nota da autora: Isso aqui é só uma coisinha pra passar o tempo. Espero que você gostem :) Vai ser levinha e curtinha.
Obrigada pelo seu desejo por doce que me deu a ideia do plot, Clozinha!
Temporada de Casamento: Salve essa data!
— Ora ora ora, a que devo a honra dessa visita?
— Voltei — ele deu de ombros, como se fosse a informação mais óbvia, e sorriu.
— Me dá uns cinco minutinhos? Você tá com tempo?
— Tô, claro.
— Então espera ali porque vou tirar um intervalo. Vai sentando — apontei na direção da mesa reclusa e exalei o ar que até então estava preso, quando ele se afastou.
Peguei o copo de 350ml e escrevi o nome da cliente que, impacientemente tamborilou as unhas no balcão, tentando acelerar meu serviço. Assim que posicionei o copo na bancada ao lado da barista, e então notei que meu visitor se sentou na mesa indicada. Os raios de sol já enfraquecidos pela chegada do anoitecer, fazendo os cabelos ruivos parecerem mais escuros. Ele estava de jeans e uma camisa preta, e os pés calçados batiam freneticamente no chão, provavelmente em ritmo com alguma melodia imaginária.
Atendi mais duas pessoas da fila e sinalizei que tiraria meu intervalo. Peguei um macaron de morango com avelã e um muffin de queijo de dentro do balcão. Preparei um mocha com dose dupla de expresso e tirei uma água com gás do refrigerador. Equilibrando a bandeja em uma mão, e meu caderno em outra, fiz meu caminho até a mesa afastada, onde Edward me aguardava.
— Você veio cedo — comentei, depositando a bandeja na mesa e sentando-me. — Ainda fedendo à maresia.
— E esse sorrisão aí indica que você estava esperando por isso — me sorriu de volta e tirou os óculos escuros, permitindo-me, enfim, ver os olhos verdes. — Obrigado. Quanto te devo?
Rolei os olhos e abri a garrafa d'água. Depois de um longo gole, deixei meu corpo relaxar na cadeira de metal do pequeno bistrô em que eu trabalhava. O lugar era aconchegante. As paredes eram claras e contrastavam com móveis escuros. A luz era quente e iluminava os locais corretos. Toquei com o dedo a luminária que pendia acima de nossa mesa e sorri quando mexeu em um movimento pendular.
Não dava para negar que estava nervosa com a visita dele. Fazia pouco mais de três meses que não nos víamos, e eu estava apreensiva com sua presença. É óbvio que o sorriso caloroso que me ofereceu assim que entrou no bistrô foi suficiente para aplacar parte do meu humor agitado, mas ainda assim, eu não estava confortável.
— Tá pensando no que? — Perguntou, como de praxe.
— Ainda não desenvolveu a habilidade de ler mentes? — Respondi como sempre o fazia e levei meus olhos aos dele.
— Tô chegando lá — me olhou e chutou meu pé de levinho. — Você tá legal?
— Tô sim, e você?
— Bella... — Me olhou de maneira firme e eu soltei uma risadinha nervosa.
— Eu tô, ué.
— O que você tem feito?
— Nada de novo. Ah! Comecei a fazer trabalho voluntário em um abrigo de idosos — ele me olhou impressionado e sorriu. — Nada demais, é pra me ajudar a entrar na faculdade e tal.
— Claro — respondeu e fiquei genuinamente feliz por ele não ter estendido o assunto.
— E você?
— Ah, cheguei ontem né? Tô no processo de dar oi pra todo mundo.
— Oi — sorri. — E como foi lá?
— Oi — disse e levantou o cantinho do lábio em um sorriso torto. — Acredite se quiser, mas tedioso — riu e levou a mão aos cabelos.
— Você não pode achar que eu vou acreditar que ficar três meses em um cruzeiro, navegando pela América Central, seria tedioso, Cullen.
— Existe uma razão para companhias focarem na venda de viagens com duração de 7 ou 10 dias, Bella. Ficar em um cruzeiro é um porre depois da segunda semana. Você vê as mesmas pessoas todos os dias, come as mesmas comidas, tem os mesmos tipos de entretenimento. Sem contar que tocar o mesmo setlist por 100 dias é de enlouquecer qualquer pessoa.
— Coitadinho do pobre pianista que passou três meses em um cruzeiro de luxo — murmurei com ironia e dei suaves tapinhas na mão que ele tinha em cima da mesa. Imediatamente senti meu rosto corar e retraí a mão de volta ao meu colo. Eu jurava que seria fácil lidar com isso, mas nem 2 minutos de Edward Cullen e eu já estava assim...
— Cruzes, minha mão te queimou? — riu, mas percebi desconforto em sua expressão também. Foi sutil, e eu só percebi porque conhecia cada milímetro daquele rosto, mas ainda assim, estava ali. Pigarreei e coloquei o caderno na mesa.
— Tô imaginando que você veio aqui pra temporada de casamentos? — Perguntei e fui atingida por um sorriso gigantesco.
— Você já fez nossa programação? Não é só daqui a uns 6 meses?
— Eu não brinco em serviço — sorri presunçosa, mas olhei para o balcão do bistrô — e só tenho 10 minutos.
— Mas preparou isso em antecipação? — Olhou minhas anotações e, com meu silêncio, subiu os olhos aos meus. — Por acaso você estava me esperando?
