Crepúsculo não me pertence.

Olá! Essa fic faz parte do POSOella, um projeto onde autoras do fandom de Crepúsculo criam fanfics narradas exclusivamente por Bella Swan, em comemoração ao seu aniversário. Esse ano, o desafio foi escrever inspirando-se em 1 dentre 25 citações de alguns dos livros favoritos da Bella.

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A linguagem de sinais usada pelos personagens na fic é a ASL, mas como o texto está inteiramente em português, descrevi os gestos como seriam na linguagem de libras.


I Put a Spell on You

"Qualquer que seja a substância das almas, a minha e a dele são feitas da mesma coisa."

O morro dos Ventos Uivantes, Emily Brontë


Capítulo 1: A Bruxa.

31 de outubro, 2012.

Eu tinha dezessete anos quando o conheci. O Dia de Todos os Santos tinha chegado um dia mais cedo para mim naquele ano quando, no dia trinta e um de outubro, Rosalie decidiu que aproveitaríamos nosso Halloween como o código mandava.

Admito que desde meus treze anos eu já não era mais muito fã da ideia de me fantasiar e pegar doces, tão pouco quis me tornar adepta das festas à fantasia que os outros garotos de nossa idade estavam acostumados a dar. Eu tinha uma abordagem mais sutil ao feriado, e normalmente isso envolvia uma tigela de trufas de chocolate macias, talvez uma torta de abóbora quentinha e, claro, o mais importante: uma maratona de filmes de terror clássicos dos mais aclamados. Era assim que eu gostava de ver o dia e não como uma desculpa para glitter e doces de licor.

— Alice, não vou vestir isso, nem começa! — Refutei de imediato ao ver o vestidinho marrom minúsculo entulhado de teias de aranha e babados brancos, e, para piorar, um corpete tão justo que faria até meus sutis limõezinhos pularem para fora no mínimo movimento brusco.

— Mas como você é chata, Bells! É Halloween! Literalmente temos uma desculpa para nos vestir o mais extravagante possível sem parecermos malucas. — Alice tinha um bico nos lábios no fim da fala, os braços pequenos se cruzando em chateação.

— Mas, pra mim, ainda me faz parecer uma maluca, e isso nem é a pior parte! Meus seios não vão caber nisso aí e vou me sentir desconfortável. Aliás, que tamanho você pediu? Infantil? — Ela revirou os olhos, mas Rosalie gargalhou.

— Acho que tenho uma ideia que pode ajudar. — Seu rosto sorridente era brando, seus ombros se balançaram em indiferença.

— Sou toda ouvidos!

— Se Bells não quer vestir a fantasia, então deixe que eu vista. Eu não me sinto desconfortável e ela pode vestir aquela camiseta bobona do cara de "O Iluminado." — Alice gemeu.

— Oh, não, Bella! Essa não, eu imploro! — Estava quase se pondo de joelhos, eu a olhei transtornada. Em minha defesa, eu não tinha a intenção de vestir aquela camiseta, aquilo nem sequer passou pela minha cabeça.

— Eu já iria com outro vestido, satisfeita? Esse me faz sentir melhor.

— Posso ver? — Alice ainda fazia careta. Rosalie me olhava com apreensão. Oras, como se fosse tão difícil assim de acreditar que, por vezes, eu decidia me vestir diferente dos suéteres e jeans. Eu concordava com Alice, afinal, o Halloween era realmente um dia para extravagâncias, mas aquele vestido era o meu limite de estapafúrdios. Assenti para sua pergunta, revirando os olhos.

A peça que vesti tinha um caimento mais leve, menos justo e desesperador. Era um cetim preto, esvoaçante e com cortes desalinhados que faziam sua barra parecer ter sido retalhada por uma tesoura. Tinha uma delicada corrente dourada na altura da cintura, que servia como cinto e moldava o tecido ao redor de minhas curvas singelas. Era bonito, para mim, e ainda tinha aquela amarração na altura do peito, que remetia um pouco às vestimentas antigas. Deixei que Alice tomasse conta do resto da preparação e ela entendeu isso como uma permissão para enfiar meus pés em coturnos pretos com detalhes acorrentados e me vestir em uma jaqueta grande de couro. Eu me senti confortável, era discreto e adequado, para mim e para a data. Não deixei que nenhuma das duas tentasse tocar meu rosto com maquiagem.

