Notas da autora: memórias estarão separadas dos pensamentos atuais por uma linha com ... (três pontinhos, reticências, enfim: ... ), o resto, vide cap 1 (como eu sou preguiçosa...)
Só acordou naquele dia porque o sol, maldito sol, resolveu conceder um pouco do seu brilho ao dia e, conseqüentemente, iluminar seu rosto inchado. Inchado de sono, de tanto chorar e, mais especificamente na lateral direita, de um tapa recente, recebido na noite passada.
Sua mão bronzeada e suja ergueu-se desajeitada e muito preguiçosamente, tocando a marca impressa, levemente vermelha, de uma palma, com os cinco dedos bem abertos, indo da orelha até fim do queixo. A marca ainda ardia ao toque, talvez a dor não era tão física, mas mais do tipo de...
** "Idiota!", Takeru gritou, "Seu grande idiota!"
...
É exatamente o que eu sou... **
Em um único dia ele conseguiu ferrar com tudo. Literalmente. Tudo. Desde a manhã até a noite, ele bateu o recorde de besteiras feitas por dia e, mesmo ele sabendo que as conseqüências viriam logo, ele insistiu, e mais besteiras fez. Mais besteiras disse.
** Besteira... **
A mão ergueu-se um pouco mais e parou, tapando os raios de luz que vinham da janela.
Não era uma mão bonita. Era calejada. Com unhas roídas. Dois dedos levemente tortos por causa de sua birra infindável em não querer enfaixar a mão quando foram quebrados numa queda durante um jogo de futebol. O anelar e o mindinho.
** Bah! São dedos inúteis mesmo... **
Estava suja com lama. Ou talvez não. Não reparara onde pusera a mão quando caiu na beira da calçada. Mas que caíra em algo molhado e sujo, isso lembrava. E tinha também os arranhões. O asfalto, geralmente, não é muito macio. Podia ver claramente os riscos causados por minúsculas pedrinhas. A sujeira, os arranhões e a feiúra acompanhavam o resto do braço. E o resto do corpo.
Realmente, não era uma mão muito bonita.
** Mas, pelo menos, barra essa maldita luz... **
Enquanto esperava ver quanto tempo seu braço agüentaria ficar erguido só para tapar o sol a seu bel prazer, Davis entrou em uma espécie de transe, relembrando o que acontecera na noite passada.
** "Cadê meu irmão?", Matt sacudiu-o violentamente, "Cadê meu irmão, seu..."
"Matt, pára com isso!!!"
"TK!!!", alguém gritou, uma voz feminina e estridente, consideravelmente desesperada.
Nenhuma resposta. Só a chuva que respondeu com pingos mais fortes e trovoadas mais roucas.
Matt agarrou Davis pelos braços e o prensou contra a pilastra da entrada do prédio, "Se alguma coisa aconteceu com meu irmão... se você o machucou de alguma forma...", o loiro bufava na noite fria, a raiva quase que palpável em seus olhos.
Mas ele não era o único.
"Me solta!", com os dois braços e um pé, Davis empurrou Matt para longe de si, "O que você vai fazer? O que vai fazer se eu machucar o seu irmãozinho?", ele gritou, espantando a todos e cuspindo as palavras junto com as grossas gotas de chuva, "Vai me bater? Vem me bater!!! Vai me espancar? Vem me espancar!!! Vai me matar? Vem me matar!!! Mas faça isso logo, porra!"
Alguns segundos em silêncio por parte do grupo, Davis ofegando e Matt com os olhos arregalados, um encarando o outro como se fosse uma competição de quem refletiria mais ódio.
"Você é burro?!?", Davis gritou de novo, quebrando o silêncio, apertando seus punhos com força.
Sem aviso, o moreno avançou pra cima de Matt e, com um impulso, até que bem calculado para um momento como aquele, e muita velocidade, acertou um soco bem no meio do estômago do loiro, seguido de outro no queixo.
