CAPÍTULO XIX

No dia seguinte, Pansy despertou as 7 horas. Ela calmamente tomou um banho e vestiu uma roupa leve. Apesar de estar um dia fresco, ela estava sentindo-se aquecida. Em seguida desceu para a cozinha.

- Bom dia senhorita! Sente-se que irei servi-la. – Mathilde já estava na ativa.

Pansy fez como a governanta pediu e aguardou.

- O senhor Harry ligou informando que chegará pela hora do almoço. - A mulher informou casualmente.

Pansy encarou a governanta.

- Ele não dormiu em casa? – Ela estava surpresa.

- Não, senhorita. Mas ligou ainda a pouco informando que estará aqui antes do meio-dia.

Pansy não disse nada, mas se sentiu extremamente incomodada, humilhada. Harry já passava muito tempo fora, agora ele nem mesmo dormia em casa. Com certeza ele passava a noite fora, com uma mulher. Provavelmente Ginny, que era quem vinha com ele as vezes no carro quando ele vinha buscar algo na casa. Ela estava sempre cercando Harry.

Margareth a encarava com um olhar indulgente e Pansy sabia o que a mulher estava pensando. Que Harry estava com outra enquanto ela estava sozinha, carregando o filho dele, trancada naquela casa.

Perdendo o apetite, ela apenas tomou um copo de suco e deu uma desculpa à Margareth, caminhando até o andar de cima. Estava decidida a se deitar um pouco e tentar ler alguma coisa para se distrair. No entanto, ela não conseguia se concentrar.

Pansy se revirou um pouco, não encontrando posição confortável. Ela ligou o televisor e buscou por algo que ela encontrasse interessante. Passou alguns minutos olhando o catálogo de filmes e series, quando desistiu. Ela se levantou e foi até o quarto bebê, pretendendo se acalmar, mas passara uma hora inteira, andando de um lado para o outro, inquieta.

Pansy sentia-se estranha naquela manhã. Algo estava diferente, algo indefinível. E não saber o que era a estava deixando incomodada. Era uma ansiedade de expectativa. Ela sabia que algo iria acontecer, mas não conseguia pensar no que. Imaginava que talvez fosse algo relacionado a Harry.

- Senhorita?

Pansy encarou a governanta.

- Qual é o problema, Margareth?

- Jean chegou para me levar para visitar minha sobrinha, e o senhor ainda não se encontra em casa. Liguei e ele não atendeu.

Pansy franziu a testa e olhou para o relógio. Eram 11:00 horas. Harry prometera que voltaria antes do meio-dia. Será que ainda estava com Ginny?

- Não se preocupe, Harry não irá demorar.

- O senhor ficará muito zangado se eu deixar a senhora sozinha.

- Alguns minutos sozinha não farão diferença, Margareth. Pode ficar tranquila que ficarei quieta. Vou me sentar aqui na cadeira de balanço e tentar ler um livro. – Pansy garantiu.

- Tem certeza?

- Pode ir tranquila. Vou continuar ligando para Harry.

Pansy teve uma pequena sensação de vitória ao ver Margareth saindo. Tivera tão poucos minutos de privacidade nas últimas semanas que sentiu-se ali viada por, pela primeira vez, ficar só na casa.

Ela foi até a cozinha, tomou um copo de suco e retornou para o quarto do bebê, onde pegou a bolsa da maternidade e começou a fazer um check-list de tudo o que precisaria para quando chegasse a hora do parto. Ela tinha escolhido as coisas pela internet e solicitado a Luna que enviasse a ela. A amiga, muito prontamente tinha feito o que ela lhe pedira. As encomendas chegavam semanalmente, e consistiam em fraldas, roupas, mamadeiras, produtos de limpeza para bebês, roupas de maternidade, entre outros.

Pansy estava tão distraída, guardando as coisas na bolsa, que não viu o tempo passar. Estava apoiada na cômoda, quando percebeu que a importuna dor nas costas que sentira desde a noite era mais do que um simples incómodo, havia se expandido para o baixo ventre e foi se tornando cada vez mais aguda. "Não pode ser", pensou, balançando a cabeça para tentar afastar a ideia. "Ainda faltam três semanas."

Uma hora mais tarde, após voltar do banheiro, Pansy soube que era para valer, a bolsa havia estourado. Sua roupa intima estava molhada, um pouco de água tinha escorrido por suas pernas. Ela fez um esforço para pôr uma calcinha limpa, e decidiu não trocar o vestido. Ela pegou a bolsa de maternidade recém preparada e desceu, para esperar por Harry, tentando desesperadamente ligar para ele. Harry não atendia.