— E não é que ficou bom? — Rose boquejou, enquanto me analisava dos pés à cabeça. Alice ainda dava uns retoques finais em sua maquiagem escura, as duas vestidas em suas roupas sexys que as faziam parecer bruxas.

— Ao menos dessa vez. — Respondeu a amiga mais baixa, com o pincel do rímel quase apunhalando seu globo ocular. Ah, não, aquilo não era pra mim mesmo.

— Eu acho isso um absurdo. Me visto bem do meu jeito. — Defendi.

— Se seu jeito for o mesmo de uma adolescente emo e cafona, então sim, Bella.

Rosalie segurou a risada. Para ela era exatamente isso o que eu era.

— Chega, Alice, seus cílios já parecem aranhas. Podemos ir?

— Jas e Emmett já ligaram?

— Sim. Vão nos encontrar na entrada do Parque dos Horrores. — Rosalie afirmou. Eu estremeci. — Eles e Edward.

Opa. Aquele nome era novo.

— Quem é Edward? — Perguntei, soando desinteressada.

— É primo do Emmett. Ele vive em San Francisco. Parece ser legal, Emm fala muito dele. — Rose mexeu as mãos, com certa distinção ao falar.

Pelas minhas contas, Rosalie e Emmett namoravam havia seis meses. Emm era um cara muito legal, eu gostava dele, mesmo que às vezes ultrapassasse os limites da inconveniência. Na maioria das ocasiões, isso arrancava boas risadas dos não-envolvidos na vergonha, mas, de todo modo, fiquei feliz.

Até então, estava tentando me acostumar com o desconforto de ir direto à uma situação onde eu seria a terceira roda de uma bicicleta ao decidir sair com dois casais, mas agora eu teria minha própria bicicleta, certo? Quero dizer, não! Não desse jeito, como se fôssemos um casal, mas alguém para me acompanhar quando os quatro decidissem fazer atividades de namorados. Eu não tenho um namorado, então posso me contentar em conversar com uma segunda terceira roda. Ah não ser, é claro, que o primo de Emmett fosse um daqueles garotos que não se importam em invadir a individualidade dos casais e tentar juntar todos os homens em uma bolha. Nesse caso, eu odiaria ser ele quando Rosalie e Alice se dessem conta.

Nós concordamos em sair depois disso. Iríamos no carro de Alice até o centro da cidade — já que as minhas queridíssimas amigas nem cogitavam entrar em minha Chevy — e caminharíamos até o parque sazonal, onde nos juntaríamos ao resto do grupo. Fizemos desse jeito, mas ainda assim nos atrasamos um pouco, e quando chegamos lá os três já esperavam no portão temático com a figura do diabo acima de suas cabeças.

Emmett foi o primeiro a se aproximar, pegando Rose pela cintura e prendendo seus lábios em um beijo que causava constrangimento só de olhar. Os dois aparentavam estar sempre queimando um pelo outro, não importava a situação, parecia vital. Jasper agarrou os ombros de Alice, beijando sua testa com aquela diferença gritante de altura após nos cumprimentar, e Emmett me pegou no colo, girando no ar quando eu menos esperei.

— Jingle Bells!

— Ei! Para já com isso, seu otário! — Resmunguei, rindo ao bater em seus ombros. Ele se afastou de mim sorrindo largo e então tive tempo de notar nosso terceiro acompanhante. E, céus… foi ali que eu fiquei sem fôlego.

