CAPÍTULO XVII
Assim, quinze minutos mais tarde, Pansy estava junto à porta da sala, ten tando controlar suas emoções. Ela escolheu um vestido verde que era confortável e clássico, dando pouco destaque a sua barriga proeminente. A suave maquiagem disfarça va as linhas de tensão em seu rosto, destacando seus olhos esverdeados e brilhantes.
Embora se sentisse bonita por fora, por dentro, sentia uma certa insegurança. Era sempre difícil para ela estar no meio de outros bruxos porque eles geralmente pensavam o pior dela. Ainda mais sendo quem eram, Weasleys, a quem ela tinha incomodado durante a juventude em Hogwarts.
Tentando criar um pouco de coragem ela respirou fundo e ia entrar quando ouviu uma voz vinda da sala.
- Como Harry sabe que o bebê é dele? Isso é o que não entendo. Você conhece Harry e seus princípios morais. Ela é, decerto, apenas uma oportunista. Lembra-se dela em Hogwarts?
- Ginny! - Veio a resposta sibilante. - Es pero que nem sonhe em dizer algo assim na frente de Harry.
- Talvez alguém devesse. Ele esqueceu que ela é uma maldita sonserina, que infernizou nossa vida em Hogwarts por anos? Além disso, comentam no Ministério que ela dormia com o chefe, então sabe lá com quantos homens ela dormiu e quem é o verdadeiro pai.
- Sabe como são as fofocas Ginny, isso pode ser apenas isso.
- Duvido. Falarei com Harry para por algum juízo na cabeça dele.
- Por que se importa tanto Ginny? Você deixou Harry, agora deixei-o viver sua vida.
- Você sabe que eu o amo Rony, sempre amei, que o que eu queria era um tempo a mais para continuar jogando, o que não seria possível com Harry porque ele já queria uma família.
- Mas isso não a impediu de ficar com outras pessoas, você tem um namorado agora.
- Terminamos, e eu quero Harry de volta.
- Creio que não será possível. Além disso, você está pronta para uma família agora? Porque acredito que isso ainda é o que Harry quer.
- Sim eu faço. Se é o que ele quer, eu estou de acordo. Agora porque você pensa que não vai acontecer? Por causa da vagabunda grávida? Assim que Harry fizer o teste de paternidade e descobrir que o filho não é dele, tudo isso ficará para trás. Tenho certeza de que ficaremos juntos.
- Não posso crer que você está pensando nisso. Melhor tirar essas ideias da cabeça Ginny, não vai acontecer.
- Isso nós veremos. Farei Harry enxergar a verdade, que eu sou a mulher da vida dele e que devemos ficar juntos.
Pansy escutou a porta da frente ser fechada e viu Harry entrar por ela. Ele a encarou, caminhando até ela, e ela sentiu que suas pernas fraquejaram. Não poderia aguentar isso por muito tempo. Mas então, seu orgulho sonserino veio em seu socorro. Não per mitiria, de maneira alguma, que aquela mulher afastasse seu filho do pai. Com os olhos faiscantes, passou a mão pelos cabelos e entrou junto com Harry.
Ginny e um homem ruivo, que ela lembrou ser Rony, es tavam sentados no sofá. Pansy olhou para eles de relance e, então, concentrou a atenção em Harry, que foi alimentar o fogo da lareira. Todos a olharam, curiosos.
- Você ainda não conheceu Rony, não é, Pansy? - Harry quebrou o silêncio.
- É claro que ela se lembra dele de Hogwarts, Harry. – Ginny comentara azeda.
Não havia traços do antagonismo de Ginny na expressão afável de Rony, que se levantou com uma das mãos estendida.
- Olá, Pansy. Eu poderia dizer que Harry me falou muito sobre você, mas, conhecendo-o, deve saber que eu estaria mentindo. Ele é fechado como uma concha sobre determinados assuntos, mas recordo de você de Hogwarts - Olhou para o ami go, sorrindo. - Parece ter resistido muito bem à viagem. Espero que não se ofenda se eu disser que dá um novo significado à palavra "radiante".
- Ela não se ofenderá, mas eu, sim, Casanova, e acredito que Hermione também. - observou Harry, com secura. - Sente-se, Pansy! Lembre-se do que o médico disse: não fique em pé, se puder se sentar, e não fique sentada, se puder se deitar.
- Foi um conselho como esse que a levou ao estado em que se encontra agora, não é? – Ginny comentou amarga.
O irmão de Ginny lançou-lhe um olhar fulminante e sorriu, constrangido, na direção de Pansy, que ignorou o comentário mordaz.
- Sente-se aqui, Pansy. - Com gentileza, Harry conduziu-a a uma enorme poltrona. Era impossível dizer o que ele estava pensando. - Ela não chegou a este "estado" sozinha, Ginny.
