Capítulo 3: A floresta
31 de outubro, 2018
Um dia antes do Dia das Bruxas…
Imagino que eu tenha várias respostas pra dar, então vamos começar do início.
Aos que se perguntam se realmente voltamos pra faculdade juntos no ano seguinte, eu fico feliz de informar que agora eu sou a mais nova veterana de Literatura da Dartmouth!
"Mais nova veterana" é meio confuso, eu sei, mas se isso ajuda a entender, agora estou no fim do penúltimo ano de curso, por isso nova veterana, entenderam? Não? Ah, vai! Foi boa!
Nos dois primeiros anos de Dartmouth eu vivi em um dos dormitórios compartilhados para calouros, mas a partir do início desse ano, Edward me lembrou daquela sugestão — a princípio, de maluco — que ele deu quando passamos nosso último Halloween juntos antes da faculdade.
"Então é melhor começarmos a procurar uma casa só nossa logo" Disse ele.
E foi assim que eu acabei em um apartamento pequeno e aconchegante ao norte de New Hampshire, perto do Campus, junto com ele. E podem crer quando eu digo que ter alguém que você gosta com você dia e noite — mesmo com as toalhas molhadas e meias espalhadas — não é sacrifício nenhum. Nenhum mesmo…
Sem comentários sobre o que meu pai acha disso, por favor. Obrigada.
As luzes da cozinha começaram a piscar de repente e eu encarei o spot central meio contrariada. Me virei pra porta, encarando a silhueta preta que se aproximava e antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa, meu coração acelerou. Edward acendeu as luzes de novo, o rosto analítico enquanto eu hiperventilava — sem motivo nenhum, já que ele costumava fazer isso pra chamar minha atenção —, mas eu ainda não estava totalmente acostumada com as luzes da casa piscando assustadoramente toda hora.
— Deus! Que susto! — Deixei as abóboras de lado. — O que foi?
Ele riu, chegando mais perto e selou os lábios aos meus, tentando me tranquilizar.
"Você viu meu carregador, baby?" Perguntou ele. "Me desculpe, talvez eu não devesse piscar as luzes no Halloween."
— É uma ótima ideia. — Respondi, ironicamente e voltei a mexer nas duas pequenas abóboras em cima da bancada de mármore, retirando as "tampas" dos legumes. — Não vi seu carregador. Não está no escritório?
"Não" Edward balançou a cabeça. "Procurei em todo lugar, mas não acho. Só falta isso pra terminar minhas malas."
— Você não deixou na faculdade? — Puxei meu lado multitarefas pela mãozinha e enquanto tentava dar atenção ao problema dele, peguei meu próprio celular para seguir o próximo passo da receita.
— Amor. — Edward falou. Eu precisei dar toda a atenção pra ele e pra voz mais linda do mundo que aos poucos começava a se mostrar mais que um simples sussurro fraquinho. Abri um sorriso enorme e involuntário. As mãos dele envolveram meu corpo, se entrelaçando atrás da minha cintura e eu fiz o mesmo ao redor do seu pescoço, esquecendo completamente o jantar.
— Diga de novo. — Pedi, ele riu baixinho.
— Vou dizer, um segundo. Você tem certeza que não sabe onde está o carregador? — Seus lábios se cerraram.
— Hm… sim? Eu realmente não faço ideia.
Em resposta, Edward soltou um dos braços de mim e sacudiu a tomada na parede da bancada até que ele estivesse com o cabo branco na mão junto de meu celular. Oh… então era aí que estava.
— Oopsies… — Fiz um biquinho envergonhado e Edward negou com a cabeça, como se repreendesse uma criancinha. — Vai precisar dele agora? Estou fazendo o jantar.
— Não vou. — Ele disse sorridente, prendendo a tomada na parede novamente e me virando entre os braços até que estivesse me pressionando contra a bancada. — Só queria saber onde estava. Precisa de ajuda?
— Ajuda, ajuda mesmo? Ou uma bagunça disfarçada de ajuda? — Murmurei, erguendo a sobrancelha.
— Um pouco dos dois. — Ele sussurrou de volta, roçando os lábios no meu pescoço. Como diabos eu poderia dizer não?
— Tudo bem. Primeiro a ajuda então. Precisamos encher essas belezinhas de purê de batatas, queijo e cogumelos. — Demandei, arrebitando o nariz arrogantemente ao me esquivar dos braços dele. Edward riu, me abraçando por trás, descendo e subindo as mãos por minha barriga. Sinceramente…
— Mhmm, isso parece bom. — Disse e beijou aquele pedacinho de pele abaixo da minha orelha, me fazendo estremecer. — Você também…
— Nós não vamos cozinhar, não é? — Admiti, ciente da derrota. A essa altura eu nem estava mais com fome.
— Não, amor, não vamos. — Ele sussurrou em meu ouvido, então sua mão, ardilosamente, invadiu minha calcinha.
Chegamos em Forks por volta das oito da manhã seguinte. Meu pai e Sue — sua nova namorada — nos esperavam do lado de fora para ajudar a descarregar o Volvo. Corrigindo: Sue esperava para nos ajudar, meu pai só esperava pra encarar meu namorado com aquela cara ameaçadora de quem diz "Eu espero, pro seu bem, que vocês estejam dormindo em quartos separados" mesmo que nem ele acreditasse nisso.
Nós subimos até meu quarto com as duas únicas malas e uma mochila quase vazia. Tudo estava exatamente da forma que eu tinha deixado, tirando os lençóis que estavam lavados, cheirando a lavanda, e o piso de tacos que parecia ter sido encerado recentemente.
— Obrigada, Sue. — Dei um meio sorriso assim que ela deixou uma bandeja com duas canecas de chocolate quente e biscoitos de cenoura na escrivaninha no canto do quarto.
"Obrigado." Edward tocou o queixo, estendendo a mão na direção dela. Sue, do jeito enrolado que conseguiu, apontou para si e puxou o ar como uma concha em direção ao peito.
