CAPÍTULO XVIII
Margareth era uma senhora viúva de 55 anos. Ela provou ser tão protetora quanto uma mãe dedicada. Estava sempre cercando a Pansy, dando conselhos, preparando refeições e arrumando a casa. Era óbvio que só queria o bem dela e do bebê. Algumas vezes conversavam sobre tudo e caminhavam pelas proximidades da casa, o que diminuía a solidão de Pansy naqueles dias. Pelo menos alguém naquela casa gostava dela.
Desde que chegara, os dias se transformaram em semanas. Pansy sentia a cintura aumentar na mesma proporção que o can saço, e era muito grata à ajuda da governanta. Durante as semanas seguintes à chegada à Fran ça, Harry preocupou-se com o bem-estar de Pansy, como sempre mas, desde aquela primeira noite, não tentara nenhuma aproximação mais íntima. Com o passar do tempo, a distância entre eles ficava cada vez maior. O fato de ela saber que aquilo era para seu próprio bem não diminuía o vazio que sentia no peito.
Para a surpresa de Pansy, Harry se dedicara ao trabalho de transformar um dos aposentos da residência em um lugar per feito para um bebê. Ela não esperava por aquilo. Harry explicou que embora fosse levá-la para Londres quando o bebê estivesse prestes a nascer, ele queria deixar um lugar pronto para o bebê na vinícola. Queria que o filho apreciasse a propriedade e uma das paixões do pai.
Pansy gostou da dedicação e do amor que Harry já demonstrava pela criança ainda não nascida. Mas, enquanto olhava para o quarto, Pansy concluiu que apesar lindo, faltava alguma coisa ali. Na verdade, após muito meditar, Pansy descobriu que tudo era impecável. O que faltava era algo em seu coração: o amor de Harry por ela.
Ela estava apaixonada por ele e, portanto, concluíra, ela o queria como companheiro. Fora difícil admitir isso para si mesma, mas depois de muito pensar, ela enxergou seus verdadeiros sentimentos pelo pai de seu filho.
Quando ficaram juntos a primeira noite fora apenas desejo, mas com o passar do tempo convivendo com ele, ela percebeu que Harry era um bruxo bom, generoso, alegre, trabalhador, amigo. Um homem dedicado ao trabalho, aos que ele considerava família e aos verdadeiros amigos. Ela vira esse lado dele com outras pessoas e lamentava que ele pudesse considerá-la tão pouco, que não pudesse deixá-la ser uma das pessoas que compartilhavam desse lado bom, digna de receber o carinho e a consideração que ele podia dispensar.
- Preparei o quarto ao lado para a enfermeira - avi sou Margareth, ao se aproximar dela – Acredito que na próxima semana ela já deve estar aqui.
- Sim, acredito que esse foi o arranjo de Harry.
- Será que o senhor Potter dividirá um quarto com a senhorita agora que está se aproximando da data final?
- Veremos - disse Pansy, com a voz duvidosa.
A verdade era que Pansy não esperava por aquilo. Não podia imaginar que Harry desejasse dividir o quarto com ela, mesmo que fosse para estar próximo caso acontecesse algo durante a noite.
Pensar nisso fazia Pansy desejar ir embora, mas agora era tarde demais, sua gravidez era avançada e seria excessivamente cansativo fazer a viagem de volta pelos meios tradicionais. Como não queria que soubessem sua condição, ela e Harry vieram para a vinícola no modo trouxa, embora ela suspeitasse que Harry quisesse mantê-la longe de outro homem. Ela só retornaria a Londres no último momento, em uma apartação especial, devido a gravidez. Usar magia antes disso estava fora de cogitação.
Estava perdida em pensamento quando Margareth falou novamente com ela.
- Creio que o Senhor Potter levou a senhorita Weasley para jantar ontem à noite. – a mulher deixou claro pelo tom de voz que desaprovava a atitude do patrão.
- Era aniversário dela, Margareth. - Pansy esboçou um sorriso que indicava que não se importava nem um pouco. - Eu estava cansada de mais para acompanhá-los.
Harry a convidara, mas diante da negação ele não insistira. Na verdade, parecera ali viado quando ela se desculpara por não ir junto. Seriam apenas ele e Ginny, uma vez que o amigo e sócio de Harry, também irmão de Ginny, tinha partido dias atrás para ficar mais perto da esposa. Desde então, eram apenas Harry e Ginny, e Pansy sabia que eles estavam juntos. Pansy vira várias vezes a ruiva beijá-lo nos lábios e ele, apesar de não aprofundar o beijo, também não a repelia. Aquilo doía no coração de Pansy.
- Ele voltou muito tarde.
- Ah, é? Não notei - mentiu Pansy.
A realidade era que ela ficou acordada até de madrugada, tentando ouvir o ba rulho do carro. Eram quase 4 horas quando ela finalmente adormeceu, acordando uma hora depois ao ouvir passos no corredor. Ela espirou pela fechadura e constatou que Harry estava chegando aquela hora, 5 da manhã. Ela não era tola de pensar que eles estiveram apenas conversando e bebendo.
Incomodada com esses pensamentos, ela não conseguiu voltar a dormir. Acabou desistindo e, após se trocar, desceu para o café-da-manhã. Para sua surpresa Harry estava lá, com uma xicara de café preto entre as mãos. Ela reparou que ele ainda usava as roupas com as quais saíra na noite anterior e evitava encará-la. Parecia cansado e claramente estava de ressaca. Pansy não precisava de mais provas para chegar às óbvias conclusões de que ele agora estava com Ginny, ou pelo menos, fazendo sexo com ela. Não era a primeira vez que ele saia com a ruiva e chegava tarde.