— Uma garota pode sonhar — pisquei. — Desinfla esse ego, aí. Você anunciou em todas as suas redes sociais que estava de volta. Aliás, estou magoadíssima que não tive o privilégio de saber em primeira mão. — Edward gargalhou baixinho e voltou a atenção à lista escrita no caderno.
— Você foi a primeira que me viu, se te serve de consolo.
— Ué e a Tanya?
— Tá foda — bufou e levou a mão ao cabelo.
— Para com isso, você vai ficar careca — reclamei, puxando a mão.
— Dessa vez não te queimou? — Perguntou pontualmente olhando minha mão que ainda segurava a dele. Rolei os olhos e a apertei em resposta. Está tudo bem.
— Você quer falar sobre ela? — Perguntei torcendo para ter soado mais preocupada do que curiosa. Ele desviou o olhar e voltou a ler o caderno, prontamente ignorando.
— Você conseguiu o Terrace On The Park? — Exclamou com os olhos arregalados, rapidamente respondendo a minha pergunta. A expressão entusiasmada era quase infantil. — Cacete, Bella, como você fez isso?
— Eu tenho meus contatos — ri e o observei enquanto lia minhas anotações.
Edward e eu éramos amigos há anos, sendo franca eu não me lembrava da época em que não éramos amigos. Eu sei do dia que nos conhecemos, não apenas porque a doçura da memória ficou guardada no coração, mas também porque, em todas as ocasiões possíveis, nossos pais recontam o dia que toquei na campainha dos Cullen cobrando os 15 centavos que ele me devia.
Eu era uma jovem empreendedora. Aos 6 anos de idade, decidi que abriria minha própria vendinha de limonada para poder comprar patins da Barbie, que meu pai se recusou a comprar porque eu era a criança com a pior destreza do bairro. É sério. Eu era desastrosa. Um dia, enquanto eu trabalhava arduamente vendendo copos de limonada, que mamãe fazia, claro, porque eu era pequena demais para mexer no liquidificador, um menino surgiu na minha frente e pediu para que eu o vendesse um copo de limonada.
Eu nunca tinha visto cabelos tão vermelhos quanto os dele, e os olhos eram quase tão verdes quanto os da minha boneca que ficava na casa da vovó. Só percebi que ele não tinha pagado pelo produto consumido, quando subiu no seu patinete, se distanciando de mim. Me lembro de ter gritado por ele, mas Edward só parou quando eu acertei meu tênis nas costas dele, demandando que pagasse o que me devia.
Ele pediu desculpas e disse que não tinha dinheiro, mas disse que eu poderia passar na casa dele depois das 7 da noite que a mãe dele, certamente acertaria as contas. Passei o resto da tarde esgotando a paciência da minha, até que cedeu e me levou na última casa da rua. Saí de lá com meus 15 centavos, uma encomenda de 1,5l de limonada para o dia seguinte, e um melhor amigo. Edward e eu éramos inseparáveis desde então.
— Tá pensando no que? — Perguntou e eu ri.
— Deixa os meus pensamentos em paz — reclamei e puxei o caderno para perto de mim.
— Você tem planos para depois de dezembro?
— Como assim?
— Ah, sei lá — disse coçando a nuca. Não tirei meus olhos dele, até que voltou a falar. — Geralmente a gente vai nos casamentos em uma estação por ano, e esse ano a gente foi na primavera, mas pelo que tô vendo aqui você planejou outra temporada né?
— Ah — respondi de maneira brilhante.
— Foi porque eu disse que queria ver o Central Park no outono em um casamento, não é?
— Não exatamente —senti meu rosto corar.
— O que, então?
— Ah eu... Sei lá. Eu não sabia se você ia querer ir no ano que vem por causa dos seus próprios shows.
— Bella... Isso aqui — apontou para o caderno, mas manteve o olhar fixo em mim — é sem sobra de dúvidas o ponto alto dos meus anos. — Sorri, sabendo exatamente o que ele queria dizer, mas não inferi nada em seu discurso.
Passamos o resto do meu intervalo lendo a programação que preparei na última semana, e me surpreendi que ele ficou tão empolgado com a ideia de irmos em mais casamentos quanto eu. Na hora de nos despedirmos, fui com ele até a calçada e gastei os últimos minutos do meu intervalo observando meu melhor amigo bolar um cigarro de tabaco em uma seda marrom.
— Você falou que ia parar — reclamei depois de alguns segundos. O cheiro não era tão ruim assim, e era tão característico dele que me doía admitir sentir falta do aroma do tabaco pelos últimos meses.
— Eu vou. Só não sei a data — desviou o olhar, rindo, e bateu as cinzas no copo descartável do café.
— Tem um cheiro horroroso. Parece que fica impregnado no meu pulmão — reclamei de maneira exagerada. Eu não odiava tanto assim, mas me irritava vê-lo dependente.
— Quem tá me beijando não está reclamando — respondeu com um sorriso ridículo e eu rolei os olhos.
— Eu senti sua falta à beça, sabia? — Confidenciei, desviando o assunto ao falar tão baixinho que ele até se aproximou. Eu realmente não queria falar agora sobre quem ele tem beijado. Sabe-se lá aonde ele chegaria com esse papo.
— É? Você devia ter mandado mensagem ou me ligado, você sabe, né?
— Eu sei, eu sei. Foi mal. — Disse e olhei para o chão.
— Por que não fez?
