Capítulo 01: Visita surpresa
"Montanhas Arzelisia: lugar inóspito e desagradável, quase tudo quer você para o jantar. Mesmo assim, uma raça de pequenos humanoides se desenvolveu em suas cavernas, por séculos formaram uma sociedade próspera, mas recentemente ela quase chegou à beira da extinção.
Ameaçados serem devorados por dragões de gelo ou dizimados pelo povo Quagoa, essas pessoas que ali viviam mal tinham esperança de aguentar mais alguns anos antes de sumirem de vez. Suas artes e técnicas seculares já quase haviam desaparecido e o fim parecia inevitável.
Agora passados menos de dois anos, essas lembranças parecem tão distante como se fossem décadas, sua sociedade cresce rapidamente, seus trabalhos com Runecraft se tornaram novamente famosos, não só nos armamentos, mas em utensílios domésticos para o dia a dia, suas cervejas muito procuradas nas tavernas dos reinos vizinhos são levadas por mercadores ansiosos por fortunas e aventuras, sua população, aparentemente, nunca teve tantos nascimentos em um período tão curto.
Pelo visto, tudo que é preciso para recuperar um reino à beira do fim é apenas esperança… e muita, muita cerveja.
Quem ali vive é chamado de povo anão e fora salvo por algo que deveria ser descrito como intervenção divina, pois um ser que só poderia ser chamado de supremo surgiu em sua hora de maior necessidade, dominando os grandes Frost Dragons e esfacelando os exércitos dos Quagoas. Este é o senhor da Grande Tumba de Nazarick, o Rei Feiticeiro, o ser Supremo Ainz Ooal Gown, e hoje é dia de festa, pois seu salvador veio visitá-los.
Ainz não gostava muito de avisar sobre suas visitas, geralmente isso causava uma paralisação em quase todos os serviços e um dia comum virava um feriado improvisado, com cerimônias tediosas e banquetes longos. Isso acontecia mesmo entre o povo anão, que era bastante prático, mas nunca perdiam uma oportunidade para uma pausa e algumas cervejas, por isso Gondo Firebeard quase teve um ataque cardíaco quando o portal rodopiante surgiu no meio de seu escritório e de lá emergiu seu salvador.
— Olá Gondo, como vão os negócios? – disse Ainz, despreocupadamente.
— AaaH! - disparou o anão.
Essas visitas ajudavam a descansar a mente e a escapar de toda a burocracia de comandar vários reinos, por isso Ainz sempre tentou soar informal e queria que lhe tratassem assim também, claramente sem muito sucesso.
— Sua majestade, é uma honra recebê-lo no Reino Anão, se soubéssemos de sua vinda teríamos preparado uma recepção adequada para o senhor.
— Tcs! Esses seres deveriam estar sempre preparados com toda pompa que Ainz-sama merece - arinsu! - estalou a vampira gótica que agora se mostrava ao lado de seu senhor.
— Pare Shalltear, se eu quisesse tal coisa, eu mesmo teria mandado avisar com antecedência! Me desculpe Gondo por vir assim, esta é apenas uma visita para ver pessoalmente como está o reino do meu bom amigo – 'sem precisar passar por toda aquela chatice de relatórios' – pensou Ainz.
— F-Fico extremamente feliz por toda consideração que Sua Majestade dispensa para este humilde servo – balbuciou Gondo.
— Gostaria de dar uma olhada nos avanços na arte Runecraft, seus relatórios são bastante otimistas.
— O senhor me lisonjeia com tais palavras, gostaria de conhecer uma das nossas mais novas fábricas? – disse o orgulhoso anão.
— Era exatamente isso que eu tinha em mente Gondo. Shalltear, você está dispensada por enquanto, pode seguir até as bases dos correios aéreos e avaliar como está a logística, espero logo um relatório. - disse Ainz firmemente, mas por dentro ele grunhia com a perspectiva de ler mais papéis.
— Ouço e obedeço, Ainz-Sama-arinsu.
Dentro da grande fábrica recém-construída, centenas de anões trabalhavam em seus setores, haviam até mesmo salas separadas e resistentes para aquelas coisas que sem o devido cuidado poderiam simplesmente fazer KABUM!
— Como Lord Ainz deve saber, o nosso reino tem aumentado a produção de Runecrafts de forma exponencial. O que nos limita ainda é a mão de obra especializada, mestres são difíceis de preparar, é preciso tempo e experiência para se colocar mais do que duas runas em uma arma ou armadura, por isso os itens menores se tornaram o maior interesse dos ferreiros mais jovens. O senhor sabe quais são os itens mais procurados hoje?
— Não, acho que não estou a par.
— São essas coisas aqui – disse Gondo segurando dois aros de metal com cores ligeiramente diferentes – Aros de luz e calor para interiores são os que mais vendem! Por serem Runecraft, são mais baratos e duráveis que itens encantados, e como cada um só carrega uma runa, os mais novos conseguem fabricar rapidamente.
— Vejo que facilitar o dia a dia das pessoas é um bom negócio. Afinal, poder comprar um item para manter sua casa aquecida e iluminada nos longos dias de inverno é o desejo da maioria das pessoas. Penso que logo vão criar um que esfrie o ambiente para o verão – Ainz disse de forma humorada enquanto se afastava.
