a procurar por algum lugar, não é mesmo? Por que não as cavernas?

 - Tá certo... – Hermione concedeu e guardou o cobertor de volta na sacola. – Mas então é melhor a gente ir enquanto ainda tá escuro. Aquelas passagens são muito íngremes e de difícil acesso. Se eles realmente estiverem lá, eles vão ver a gente facilmente.

 - Então não vamos gastar mais tempo... – Harry concordou, direcionando-se para a porta.

As duas meninas o seguiram e deixaram a casa, mas antes que eles pudessem continuar, Hermione parou em frente à porta e começou a dizer alguns feitiços para trancar a porta mais uma vez.

 - Vocês não acreditam quantos feitiços tinham pra trancar essa porta... – Hermione comentou entre um feitiço e outro. – Levei um tempão só pra dizer o contra-feitiço de todos eles.

Harry até podia acreditar. A última coisa que Dumbledore iria querer era um lobisomem solto pelo vilarejo de Hogsmeade durante as transformações de Remo Lupin. Ele tinha que garantir que a porta estivesse bem trancada para evitar acidentes. Sorte que Hermione parecia ter decorado todos os livros de feitiços que ela encontrava pela frente. Se dependesse dele mesmo, Harry não seria capaz de passar do "Alohamora" para abrir a porta.

Harry, Gina e Hermione caminharam em silêncio até o pé do morro, para onde uma vez Rony, Harry e Hermione foram guiados por Sirius Black em sua forma de Almofadinhas. Ainda era muito cedo para ter gente que não estivesse dormindo e perambulando pelo vilarejo. E a isso, os três eram muito gratos. Eles estavam sem o uniforme de Hogwarts para não darem muita bandeira, mas ainda assim, três adolescentes andando no meio da madrugada pelas ruas do vilarejo já seria "bandeira" suficiente.

 - Preparadas? – Harry perguntou quando os três chegaram ao pé do morro e olharam a subida íngreme que lhes aguardavam.

 - É agora ou nunca... – Gina sussurrou. – O Rony tem que estar aqui.

Continua no Capítulo Cinqüenta e Quatro...