"De nada." Ela respondeu. Edward ficava extremamente feliz quando as pessoas tentavam se comunicar com ele da forma que, ainda, era a mais prática para si. Eu ficava tão feliz quanto, mas algo me dizia que alguém em particular ensinou aquilo pra ela. Troquei olhares com meu pai, ele com aquela carranca de policial velho e sem sentimentos, desviando pra algum canto no teto do quarto, tentando me despistar.
— Senti, sua falta, pai. — Sorri, abraçando-o e recebi um abraço bruto e quente de volta. Ele sempre teve aquele cheiro de perfume masculino e de terra molhada de chuva. Era bom, me lembrava de casa.
— Então deveria me visitar mais. — Charlie pigarreou, virei um pouquinho pra saber que ele estava olhando pra Edward novamente e pude ouvi-lo engolir forte. Ri descontroladamente, na verdade nem tentei controlar, e voltei pra perto de Edward que me abraçou na mesma hora, como se eu pudesse salvá-lo do revólver do meu pai de algum jeito. — Também senti sua falta, Bells.
— Vamos vir mais vezes no ano que vem, eu prometo. Edward termina a faculdade esse ano, só falta mais um pra eu concluir a minha e estávamos pensando em vir pra Seattle depois disso… ele vai administrar a galeria do tio e eu vou poder dar aula na Pacific ou coisa assim.
Edward e eu nos entreolhamos e recebi o sorrisinho eufórico que quase fechava seus olhos. Ele amava esses planos e como poderia não amar? Não pelo fato de que ele estava prestes a começar a cuidar de uma das galerias de arte mais famosas de Washington e ainda por cima trabalhar com o que mais gostava, mas porque, no meio desses planos, eu estaria com ele.
Meu namorado tinha mais programas pra nós do que eu, pra variar. Sei disso porque ele me contava sobre seus sonhos às vezes. Uma casa grande e aconchegante, ou um apartamento bom como o nosso perto do trabalho, um casamento significativo sem extravagâncias, uma lareira quente cheia de meias na véspera de natal e um cachorro dormindo no pé da cama com a adição de um ou dois filhos; um com os olhos dele e outro com os meus.
Eu procurava não pensar muito do casamento pra cima, porque vendo como as coisas aconteceram pros meus pais, seria bom ver se nossa vida adulta juntos realmente daria certo como queríamos. Eu precisava que desse, porque caso contrário eu não iria conseguir imaginar essas coisas com mais ninguém.
— Hum… — Charlie ergueu as sobrancelhas, contidamente admirado. — Vocês já pensaram em tudo, não é?
"Em tudo e em um pouco mais" Edward respondeu.
Opa…
— Como é, filho? — Charlie franziu a testa, cruzando os braços. — Um pouco mais como?
Arregalei os olhos, os braços de Edward endureceram ao meu redor.
— Pai-
— Vocês devem estar exaustos do voo. Deveriam descansar para não perderem a hora de ir mais tarde. — Sue sorriu pra nós, segurando o braço do meu pai e acenando com a cabeça para que nos desse privacidade.
— Sim. Cansados. Isso. — Edward proferiu as três palavras curtas. Meu pai o olhou com curiosidade.
— Vamos, Charlie. — Ela o puxou pelo braço. — Despeçam-se de nós antes de saírem!
— Pode deixar. — Sorri pra Sue e apenas mexi os lábios na última palavra. — Obrigada.
Salvos pelo gongo.
— Ótimo, agora meu pai deve achar que você quer me engravidar.
Alguns minutos depois que os dois nos deixaram, Edward e eu começamos a encher a mochila com coisas que provavelmente seriam necessárias em um acampamento. Ah, acho que esqueci de mencionar que dessa vez nossos amigos decidiram acampar no Halloween. Sim, de verdade, porque não há maneira melhor de se passar o Dia das Bruxas do que em uma floresta escura, barulhenta, dentro de uma barraca. Edward já não concordava tanto com meu pessimismo. Para ele, estar trancado dentro de uma barraca comigo a noite inteira era lucro.
— Bem… — Começou ele, eu me virei num único movimento, erguendo uma sobrancelha.
— Como?!
"Nada! Desculpe." Edward riu ao negar com as mãos.
— Oh não… você quer, não quer? — Larguei a lata de biscoitos em cima da mesa e gemi.
"Eu estaria mentindo se dissesse que não."
Eu não respondi. Apenas me apoiei no corte de Bordo da escrivaninha e procurei não cair.
— Ei… — Edward extinguiu a distância entre nós dois e segurou meu rosto com as mãos, os olhos um pouco preocupados com minha reação. — Não vamos fazer um filho agora, tudo bem?
Continuei olhando-o, sem conseguir falar. Eu gostava da ideia de ter um filho com ele, mas precisava mesmo ser logo agora?
— Quando eu digo que quero, quero dizer a longo prazo, quando estivermos prontos pra isso. Mas eu quero muito um bebê com você.
— Mas agora não. — Afirmei, meio que perguntando.
— Agora não. — Edward me deu um beijinho gostoso nos lábios. — Ainda temos muita coisa pra fazer antes disso.
— Temos mesmo. — Eu sorri fraquinho e ele sorriu de volta pra mim.
Edward se afastou, andando até minha mala e tirou do bolso lateral uma caixa de papel retangular com uma logomarca conhecida, eu revirei os olhos sentindo minha face esquentar. Ele jogou o pacote de camisinhas dentro da mochila e acenou com a cabeça pra mim.
— Viu? Nada de bebês.
Gargalhei. O foda era que ele me tirava da tensão sendo engraçado sem nem sequer se esforçar pra pensar em algo! Era injusto, quero dizer, Edward colocaria todos os outros homens do mundo no chinelo só com seu humor.
Bom… eu esperava que, seja lá quando isso acontecesse, nossos filhos herdassem o humor dele.
— Então vamos treinar hoje a noite? — Ergui uma sobrancelha sugestivamente e mordisquei meu lábio de forma quase involuntária.