— "RESFRIAR A CASA!" - Gritou internamente o jovem anão que estava trabalhando na mesa onde os aros foram pegos. Sendo muito novo, tinha apenas um palmo de barba e parecia ter sido atingido por um martelo metafórico.
— Isso pode ser feito? Claro que sim! – discutia consigo mesmo – Basta trocar a runa de calor pela de frio que usamos nos tonéis de cerveja, talvez precise de mais de uma, ou mudar um pouco ela para aumentar o efeito e o alcance, vai ser preciso meses de experimentos, seria um investimento arriscado de tempo, mas as possibilidades superam o risco.
— Imagine aros para esfriar salas, casas inteiras, lojas, até prédios! As pessoas que não aguentam o calor como nós os anões vão comprar essas coisas como se a vida delas dependesse disso! Resfriadores pequenos em cada cômodo ou grandes para salões e fábricas, chiques ou apenas práticos, fortunas viriam para quem conseguir fazer funcionar.
Quem visse a cena poderia imaginar que o jovem anão iria começar a se dar socos a qualquer momento tamanha era a sua comoção.
— Como ninguém pensou nisso antes? Espera, alguém pensou, Sua Majestade pensou, AGORA, após ouvir uma única vez, somente um ser de inteligência inigualável para pensar em algo assim e comentar tão casualmente. NÃO, isso não foi casual, foi de propósito, ele sabia que o ouviriam, preciso falar com o Rei Gondo, pedir autorizações, recursos, tempo e vou precisar pagar a TIRF - e então ele saiu correndo atrás de seu rei.
Curiosidade sobre a TIRF (Taxa de Inovação do Reino Feiticeiro), não era a primeira vez que o Rei Feiticeiro trazia inovações tecnologicas e de conceitos. A partir dos primeiros meses de contato entre o Reino Anão e o Reino Feiticeiro, as ideias fluíam continuamente, desde como tornar rodas de carroças ou eixos mais duráveis, até alguma maneira mais eficiente de fazer algo. Eram tantas informações novas que o Reino Anão estava constrangido de usar elas sem devolver algo para o Rei Feiticeiro, então foi criada a TIRF, uma taxa paga em forma de cota única ou porcentagem nos lucros por usar uma ideia, como Royalties.
Algumas dessas ideias eram muito simples, já outras extremamente complicadas, por isso o fator risco vinha para quem quisesse tentar produzir algo, já que o investimento de tempo e dinheiro era considerável, mas até agora todas essas novidades renderam lucros para os envolvidos.
Enquanto isso, Ainz e Gondo chegavam ao setor de armamentos.
— Toda a fábrica segue o modelo de linha de produção que Vossa Majestade sugeriu. Nós recebemos das forjas os produtos prontos para a colocação das runas, então aqui usamos essas menores apenas para aquecer suficientemente o metal e talhar.
Runecraft é uma arte quase perdida, quem a conhece não sabe nem a metade do que ela pode fazer. Diferente de um item encantado que precisa de rituais, escritas mágicas, mana para ser feito, os itens rúnicos em comparação precisam apenas de um pouco mais de tempo e muita força de vontade. Literalmente consiste em infundir uma intenção mágica em um objeto na base da martelada.
— Veja vossa majestad-
— Eu já disse antes Gondo, basta me chamar de Ainz.
— Impossível Vossa Majestade, seria uma total falta de respeito! Mas continuando, o Senhor vê que aqui nós recebemos as espadas de aço, são as mais fracas da fábrica e por isso só aguentavam duas runas: afiar e endurecer. Espadas de Orichalco e Adamantite aguentam quatro e até cinco runas, mas graças aos conselhos que o Senhor nos deu, deixamos de usar a runa endurecer, que era usada nas armaduras, e agora usamos uma variação chamada resistência, que aumenta a dureza e a flexibilidade da lâmina, assim conseguimos colocar uma terceira runa, leveza e fazemos testes com uma quarta. O metal ainda deforma e se destrói quando a quarta runa é adicionada, mas estamos perto de produzir lâminas baratas e de alta qualidade.
— Tenho certeza que sim Gondo, pois eu mesmo possuo lâminas de aço com seis runas, aqui veja – disse Ainz enquanto retirava do nada uma pequena adaga ricamente entalhada.
— "Na verdade são itens lixo que você recebe quando faz as primeiras missões em Ygdrassil, eu só tenho guardado pois detesto me desfazer das coisas" - pensou.
— Seis runas! Incrível! Em uma lâmina tão pequena! Que entalhes precisos e essa combinação de runas, eu nunca pensaria nisso, ela é linda, novamente acho que sem a ajuda de Vossa Majestade nunca poderíamos retomar a arte de Runecraft.
— Não exagere Gondo, sei que logo vocês produzirão algo digno de Nazarick.
— Nazarick?!
— Minha casa, Gondo, onde eu moro.
— EEH!? – gritou um jovem anão que se aproximava correndo.
— Sim? Posso ajudá-lo? – disse o Ser Supremo.
— A-Acho que traí o senhor, Vossa Majestade – gaguejou Rumble antes de desmaiar.