— Acho que não queria interferir, sei lá. Tinha merda demais pra gente resolver.
— Interferir no que? — Perguntou e andou até ficar na minha frente. Quando não o olhei, ele me puxou pelo bolso do avental.
— Ah Edward, você sabe.
— Você sabe que eu terminei com a Tanya depois do que rolou com a gente, não sabe?
— Não sabia — respondi e levantei o rosto, encarando olhos verdes brilhantes. — Por quê?
— A gente já não estava bem antes. Depois então... — deu de ombros e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.
— Não se preocupa, vou refazer o coque — ri, espantando a mão dele do meu rosto. Ele me lançou um sorriso curto e pigarreou.
Levou o cigarro aos lábios e deu uma longa tragada. Observei com pesar o meu melhor amigo desviar seus olhos dos meus e senti meu coração cair com a sensação desconfortável que se instalou entre nós.
— Ei — disse e o puxei pelo cós da calça. — Longe demais — murmurei envolvendo os braços na cintura e o abraçando firme. Relaxei, apoiando a cabeça no peitoral, quando senti um braço me enlaçar pela cintura e outro me acariciar no braço.
— Que saudade — sussurrou e me beijou o topo da cabeça. Suspirei, abraçando-o mais forte.
— Vamos esquecer aquilo? Por favor eu não quero mais ficar desconfortável contigo.
— Você não acha que a gente deveria conversar?
— Não tem muito o que conversar, Edward. A gente ficou bêbado, eu estava precisando transar, você não estava numa fase boa do seu relacionamento e a gente estava na porra de um casamento, vendo metade daquela festa antecipar uma foda gostosinha.
— Foi uma foda gostosa pra cacete mesmo.
— Foi? — Perguntei de maneira genuína, porque até então eu tinha uma lembrança vaga do ocorrido.
— Porra, Bella, tô até ofendido agora. Você não lembra? — Tentou se afastar de mim, mas não deixei, abraçando-o mais forte. Eu definitivamente não estava pronta para olhá-lo nos olhos.
— Eu fiquei muito mal e lembro bem pouco. O que mais me marcou foi acordar e perceber que ia demorar meses até te ver de novo, porque você foi um filho da puta e não me acordou — reclamei, beliscando-o na cintura.
Edward dobrou o tronco, tentando se esquivar, e me mordeu no ombro. Xinguei alto, e quando o soltei vi que tinha um sorriso vitorioso no rosto. Era tão fácil estar com ele.
— Se minha memória não tá pregando peças, você gostou quando fiz isso — piscou. — Mas você estava pelada.
— Para, Edward — ri, sentindo meu rosto inteiro esquentar. — Não foi nada demais. Honestamente eu achei até que demorou pra gente transar. Você foi minha primeira briga, meu primeiro beijo e o primeiro pinto que vi — ri com a lembrança de um Edward de 10 anos de idade abaixando a cueca. — A gente se embebedou juntos pela primeira vez, fumamos maconha pela primeira vez também juntos. Era de se esperar que eventualmente transássemos, né? Uma pena que quebrou o padrão e não foi a primeira vez — encolhi os ombros.
Ele levou o cigarro aos lábios e tragou, me escrutinizando. Lembrei da forma que me olhou naquele último casamento e senti meu corpo inteiro esquentar. Ele sorriu de lado e eu sabia que ele sabia o que passava pela minha cabeça.
— Tá pensando no que? — Ele sabia.
— Vai se foder. — Edward gargalhou alto e jogou o cigarro no copo de café, então se afastou para jogá-lo na lixeira.
— Sabe que eu não acho isso de todo ruim? — Comentou quando voltou a ficar na minha frente.
— O que?
— A gente não ter perdido a virgindade juntos. O tanto de coisa que eu aprendi a fazer e você tamb-
— Edward não! Eu sei aonde você vai com isso e esse não é um caminho que eu tô a fim de seguir.
— Você tá com medo de que? — Perguntou com a voz gentil, e me acariciou os ombros. Neguei com a cabeça e olhei para o chão. Ele me abraçou e quando esfregou a palma entre minhas omoplatas, soltei o ar que nem percebia ter prendido.
— Foi um saco me forçar a ficar distante quando você viajou e eu não quero ter que fazer isso de novo.
— Você não precisa.
— Vou precisar se a gente acabar se pegando.
— Por quê?
— Porque a gente não vai dar certo, Edward. A gente vai foder com isso aqui que a gente tem e porra, você é importante demais pra eu arriscar perder você por uma foda.
— Mas foi uma foda boa pra cacete. — Reclamou contra meus cabelos, mas seu tom gentil deixava evidente que ele me entendia.
— Pelo menos você lembra — impliquei, circulando meus braços na cintura dele e me permitindo sentir o cheiro que me é tão familiar.
— Seria mais fácil se não lembrasse — falou tão baixo que acho que entendi pelas vibrações do peitoral. — O que for melhor pra você, Bella. — Murmurou contra meus cabelos depois de alguns segundos em silêncio.
Ficamos mais um tempo naquele abraço, porque era fácil e a gente podia, mas eventualmente me afastei para voltar ao trabalho. Ao longo das horas finais do meu turno, fiquei antecipando os próximos finais de semana em que Edward e eu frequentaríamos casamentos, sem que necessariamente fossemos convidados para isso, uma tradição resultante de uma TPM horrorosa que me atingiu há alguns tempo.