Os olhos verdes não se suavizaram ao perceber que a jovem estava sem graça. A mensagem que transmitira fora clara: assumira a criança e não queria comentários sobre isso.
Pansy notou que conquistara uma inimiga. A sensação não era nem um pouco agradável, mas ela estava acostumada a isso. No entanto, para sua surpresa, o resto da noite não foi tão horrível quanto imaginara. Ginny não fez mais ne nhum comentário ferino e disfarçou o desconforto que a presença de Pansy lhe causava.
- Foi você quem fez o jantar? Não sabia que você cozinhava - observou Pansy, enquanto Harry tirava a mesa.
- Sei fazer o trivial, mas não me arrisco a tentar algo mais elaborado. Margareth deixou tudo quase pronto.
- Não imaginei que fosse possível usar aquele fogão antiquado que tem na cozinha.
O sorriso de Harry foi de tirar o fôlego.
- Cuidado para que Margareth não ouça seu comentário, Pansy. Ela se recusa a usar algo mais moderno.
Pansy voltou a atenção a Rony.
- Você é auror também, Rony?
- Sim, trabalho com Harry.
- E você ajuda Harry a tomar conta da vinícola?
- Ele é sócio de Harry, são os proprietários. E eu os ajudo – Ginny esclareceu.
- Venho aqui sempre que posso. Embora eu seja sócio, Harry faz questão de estar por aqui por mais tempo, o entusiasmo dele é contagioso. Todos diziam que seria impossível fazer um bom vinho. Esta região sempre produziu vinhos, mas não de primeira qualidade. Harry pretende mudar isso com a tecnologia do novo mundo. Hermione também é uma entusiasta dos vinhos e ela gosta de fazer parte de tudo.
- Tenho certeza de que Pansy não está in teressada em vinicultura - interferiu Ginny, com um sorriso superior.
- Para dizer a verdade, adoraria ouvir mais a respeito - contradisse Pansy. - Harry suge riu que eu me envolvesse com a estratégia de mar keting, no ano que vem. Talvez eu deva fazer uma excursão pela propriedade.
- Eu me encarregarei disso - ofereceu Harry, depressa.
- Estará ocupada demais com os afazeres do mésticos e brincando de mãe para nos dar o apoio profissional de que necessitamos, Pansy. Odiaria obrigá-la a negligenciar suas responsabilidades.
- Se decidir aceitar o projeto, cumprirei minhas obrigações, Ginny.
- Se eu tivesse um filho, gostaria de devotar-me a ele antes de começar a me intrometer em outros assuntos.
- Não seria uma intromissão, uma vez que Harry me ofereceu o emprego.
- Desculpe-me, não queria ofendê-la. - Ginny, mais uma vez, fingiu estar sem graça.
"Aposto que não...", pensou Pansy, sorrindo com doçura.
- Estou certo de que Ginny está apenas preo cupada com seu bem-estar, Pansy.
- Foi você quem me ofereceu o cargo, Harry. Ou não estava falando sério?
- Acho que é uma ótima ideia - anunciou Rony. - Assim, os negócios ficarão todos em família.
Ginny bufou com a menção do nome família. Pansy não era família, ela era. Mas antes que ela pudesse fazer algum comentário, um barulho do lado de fora da casa assustou a todos.
- O que foi isso? - perguntou Pansy, com os olhos arregalados.
- As ventanias aqui são muito intensas, às vezes. - Harry levantou-se, calmo. - Deve ter sido aque le telhado precário no celeiro. Eu pretendia trocá-lo antes do inverno. É melhor investigar o estrago.
- Ginny, você fica aqui com Pansy – disse Rony, ao notar que a jovem se levantara.
- Não, eu... – A ruiva começou a protestar.
- Faça como ele disse. – Harry declarou em tom autoritário.
A expressão de Ginny e a relutância com que se sentou revelaram que não gostara da ordem.
- Não é perigoso? - Pansy estava preocu pada, pois o vento parecia intenso.
- Estou comovido com sua preocupação - pro vocou Harry.
- Não seria mais prudente esperar que parasse? - Pansy sentiu um tremor ao imaginar Harry machucado.
- Não se preocupe, Pansy. Cuidarei para que Harry não tome nenhuma atitude heroica. - Rony ajeitou seu sobretudo e sorriu.
- Imagino que ele saiba tomar conta de si próprio. - comentou ela, percebendo que soara mais preocupada do que desejava.
Pansy ficou paralisada quando Harry, de repente, aproximou-se e a beijou, com firmeza, nos lábios.
- Eu sei, mas é bom ter alguém que se importa comigo.
Harry se virou e saiu, seguido de Rony. Pansy ficou perdida, se perguntando o que significava aquilo, o que fora aquele beijo. O que Harry queria dizer com aquele gesto?