Eu diria que ele tinha no mínimo um metro e oitenta, e isso ainda era ser razoável com minha própria auto-estima. Tinha o cabelo cor de bronze espetado em direções diferentes e o rosto lapidado como o de uma estátua grega. Deus. Edward era um Deus. Mas, o que realmente me chamou atenção? Seus olhos. Edward tinha duas orbes esverdeadas com pintinhas carameladas próximas as pupilas, e elas não só eram lindas como pedras, mas penetrantes. Pude sentir seus olhos invadindo a minha alma, mas, naquele momento, todo esse devaneio foi inconsciente. O que eu me lembrava de sentir fora seu olhar sobre mim. Ele estava parado à minha frente, do lado de Emmett, com as mãos enfiadas nos bolsos do jeans e um sorrisinho torto e dócil nos finos lábios avermelhados, mas ainda assim tinha um teor naquela simples torção de lábios que eu não pude compreender de primeira. Ele olhou para meus pés, ainda sorrindo, e enfim focalizou meu rosto novamente, como se me olhasse de cima a baixo em um único milésimo. Foi impressionante.

— Galera, esse é meu primo, Edward. — Emmett o apresentou, colocando a mão sobre o ombro direito de Edward e, mesmo que todos tenham se disposto a recebê-lo com cumprimentos, o garoto não tirou os olhos de mim. Meu cenho se franziu levemente, eu já não entendia mais o motivo da encarada. — Ele é da Califórnia, mas passa os Halloweens com minha família.

— E aí, Edward! — Todos dissemos, quase em uníssono, mas, por mais que respondesse com um aceno, ele continuou a olhar só para mim. De repente, perdi sua atenção para seu celular; foram apenas alguns instantes antes que desse uma cotovelada no bíceps de Emmett e acenasse com a cabeça para o smartphone que o primo tinha na mão. Me pareceu algum código para algo… não entendi bem, mas sei que ele voltou a me olhar com o mesmo sorriso travesso instantaneamente enquanto Emmett checava suas notificações.

Subitamente, vi seu semblante deslumbrado. Ele olhou para mim, então para Edward e arqueou as sobrancelhas.

— Cara, eu não vou falar isso, não! — Resmungou e recebeu um revirar de olhos empenhado do ruivo. Seu sorriso momentaneamente desapareceu.

— O que? O que foi? — Perguntei, alternando meu olhar entre os dois. Por alguma razão, meu cérebro dizia que aquilo era sobre mim.

— Edward quer te dizer uma coisa. — O sorriso voltou aos lábios dele. Emmett ainda parecia cheio de gracinhas, segurando a risada entre as covinhas estufadas.

— Que coisa? Por que ele não me diz? — Fiz questão de salientar seu pronome e os dois se entreolharam antes de voltarem a mim. Edward era tímido ou infantil demais para não dizer o que queria à ponto de precisar que seu primo fizesse isso por ele?

As mãos dele se moveram em três gestos diferentes, mas não era como gesticular, e sim um tipo de comunicação, uma linguagem… de sinais. Oh droga.

Imediatamente me repreendi com a dor interna que foi ter pensado mal dele, fui irresponsável com minhas suposições. Edward não deixava de falar porque não tinha iniciativa, mas porque ele, literalmente, não podia falar. Acho que Emmett recebeu algum tipo de permissão vinda dos gestos do garoto porque, quando suas mãos caíram nos bolsos novamente, ele respondeu.

— Bella, Edward não fala. E eu imagino que você não entenda ASL, não é? — Balancei a cabeça, envergonhada.

— Eu… eu não…

— Bom, na verdade não é que ele não fala. Ele fala sim. — Emmett continuou, me deixando confusa. — Ele pode falar, mas suas cordas vocais estão bem fodidas devido à umas merdinhas que esse grande adulto andou fazendo. — Edward bufou, Emmett riu. Adulto? Quantos anos ele tinha?

— Acho que não entendi. — Encarei o garoto que voltou a me analisar, sorrindo, e deixei escapar um tilintar de sinos como risada.

— Ele fodeu as cordas que cuidam do som da voz dele.