— Ah, vamos, Bella. Vamos mesmo. E amanhã de manhã também.
— Várias vezes? — Sorri.
— Várias. — Ele me deu aquele sorrisinho torto capaz de conquistar a paz mundial.
Prontamente eu voltei pra perto dele e comecei a encher a mochila com outros itens, implorando por umas horinhas de sono antes que saíssemos pra nossa "aventura". Sinceramente, Ellie Fredricksen estaria decepcionada com meu espírito aventureiro.
Chegamos ao Rainforest Retreat às cinco, um pouco depois do horário que marcamos. Edward e eu literalmente despencamos na cama e perdemos a hora, levando mais tempo para nos arrumarmos e despedirmos de meus pais. Por ironia, ninguém tinha chegado ainda também, o que era totalmente previsível visto que se tratava da gangue de adultos adolescentes que nós chamávamos de amigos. Eu deveria ter previsto e poderíamos ficar na cama por mais uns minutinhos.
O parque não era diferente do resto de Forks, sério. Era verde, gelado e tinha cheiro de chuva. As árvores eram tão gigantes que pareciam paredes e a chance de um urso tentar invadir nossas barracas a noite era perto de cem por cento. Mas todos estavam felizes e isso não necessariamente precisava ser conhecido como o massacre do acampamento da península de Olympic. Deveria muito bem ser tão legal e musical quanto o acampamento de verão do Barney e seus amigos, poderíamos até cantar a canção de fazer s'mores.
Emmett estacionou seu Jeep pouco depois de nós na área descampada do parque. Edward estava recostado no capô do Volvo, eu nele e seus braços ao redor da minha cintura quando Rose e o namorado pularam pra fora do 4X4. A barraca fechada, que em pé batia na minha cintura, estava na frente das minhas pernas com minhas mãos em cima de uma das laterais. Edward tinha nossa mochila em um dos ombros e nós dois escutávamos à "Witchcraft" de Frank Sinatra nos earpods, bem baixinho. Era uma das nossas músicas.
— Cause there's no nicer witch than you. — Meu namorado cantarolou em minha orelha, eu senti umas cócegas gostosas e esfreguei nossos narizes.
— Céus! Que milagre, cara! Vocês chegaram antes de todos! — Emmett arrulhou, andando em passos largos ao lado de Rose. Ele segurava tudo que eles trouxeram com os dois braços e ombros sem parecer fazer o mínimo esforço enquanto Rosalie desfilava feito uma modelo revirando seus olhos.
Era piada, né? Só podia ser.
— É pra gente rir da sua cara? — Perguntei ironicamente, Edward gargalhou.
— Não entendi a ironia. — Emmett fez uma careta confusa.
Nós nos soltamos por alguns instantes, o suficiente para que Rose me agarrasse como se não houvesse amanhã e me desse um selinho.
— Caramba, Bells, você me abandonou mesmo, não é? Me diz, como está indo em Dartmouth? Está gostando? Morar junto é tudo isso mesmo?
Eu ri, abrindo a boca pra começar a responder sua enxurrada de perguntas quando Edward soltou-se do abraço do primo e veio com aquela cara de insatisfação pra perto de mim.
— Você poderia, por favor, parar de beijar minha namorada? — Ele disse baixinho pra loira antes de me dar outro beijinho, um tanto quanto mais intenso que o de Rose. Eu via como os olhos de Emmett brilhavam sempre que o primo dizia uma palavra, mesmo que curta.
— Ela era minha namorada antes, otário. Saiba seus limites.
— Tudo bem, então me dê um beijinho também, Edward! — Emmett exigiu se inclinando pra frente e fazendo biquinho.
— Saia já daqui. — Eu o empurrei, rindo, para longe e o primo de meu namorado fez um bico consternado. E ainda era engraçado me referir a Emmett como "o primo do meu namorado" quando, há alguns anos atrás, ele era "o namorado de Rose". — Esse é meu.
Edward assentiu, mordendo o sorriso como quem dizia "Minha mulher está falando, abaixe as orelhas, burro."
— Viu, Emmett? Nem seu primo te quer. Não me amola! — Rosalie arrebitou o nariz e me arrancou dos braços de meu namorado mais uma vez.
— Por Deus, Rosalie. Sei que você está com saudades dela mas Bella ainda é minha! — Ele brincou arregalando os olhos incrédulos.
— Saiba. Seus. Limites, garotão. — Ela rosnou pausadamente. Todos nós gargalhamos e logo eu comecei a responder o zilhão de perguntas que Rosalie tinha sobre as mudanças na minha vida.
Jasper e Alice chegaram minutos depois no Jaguar dele e pra completar a equipe de expedição, Mike, a namorada Jessica e Angela logo atrás na minivan de Tyler, outro colega que, diferente deles, não veio. Eu fiquei feliz por Angela ter vindo, nos conhecíamos desde os seis anos e costumávamos ser melhores amigas — não que não sejamos mais, mas depois da faculdade ficou difícil manter a chama da amizade tão acesa como costumava ser. Mike sempre foi simpático comigo e às vezes eu até senti sua simpatia caminhar pra um interesse maior, mas isso nunca foi de fato verbalizado por ele, então sempre ignorei. Já Jessica era um pouco complexa demais pra mim. Isso é tudo que tenho pra dizer.
A forma com que Edward olhava pra Mike era engraçada, eu tinha que me segurar pra não ter um ataque vendo-o quase explodir a cabeça do menino com a força do olhar. Ele não tinha um pé atrás com Mike, não. Digamos que, usando o sistema solar como exemplo, se Mike estivesse na Terra, o pé de Edward estaria em Netuno.
Por que tudo isso? Bem, em um de nossos Halloweens, Mike veio correndo até mim e pediu para se casar comigo no meio de um jogo de Verdade ou Desafio do qual eu não participei, porque, segundo ele, eu era a pessoa mais bonita que ele conhecia. E fez isso bem na frente de Edward. Eu não preciso nem explicar o porque ele não ia com a cara do garoto Newton e toda vez que estávamos perto demais de Mike, meu namorado ficava há um passo de testar a técnica de fazer xixi em mim para marcar seu território.