Pansy passou a falar em voz alta para afastar o pânico que ameaçava se apo derar dela. Estava ansiosa e assustada. Harry ainda não chegara, Margareth também não. E já eram mais de duas da tarde.

- Harry chegará em breve. Todos sabem que o primeiro filho demora bastante para nascer. Ai!

Pansy se apoiou na parede para não cair. O mais acon selhável seria deitar-se, mas estava ansiosa demais para isso. Tentou telefonar, mas Harry continuava sem atender.

- Não vou me desesperar. - Afirmou para si mesma.

Quando a dor passou, Pansy decidiu que não podia mais esperar. Desde que começara, ela tinha monitorado as contrações e viu que elas estavam espaçadas, mas a diferença diminuía a cada vez.

Duas horas desde que a bolsa estourou haviam se passado e ninguém havia chegado. Eram 15 horas! Ela então pensou em ir caminhando pela estrada até encontrar alguém que pudesse ajudá-la e levá-la até a cidade, onde teria um hospital. Não tinha como aparatar, apenas Harry tinha permissão para ativar a lareira e levá-los até o Saint Mungus.

Pansy pegou a bolsa de maternidade, calcou uma chinela confortável e saiu da casa. Ela se pôs a caminhar pela estrada, pedindo a Merlin que pusesse alguém em seu caminho. E enquanto andava, ela fazia paradas. A cada nova contração ela se apoiava em uma cerca, ou uma árvore. Seu coração batia acelerado, seu corpo todo tremia. Ela puxava a respiração, tentando respirar fundo para se acalmar. Mas era muito difícil.

Meia hora de caminhada depois, Pansy avistou um carro, o alívio a percorrendo. Quando se aproximou mais, ela soube que era o carro de Harry. Nesse instante ela sentiu uma nova contração e se apoiou na cerca de madeira na beira da estrada.

- Pansy!

Ela ouviu a porta sendo aberta e os passos apressados de Harry, assim que ele parou o carro.

- O que você está fazendo aqui? Onde está Margareth?

Pansy abriu os olhos, assim que a contração passou.

- Saiu para ir visitar a sobrinha. Você prometeu chegar antes do meio-dia! – Ela o acusou.

- Ela devia ter esperado até que eu voltasse! Do que você precisa?

- Um médico. Acho que está ficando tarde. - Como que para ilustrar o que dissera, Pansy agarrou-se à Harry enquanto outra contração a acometia.

- Está dizendo... Impossível! Ainda não está na hora, Pansy! - Ele suava frio. – Entre no carro, vamos voltar para casa e aparatar no hospital.

A voz de Harry era firme, ele parecia ter se re cuperado um pouco da surpresa. Pansy abriu os olhos.

- Acho que é tarde demais para isso, Harry. Vai nascer logo! - Outra contração, dessa vez, mais forte, a fez gemer de dor. O som, selvagem e primitivo, induziu Harry a agir depressa.

- Está bem, querida. Está tudo bem. Estou aqui agora. – Ele passou as mãos pelas costas dela.

Quando a contração passou, Pansy caminhou quase sem folego até o carro, ela contava com a ajuda de Harry, que a recostou no banco. Ela aproveitou o intervalo temporário entre as dores para tentar relaxar. Pansy fechou os olhos.

Harry retornara para casa porque o hospital trouxa estava longe demais. Seria melhor aparatar. Mais rápido. Ele dirigiu apressadamente, cobrindo todo o caminho que ela tinha percorrido em menos de 5 minutos. Ambos permaneceram em silencio, exceto pelos gemidos de Pansy quando sentiu uma nova contração.

Quando chegaram a casa, Harry a carregou no colo, sentando-a em uma poltrona próxima da lareira. Em seguida, ele correu para pegar o pó de flu, lançando na lareira e dizendo algumas palavras que Pansy não conseguiu entender. Ele a envolveu em um abraço, ajudando-a a se levantar e guiando-a para mais próximo da lareira. Ela sentiu se envolver pelas chamas.

Pansy reconheceu o hospital assim que chegaram. Duas enfermeiras correram até ela com uma maca, onde ela foi deitada e levada direto para um quarto. As bruxas trocaram magicamente as roupas dela por uma bata azul, e fizeram alguns exames em Pansy, utilizando varinhas.

- Vamos buscar o restante da equipe. Voltaremos logo. – Uma das enfermeiras anunciou.

Quando as enfermeiras saíram para buscar o médico, Pansy ficou sozinha com Harry.

- Você demorou muito. Deus, nunca me senti tão só! - Disse Pansy recostada ao travesseiro, os olhos fechados e as lágrimas teimando em cair.