— Eu sei o que são cordas vocais, Emmett. — Revirei os olhos e Edward riu. Eu abri um sorriso por fazê-lo rir. — Mas se ele tem algo nelas, como ainda pode falar?

— Bom, ele não as perdeu, só estão fodidas. É um tratamento árduo e lento como cinco Jaspers, mas, se tudo der certo, um dia suas células vão se regenerar por completo e ele vai poder voltar a tagarelar igual a um papagaio por aí. — Jasper puxou a orelha de Emmett, o fazendo cambalear para trás. Todos rimos.

— Cinco Jaspers é sua bunda. — Eu mal ouvia a voz de Jas quando saiamos, aquele era um acontecimento milenar.

— Oh! — Arqueei as sobrancelhas e mordi os lábios, tenuemente. Edward deu outra cotovelada em Emmett e ele lhe lançou um olhar como se perguntasse quantas vezes ainda iria fazer aquilo. — Acho que ele quer que me conte o que disse, Emm.

— B-bem… — Emmett gaguejou e olhou para o primo mais uma vez. Edward assentiu com impaciência. — Ele disse que você é a bruxa mais linda que já viu, e te parabenizou por seu dia.

Que porra…? E aquilo foi o que? Um elogio ou um xingamento? Eu não sei bem o que senti. Edward continuou sorrindo para mim, da mesma forma engraçadinha de antes e eu franzi o cenho meio contrariada. Pude ouvir a risadinha infantil de Alice invadir meu ouvido esquerdo.

— Pareço uma bruxa pra você? — Perguntei, agora um pouco irritada, confesso. O elogio parecia menos um elogio a cada vez que eu o repetia e meus braços se cruzaram imediatamente. As mãos de Edward se moveram no ar novamente, em formas diferentes e cada vez mais difíceis de entender. Emmett fez uma careta no último gesto.

— Você vai levar um tapa. — Avisou, eu o olhei mais tensa ainda. — Ele disse que não sabe se é uma bruxa ou não, mas que se sente fodidamente enfeitiçado desde que você chegou, então assumiu que sim.

Eu fiquei sem ar, confesso. Não só pelo fato de que ele tinha completado aquela cantada, inicialmente ridícula, de forma inesperadamente boa, mas porque teve coragem de dizer aquilo não só para mim, mas na frente de todos. E pior, me deixando corada.

— Você é bom… — Admiti, derrotada. O sorriso dele se alargou, agora mostrando os lindos dentes pontiagudos e brancos por baixo de seus lábios.

— Certo, certo. Agora que terminaram o show de ilusionismo, podemos ir comprar nossos ingressos? — Rosalie interrompeu, com ironia. Todos rimos, mas Edward ainda não tinha tirado os olhos de mim, eu pude ver quando também me desviei para olhá-lo e lá estava ele me encarando. Decidimos, então, seguir aquele passo e caminhar até a bilheteria do parque, todos separados em duplas que juntas formavam um grupo maior. Primeiro pensei ser impressão minha, alguma alucinação gostosa de meu subconsciente me lembrando de que eu senti vontade de tocá-lo, mas depois, mais uma vez, senti o encostar aveludado de sua pele macia quando seus dedos roçaram o dorso de minha mão. Precisei avaliar aquilo com meus próprios olhos e comprovar que ele realmente me tocava antes de subir o olhar e me deparar com seus olhos verdes me encarando fixamente conforme seu rosto se inclinava para baixo. Ah, e com o sorriso estonteante nos lábios, é óbvio.

Ele queria segurar minha mão? Eu deveria deixá-lo segurar minha mão? Talvez eu devesse perguntar antes de simplesmente segurá-la, porque mesmo que eu não soubesse se deveria, não havia dúvidas de que eu queria. Estupidamente, eu não senti medo da rejeição, e receio dizer que talvez isso se desse ao fato de que ela não poderia ser verbalizada. Edward não me diria um não concreto. Isso seria mais abstrato, inconclusivo. Então eu sussurrei sem nem pensar muito.