Há quatro anos, estávamos em seu quarto como ocasionalmente fazíamos aos sábados. Ele sentado na extremidade da cama próxima a televisão, enquanto jogava videogame, e eu deitada do outro lado, lendo um livro. Tínhamos almoçado há pouco mais de duas horas quando um desejo de comer doce se fez evidente. Quando reclamei, ele listou tudo o que havia em sua casa que poderia aplacar minha vontade, mas nada parecia bom o suficiente. Quanto mais ele falava, mais eu pensava na tartelete de mil folhas com lemon curd e chantilly, que consumi no casamento da nossa amiga, Angela. Então como qualquer pessoa desesperada por um doce faria, liguei para ela, que prontamente explicou que o buffet de seu casamento foi providenciado pelo próprio restaurante do hotel.
Obviamente sugeri que fossemos lá para comprar o meu doce, mesmo que ficasse há 30 minutos de distância, mas Edward reclamou e se negou a me acompanhar. Resignada, e depois de passar alguns segundo xingando meu melhor amigo, desci até a cozinha. Só depois de vários minutos abrindo e fechando todas as portas de armários em busca de algo que só encontraria no hotel onde foi o casamento, ouvi o barulho dele descendo correndo pelas escadas de casa. Sorri quando notei que vestia o mesmo terno que usou no enlace de nossa amiga, já sabendo que tinha cedido às minhas pressões. Depois de passarmos alguns minutos com ele reclamando sobre acatar à mais uma das exigências de uma filha única mimada, passamos na minha casa para que eu também colocasse uma roupa mais apropriada para um hotel luxuoso.
Quando chegamos lá, notamos que havia uma recepção de casamento acontecendo em um dos salões. Edward me puxou pela mão, e antes que eu pudesse reagir, se apresentou para a cerimonialista como meu noivo. Explicou que tinha entrado em contato com a agência, demonstrando interesse em contratá-lo para o nosso, e que sugeriram que nós visitássemos aquele para vermos como a empresa trabalhava. A cerimonialista não pareceu surpresa, e nos permitiu desfrutar daquela noite, que não me presenteou a tartelete, mas foi tão divertida que virou tradição.
Esse tinha sido o primeiro de 10 casamentos que entramos de penetra. No mundo ideal, teriam sido 12 casamentos, visto que nossa programação consistia no seguinte: há quatro anos, escolhíamos uma estação do ano, e íamos em um casamento por mês.
Mas desses, um foi cancelado (no dia, então não conseguimos descolar um substituto como já aconteceu uma outra vez), e a presença dele no penúltimo foi bloqueada pela Tanya, sua ex-namorada que achou inaceitável que ele seguisse para esse casamento comigo, quando ela tinha recém retornado de uma viagem a trabalho. Não julgo a reclamação, mas na época fiquei bastante magoada em ir sozinha à festa.
Ao longo desses casamentos, usamos vários disfarces para entrar. O mais comum era o que usamos da primeira vez – noivos –, mas já houve ocasiões em que éramos da equipe do local da recepção. Já houve dias em que ele ficou interessado nas cerimonialistas e usou seu charme para que entrássemos, mas também um em que flertei abertamente com um dos padrinhos, que nos deixou entrar.
Em todas essas ocasiões, tínhamos liberdade para desfrutar do serviço de comida, do open bar e da pista de dança. Sempre chegávamos juntos, mas nem sempre permanecíamos unidos ao longo da festa, tampouco íamos embora ao mesmo tempo. Exceto da última vez.
Da última vez fomos para o casamento sabendo que Edward tinha sido aceito para tocar piano em um restaurante de um navio de turismo, e passaria d meses embarcado. Sabíamos que seria a última vez em algum tempo para desfrutarmos de nossa tradição, e por isso fizemos um voto de que apreciaríamos ao máximo.
A ideia pareceu perfeita pelas primeiras duas horas. Dançamos e fizemos amizades pelo salão. Em algum momento, bebemos shots de tequila, e Edward tirou a mãe da noiva para dançar. Quando voltamos a nos encontrar no bar, ele tinha uma rosa branca na mão e me ofereceu. Daquela vez, ouvi-lo dizer "Senhora Cullen" quando colocou a rosa atrás da minha orelha, fez meu estomago retorcer por razões não relacionadas à bebida alcóolica.
Naquele dia, passei a noite inteira tentando me convencer que a sensação era reflexo da ausência de comida no estômago, e não pela maneira que seus olhos verdes não desgrudavam do meu corpo. Eu jurava que era uma saudade antecipada do meu melhor amigo que passaria meses longe, mas o formigamento que senti em meu baixo ventre quando me guiou à pista e me conduziu em uma música lenta, me fez questionar aquilo tudo.
Foi quando Edward me segurou firme contra seu corpo, já na terceira música, que o senti de uma maneira diferente. Ele tinha uma mão espalmada no meio das minhas costas, fazendo pressão para unir nossos corpos enquanto a outra me segurava pela nuca. Não era violento, tampouco firme. Era intenso. E continuou assim quando roçou nossas bochechas em um movimento sensual. Pouco tempo depois, o percebi inalando meu cheiro por trás da orelha. Arrepiei toda quando ele baixou o nariz até a minha clavícula e ofeguei quando me beijou ali. Foi um beijo tão suave que, por um instante, duvidei ser real.