Todos decidimos começar nossa caminhada até a área do acampamento antes que ficasse tarde demais para nos perdermos na floresta e, seguindo as instruções do mapa dado pelo parque, chegamos na clareira pouco tempo depois de terminar uma subida exaustiva. Era possível ver completamente a costa de La Push do outro lado da cordilheira e era simplesmente lindo. Lindo. Eu poderia ficar dias ali assistindo a água bater nas pedras, ouvindo o som do mar tentando se acalmar e apenas ficando mais agitado a cada momento, se perdendo no céu acinzentado em uma linha horizontal que só se provava estar ali ao nascer e pôr do sol, quando a bola de fogo precisava fazer sua travessia. E por falar em pôr do sol, o grandalhão estava quase lá.
No caso o sol, e não Emmett.
— Jasper, você tem que me segurar se não não consigo suspender a clarabóia! — Alice dava seu chilique. Jasper estava mais preocupado em colocar suas bolsas dentro da barraca deles antes que os guaxinins decidissem nos fazer uma visitinha.
— Onde é que eu encaixo isso? — Emmett perguntava, segurando uma haste de alumínio. Rosalie lia as instruções de montagem da barraca, mas quanto mais ela virava o manual, mais eu percebia o quanto ela não entendia caralhos do que estava sendo ensinado.
— Eu acho que é nesse negócio de três pontas aqui… — Ela levantou uma das peças, dando a Emmett e ele a olhou incrédulo, porque a entrada do encaixe nem sequer tinha o mesmo formato.
Já Edward e eu ficamos encarando o rolo em que a barraca estava dobrada por uns quinze minutos, como se nos concentrássemos na tarefa que seria árdua e minuciosa, procurando sintonia. Nós sentamos sobre o forro aberto por algum tempo, eu lendo o manual de instruções e ele separando as peças que eu sinalizava, me beijando em cada intervalo, porque o amor vence tudo, inclusive uma discussão sobre uma barraca boba.
"Pronta?" Perguntou ele.
— Vamos nessa. — Eu respondi determinada, dando um sorriso sapeca. A própria filha do Dominic Toretto em Velozes e Furiosos.
Ah, e sobre isso, terminamos de montar a nossa antes de todo o resto e em pouco tempo nossas coisas estavam acomodadas do lado de dentro.
Edward abriu o saco de dormir tamanho casal sobre o foro da barraca e jogou uns quatro edredons à vácuo que eu fui simplesmente enfiando dentro da mochila mais cedo.
"Quanto mais fofinho melhor" eu disse, antes dele coçar a nuca e se jogar na cama assustado. Aposto que na hora de dormir, ele iria concordar com minha obsessão.
— Vamos ficar aqui. — Ele pediu, entre minhas pernas enquanto beijava meu rosto. — Por favor, tá frio pra caralho lá fora.
— Não. Não seja frouxo. — Eu me contorci, rindo ao sentir cócegas irradiarem pelos nervos do meu corpo assim que ele alcançou meu pescoço.
— Por favor, amor. — Ele mordeu a pele, envolvendo minhas coxas com as mãos. — Aqui é tão quente, você tá tão quentinha.
— Eu estou com fomeeee! — Resmunguei, choramingando quando ele subiu as mãos por baixo do moletom da Dartmouth gigante que eu vestia. Eu disse que conseguiria um, só não pensei que seria tão fácil assim roubá-lo. — Sabe o que acontece quando eu estou com fome, não é?
Ele cessou sua expedição pelo meu corpo e retesou ao me olhar nos olhos. Sua cabeça mexeu em afirmação. Ah, ele com certeza sabia.
— Você fica maluca. — Ele sussurrou, tentando morder meu lábio, e eu o estapeei, empurrando-o para longe.
— O que é que acontece quando eu fico com fome, Edward? — Eu perguntei novamente, cética, forçando-o a responder da forma que eu queria.
— Fica de mau humor.
— E o que mais?
— E nada de sexo.
— Aha!
— Você tem noção de que isso são maus-tratos, sim?
— Larga de ser dramático. Saímos só pra comer e aí voltamos. — Segurei o rosto dele entre as mãos e selei nossos lábios carinhosamente.
— Mais um. — Pediu e eu dei. Edward apertou minha cintura com força. — Mais.
— Chega! — Sussurrei como se estivesse gritando e o joguei ao meu lado na barraca, montando seu colo antes de levantar. — Vem, vamos. Antes que Emmett acabe com tudo.
Choramingando, Edward me escalou com as mãos e abriu a barraca. Saímos juntos dela.
Estavam todos reunidos ao redor da fogueira no meio da clareira, próxima o suficiente das barracas para nos aquecer, mas não para queimar todos vivos — não que fôssemos ter problemas pra ficar quentes, verdade seja dita. Jasper estava sentado com Alice escorada em seus ombros e segurando um violão em que dedilhava uma melodia, não parecia ser nada específico. Emmett estava com Rose no colo, devorando um pacote de Crunch sem se preocupar em oferecer. Mike e Jessica estavam do outro lado, brigando de verdade por um marshmallow e Angela assistia a cena com o tédio tatuado na testa. Edward e eu nos sentamos no único lugar vago da roda e eu me acomodei entre as pernas dele. Seus braços me envolveram por trás quando me inclinei contra seu peito e nossos dedos se entrelaçaram.
— Aqui tá quentinho também. — Sussurrei pra ele.
— Eu quero outro tipo de quentinho. — Ele resmungou baixinho.
— Tarado. — Torci o nariz.
— Isso se chama amor.
Nós dois nos encaramos ironicamente por um tempão e então rimos dentro da nossa bolha, trocando um ou dois beijos.