— Quer segurar? Minha mão? — Ele mordeu o sorriso, assentindo com a cabeça algumas vezes e antes que eu pudesse pensar em segurá-lo, seus dedos deslizaram por minha palma, apertando-se entre o meus e cobrindo meu dorso com suas extremidades. Seu polegar desferiu uma carícia no meu, me fazendo respirar fundo, e Edward deu uma risada silenciosa, porque, aparentemente, eu não sabia receber carinho sem estremecer. Mas ele não parou por nenhum segundo e eu fiquei satisfeita com isso. Tudo bem, ele mereceu segurar minha mão.

Como suspeitei, Jasper, Alice, Emmett e Rosalie nos deixaram sozinhos depois de algumas atrações e foram viver suas noites das bruxas como casais. Eu fiz um lembrete mental de não ir à Cova De Caim já que Emmett e Rosalie teriam ido pra lá e da última vez que vi onde a mão dele estava, quis desver.

No entanto, seria mentira dizer que me senti deslocada com Edward, já que ele não só era interessante demais, como eu sempre me via distraída com seus detalhes quando esperávamos nas filas monótonas de alguma atração. No começo não falávamos muito, eu fazia algumas perguntas que podiam ser respondidas com sim ou não e ele balançava a cabeça em resposta, e naquela conversa unilateral eu aprendi algumas coisas sobre ele.

Primeiramente, Edward morava com seus pais em San Francisco, na Califórnia, e sua irmã gêmea Edythe. Chutei sua idade algumas vezes até descobrir que ele tinha dezenove anos — só dois a mais do que eu — e ele e Emmett eram não só primos, como melhores amigos desde criança; também soube que ele já conhecia Alice e Jasper de Halloweens passados. Aliás, isso era um detalhe importante. Edward e Emmett passaram todos os Halloweens de sua vida juntos, mesmo que não em Forks, e, pelo que eu entendi, aquela data era algo dos dois. O perguntei se não havia ficado chateado por Rose ter chegado e estragado o dia deles, mas em resposta, além do sorriso torto lindo e um balançar de cabeça, recebi um braço forte e carinhoso ao redor de minha cintura. Corei mais uma vez, vergonhosamente ao perceber que nossas respostas de "sim" ou "não" haviam alcançado outro nível. Meu rubor recebeu dedos gelados e carinhosos... eu era apenas uma adolescente, não é? Podia sim me deixar receber esse tipo de carinhos por uma noite.

Depois que as respostas começaram a ficar rasas, Edward bolou um novo esquema para que conversássemos. Ele adicionou seu número de telefone em meu celular, com direito a coração e tudo, e definiu um ringtone especial para si, sendo assim, toda vez que mandasse mensagens, eu saberia que eram dele e poderia sacar o aparelho e respondê-lo na hora. Foi muito inteligente, me perguntei se ele já tinha tido de fazer isso antes com outra pessoa.

Nós seríamos os próximos a entrar no barquinho da Fábrica de Chocolate e eu realmente estava aflita sobre a atração, já que alguns minutos atrás, uma menininha de pouco menos de oito anos saiu, flutuante e descabelada enquanto delirava, dizendo que se sentiu dentro da fábrica de Willy Wonka. Bom, se ela se referia ao passeio à barco do filme original, seria no mínimo perturbador, agora se ela falava sobre a reprodução de Tim Burton eu temia que fosse sombrio demais. Acho que minha tensão era palpável porque ouvi a risada de bruxa que meu celular emitiu e, ao observar Edward, ele parecia apreensivo.

"Está com medo?" A mensagem dizia.

— Um pouco. — Admiti.

"Não precisa disso. Estou aqui com você, não estou?" A mensagem chegou ao meu lado do chat bem rápido. Acho que ele realmente se empenhou para digitar rapidamente.

— Sim, está… — Sorri. — Está dizendo que, se uma lacraia sair dos olhos de alguém lá dentro, ainda vai me proteger? — Provoquei e ele riu silenciosamente, os olhos se espremendo entre as bochechas, mais docilmente impossível.