Percebi que agi antes de pensar quando ele segurou meu rosto entre suas duas mãos e me olhou. Meu coração estava disparado e meu corpo inteiro em chamas, mas eu estava paralisada naquele olhar e no som do meu nome deixando seus lábios em um sussurro. Olhei para a boca rosinha e resfoleguei quando ele lambeu o lábio inferior de maneira quase imperceptível. A língua quase não apareceu, mas eu fui ávida atrás dela. Incapaz de evitar, percebi nossos lábios em um beijo desesperado. Era tão novo, mas ao mesmo tempo tão familiar.
Naquele dia percebi também que o efeito mágico da tequila não dura para sempre, e notei isso com tristeza quando acordei sozinha, e nua, no quarto dele. O sol já estava quase no meio do céu e não havia qualquer vestígio do meu melhor amigo. A dor que senti no peito ao notar que a mala da viagem não estava mais no canto do quarto foi maior do que a que senti na virilha e pernas quando caminhei até o banheiro naquela manhã.
Me permiti chorar no banho, enquanto esfregava as evidências da noite anterior do meu corpo. Eu estava aterrorizada porque ao mesmo tempo que não lembrava com exatidão da transa, meu corpo inteiro sentia que tinha acontecido. Eu também me sentia um lixo por ter me relacionado com um homem comprometido, ainda que o homem em questão fosse o meu melhor amigo e a pessoa que mais amava em toda a minha vida. Ele devia lealdade a uma mulher que não era eu.
O que mais doía, no entanto, era o fato de que tinha ido embora do país, para passar 100 dias em um cruzeiro de luxo, e sequer se despediu depois da transa. Após algum tempo me martirizando por todas as razões possíveis, notei meu sutiã na cômoda ao lado da cama e abaixo dele, um bilhete.
"Eu tentei te acordar, juro, mas você sabe como é quando dorme bêbada. Também segurei até o último minuto, mas o trânsito de NY é insuportável. Talvez a despedida assim seja mais fácil mesmo. Por favor, me liga, Bella. A gente precisa conversar sobre essa noite. Tenta não sentir tanto a minha falta. Volto logo com suas conchas. E."
Até hoje, mais de cem dias depois do ocorrido, sentia meu coração palpitar de maneira estranha quando lembrava. É claro que conforme o álcool saiu do meu corpo, algumas lembranças entraram. Eu lembrava vividamente do beijo que a gente trocou na pista de dança, e das 4 doses de tequila que tomamos juntos depois dali. Lembro de tê-lo abraçado firme quando estávamos a caminho da casa dele, chorando ao lembrar que em poucas horas iria embora. Recordo também dele ter retornado meu abraço no beco à duas esquinas da sua rua, e de termos nos pegado freneticamente contra aquele muro pichado.
O que aconteceu depois dali, no entanto, era meio nublado. Eu não conseguia saber exatamente o que aconteceu e o que a minha mente criou. Mas as imagens dele beijando meu pescoço enquanto me apertava a bunda por baixo do vestido e a dele me chupando já na sua cama, eram tão vívidas que eu duvidava serem fabricadas.
Eu tinha sentimentos conflitantes quando percebia que não lembrava da foda gostosa pra cacete com meu melhor amigo, mas no fim das contas, era mesmo melhor não ter essa memória incendiando meus pensamentos, enquanto eu tentava superar o ocorrido.
Já em casa, deixei meu corpo relaxar no sofá quando coloquei uma playlist de rock indie na TV da sala. Mexendo no instagram, vi um story de um amigo de infância que estava na cidade e rapidamente mandei uma mensagem. Conversamos por alguns minutos, nos atualizando na vida do outro, e combinamos de nos encontrar.
— Ei você manteve contato com o Jacob, né? — Perguntei ao Edward, quando ele atendeu a minha ligação.
— Uhum — respondeu depois de alguns instantes. — Ele estava pra vir aqui a trabalho.
— Ah ele já chegou.
— E como é que você sabe?
— Ué, ele postou no instagram e eu falei com ele.
— É?
— É. A gente combinou de tomar uns drinks mais tarde. Você tá ocupado?
— Putz, um pouco, Bella. Não dá pra ser amanhã?
— Ah eu tô um pouco entediada e amanhã eu não trabalho de manhã. Hoje parece o dia perfeito.
— Que horas vocês vão?
— Marcamos às 20h. Ele vai passar aqui.
— Ué, por quê?
— Por que não?
— Sei lá, parece sério.
— Do que você tá falando, Edward?
— Não parece muito casual quando alguém te pega em casa. Especialmente quando esse alguém é o Jacob, Bella.
Segurei a minha língua por uns instantes, tentando entender aonde ele ia com a conversa. Edward nunca foi o tipo de pessoa de fazer implicações desse tipo, mas, ao mesmo tempo, eu nunca tinha marcado de tomar drinks com um amigo de infância que era mais próximo dele do que de mim. Especialmente quando esse amigo em questão nutriu uma paixonite por mim durante grande parte da nossa adolescência.
— Que ciúme é esse, Edward?
— Ciúme nenhum — bufou na linha e eu ri.
— Relaxa, eu não vou roubar seu amigo. São só drinks.
— Não, não é isso.
— Você ainda é meu favorito. A gente fez um pacto de saliva e eu prometi que nunca gostaria mais de alguém do que de você, lembra? — Gargalhou com meu comentário e sorri.
— As coisas que eu já fiz você fazer...
— Pois é. Fica tranquilo que você e eu somos insubstituíveis.