— Eu vou tocar, Jessica. Pare de pedir, eu já ouvi! — Jasper respondeu meio irritado aos oito minutos de insistência desnecessária da namorada de Mike para que ele tocasse "Come Little Children" . Edward me cutucou na barriga pra que eu prestasse atenção na troca de alfinetes entre os dois, porque não bastava ser bom em tudo, mas meu namorado também tinha o espírito de uma velhinha fofoqueira vivendo nele.
— Vai mesmo tocar essa merda enquanto estamos no meio da floresta na noite do Dia das Bruxas? — Emmett perguntou.
— Está com medo, gorilão? — Jasper perguntou.
— Eu não! Eu hein! — Ele estava seguro de si, pelo menos até o momento em que Jasper começou a dedilhar o violão no ritmo da música e ele se agarrou ao pescoço de Rosalie como uma criança aterrorizada.
Alice começou cantando o primeiro refrão da música que só tinha refrões — com sua voz tilintante de sinos, fina e hipnótica — e a partir do segundo, todos nós acompanhamos ela como verdadeiras crianças enfeitiçadas seguindo uma bruxa graciosa e bonita pelas florestas de Salem. Jazz terminou a música com um suave dedilhar, sem nenhum daqueles acordes ridículos de ouvir que guitarristas costumam achar legais e todos nós ficamos mudos, deixando espaço para o cricrilar dos grilos. Uma coruja piou dentro da mata no silêncio da noite, gravemente. O som reverberou entre os troncos largos das árvores sibilantes até que chegasse aos nossos ouvidos e o frio atingiu meu estômago.
— Acho que é hora pra algumas histórias de terror. — Mike disse, a voz ruidosamente assustadora enquanto uma lanterna que eu não sei de onde diabos ele tirou o iluminava debaixo pra cima, distorcendo suas feições. Atrás de mim, Edward negou com a cabeça e me apertou entre os braços enquanto todo o resto — tirando o cagão do Emm — parecia se animar com a ideia.
Eu não culpava Emmett. Aquela também não era minha ideia favorita.
— Vamos entrar? — Edward sussurrou em minha orelha e eu me virei, agarrando-me em seu pescoço de uma forma estranhamente confortável.
— Vamos. — Respondi.
— Ah, vocês não vão embora não, não é? — Rosalie fez bico.
— Eles nem disseram nada. — Jessica fez uma careta.
— É, mas eu conheço as peças e sei o que significa quando os dois entram nesse mundinho aí só deles. — Ela cruzou os braços. — Bells, nem comemos os s'mores de pão de abóbora ainda!
— E nenhum urso apareceu até agora, então… — Emmett completou.
— Só mais um pouquinho, vai! — Mike pediu.
— Aliás, que tipo de coisa entediante vocês vão fazer indo para barraca tão cedo? Não são nem duas da manhã ainda! — Alice chiou, inconformada com os pequenos braços cruzados. Todos olharam para ela preocupados com sua inocência. Até eu, viu?
Edward ergueu uma sobrancelha, insinuando com todas as letras a palavra "sexo".
— Ah! — Ela arregalou os olhos e todos caíram da gargalhada.
— Sem risadas! Vocês vão acabar com o clima sombrio da sessão de histórias! — Mike mandou, feito aquela criança chata que todo jardim de infância tem e que se acha a líder do grupo.
— Fiquem. Só uma história. — Angela sorriu pra mim.
— Eu realmente quero entrar, Bella. — Edward respondeu, só eu fui capaz de ouvir, mas mesmo assim senti algo no tom dele. Incômodo, eu acho. Não gostei nada daquilo, mas não poderia dizer que entendi, também. — Por favor.
Olhei pra todos os cachorrinhos caídos do caminhão de mudança na minha frente, quase esbugalhando os olhos pidões pra fora e então olhei pro meu cachorrinho. Ele não tinha o mesmo semblante, pelo contrário, parecia preocupado.
— Só uma historinha? — Pedi, fazendo beicinho. — Você está bem?
Edward ficou me olhando sem dizer nada por longos instantes, então fechou os olhos bem forte e assentiu. Eu queria saber quais foram os pensamentos que ele espantou.
— Andem logo, tô com pressa. — Balancei a mão, como uma rainha entediada e revirei os olhos. Todos comemoraram bem alto.
Pra mim, ali ficou claro que eles realmente estavam querendo convidar os ursos pra festa, porque não era possível!
— Quem vai com… — Rose começou, mas Mike a interrompeu.
— Edward! Quer começar? — Ele sorriu largamente.
Olhei pra Edward, que não deu a mínima pras minhas carícias em seus dedos e apenas encarou pra Mike, mudo, sem nem piscar. Será que aquilo era crise de ausência? Eu já podia começar o RCP?
— Ah… — Mike murmurou. — Desculpe… eu me esqueci que você não pode… — Eu o encarei, incrédula. Ele balançou as mãos, desesperado para se justificar e a última coisa que eu ouvi foram os molares de Edward trincarem próximos ao meu ouvido. Ele se levantou, me deixando ali, e deu passos calmos para fora do acampamento e da vista de todos nós.
— Bella… me desculpe. Mesmo. — Eu apenas levantei a mão na direção de Mike, balançando a cabeça com desgosto. Eu nem queria olhar na cara dele, tenha sido proposital ou não. Quando se ama, você entende que não importa muito as reais morais de alguém quando isso se trata de machucar o alvo de seu cuidado. Sabe aquela frase "O inferno está cheio de boas intenções"? Pois bem, ela se torna uma amigona.
Não levei muito pra sair atrás de Edward, deixando como os únicos sons além de meus passos, os estalos da fogueira enquanto o fogo laranja subia em direção ao céu. Ninguém deu um pio, nem a coruja.
Quando me dei conta de onde eu estava, por onde eu andava, meu corpo congelou. Era escuro. Pra. Caralho. Não havia nem justificativa pra ser tão frio daquele jeito, nem estávamos no Natal! Era sombrio, uivante e aterrador, e eu podia sentir os pequenos animais que ali viviam me espreitando pelos cascos das árvores ou por seja lá onde eles estivessem escondidos.