"Te protejo até se ela for real." ele respondeu.

— Você está soando como um namorado. Não sou sua namorada, você sabe disso, não é? — Eu ri. Ele fez menção a revirar os olhos ao olhar para longe de mim, mas apenas voltou a digitar, me olhando vez ou outra.

"Eu sei que não." Ficamos em silêncio. Pensei se minha resposta, que a princípio seria engraçada para mim, não o havia magoado ou me feito parecer uma idiota que gostava de ter atenção pra si.

"Mas ainda é meu primeiro amor de Halloween." A mensagem chegou depois. Eu ofeguei, aturdida. O que isso significava, afinal? Acabei rindo, de nervoso mesmo, e Edward deu um de seus risos silenciosos.

— Sou, é? O que é um amor de Halloween? — Quando as palavras saíram de mim não pareciam tão tensas, era até gostoso de dizer. Ele jogou a cabeça para o lado, provavelmente formulando uma resposta.

"Existem os amores de verão, certo? De primavera, de inverno… Esses amores que duram um período, tem um prazo. Você é meu amor de Halloween." Ele mordeu o sorriso mais uma vez e eu fiz o mesmo. Eu gostava dessa denominação. Então agora eu era o amor de Halloween de Edward Cullen.

— E você tem que ser o meu também, eu imagino. — Minha afirmação deveria soar mais como uma pergunta. Ele assentiu.

"Não tenho que ser, mas espero que seja."

— Hm… acho que vou ter que pensar sobre isso. — Seus olhos se iluminaram, pude sentir em minha pele sua expectativa me irradiando como um raio solar. — Tudo bem, Edward, você é meu amor de Halloween. — Ele sorriu, satisfeito e eu me satisfiz com seu sorriso.

"Me sinto Billy Butcherson." Eu gargalhei. Billy era um personagem de um filme clássico de Halloween sobre três irmãs bruxas que sugavam a vida de crianças. O que eu achei mais absurdo nessa analogia era que, além de ser amante de uma bruxa, Billy também não podia falar pois teve a boca costurada. Uma coincidência cômica e sombria ao mesmo tempo.

— Então isso significa que sou Sarah Sanderson? — Ele assentiu com os olhos, mais uma vez invadindo as barreiras da minha pele, se internalizando em mim, e eu tive uma urgência de tocar seus lábios, de provar que eles se abriam, e quando menos esperei, meu polegar se arrastava sobre a pele sensível de sua boca. O barco se mexeu bruscamente, entrando nos trilhos da água enquanto passávamos pela cortina e eu estremeci, mas Edward me segurou. Estávamos mais perto ainda, agora, e como se não fosse o suficiente, ele pressionou meu polegar contra um beijo suave antes de prender meus fios de cabelo atrás da orelha e afagar meu rosto. Eu estava a ponto de derreter, de desmanchar ali mesmo e pela primeira vez, eu senti a ausência de sua voz. Porque eu queria que ele me dissesse o que pensava, ou o que queria, mas ele não podia.

Meu celular sumiu no meu vestido e com uma única mão ele digitou algumas palavras desconexas no visor.

"Amores de Halloween também ganham beijos?" Eu tremi inteirinha só de ler e ele sentiu, eu soube que ele sentiu porque sua risada comedida fez cócegas em minha orelha. Sim. Sim, na minha concepção amores de Halloween também tinham direito a beijos e eu aceitaria quantos ele quisesse me dar.

— Me diga você. Você os inventou. — Respondi e seu olhar pairou sobre meus lábios enquanto sua língua tratava de umedecer os seus. Diga sim, ao menos, nem que seja só um único.

Edward assentiu. Soube que aquela era minha resposta e ele não digitaria nada porque, no segundo seguinte, seus lábios macios tocaram os meus, e junto do toque uma faísca se transmitira entre nossos corpos. Foi doce, tinha gosto dos caramelos que comemos na barraquinha de algodão doce, e era quente e suave. Foi perfeito, para mim.