— Somos — ouvi o riso por trás da voz. — Você marcou às 20h, né? Vou tentar acelerar aqui.
— Obrigada, mas tá tudo bem. Eu entendo se não der.
— Tá me descartando, Bella?
— Claro que não. Eu não te convidaria se fosse te descartar no final da noite. Muito embora o Jake esteja uma delicinha e talvez eu acabe te descantando mesmo. Você já viu as fotos novas da campanha praquela marca de cueca?
— Tchau, Bella. Até mais.
— Você vai? — Gargalhei.
— Vou né? Não posso deixar você ser seduzida por um protótipo de modelo.
— Eu não vou nem implicar de volta — mas impliquei, obviamente fazendo referência à Tanya, que era uma modelo consolidada.
— Devia ter me impedido de ser seduzido antes de acontecer. É o que os amigos de verdade devem fazer, afinal de contas.
— E desde quando você faz qualquer coisa que eu peça?
— Quando você pediu do jeito certo, eu fiz — murmurou e eu juro que senti a voz um pouco mais grave. Ri, para evitar responder.
— Te mando o endereço de onde a gente vai estar mais tarde.
Nem meia hora depois, ele mandou uma mensagem no meu celular perguntando se podia aproveitar e chamar alguns amigos que prometeu ver ao longo do final de semana. Disse que assim lidaria com duas questões de uma vez só. Concordei, mas quando dividi a informação com Jacob e notei o descontentamento por trás do excesso de educação na resposta, percebi que, talvez, os drinks não tivessem sido uma proposta tão casual para ele como eram para mim.
Estava terminando de recolher as roupas da secadora quando ouvi batidas na minha porta no padrão que Edward sempre fazia. Corri até a porta e abri, xingando quando percebi que o tempo passou muito mais rápido do que achei que faria.
— Entra aí — disse, sem nem olhar para a visita. — Deixa eu terminar de recolher as roupas, e aí me troco rapidinho e a gente vai. Eu não sabia que você ia passar aqui.
— Por que você tá agitada? — Ouvi a voz dele na lavanderia, atrás de mim, e o olhei.
— Tá arrumado assim por quê? Vai encontrar alguém que eu não tô sabendo?
— Era uma das únicas coisas limpas dentro da minha mala — riu, e coçou a nuca, claramente envergonhado. Ele estava usando uma calça bege clara mais apertadinha, dobrada no tornozelo, uma blusa de algodão azul escuro e um blazer preto. O sapato também era preto e ele não estava usando meias.
— Tô vendo — apontei para as canelas e ele deu de ombros.
— Eu tô muito atrasada né?
— É, eu cheguei aqui uns 20 minutos antes do Jake, mas sim, você tá atrasada — comentou e olhou para a roupa que eu estava usando.
Olhei para a minha vestimenta e sorri. Usava uma cueca samba canção de estrelas e uma camisa larga do Radiohead que foi do Edward em algum momento do nosso passado.
— Faz um favor? Eu vou tomar uma ducha rápida. Será que você consegue só jogar isso aqui no cesto e colocar no meu quarto? Eu termino de arrumar quando voltar.
— Claro, Bella.
— Tem cerveja na geladeira, se quiser. Ah, ainda tem um pouquinho de fraisier de morango — gritei antes de fechar a porta do banheiro porque sabia que ele adorava o doce.
Tomei um banho rápido demais até para os meus padrões e então corri para o meu armário para pegar algo para me vestir.
— Eita foi mal — ele murmurou atrás de mim e me virei. Seu olho grudado na toalha que estava enrolada no meu corpo. Até tentei fingir que não me afetei, mas o rubor no meu rosto apareceu mesmo sem convite.
— Sem problemas — pigarreei, fingindo tranquilidade, e virei de costas voltando a mexer nos cabides, tentando buscar o vestido de veludo sem mangas e gola alta. Ele tinha detalhes em lantejoulas e batia no meio das minhas coxas e eu gostava como ele me fazia sentir. Quando encontrei, joguei na cama e peguei os botins pretos na sapateira. Ofeguei quando notei que Edward ainda estava sentado na minha cama, me observando. Eu estava a um suspiro de tirar a toalha do meu corpo.
— Sai daqui. Preciso me vestir — Reclamei com humor, apontando para a porta.
— Não é como se eu já não tivesse visto — implicou levantando as sobrancelhas provocativamente e eu virei os olhos.
— Eu achei que a gente não ia mais falar sobre isso.
Antes que ele pudesse responder, a campainha tocou e eu pulei.
— Você consegue abrir para o Jake? Eu acho que deve ser ele pela hora. Só vou colocar a roupa e já encontro vocês.
— Claro — respondeu ainda com o sorriso no rosto.
— Ah — murmurei segurando o pulso dele antes de deixar meu quarto. — Eu sei que a gente não falou muito sobre isso, mas acho que eu ficaria mais confortável se a gente não mencionasse o que rolou.
— O que, Bella? — Me fitou. Afrouxei o aperto em seu pulso e inspirei quando ele se aproximou. Quase que instintivamente para evitar que a toalha caísse, forcei meus braços na lateral do corpo.
— O que rolou entre a gente — pigarrei e desviei o olho. Mesmo tanto tempo depois, ainda era esquisito falar sobre isso.
— Você quer esconder do Jacob que a gente transou? — Perguntou e posicionou seu corpo na minha frente, me forçando a encará-lo.