- Ele não ama você, sabia? - As palavras ás peras de Ginny trouxeram Pansy de volta à terra.
Ginny andava pela sala, as faces coradas de raiva. O silêncio de Pansy pareceu enfurecê-la mais ainda.
- Harry só se sente responsável por causa do bebê. Você arruinou a vida dele! O que acontecerá quando todos souberem? Pensa que é muito esperta, mas antes que o agarrasse, eu e ele... - Ginny parou de falar, tomada pela emoção.
Não haveria sentido em tentar argumentar na quele momento, decidiu Pansy. Quase sentia pena da jovem, que não conseguia disfarçar seus sentimentos. Além disso, o que Ginny dissera era, em parte, verdade. Não tentara prender Harry, mas, no fim, o resultado era o mesmo.
- Não provoquei esta situação intencionalmente, Ginny.
- Você podia ter tirado a criança!
Pansy encarou-a, trémula e ultrajada.
- Eu jamais faria isso. Quero meu bebê. E, goste você ou não, Harry também o quer.
- Harry não quer você.
Pansy empalideceu, ciente de que não poderia negar aquilo.
- Eu sei que não, mas acredito que ele não a quer também. Até onde me recordo, ele andava com Cho Chang.
- Cho fora apenas uma distração, Harry queria aproveitar um pouco, como fizera com você. - Ginny riu, com desprezo. – Ele está fazendo questão agora porque a situação é uma novidade. Mas se ele quisesse brincar de família feliz com você, a teria pedido em casamento. No entanto, Harry é prático demais para se amarrar a uma aproveitadora!
Pansy se apoiou na parede para não cair, pois as pernas não mais conseguiam susten tar o peso do corpo. Se não estivesse apaixonada por Harry, ou se ele a amasse, aquelas palavras soariam apenas como um desabafo de ciúme. Mas, na situação em que se encontrava, cada flecha envenenada acertava o alvo com destreza.
Naquele momento, Rony e Harry voltaram para a sala.
- Pegue seu casaco, Ginny - disse Rony, ofegante. - Quero voltar para casa antes que uma árvore caída bloqueie a estrada. O vento está cada vez mais forte.
- Não podemos ficar aqui?
Pansy mal ouviu o debate entre os irmãos. Não conseguia desviar o olhar, fixo em Harry e no corte em sua face, que sangrava. Seria sério?
Ainda que não fosse por Ginny, algum dia ele se apaixonaria por uma mulher e, então, o que seria de Pansy? Sua vida estava ligada à dele para sempre.
- Está machucado. - disse Ginny, livrando-se da mão autoritária do irmão e correndo para perto de Harry, com um gesto dramático.
- Não é nada, Ginny. - Harry parecia irritado.
- Tem de cuidar disso. Ginny tem razão. - ar gumentou Pansy.
Não ia se oferecer para ajudá-lo. Sabia que não conseguiria manter as mãos firmes ao tocá-lo, e aquilo trairia seus sentimentos.
- Eu o ajudarei. - ofereceu-se Ginny, o tom de voz dando a entender que qualquer mulher apai xonada deveria estar ansiosa por ajudar seu ho mem. Era óbvio que ela estava ansiosa.
Harry segurou-lhe os pulsos e, com firmeza, virou-a na direção de Rony.
- Faça o que Rony pediu, Ginny. Uma árvore caiu sobre o celeiro, e outras poderão cair. Seria estúpido deixar para partirem mais tarde. Vá para a casa de Rony e fique lá.
Harry era o tipo de homem que conseguia o que queria, e Pansy não ficou surpresa quando os convidados obedeceram de pronto. Assim que se foram, Pansy comentou:
- Ginny ainda está apaixonada por você.
- Ela pensa que está. - corrigiu Harry, com calma, passando os dedos sobre o corte no rosto.
- E tem motivo para isso?
- O que há, Pansy? Está me interrogando? Está com ciúmes? - Estreitou os olhos. - Você se importaria se Ginny e eu fôssemos amantes?
Pansy permaneceu imóvel como uma estátua. Ela empalideceu mais uma vez e sentiu de repente uma tristeza a invadir.
- Não me interessa quem seja sua amante, se ela ou Cho Chang – mentiu, esperando que o tom de voz não a traísse. - Quer que o ajude a arrumar a cozinha?
- Vá para a cama, Pansy. Não infligirei mi nha presença a você nem mais um minuto, se é isso o que a incomoda.
Apesar de estar exausta, Pansy não dormiu. Ficou deitada, os ouvidos atentos a qualquer ruído na casa.
Harry cumpriu sua palavra, e ela nem sequer ouviu quando ele subiu para se deitar.
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