"Era só ameaça?", ele parou e sussurrou, cansado, "Por favor, eu estou pedind--"
...
Aquele burro nem sabe bater direito... **
Mas até que valeu a pena. Ele agora estava com mais da metade do corpo roxo, sangue seco em volta do nariz e da boca, arranhões cobrindo sua pele com a eficiência de um lençol, um olho completamente fechado e com o sangue do rasgo na pálpebra ainda por secar... ou pelo menos ele esperava que aquela sensação de molhado fosse sangue.
Seu braço caiu como um peso morto sobre seu peito, não agüentando mais se segurar por tanto tempo no ar. No mesmo instante, a luz e logo depois o calor do sol iluminou e esquentou seu rosto.
** Melhor levantar... **
Gruindo de preguiça ou de dor, Davis tentou levantar-se apenas para sentir a força da gravidade rindo da sua cara quando ele caiu no chão, mal deu o primeiro passo. Estava com um joelho que simplesmente se recusava a funcionar como articulação e um pé torcido.
** Droga! Não sabe fazer nada certo! Deixou tudo pela metade, maldito... Humpf... Loiro é mesmo uma inutilidade nesse mundo... **
Esse foi o último pensamento de Davis, triste. Pois, como estava caído até que confortavelmente no chão e o sol não estava mais o atrapalhando, ele resolveu, mais inconscientemente, voltar a dormir, recostando sua cabeça numa pilha de roupas sujas. E assim ele passou o resto do dia.
1 semana depois...
Novamente, era sexta-feira. Novamente, o dia começou com o sol brilhando irritantemente na sua cara. Novamente, a lembrança de um sonho com olhos muito azuis e tristes, bem próximos aos seus, fazia-o odiar ainda mais os loiros.
Ontem mesmo, o dono da quitanda que ficava próxima a sua casa lhe deu um esporro, no meio da rua, por ter derrubado, sem querer, a mesa das maças. Claro que só podia ser um loiro.
No meio da semana, na quarta-feira, ele foi detido por um policial por não ter pagado a passagem do metrô e ter pulado a catraca. Era um loiro.
Sua irmã começou a namorar um loiro, muito parecido com um certo outro loiro que faz parte de uma banda e que ele se recusa a dizer o nome, e que não queria sair da sala da casa deles por nada no mundo. Fica ela e o loiro namorando no sofá...
De repente, era como se todos os loiros do mundo resolvessem descontar nele. E desde quando o Japão tem tantos loiros assim? Ainda mais com olhos azuis. Sempre. Não eram olhos verdes ou castanhos... o cabelo não era loiro pálido ou bronze...
Mas sempre o mesmo tipo de loiro claro, com os mesmos olhos azuis.
** Deve ser algum tipo de complô... **
A porta do seu quarto se abriu e sua mãe apareceu, com um olhar preocupado.
"Davis, um representante da escola está aqui para falar conosco."
"...", ele a olhou como se não tivesse entendido nada do que ela disse.
Sua mãe o olhou com mais preocupação ainda, "Querido, você..."
"Não acredito, Davis, seu idiota!", sua irmã disse alto, aparecendo ao lado de sua mãe, "Você não foi na escola a semana inteira? Como você é burro!"
"Cala a boca, sua inútil!", veio a resposta rápida, condicionada e mau-humorada.
Vestindo um dos vários uniformes de futebol, um com as cores vermelho e branco, já pensando em logo depois que essa confusão com a escola acabar ir para a praça jogar, Davis se arrumou o máximo que ele pode para mostrar-se apresentável.
O representante era um loiro.
** Droga! Não me deixa em paz! **
Enquanto recebia uma bronca formal do professor, um olhar desapontado de sua mãe e o olhar de felicidade de sua irmã, acompanhada pelo namorado loiro, Davis sentiu que sua mente provavelmente estava pregando peças. Coisa de muito mal gosto.
** ... O quê... quando foi que a minha irmã tingiu o cabelo? **
Davis sacudiu a cabeça e olhou para a mãe.