— Não dele, necessariamente. Acho que ninguém precisa saber. Se eu não lembro, não aconteceu — brinquei, ainda sentindo meu rosto queimando de vergonha.
Ele me observou por alguns instantes e maneou a cabeça, concordando. Saiu do quarto e só consegui voltar a me mover quando ouvi a voz alta de Jacob na minha sala, cumprimentando nosso amigo. Terminei de me arrumar rapidamente e fiz uma maquiagem simples antes de seguir para a sala.
— Jake! — Arfei quando o senti me apertar contra si. Meus pés quase deixando o chão.
— Bells que saudade! — Comentou beijando-me no rosto. Sorri quando olhei meu amigo. Ele parecia ainda mais alto do que seus 1,92m. Ele tinha um corpo atlético e traços nativo americanos. Os cabelos, longos, presos em um coque, eram brilhantes. Ele estava com uma vestimenta toda preta e bem simples, em contraposição com sua beleza, que de simples não tinha nada.
— Como você tá? — Perguntei, ajeitando o cabelo quando ele me colocou de volta no chão. — Faz tempo que você não pisa aqui na costa leste. Como tá o Bill e a Sue?
— Todos bem, mas eu tô melhor agora — respondeu passando o braço pelo meu ombro e me puxando para si. — Você tá linda.
— Quer beber algo? — Perguntei depois que o senti beijar o topo da minha cabeça.
— A gente não estava de saída? O pessoal já deve estar chegando no pub — Perguntou Edward que, até então, estava sentado no sofá da minha sala, observando o reencontro calado. Sua postura não estava necessariamente hostil, mas já o vi sendo mais afeiçoado antes.
— Jake você quer o tour da casa? — Perguntei deliberadamente ignorando o ruivinho.
— Você me mostra depois — piscou e fez o caminho até a porta de casa. — A gente não precisa atrasar os planos do Edward. — Disse e eu podia jurar que tinha um pouco de ironia naquele comentário.
— Vamos? — Ofereci minha mão para Edward, que imediatamente relaxou.
Algumas horas depois, estávamos alcoolizados e soltinhos no pub. A conversa era fácil, e as vozes cada vez mais altas. Entre Edward e Jacob, havia muita novidade para ser dividida. Era divertido observar meus dois amigos mais antigos interagindo. Eles claramente sentiam falta da companhia do outro, e estavam genuinamente felizes com o reencontro.
Acho que Edward não recebeu bem o meu pedido sobre mantermos nossa transa em segredo, e o incomodo ficou evidente durante o começo da noite. Ele estava claramente travado, sem saber como interagir comigo e aguardando qualquer sinal que eu pudesse dar. No entanto, conforme seus amigos e bebidas foram chegando, ele ficou cada vez mais à vontade.
Também era a primeira vez que eu tinha a oportunidade de ouvir as histórias do tempo que ele passou no cruzeiro. Ao longo dos três últimos meses eu me ocupei demais no bistrô, com estudos e trabalho voluntário para nunca ter tempo livre para conversar com ele. Quando acordei naquele dia sozinha e nua em seu quarto, sabia que ele ia querer conversar, mas o bilhete me deu autonomia para buscar essa conversa quando eu estivesse pronta. Nunca estive, e ele tentou pressionar depois de um mês e meio, mas eu dei uma desculpa qualquer. Tão qualquer que ficou óbvio para ele que minha intenção era não falar com ele por enquanto. Por isso, durante o resto do tempo dele no cruzeiro quase não nos falamos, exceto por algumas interações corriqueiras e casuais em redes sociais.
Esse muro que criei entorno de mim para evitar conversar sobre nossa transa, me afastou a tal ponto que eu não fazia ideia de como tinha sido sua experiência de tocar piano em um navio de turismo e, ainda que me sentisse genuinamente feliz com as informações que estava trazendo, estava mal por não ter participado de um momento tão importante para uma das principais pessoas da minha vida.
— Quer mais uma cerveja? — Perguntei para Edward quando percebi que ele levou a caneca de cerveja vazia à boca. — Vou pegar mais uma GT para mim e posso pegar outra pra você.
— Eu vou contigo — comentou e pôs-se de pé.
Edward segurou minha mão no caminho para o bar, e antes que eu pudesse protestar, senti um homem loiro acariciar meu antebraço. Notei Edward e o homem se encararem e removi meu braço da direção do loiro. Pedi licença e empurrei meu amigo para frente, nos afastando dali.
— Eu podia ter cuidado disso — reclamei quando chegamos ao bar.
— Eu sei, mas não deu pra controlar. Ele estava olhando para você de um jeito pavoroso — riu e sinalizou para o barman.
— E se eu quisesse dar uns beijos nele?
— Você não queria.
— E se eu quisesse?
— Ele não é seu estilo.
— Oi?
— É, ué. Você costuma ficar com morenos.
— Edward você não faz ideia da metade dos caras que eu já peguei. Eu nem tenho um estilo — ri. — Mas sério, não faz mais isso, a não ser que eu realmente precise de ajuda.
Ele me olhou, ameaçou falar algo, mas silenciou. Maneou a cabeça e eu entendi que era seu pedido de desculpas.
— Tô um pouquinho chateada por estar descobrindo sobre sua experiência no navio só agora — murmurei e encostei a cabeça no braço dele enquanto aguardávamos nossas bebidas.
