Nota da autora: Neste capítulo, ambos os gêmeos estão com idades entre dezoito e dezenove anos. No anime e no mangá clássicos, as ditas maldades do Kanon nunca foram narradas, por isso a gente não teve lá muitas razões pra pegar ranço dele, rsssss! Então eu inventei algumas e coloquei aqui. O gêmeo caçula passou um período beeeeem complicado, antes de ser o Dragão Marinho e mesmo antes de a ambição tomar completamente a sua mente. Creio eu que grande parte disso foi influência do Lemur, pois o "demônio" veio com ambos os gêmeos. Mas isso é coisa da minha cabeça, rssss! Não é nada canônico.
No mais, enjoy it!
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Meu menino, meu milagre
II
As coisas definitivamente não estão mais como antes entre mim e Kanon. Não falo de nosso relacionamento - seja como irmãos, seja como enamorados. A nossa relação interpessoal ainda está boa. Falo do comportamento dele como pessoa. Quanto mais velho fica, mais ciente se torna de seu poder pessoal. E quanto mais ciente do mesmo, mais nocivo ele fica.
Sim, nocivo. Meu irmão está terrivelmente nocivo. Primeiro começou a contrabandear álcool dos vilarejos próximos. Já chegou a roubar alguns viandantes de fora do Santuário, vestido com um capuz, e então vai até as tavernas e se enche de bebida alcoólica. Fica bebendo até não sei que horas. Já me ofereceu vinho, mas eu não quero. Meu irmão ri, dizendo que sou "certinho demais". Eu digo a ele que substâncias entorpecentes nos deixam fora de controle. Meu gêmeo me chama de "orgulhoso", pois com tal declaração demonstro ter ânsia por controle.
É mentira, em partes. Sobre os demais eu não almejo controle. Mas sobre mim mesmo, sim.
E sobre ele também, por mais mórbido que isso pareça. Na verdade fomos criados de uma forma que eu o controlasse completamente. E ele, agora que está mais velho, não quer mais avisar quando sai. Não quer mais sincronizar e planejar as saídas. Apenas pega o capuz e sai. E quando volta, tenho mais uma ou duas notícias desagradáveis sobre seu comportamento reprovável.
A última foi sobre um incêndio numa mercearia na vila de Rodório. Não houve feridos, mas todo o estoque de mantimentos da vila ficou prejudicado.
Quando ele chegou em casa, emborcando mais uma garrafa de vinho, a qual provavelmente roubou da mesma mercearia antes de a mesma pegar fogo, deu de ombros e simplesmente declarou:
- Fui eu! É, fui eu! Fiz mesmo! E faria de novo!
Segurei na gola de sua camisa e quase bati nele. Aproximei seu rosto do meu e disse, de forma muito indignada:
- Você está louco?! O que essas pessoas fizeram pra você? Hein?
Kanon riu, daquela sua famigerada forma sarcástica, e simplesmente me disse:
- Eles existem. Eles transitam livremente por aí. Eu não, só posso sair de capuz, ocultando a identidade, o nome e o cosmo de todos. E o pior é que os de fora não tem metade do meu poder!
- Nós não podemos almejar poder para causas pessoais, Kanon! Devemos viver para proteger a Terra e as pessoas que vivem nela!
- Pois eu não estou nem aí! A Terra, as pessoas que vivem nela, por que tudo isso deveria me importar? Se eu não posso ser alguém! Se eu não posso ter um futuro digno! Me diga, será que é tão errado assim pensar um pouco em mim mesmo? Hein?
- É o seu destino. Você deveria ficar feliz de poder fazer parte de uma missão tão honrosa!
Meu irmão fez um gesto de desdém com as mãos e continuou:
- Bah! Besteira. Eu definitivamente não nasci pra isso! Eu não tive escolha, quando gostaria de ter tido!
Nossas discussões eram todas nesse tipo de teor, até que ele desconversava e vinha até mim, dizendo palavras de afeto ou mesmo querendo sexo. Mas aos poucos até essa parte tem-se modificado. No começo era algo... puro, por mais que as pessoas pensem que incesto não pode ser classificado dessa forma. Nós nos amávamos, nos beijávamos; quando dava vontade fazíamos sexo. E após o ato nos acariciávamos, ríamos juntos. Agora, tudo é diferente. Kanon parece empregar mais malícia, mais raiva, mais dominação até mesmo no ato sexual. Antes, ninguém dominava ninguém. Agora, ele pega em meus cabelos, bate na minha bunda. Me chama de nomes que eu não gosto. E eu vejo que, a cada dia, ele se distancia mais e mais de ser o "meu menino" que já foi um dia.
Com esse tipo de comportamento a acontecer com cada vez mais frequencia em nosso cotidiano, passei a pensar que talvez não deveria ter começado a me relacionar de maneira incestuosa com meu irmão.
Não exatamente por ser "pecado", mas porque o sexo com ele tem me deixado cada vez mais vulnerável. Eu gosto muito dele, como irmão e como consorte. Mas justamente por gostar demais é que me sinto influenciável por si.
Sim, pois o orgasmo é maravilhoso, porém é uma sensação que me domina completamente. Eu dou gemidos involuntários, eu agarro o corpo dele com força, de uma forma que nenhuma outra sensação jamais me deixou antes. Totalmente descontrolado. Totalmente à mercê de sensações as quais são muito mais intensas do que eu gosto de admitir.
E o que eu vejo após ser completamente tomado por tal sensação extremamente forte?
O rosto suado, cansado e sorridente de Kanon. Bem próximo ao meu.
É certo que desde que me conheço por gente eu vejo o rosto de Kanon. Mas após o sexo... após gozar... é uma coisa totalmente diferente.
De fato, talvez, ao juntar ambos os destinos - o de irmãos e o de consortes - tenhamos ultrapassado alguns limitees que talvez cabessem no mundo antigo, porém não cabem mais atualmente.
Isso, essa vulnerabilidade, começa a me assustar justamente porque, caso as coisas continuem como estão, eu terei de agir e deter Kanon. Mas como detê-lo, se as punições no Santuário são tão rígidas e eu me sinto tão vulnerável em relação a ele?
Essa vulnerabilidade é completamente normal para pessoas tidas como normais. Mas para um Santo de Atena como eu, isso é completamente inaceitável. Mesmo porque no começo eu pensei que esse ar voluntarioso de Kanon nada mais era do que uma "personalidade forte"; porém agora vejo que ele, na verdade, tem maldade dentro de si.
Do ponto de vista da racionalidade, não deveria haver dúvida: a causa é a causa, independente de qualquer fator pessoal. Porém, na prática as coisas ficam bem mais complexas: será que eu seria capaz de abrir mão de Kanon por causa de meus princípios?
Espero, sinceramente, não precisar chegar a tanto. Eu não sei como reagiria diante de um impasse como esse.
To be continued
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Ai geeeeeente, coitado do Saguinha! Mal sabe ele o terror que o espera!
Na obra original, nunca ligaram a perda do Kanon à possessão do Lemur no corpo do Saga. Creio que seria algo muito importante a ser considerado. Por isso amo fazer fics com esse tema.
No próximo capítulo: Saga sentindo com mais força a presença do Lemur, bem como ouvindo as vozes e tentando contê-las - sozinho. Esse pra mim foi o principal erro do Saga: tentar dar conta de tudo sozinho.
Beijos a todos e todas!