** !!! Os olhos da minha mãe... " **
Levantando-se com um pulo, Davis olhou espantado para as quatro pessoas loiras de olhos azuis intensos que o encaravam com igual espanto.
** Isso não está acontecendo... não está acontecendo! **
Ao fechar os olhos com força, sua mente dá a última cartada.
** Takeru... **
Segurando seu rosto, um gesto cuidadoso.
** "Eu! Te! Amo!", ele inclinou o rosto e parou, inclinou mais uma vez e parou de novo, incerto. **
"Sempre deixa tudo pela metade... maldito loiro.", Davis sussurrou pra si mesmo, enquanto os outros presentes na sala o olhavam cada vez com mais preocupação do que com espanto.
** Eu te amo... **
"Não...", Davis abriu os olhos.
Sua mãe estava com o cabelo castanho escuro de sempre, sua irmã com o cabelo cor de beterraba, o namorado ao lado dela com um cabelo preto que faria Ken morrer de inveja e o professor... bem... este era careca.
** E todos com olhos castanhos! Ah, bem-vindo de volta a Terra, Davis... **
"Tá maluco, Davis?", sua irmã disse irritada, "Senta aí, cara! Deixa o professor terminar de falar."
"Ah, desculpa!", Davis inclinou-se respeitosamente, "Eu vou voltar para a escola na próxima semana. Conte com isso, professor!", ele ergueu-se e continuou tão respeitosamente quanto antes, "Agora, se me dão licença, eu tenho que... "
** desculpa, desculpa, desculpa.... desculpa rápida e plausível!!! **
"... tenho que pegar a matéria na casa de uma amiga! Até mais!"
E ele saiu correndo, pegou suas chuteiras, a bola de futebol e não deu atenção aos gritos de sua irmã e as acusações do professor, apenas saiu correndo. Correu mesmo com suas pernas gritando de dor.
Ele passou pela quitanda e cumprimentou o velho, de cabelos grisalhos. Passou em frente à entrada do metrô e acenou para o guarda loiro...
** O quê? **
Davis voltou alguns passos e constatou, realmente, o guarda era loiro. Mas seus olhos eram verdes.
** É... ninguém é perfeito... **
E ele voltou a correr. Chegando ao parque, indo direto para as quadras.
** Ninguém é perfeito como o Takeru... **
Sua respiração estava pesada, suor já molhava a sua camisa e várias gotículas se acumulavam em sua testa. Mas ele não ligava. Precisava jogar, precisava fazer qualquer coisa para gastar a energia que ficou acumulada a semana inteira.
Futebol era sua paixão. Davis sempre podia contar com o esporte. Pelo menos, durante o jogo, todos precisavam dele. Era quando ele era necessário... perfeito. Tão perfeito quanto...
** Takeru... **
Lá estava ele. Perfeito. Com sua bola de basquete. Perfeito. Fazendo cestas. Perf--
** Ops! Errou... **
A bola bateu no aro e partiu na direção de Davis. Caiu no chão. Rolou. Rolou...
"tuck!", fez o barulho da bola de basquete contra a chuteira de Davis, que ficou olhando para ela como se fosse a causadora de todos os problemas, tanto individuais quanto a nível mundial.
Sabia que o Takeru o olhava. Mas não se mexia, não dizia nada.
Realmente... podia apostar que a fome mundial cessaria se estourasse essa maldita bola...
O olhar, os olhos azuis. Ele sabia que estavam paralisados sobre si. Estavam incomodando de tal maneira que sentia mais raiva ainda da pobre bola.
** Rolou de propósito, maldita! **
Mas a bola continuou calma, apoiada em seu pé esquerdo. Inocente de tudo.
"Pode devolver a bola, por favor?", a voz fez Davis levantar o olhar.
** Tão perfeito... **
Sentiu raiva. Os olhos azuis, que o atormentaram a semana inteira, estavam frios, distantes. Estavam culpando-o por todos os problemas.