— Edward? — Eu precisava gritar pra que ele me ouvisse, sei disso, não sou idiota, mas simplesmente não consegui. E se quem ouvisse não fosse Edward? E se fosse, sei lá, o cara do Texas Massacre? Deus me livre! Não, nem fodendo! Nada de gritar!
— Edward?! — Eu sussurrei um pouco mais alto e algo tocou minha cintura por trás. Eu virei num salto e soltei um gritinho fino.
— Por Deus, amor. Calma! — Ele murmurou antes de segurar meu rosto. — Sou eu!
— Que susto, cacete! — Estapeei ele.
— Por que me seguiu?
— Ah, eu sei la. Deve ser porque você achou interessante fazer um tour noturno no meio da floresta! — Debochei.
— E aí você me segue?
— Sim? — Cruzei os braços, irritada. — Você teria me deixado sozinha aqui?
— É claro que não. Que tipo de pergunta é essa? — Ele franziu o cenho.
— A mesma que você tá me fazendo!
— Eu só… eu disse que queria ter voltado pra barraca.
— Ele não fez de propósito, Edward. E…
— Por que está defendendo ele? — Edward cruzou os braços no peito.
— Me deixe terminar. — Segurei a camiseta dele e acabei pisando em um galho ao meu aproximar, a madeira fez um estalo na mesma hora. Em questão de um segundo eu estava enrolando no que antes eram seus braços cruzados, aterrorizada. — Oh, Céus. Podemos terminar nossa conversa na barraca?
— Ninguém vai te machucar, Bella. Eu tô aqui. O que você estava dizendo?
— Eu ia dizer que, mesmo que a gracinha dele tenha sido proposital, nós podíamos ter resolvido aquilo. Você poderia ter me dito, eu traduziria pra você e você poderia…
— Bella, essa não é a droga do problema!
— Eu sei que você está chateado, amor.
— Sim, eu estou. Mas não com Mike. — Edward grunhiu e eu me afastei um pouco para conseguir olhá-lo. — Ele é um otário, mas isso só me lembra de tudo que eu não posso fazer.
— O que quer dizer? — Balancei a cabeça, confusa.
— Eu não tenho voz. Eu não consigo falar…
— Você está falando comigo agora. — Toquei o rosto dele, tentando fazer com que me olhasse.
— Bella, eu não falo desde os meus dezoito anos. Não de verdade. Eu não tenho conseguido me expressar direito desde que saí da adolescência e você não enxerga o quanto isso me machuca porque desde que nos conhecemos eu tenho tentado ser tudo que eu me lembrava de ter sido um dia, mas isso não serve de nada quando eu não posso falar mais de três palavras em voz alta… eu não posso nem contar uma história de terror ridícula!
— Edward…
— E sabe o porquê disso me incomodar tanto agora?
Não respondi. Só continuei atenta, esperando a resposta.
— Porque eu tenho todos esses planos pra nós e eu nem sei como vou conseguir dizer meus votos no altar. Você já pensou nisso?
Os olhos de Edward se encheram de lágrimas e eu descobri que um coração podia se estilhaçar com palavras. Não só o dele parecia assim, como o meu havia acabado de se tornar.
— Eu não pensei.
— E quando tivermos filhos? Como é que eu posso gritar por eles na hora do jantar se eu nem sou capaz de dizer seus nomes completos em voz alta?
— Pare com isso. Pare de pensar nisso. — Eu havia cansado de ouvir aquilo. Cansado de sentir o peso que as palavras dele causavam em si mesmo. Cansado de escutá-lo praticamente dizer que não era o suficiente pra me dar a vida que planejávamos ter juntos.
— Não diga que eu estou melhorando.
— Você está, Edward.
— Eu estou há anos assim e não sei em que ponto essa melhora vai decidir parar de acontecer. É um inferno, Bella.
— Será que dá pra parar de falar? — Me repreendi assim que eu disse aquilo. Mais uma vez não pensei antes de falar algo e dessa vez não ouvi nenhuma risada dele. Muito boa, Isabella.
— É o que eu faço de melhor. — Ele cuspiu, amargamente.
— Me escute, amor. — Ambas as minhas mãos seguravam o rosto de Edward agora. Meus dedos acariciavam suas bochechas, se arrastando pelos pelinhos curtos de uma barba crescendo e ele me olhava com aquela expressão dolorida e desesperançosa. Colei nossas testas, beijando seu nariz e então lábios, e suas mãos se entrelaçaram atrás da minha cintura. — Tudo vai ficar bem… — Murmurei. — Eu sei que você ainda tem muito pra gritar, e sei que se isso não for possível, não importa. Nós nos entendemos muito melhor do que palavras explicam, Edward. Se os nossos votos tiverem que ser telepáticos, serão. Não importa. E eu tenho certeza que nossos filhos não vão precisar de duas pessoas gritando em casa, principalmente porque eu já faço isso por nós dois. Não importa. Me ouviu bem?
Ele assentiu. Pude ver dentro dos seus olhos uma criancinha alegre correndo, gritando e pulando por um gramado vasto, a criancinha que Edward reprimia com o medo do futuro. Do lado de fora, com os olhos cheios de lágrimas e um biquinho que aos poucos se desfazia em algo mais sério, eu via o adolescente que teve sua voz roubada. Eu queria dizer que eu o ouvia sempre, que a voz com a qual ele me fez sentir tudo que eu senti por todos aqueles anos era a mais alta e clara que meu coração já escutou. Não importava, realmente, o quanto Edward falasse ou deixasse de falar. A alma dele tinha a voz mais tocante que a minha já ouviu.
— Eu te amo. — Ele disse, ainda sério.
— E eu te amo. — Respondi, esfregando nossos narizes, um clássico beijinho de esquimós. — Isso é tudo que importa.