- Se vocês dormissem no mesmo quarto, a senhora notaria.
- Não somos um casal, Margareth. Harry é livre para sair com quem quiser.
- Eu sei senhorita, mas eu não entendo. Vocês terão um filho juntos, devem ser uma família.
- Seria o ideal, mas as coisas não são assim. Eu e Harry não temos um envolvimento amoroso.
- Mas eu vejo que a senhorita o ama, e o senhor Potter também sente algo pela senhorita. Só não entendo porque ele insiste em negar.
Pansy encarou surpresa a governanta enquanto ela se afastava, murmurando algo em francês. Pansy não sabia o que dizer, por isso suspirou, aliviada. Era doloroso ser alvo de pena por causa do desprezo de Harry. Era pior ainda ter seus sentimentos desnudados. Ela estava apaixonada e não era correspondida, não precisava que lhe lembrassem disso. Pansy se sentia cansada e não via a hora de voltar para Londres, de se afastar de uma vez de Harry e poder superar essa paixão tola.
Pansy voltou a pensar sobre Ginny. Tinha avistado a ruiva na noite anterior, antes de saírem. Ela estava deslumbrante em um vestido pre to, curto e justo. Uma olhada no espelho foi suficiente para que Pansy compreendesse por que Harry preferia a companhia da outra mulher. Ela se sentia tão feia e infeliz ali. Perguntava-se por que aguentava aquilo.
Podia estar apaixonada por ele, mas não iria mendigar afeto. Harry ficava pouco em casa. Às vezes era como se não pudesse suportar a companhia dela. Então, não havia esperança para eles. Pansy não devia se iludir, seria pior. No máximo teria uma relação cordial com Harry por causa do bebê. Ele sempre escolhia outra mulher no lugar dela. Fora Cho, Ginny, e sabe lá quantas mais que ela não sabia.
Pansy suspirou. Seus pensamentos pare ciam caminhar em círculos, sem encontrar uma solução viável. Harry esteve com Cho depois dela, e ela não sabia o que acontecera entre eles, então, talvez Harry retomasse a relação quando voltassem a Londres. Ou quem sabe agora ele reatasse com Ginny e se casassem de uma vez, porque era claro que ela o queria de volta e Harry era muito próximo da família dela, sem contar que ele passava muito tempo com Ginny enquanto estavam na vinícola. A julgar pela proximidade e o tempo que juntos, estava claro que Pansy estava sobrando ali.
Pansy suspirou sentindo-se uma intrusa. Ela foi até a cômoda e examinou as roupi nhas delicadas arrumadas nas gavetas. Seu filho era o motivo dela estar ali, próxima do pai dele. Harry queria o bebê e queria estar por perto. Mas o que faria quando a criança nascesse? O que Harry esperava? Era incrível, mas não tinha ideia. Eles não tinham conversado sobre isso, aliás, não tinham conversado sobre coisa alguma.
Ela sabia que não poderia ficar com alguém que tinha outra mulher, que só esteve com ela uma vez para satisfazer sua natureza sen sual. Não faria aquilo nem por seu filho. Ela sabia que Harry jamais assumiria algo verdadeiro com ela, porque ele tinha os piores pensamentos a respeito dela, julgava que ela era uma aproveitadora. Será que Harry tentaria impedi-la de partir?
Se eles tivessem se aproximado enquanto ela estava ali, tivessem se tornado ao menos amigos, ela teria contado a ele sobre sua mãe e Prius, teria contado por que ele lhe deixou uma pequena fortuna. Esclareceria com Harry que ela não era a vagabunda que ele pensava e esperaria que ele a tratasse como deveria. Mas ela se perguntava se isso valeria a pena, se mudaria alguma coisa da opinião dele a respeito dela se ele soubesse a verdade. Se mesmo assim ele ainda a tratasse da mesma forma, ela não poderia mais suportar a presença dele.
Tentando espairecer, Pansy foi até o gabinete onde havia papel e tinta para escrever para Luna. Falava quase que diariamente com a amiga pelo telefone, um aparelho trouxa, mas apenas coisas superficiais porque temia que Harry ouvisse. As coisas mais pessoais Pansy escrevia e enviava por carta para a amiga. E atualmente, queria contar-lhe de seus receios, do desejo de partir, da relação de Harry com Ginny, de sua paixão por ele, de sua relação com por Harry e do que faria quando o bebê nascesse.
Meia hora depois Pansy foi até o corujal e encaminhou a carta à amiga. Ela se sentia triste e por isso decidiu se retirar mais cedo. Foi até a cozinha e pediu a Margareth que levasse o jantar no quarto, porque queria descansar.
Assim, quando a governanta levou o jantar, ela perguntou por Harry, apenas para ter certeza de que ele ainda não tinha retornado. Margareth lhe disse que o patrão tinha avisado que chegaria tarde, ela tinha um olhar reprovador enquanto passava a informação.
Pansy imaginava que Harry estava mais uma vez com Ginny. Mas dessa vez ela não ficaria esperando. Se era o que ele queria, nada poderia fazer. Pansy decidiu que tentaria não se importar mais.
Naquela noite ela dormiu cedo sob a necessidade de recuperar a noite anteriormente mal dormida.
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