Mas a culpada era a maldita bola!
Davis chutou a bola de basquete com força. Ela passou voando por TK, atingiu a grade do outro lado da quadra e voltou. TK a pegou quando ela rolava, já fraca, aos seus pés.
"Bolas de basquete não foram feitas para chutar.", TK disse dando as costas para Davis e quicando a bola algumas vezes no chão para depois rolá-la entre as mãos, procurando por qualquer deformação, "Para isso existem as bolas de futebol."
O loiro bateu mais um pouco com a bola no chão e arremessou. Cesta.
** Isso foi uma indireta? **
Davis apertou o abraço em sua bola de futebol, debaixo o braço direito. Ele olhou em volta. Alguns meninos sentados na pequena arquibancada o olhavam com interesse. Estavam com uniforme e chuteiras.
Seria fácil dispensar TK da quadra.
Mas ele não queria.
"Você não parece estar muito bem.", o loiro voltou a falar, sem muito interesse, sem nem mesmo olhar de relance para Davis.
Os meninos na arquibancada levantaram e começaram a vir na sua direção. Estavam tentando esconder a excitação. Finalmente iriam jogar.
Davis soltou a bola e deixou-a cair na curva do peito do pé. Começou a fazer embaixadinha, para não ter que olhar para o loiro. Faria o seu melhor.
Mais uma cesta. A bola no pé de Davis não vacilou nem um segundo. Os meninos voltaram a sentar, interessados em contar as embaixadinhas. Mais uma cesta.
"E você parece diferente.", Davis respondeu depois de se sentir seguro o bastante para falar.
Mais uma cesta. Doze embaixadas.
"Você sabe porquê.", disse TK.
Cesta.
"Você também."
Vinte e uma.
Silêncio. Cesta. Vinte e seis.
"Você pediu."
Cesta.
"Você fugiu."
Trinta e quatro.
Silêncio. Takeru estava parado, com a bola de basquete na mão. Trinta e oito.
"Você nunca sabe o que diz.", o loiro respirou fundo, "Distorce tudo."
"Me desculpe por não ter o mesmo QI que você!"
Bola de basquete, bola de futebol: rolando pela quadra. Os meninos na arquibancada soltaram um muxoxo. As bolas se encontraram, a inércia faz com rolem mais um pouco até que pararam, uma a centímetros da outra.
Davis andou determinado até o meio da quadra e encarau os olhos azuis de TK, "Você não é perfeito."
Isso pegou tanto moreno quanto loiro de surpresa. TK piscou algumas vezes, confuso, "De onde você tirou isso?", ele estava com um olhar que dizia claramente "eu nunca disse que era perfeito".
"Você não é perfeito.", Davis repetiu, sentindo a sensação de uma nova descoberta.
"Eu sei disso.", Takeru disse devagar, ficando irritado, "O que isso tem a ver com o resto?"
Os meninos na arquibancada ficaram olhando tristes para as duas bolas esquecidas. Um deles, o mais alto de todos, chamou os outros.
"Você nem sempre está certo.", Davis concluiu, pensativo, dizendo como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, mas, como sempre, ele era o último a saber, "Mas não quer dizer que esteja errado."
Os olhos azuis rolaram com a novidade, "E você continua não sabendo o que diz."
Cautelosos, os meninos da arquibancada se aproximaram das duas bolas.
"Na verdade, eu não pensava antes de falar. Mas, agora, é você que não consegue me entender."
"Isso quer dizer que você pensou?"
Davis rangeu os dentes com o comentário, "Eu só quero dizer que ente--"
"HEI!!!"
Pegos de surpresa com o grito de TK, os meninos da arquibancada começaram a correr levando as bolas. Logo, Davis se viu solitário na quadra poliesportiva, pois TK saíra correndo atrás dos garotos.
** Droga! **
Sem pensar duas vezes, Davis correu atrás de todos, não sabendo exatamente se estava atrás da bola ou do loiro.