Ficamos ali, nos encarando, trocando carinhos, encostados no tronco largo de um pinheiro, dentro de nosso próprio mundo particular. Não haviam mais perigos naquela floresta que me assustassem, não ali nos braços dele. Eu estava pronta pra pedir que voltássemos a nossa tenda e começássemos a fazer amor loucamente como combinamos, quando Edward foi mais rápido do que eu. Meu corpo inteirinho endureceu.
— Case comigo, Bella.
Que.
QUE.
Encarei Edward, ainda sério como há minutos atrás, e os olhos dele atravessaram o fundo dos meus, enxergando meu interior. Eu estava tremendo. Tremendo com uma brincadeira. Patética, Isabella.
— Ha-ha. Muito engraçado. — Ri, tentando entrar na onda e não me irritar facilmente. — Vem, vamos voltar.
Tentei arrastá-lo pra longe dali, em direção ao acampamento, mas Edward apenas me recolheu de volta em seus braços com outro puxão. O semblante ainda sério.
Ok, porra. Já pode parar, tá me assustando.
— Case comigo. — Ele pediu novamente. Um sorrisinho sutilmente surgindo nos cantos de seus lábios.
— Isso não tem graça, Edward.
— Não é pra ter. — Ele respondeu. — Eu quero me casar com você.
— Não! — Ofeguei, aturdida. — Você surtou?!
— Eu vou perguntar de novo. — Ele riu, me puxando de volta pro abraço quando tentei me soltar. Pouco a pouco, minha respiração normalizou. Edward acariciou minhas costas e fitou meus lábios antes de beijá-los. O mesmo olhar foi conectado com o meu e com o ar quase não saindo de sua garganta, ele repetiu: — Case comigo, Bella.
— Não. — Respondi, sem força alguma.
— Jesus, será que dá pra parar de dizer não? — Ele resmungou, eu quis rir mas meu corpo não estava correspondendo às minhas vontades. Acho que eu nem me mexia. — Tá destruindo meu ego!
— Você ficou maluco… não tem outra explicação.
— Eu sou maluco por você.
Meu coração tamborilou dentro do peito. Eu quase podia ouvi-lo gritar pro meu cérebro "Diga que sim logo, cacete! Não é só você que está em jogo aqui!"
— Case comigo.
Eu não respondi. Edward segurou meu rosto, juntando nossas testas e acariciando minhas bochechas.
— Eu te amo. Case comigo.
"Okay", pensei.
— Okay.
Nem sei bem dizer em que momento chegamos nas barracas, porque o caminho inteiro eu fui conduzida às cegas pelos beijos do meu namorado… noivo. É, vou precisar me acostumar com isso. Felizmente Rose não tinha o mínimo pudor pra gemer e isso nos guiou de volta, fiquei até um pouco preocupada com a possibilidade de Emmett a estar matando dentro da barraca.
Do lado de fora, Alice e Jasper eram os únicos que ainda nos esperavam. Estavam abraçados, Jasper brincando com o pequenino nariz de Alice enquanto ela sorria. Eu sabia como era me sentir da forma que ela parecia sentir. Estar apaixonada. Sabia perfeitamente.
— Aí, amém! Estão vivos! — Alice disse colocando a mão no peito.
— Não foram dormir? — Perguntei, rindo. Os braços de Edward estavam presos ao redor de minha cintura enquanto ele beijava meu rosto, tentando dividir sua atenção entre mim e nossos amigos.
— Mas é claro que não! — Ela respondeu.
— Não pudemos segurar os coelhos por muito tempo, foi mal. — Jasper fez uma careta, cutucando um ouvido no mesmo instante em que Rosalie quase gritou de dentro da barraca. Puta merda, que energia.
— Por isso não vou te perdoar. — Eu fiz uma careta e todos rimos juntos. Edward sinalizou com a cabeça para nossa tenda, para que continuássemos de onde nós paramos e eu assenti. Nos despedimos dos dois mas, antes que pudéssemos seguir, Alice nos interrompeu.
— Ei, Edward! — Ela o chamou. Edward se virou para ela, as sobrancelhas arqueadas esperando.
— Você está bem? — Sua carinha preocupada era adorável. Ele sorriu pra ela, assentindo com a cabeça. Como não estaria, afinal? Eu também ficaria nas nuvens de saber que meti uma aliança — ainda imaginária — no meu dedo. — Mesmo? Ok.
Ela ergueu a mão, dois dedos abaixados enquanto apenas o indicador, mindinho e polegar ficavam expostos.
"Eu te amo", ela dizia. Edward sorriu, e repetiu o gesto.
"Eu te amo" e baixo, no meu ouvido, ele completou: baixinha.
Logo quem estava dentro de uma barraca era eu.
Nos jogamos no saco de dormir arfando enquanto as mãos de Edward subiam por meu souvenir universitário até alcançar meus seios nus, mas ele não os apertou. Enquanto me beijava, Edward roçou os polegares em cada um dos meus mamilos até que ambos estivessem inchados e duros contra seus dedos. Eu gemi baixinho tentando me controlar, o que não foi difícil já que toda aquela atmosfera me deixava muito calma.
A tenda era aconchegante, e por sua fina cobertura de tactel eu conseguia ver a luz alaranjada da fogueira nos iluminando e aquecendo, mas, como eu disse mais cedo, não teríamos problemas para nos aquecer. Edward roçou o sua ereção entre minhas pernas, me deixando ainda mais molhada do que eu havia ficado na floresta, minha calcinha já era um caso perdido à essa altura.
— Tira minha roupa. — Eu pedi, engolindo um ou dois gemidos enquanto ele se esfregava lá embaixo.
— Quietinha… — Ele respondeu, e em pouco tempo minhas leggings haviam sumido, assim como o zíper dele estava aberto agora. Seu pau quase atravessava a boxer, tentando apontar diretamente para mim.
Edward esfregou os dedos em minha buceta encharcada, arfando assim que sentiu o calor e a umidade encontrarem sua pele. Quando me dei conta, minha mão já estava dentro de sua cueca, apertando seu pau, massageando-o a ponto de fazê-lo pulsar.