— Culpa toda sua, Swan. Eu sempre estive disponível.
— Eu sei — respondi com remorso. — Me conta alguma coisa que eles ainda não sabem?
Ele ficou em silêncio por algum tempo, pensando, e então começou a rir.
— Tinha um casal em lua de mel que ia 2 vezes por semana no restaurante que eu tocava. Na segunda semana, o marido mobilizou grande parte da tripulação para conseguir imprimir umas fotos de um pendrive. Quando o pessoal finalmente conseguiu os papéis fotográficos e imprimiu, vimos que todas as fotos eram deles em locais públicos do navio de noite. Ela sempre em lingeries e poses sensuais e ele com roupas de couro em posições submissas. Eu nunca mais consegui tocar pra eles com tranquilidade. Toda vez que deixava a música me levar, fechava os olhos e lembrava do chicote de couro e da mordaça em formado de saco escrotal. — Murmurou a última parte forçando um arrepio e eu gargalhei.
— Você pensa em voltar? — Perguntei quando pegamos a bebida.
— Paga bem, então eu não vou dizer que não voltaria, especialmente porque já tenho a licença para trabalhar em alto-mar, mas não voltaria por agora. Tô querendo dar uma focada nos estudos. Queria entender mais de teoria musical, me fez um pouco de falta lá.
Concordei com a cabeça, sabendo que isso era algo que ele sempre quis fazer, e segui para a mesa dos nossos amigos. Ficamos lá conversando e nos atualizando na vida do outro pelas próximas duas horas. Pouco a pouco as pessoas foram embora e quando notei, éramos só Edward, Jacob e eu.
Ficamos mais umas duas horas interagindo e nos atualizando sobre eventos presentes, debatendo perspectivas de futuro e recontando alguns eventos do passado. Ao longo das últimas horas, Edward tinha recuperado o conforto de estar ao meu lado, e a distância dos últimos três meses e a estranheza resultante do meu pedido de discrição, não eram mais uma questão. Eu estava com a cabeça deitada no ombro dele quando soltei um longo bocejo.
— Você tem onde ficar, Jacob? Tá em hotel ou quer ficar lá em casa? — Edward perguntou, bebendo o último gole da sua cerveja e me olhando de esgueira.
— A agência reservou um quarto em um hotel — ele respondeu e me olhou. Levantei as sobrancelhas depois de alguns segundos em silêncio, porque realmente não fazia ideia do porquê me olhou. — Ah, mas ainda tenho tempo. As fotos são amanhã depois das 3 da tarde só. Você está com pressa, Edward?
— Ah eu. Não, não. Posso ficar mais um pouco, mas a Bella tá cansada — comentou e eu concordei, bocejando novamente.
— Quer que a gente te deixe em casa? É caminho pra casa da Bella, não é?
— Jake você não precisa me deixar em casa — comentei, claramente confusa.
— Onde é seu hotel? — Edward perguntou.
— Perto da Broadway Ave. — Jacob respondeu.
— Ah super contramão. Eu deixo a Bella em casa, nem se preocupa.
— Não, tá de boa, Edward. Faço questão.
— Bobagem, Jacob. Você deve estar cansadão da viagem.
— E você que não deve nem ter desfeito as malas?
— Não é como se eu fosse desfazer agora. Mas eu também preciso pegar umas coisas que deixei na Bella — Edward disse e eu o olhei curiosa.
— É? O que?
— Aquela mochila cinza.
— Ué, mas você falou que eu podia usar pelo período. Tá cheia de coisa. Precisa pra hoje mesmo?
— Ah seria bom.
— Qual é, Edward, você não pode pegar outro dia? — Jacob interviu e eu concordei.
— Até posso, mas ainda assim.
— Relaxa, cara, eu levo a Bella.
— Jake você não—
— Eu insisto.
— Qual é, Jake, a Bella falou que não precisa — Edward disse em um tom conciliatório.
Me percebi assistindo um jogo de pingue-pongue enquanto decidiam qual dos dois me deixariam em casa. Peguei meu Negroni, que já estava começando a esquentar, e sorvi pelo canudo enquanto chamava meu próprio Uber. Os dois ainda passaram os minutos seguintes argumentando porque seriam a pessoa ideal para me deixar em casa. Quando o aplicativo sinalizou a aproximação do motorista, levantei-me da cadeira, dei um beijo no rosto de cada um e desejei boa noite, avisando que o motorista que me levaria já tinha chegado.
Só quando estava há alguns metros de distância, me permiti olhar para trás. Os dois permaneceram sentados à mesa, mas Edward gargalhava, enquanto balançava a cabeça, provavelmente percebendo o quão ridículo foi a situação, e Jacob me observava confuso.
Quando entrei no carro, vi duas notificações de mensagens de texto.
[Jacob]: Foi mal, Bells, achei que você queria voltar comigo porque mencionou me dar o "tour da casa". Achei que tinha ficado óbvio que estava querendo me desfazer do Edward rs
[Edward]: Perdoa o papelão, acho que desaprendi a viver em sociedade. Me avisa quando chegar?
Quando estava em casa, já debaixo das cobertas e pronta para dormir, mandei a mesma mensagem para os dois:
[Bella]: Cheguei viva. Espero que tenham conseguido definir quem ia deixar quem em casa. Adorei a noite. Boa noite e beijinhos.
Nota da autora: vocês já entraram de penetra em um casamento?