As luzes da atração eram baixas e rosadas, iluminando sua pele clara, e o som da água junto à singela melodia de "Que Sera Sera" de Doris Day faziam seus nomes. Se havia algo de perturbador naquele brinquedo, eu não tinha a mínima propriedade para julgar. Ele hesitou em me apresentar sua língua daquela vez, e apenas encostou nossas testas quando o ar sumiu entre nós. Eu respirei fundo, atordoada e com um borbulho diferente no estômago, e minhas mãos que antes haviam ido parar em seus cabelos, deslizaram por seu pescoço até tocar a singela cicatriz esbranquiçada em sua garganta.

— Dói? — Sussurrei, encostando nossos lábios, mas sem propriamente beijá-lo. Ele negou e puxou o celular, sem se afastar de mim nem um milímetro, digitando. Por mais tranquilo que ele parecesse estar, senti uma fissura diferente.

"Eu queria poder falar com você." Me mostrou. Eu me senti impotente com a mensagem. Também queria poder.

— Como eu digo "eu também" em sinais? — Perguntei, e se afastando o mínimo que conseguiu de mim, Edward apontou para si e depois bateu os indicadores juntos. Certo, não era tão difícil.

Repeti exatamente o que ele me ensinou e esperei do fundo do meu coração que ele não entendesse que eu também queria que ele pudesse falar como eu, mas que eu pudesse falar como ele e entendê-lo. Ganhei de volta aquele sorrisinho clássico, e de repente não me senti mais tão impotente.

"Ainda temos mais alguns minutos." ele digitou e fez um biquinho sugestivo.

— Shh, não digite mais nada. — Brinquei, afastando seu telefone, e ele riu antes de agarrar minha nuca e travar uma batalha pacífica e carinhosa contra minha boca novamente.

Nas duas horas seguintes, Edward e eu tentamos completar nosso lance de Halloween com tudo que um casal de verdade costumava fazer. Os que nos olhavam realmente acreditavam que éramos namorados de meses e eu achava isso hilário, principalmente porque se eu não fosse uma pessoa sã e sensata, eu também poderia dizer que aquele garoto era meu namorado. Memorizei os lábios dele como consegui e os dele memorizavam cada curvinha de meu rosto e pescoço. Eu sentiria falta daquilo quando o dia acabasse, sentiria falta da companhia dele também… e aí a minha ficha caiu. Merda, meu amor de Halloween estava chegando ao fim.

Acabei ficando introspectiva enquanto pensava nisso quando nos juntamos aos nossos amigos novamente. Emmett agarrou uma fatia de pizza com a mão e a devorou antes que eu pudesse piscar.

— Acho que temos um novo casal de namoradinhos. — Alice cantarolou, encarando a mão de Edward, que segurava a minha. Eu não soltei, mas ri um pouco mais alto do que deveria.

— Nem pensar. — Respondi. Droga, talvez eu quem devesse pensar mais antes de responder impulsivamente. Edward pigarreou e eu tentei recompensá-lo por minha resposta insensível com um beijo na bochecha. Ele tinha razão de reclamar, afinal, ainda era Halloween e eu ainda era dele.

— Não sei, não. Me parece bastante com o que eu e a Rosalie temos. — Emmett sorriu, apertando a coxa de Rosalie, eu e Edward nos entreolhamos com uma careta engraçada.

— Por Deus! — Rosalie gritou de repente. — São meia-noite! Meus pais vão me matar, merda, merda! Alice, precisamos ir! — Alice gemeu e Jasper fez um biquinho, a apertando contra ele. Seu amor era mais contido que o dos outros dois coelhos.

Edward me olhou apreensivo, mas de um jeito que me deixou angustiada. Eu mergulhei meus dedos em seus cabelos acobreados, perpassando-os e bagunçando mais um pouco. Não bastasse o fato de ir embora ser ruim o suficiente, o escândalo de Rosalie me fez lembrar que já era meia-noite. O Halloween tinha acabado e agora o que nos restava era o Dia de Todos os Santos. Não tínhamos um amor para isso.