O resto de nossas roupas sumiram e no lugar, metade de um lençol nos cobriu, mas não o suficiente para que eu não pudesse apertar a bunda dele, puxando-o mais pra perto. Edward deu uma risada, esfregando as extremidades de nossos narizes.
— O que foi, hein? — Perguntei, rindo também.
— Você é tão obcecada pela minha bunda quanto eu sou pela sua. — Meu namorado sussurrou.
Noivo, droga.
— Eu não diria obcecada. Sou uma grande apreciadora, sim.
— Pois eu sou. — Ele rosnou assim que ergui meu quadril, massageando minha entrada com seu membro pulsante. Edward me empurrou pra baixo e praticamente me espremeu sob o corpo, friccionando mais ainda sua extensão em minha buceta. — Sou obcecado por você inteira.
— É mesmo? — Soltei um gemido que foi prontamente engolido pelos lábios dele.
— Sim. — Edward assentiu. Sua mão entrou entre nós e logo seu pau estava pincelando do meu montinho de prazer até a entrada úmida onde ele deveria entrar. — No momento estou mais obcecado com a ideia de me enterrar bem fundo em você.
— Então faça isso. — Choraminguei, feito um gatinho com fome. — Esqueça as camisinhas, não precisamos delas. Só entre.
Edward arregalou levemente os olhos pra mim e eu soube por aquele vislumbre incrédulo que ele achava que eu estava brincando, ou alucinando. Talvez até que a emissão de gases da fogueira tenha me deixado chapada.
— Não brinque com isso.
— Não estou brincando.
— Amor…
— Eu quero você dentro de mim, sem nada entre nós.
Edward grunhiu, atacando meus lábios, um dos seus cotovelos ao lado da minha cabeça enquanto seus dedos acariciavam minhas mechas de cabelo, o outro braço, por baixo da minha cintura, apertando a região. Tudo contribuía para que o ar entre nós ficasse cada vez mais quente e o espaço cada vez mais inexistente.
Sem o mínimo esforço, ele deslizou para dentro de mim, arrancando um gemido mudo e longo da minha garganta. Droga, droga, droga, eu nunca me cansaria daquilo, nunca. Edward escondeu o rosto na curva de meu pescoço, não se contendo tanto ao gemer, e seu murmúrio grave vibrou por meu corpo, fazendo com que minha intimidade se contraísse, prendendo-o dentro de mim.
— Porra… — Ele ofegou, me beijando antes de começar a se movimentar. Naquela noite, não fodemos forte, duro e rápido. Na verdade, não havia nada de apressado em nossos movimentos ou vontades. Edward fez o que disse que faria e se enterrou profundamente dentro de mim, estocando com intensidade, mas não uma necessária pra me machucar. Com calma.
Ele rebolava pra dentro, lentamente, inclinando o quadril sempre que estava totalmente enfiado, provocando uma nova onda de sensações a cada investida, esfregando bem onde o ápice da minha excitação ficava no meu interior. Meus olhos reviraram nas órbitas quando eu alcancei meu primeiro orgasmo naquela madrugada, mas ele não parou por aí e eu não reclamei. Não queria descansar.
Os olhos de Edward não deixaram os meus por um segundo sequer. Somente quando ele estava quase gozando, sem controle dos próprios espasmos, suas pálpebras se fechavam com força, me enchendo com o líquido quente, eu os perdia. Tirando isso, sua atenção era completamente minha.
— Eu te amo. — Ele disse, ofegante, contra meus lábios ainda mais ofegantes enquanto estocava lentamente de fora pra dentro. — Eu te amo tanto, tanto, tanto.
— Shhh… — Eu segurei o rosto dele, roçando nossos lábios e gemi dentro de sua boca. — Eu te amo.
— Eu vou me casar com você, sabia disso? — Edward sussurrou, enquanto latejava dentro de mim pela quarta vez contada. — Vou me casar com você, Isabella Marie. E vou te fazer a mulher mais feliz do mundo inteiro.
— Eu já sou essa mulher. — Eu sussurrei, sem fôlego. — Eu e ela dividimos uma vida desde o dia em que você pôs os pés naquele parque.
Eu senti as lágrimas se formarem em meus olhos, mas meu orgasmo me impediu fortemente de deixá-las cair. Gemi um pouco mais alto, abafando o som com toda a minha força de vontade, estrangulando meu prazer, antes de meu corpo inteiro começar a tremer embaixo do dele.
Dentro daquela floresta, no dia mais aterrador do ano, onde o código mandava que bruxas voassem em suas vassouras, lobisomens uivassem para a lua cheia e almas caminhassem sobre a terra junto dos vivos, as nossas se encontraram. E qualquer que seja a substância das almas, a minha e a dele são feitas da mesma coisa.
E foi aí que me dei conta.
Edward e eu começamos no Halloween. Tudo que éramos se devia ao fato de que, naquele Dia das Bruxas, eu me tornei o amor de Halloween dele. O amor sazonal que não aguentou viver limitadamente, que precisou de mais, que se transformou em algo muito maior do que esperávamos que seria quando entramos naquele barquinho juntos em direção à Fábrica de Chocolates. E agora nós estávamos começando de novo, um novo ciclo, uma nova vida, mas ainda no mesmo Dia das Bruxas que tratou de nos juntar.
Talvez o dia trinta e um de outubro realmente fosse meu dia de sorte. Tudo que eu sabia é que estive parada na frente do calendário todos esses anos, enxergando aquela data boba que compreendia um feriado por pura coincidência com indiferença, sem saber, sem ter a mínima noção de que ela mudaria minha vida para sempre.
E com isso, tudo que eu pude pedir enquanto o homem que eu amava estava ali, deitado sobre mim e beijando minha testa como se eu fosse a única coisa que realmente importasse no mundo dele, foi para que tivéssemos todos os Halloweens que o resto de nossas vidas abrigasse. Juntos.