** Maldito loiro... **
Mesmo ainda sofrendo com a surra que levara de Matt, Davis conseguiu correr bem até alcançar Takeru. Os dois correram lado a lado bom alguns segundos e Davis pode observá-lo com o canto dos olhos.
** Maldita perfeição **
Os cabelos loiros estavam soltos, o chapéu branco amassado na mão esquerda. O rosto branco ficando com um tom rosado conforme a corrida.
Sacudindo a cabeça, como se isso fosse dispersar algum pensamento. Davis acelerou o passo e ultrapassou Takeru, deixando-o com sua perfeição para trás.
Alcançou o primeiro garoto, o segundo, o terceiro. Este estava com a bola de basquete de TK. A sua de futebol estava com um dos mais altos, mais na frente.
Olhando para o garoto ao seu lado, Davis quase tropeçou quando Takeru, fazendo pouquíssimo esforço para aumentar a velocidade, roubou a bola das mãos do garoto. Este gritou assustado, pois estava prestando atenção em Davis.
Surpreso, Davis observou TK quicar a bola umas três ou quatro vezes para mantê-la junto com o ritmo da corrida e pegá-la no ar, abraçando-a protetoramente debaixo do braço esquerdo, amassando ainda mais o chapéu branco.
Ainda correndo lado a lado, o terceiro garoto há muito para trás, TK lançou um sorriso confiante a Davis e indicou com a cabeça o garoto que levava a bola de futebol.
** Ele... está sorrindo... **
Pela primeira vez, desde a semana passada, Takeru lhe deu um sorriso. Um sorriso lindo. Um sorriso que encheu Davis de disposição e, esquecendo a dor que começava a alfinetar em seu joelho e tornozelo, saiu correndo, alcançando rapidamente o garoto com sua bola de futebol.
Vendo, finalmente, que não adiantaria mais fugir, o garoto soltou a bola no chão e saiu em disparada junto com os outros três restantes.
Davis parou e brecou a bola com o pé.
"Parabéns!", TK disse sorrindo quando se aproximou.
** Sorrindo... como antes... **
Com um movimento do pé, Davis tentou jogar a bola para o alto, mas uma dor no joelho o impediu de fazer com perfeição e a bola acabou indo na direção de TK, que a pegou no ar com a mão direita, que estava livre.
O loiro percebeu a dor e abriu a boca para dizer alguma coisa, mas nada saiu.
Eles se encararam por um bom tempo, não percebendo os vários olhares que recebiam dos outros visitantes do parque. Cada um preso ao olhar do outro e ao seu próprio pensamento.
"O que aconteceu?", o loiro perguntou baixinho.
"O que?"
TK apontou para os machucados ainda visíveis em Davis, "Você... você não sabe?"
Ele negou com a cabeça antes de explicar, "Não fui para a escola essa semana inteira. Não vejo ninguém desde a semana passada.", TK abaixou o olhar, "Foi o Matt, não foi?"
"Não... eu não quero falar sobre isso.", Davis sentiu-se muito perturbado ao imaginar-se explicando os acontecimentos da semana passada para TK, "Não tem muita importância agora, então... é melhor esquecer."
"Certo.", o loiro concordou rapidamente, "Dais..."
** Primeiro o sorriso, agora o apelido... **
"Olha, isso tudo foi culpa minha...", Davis franziu o cenho, sem entender o que o loiro falava, deles ou das bolas, "Me desculpe, eu não devia... ter... er...", TK ficou vermelho e não conseguiu continuar, apenas mordeu o lábio, gesto que fez o coração de Davis se encher de calor.
"Não... não, não, não!", Davis disse, agitando as mãos, enfatizando sua fala já enfatizada, "Você não fez nada de errado. A única coisa que fez foi ser meu amigo.", ele se aproximou, sem saber se poderia tocar o outro ou não, "Eu é quem fui o idiota. O idiota de sempre..."