— Nosso Halloween acabou… — Sussurrei com pesar. Eu sabia que uma discussão muito confusa entre os outros dois casais estava rolando no fundo de nossa conversa. Edward se recusou a soltar minha mão e me puxou para perto de seu rosto, inspirando minha pele e beijando a região abaixo de meu ouvido. — Também não quero ir. — Eu respondi, sem precisar que ele verbalizasse aquilo. Para todos os efeitos, ele não iria. O celular já mexia freneticamente em seus dedos enquanto ele digitava.

"Não podemos ficar juntos essa noite?" Ele pediu, e mais uma mensagem veio no caminho. "Eu não espero nada absurdo, só quero ficar com você." A verdade era que não me interessava muito se ele quisesse algo absurdo ou não, mas eu sabia que, independente de suas intenções, Charlie já estaria em casa sentindo palpitações só com a mera possibilidade.

— Meu pai é chefe de polícia. — Anunciei e vi seus olhos se arregalarem. Dei uma risada genuína com a reação.

"Não me importo." Ele digitou a muito contragosto.

— Mas eu sim. Você é muito novo pra morrer. — Ele bufou. Nem precisou digitar para que eu soubesse que estava reclamando internamente.

— Vamos, Edward, tá na hora de ir. — Emmett alertou e nós dois olhamos em sua direção feito cachorrinhos abandonados. — Nem adianta fazer essa cara. E Bella, acho melhor você ir antes que as duas te abandonem aqui. — Eu franzi o cenho, um pouco perdida na situação, e quando eu me dei conta, Alice e Rosalie discutiam há milhas de distância de nós.

— Merda! — Gemi. — Edward, eu preciso ir. — Ele se levantou atrás de mim e nos olhamos uma última vez. — Ah droga… — Gemi de novo, eu não queria deixá-lo ainda.

— Anda, Bella! Não vou te dar carona. — Emmett rosnou e recebeu um olhar ameaçador de Edward. — Tá, tá, desculpa!

As mãos macias e dedos gelados dele seguraram meu rosto com carinho, eu apertei as minhas em seus tríceps. Seus lábios depositaram um selar demorado em meu nariz e em minha testa, antes que eu mesma avançasse calmamente sobre sua boca. Quando nos separamos, Edward deslizou os dedos pela tela de seu celular e mais uma vez eu ouvi a risada amedrontadora de bruxas saindo do auto-falante do meu.

"Até o próximo Halloween, bruxinha." Ele sorriu para mim. Eu podia explodir, verdadeiramente, com o enorme sentimento de preenchimento que aquela mensagem me deu. Bom, dois Halloweens eram muito melhor do que só um e, se passar o Dia das Bruxas em Forks se tornasse uma rotina para os dois, talvez Edward pudesse se tornar uma rotina para mim também. Meu próprio feriado particular.

Tentei me prender a essa possibilidade, mas eu sabia que uma parte minha estava chateada. O outro Halloween era dali a um ano. Eu teria que esperar um ano inteiro para tê-lo daquela forma novamente e aquilo me parecia tempo demais. Meu sorriso se tornou triste, mas acho que não o suficiente para que ele notasse. Eu o beijei mais uma vez e Emmett o arrancou de mim, puxando-o para longe. Edward ainda me olhava ao caminhar de costas, e eu fiz o mesmo, até que precisei correr.

— Até o próximo Halloween! — Falei um pouco mais alto para que ele ouvisse e me juntei às minhas amigas.

Certo. De acordo com minhas contas, só mais trezentos e sessenta e quatro dias e eu teria meu amor de Halloween de volta.


A short-fic vai contar com cinco capítulos que serão publicados até o final do mês de setembro, então fiquem ligados e não esqueçam de comentar porque o feedback é importante.

É isso, hugs & kisses.