- Perdoe-me Pansy, mas estou aqui agora. Vai dar tudo certo. - Os olhos verdes brilhavam, ansiosos.

Pansy o encarou, a expressão contorcida pela dor.

- Promete que vai ficar aqui? Promete que não vai me deixar sozinha outra vez? – Ela disse prendendo a mão de Harry na sua.

Ela não conseguiu evitar as palavras que saíram de seus lábios. Sabia que parecia vulnerável, sabia que soara desesperada e carente, mas não se importava. Só queria ter alguém do seu lado nesse momento. Estava assustada pelo parto antes da data prevista.

- Sim, não vou deixá-la sozinha novamente... Eu prometo. – Harry declarou, solene.

Nesse momento, as enfermeiras retornaram com mais três pessoas, que foram apresentadas como o médico que faria o parto, o Dr. Johns, uma pediatra para quando o bebê nascesse, a Dra. Lee, e mais uma enfermeira, para cuidar do bebê.

- Olá Senhor Potter! Sempre um prazer vê-lo! – O médico o saudou, virando-se para Pansy – Senhorita Parkinson, vejo que está na sua hora!

Pansy ia dizer algo, mas foi interrompida por outra contração, ainda mais forte do que as anteriores, e ela concentrou todos os esforços para preparar-se para o que viria pela frente.

O médico passou a examinar Pansy, posicionando-se diante das pernas abertas dela.

- A cabeça está saindo. Se demorasse um pouco mais ela daria à luz em casa.

Harry estremeceu. Tinha lido muito sobre partos no último mês, e percebeu que por pouco o seu filho não nascera na estrada. Ele se sentiu culpado por Pansy ter sido levada a caminhar sozinha em busca de ajuda quando era para ele estar com ela.

- Vamos lá, senhorita Parkinson! Só mais um pouco de força. Você está
indo muito bem.

Pansy apertava sua mão com força e Harry não pode deixar de admirá-la por estar fazendo isso. Ela era tão corajosa por ter decidido ter o bebê, mesmo que sozinha quando planejou não contar a ele, mesmo que fosse considerada uma pária quando todos soubessem que seria uma mãe solteira. Ela estivera o tempo todo sozinha enquanto ele se afastara, enquanto ele ficava com Ginny bem diante de seus olhos. Sentia-se furioso consigo mesmo. Se algo acontecesse a ela... ao bebê... Harry nun ca se perdoaria.

Pansy gritou seu nome, e ele tentou acalmá-la, passando a mão em sua testa suada e depositando um beijo suave nos cabelos da morena.

- Calma querida, você está indo bem, vai ficar tudo bem.

- Só mais um pouco, Srta. Parkinson! Sei que você está cansada pelo tempo em trabalho de parto, mas o bebê precisa sair o quanto antes. Ele está sem líquido, já está em sofrimento.

Aquilo pareceu inspirar Pansy, o desejo pela sobrevivência de seu filho. Ignorando toda a dor que sentia e a vontade de simplesmente fechar os olhos, ela reuniu força e empurrou. Em poucos minutos, ela sentiu um movimento acentuado entre as pernas e um choro de bebê. Seu filho.

- É um menino! - O médico anunciou, passando a criança para a pediatra. O bebê chorou intensamente, anunciando ao mundo que estava bem vivo.

- Temos um filho, Pansy! - Harry estava tomado pela emoção, ele segurava a mão dela com força, um sorriso bobo nos lábios.

Pansy sorriu para ele, embora as lágrimas ainda caíssem por seu rosto. Ele a beijou com suavidade nos lábios, o que a deixou surpresa. E quando a enfermeira trouxe o bebê para eles e depositou nos braços do pai, Harry sentiu suas próprias lagrimas caírem.

- Ele é perfeito! - Harry disse admirando seu filho.

Pansy foi limpa e reacomodada, enquanto Harry carregava seu filho no colo. Ele não conseguia tirar os olhos do menino, admirando cada parte do pequeno corpinho de seu filho.

- Ele deve ser amamentado. – A enfermeira anunciou.

Harry se inclinou para passar o filho para Pansy. Quando pegou a criança no colo, Pansy mal cabia em si de orgulho e emoção.

- Nós conseguimos! Conseguimos! - Comovi da, tocava os minúsculos dedos do neném, maravi lhada com o milagre em seus braços. – Nós temos um filho, ele é perfeito!

- Você conseguiu - corrigiu Harry, o olhar solene.

Pansy estava distraída demais para notar aquele olhar em Harry, um olhar de arrependimento, dor.