"Não está bravo comigo? Mas, no vestiário..."
Eu fui um tremendo idiota lá também!", Davis disse rapidamente, não querendo lembrar as coisas que disse há uma semana atrás, "Eu é quem... er... me desculpe.", ele pediu envergonhado.
Apesar dos barulhos do parque, nem Davis nem TK escutaram alguma coisa, permaneceram em silêncio, olhando para o chão, sem querer encarar o outro.
"Então... acho que está tudo bem...", TK foi o primeiro a falar, estendendo a mão.
Davis encarou surpreso a palma branca, de dedos perfeitos e levemente sujos, depois, sem jeito, trouxe a sua, calejada e feia, para um aperto. Um aperto de mãos amigável, "Sim... está tudo bem..."
"Amigos?"
"Amigos...", Davis tirou os seus olhos das duas mãos, tão diferentes, e olhou para TK, "Eu... er... é isso... amigos..."
Só que nenhum dos garotos se afastou, as mãos não se soltaram, os olhos não se deixaram de encarar.
"Takeru... sabe, sabe o que eu queria te contar? Antes da correria?"
TK piscou, como se tivesse saído de um transe, "Hn?"
Um grupo de senhoras vestidas com moletom, passou caminhando a passos firmes.
Muito envergonhado para prestar atenção nisso, Davis começou, "Eu achava que você era perfeito. Sempre achei.", ele girou o aperto de mãos, envelopando a mão de TK com sua outra livre, "E eu pensava que tinha inveja... que eu também queria essa atenção, que você recebe todos os dias, pra mim."
TK começou a ficar vermelho, o que deixou Davis satisfeito e com mais coragem para continuar, "Mas eu sempre fui um idiota... não percebi que minha inveja não era inveja. Era ciúmes."
Nisso o loiro arregalou os olhos surpreso.
Uma babá, do outro lado da rua, foi despertada de sua leitura pelo choro estridente do bebê no carrinho e, agora, fazia de tudo para cessar com o barulho.
"Eu dizia pra mim mesmo, que era um absurdo tanta gente à sua volta. Que você não era tão perfeito assim para merecer tudo isso... tantos agrados de tantas pessoas.", Davis deu um passo a frente, "Mal eu sabia que eu queria não gente à minha volta, mas apenas longe de você."
"Dais..."
Seu nome sussurrado daquela forma, tão carinhosa, tão cheia de sentimento, fez um arrepio correr por todo o corpo de Davis, que nem se lembrava mais dos machucados e de dor alguma.
"Isso tudo porque... eu não quero ser perfeito igual a você. Mas ter você, perfeito, pra mim."
O parque inteiro ficou em silêncio, as águas das fontes se tranqüilizaram, os pássaros descansaram e as pessoas se calaram. Nem um passo era ouvido. Somente a respiração, ofegante, dos dois.
Puxando TK pela a mão para mais perto, Davis o abraçou forte, percebendo como aquele abraço, sentir o loiro tão próximo de si, era bom.
** Eu te amo... **
"Eu te amo...", TK disse, disfarçando um soluço no ombro de Davis, "E te odeio tanto..."
"Eu não...", ele segurou o rosto de TK em suas mãos e se aproximou, "Eu só te amo.", e então, ele sorriu, "Mas você tem o péssimo hábito de não terminar as coisas... e assim me deixar louco."
Antes que TK pudesse entender ou mesmo perguntar o que ele não tinha terminado, Davis resumiu a distância entre os dois e o beijou, como um primeiro beijo deve ser, inédito e inesquecível.
** Perfeito... anjo... loiro... maldito... Meu!"
FIM
Notas finais: Eeeehh!!!! Acabou!!!!^____^ O que acharam? Agora, a pergunta que não quer calar: Onde estão os digimons???@_@ Na verdade, a pergunta é: tem continuação? ^^" A resposta: não... eu não tenho tempo... Agora, a resposta da primeira pergunta eu realmente não sei qual é...
