N/A: Crepúsculo é da Stephanie Meyer, mas a coleira do Edward é minha (continuem lendo, vcs vão entender).
Taty, como sempre, meu amor, obrigada por betar! Você é tudo pra mim! Qualquer erro aí é culpa minha, porque tenho uma mania horrorosa de pegar o arquivo betado e mexer MAIS. Vê se pode uma maluquice dessa?!
.: Até que a bagagem nos separe :.
É impressionante como a espera pode ser esquisita. A antecipação que corrói também gera um espaço fundamental para que uma cabeça ridiculamente confusa consiga dar conta de seus próprios sentimentos.
Começa com uma ansiedade incapacitante que faz com que cada virada de minuto vire uma eternidade. E aí, aos poucos, a espera transforma a não linearidade temporal em uma onda de inseguranças que te faz questionar tudo. Tudo mesmo. Os motivos, as justificativas, os possíveis resultados e impactos. E aí a espera te leva novamente para o limbo de ansiedade, porque com respostas, busca-se validação. Mas como validar quando o motivo da sua espera deliberadamente te ignora?
E por isso não só de romance se vive a agonia da espera. Porque o sentimento também é isso. Agonizante. O desespero pela aprovação que vai eclipsando todos os outros estados pregressos da espera, e fazendo com que nada seja tão relevante quanto o agora. A espera sendo apenas um limbo entre o que se viveu e o que se viverá.
Uma espera de dez dias infernais desde que Edward deixou aquela cozinha em viagem à Forks para o aniversário de seu pai. O primeiro em que não o acompanho, porque realmente não fazia sentido colocar a mochila nas costas e fingir que estava tudo bem. Não estava tudo bem. Em resumo, fazia dez dias desde a última vez que falamos sobre a confusão em que nos metemos, pisando em ovos de cascas muito, muito finas.
Nossa incapacidade de não manter contato vinha de berço, ou quase. Exceto nos meses do cruzeiro em que não nos falamos, me relacionar com Edward sempre significou transpor qualquer desconforto em prol do bem-estar do outro. Uma espécie de relação de codependência. É agridoce. Deixa um retrogosto porque compartilhar minha vida com ele era sempre algo que ia além de discussões e discordâncias. Havia tanto entrelaçamento entre nossa existência, que era comum deixarmos uma briga em espera para lidar com outras questões tão ou nada urgentes. Nesse caso, o "nada urgente" que garantiria um "bem-estar" foi uma boa fofoca.
Eu consideraria inescrupuloso se soubesse que nessa ida à Forks, ele tivesse descoberto sobre o rompimento dos irmãos Ulley por causa da receita da torta de aves, o prato mais procurado no restaurante Ulley Fine Dine, e não compartilhasse a informação comigo. O que, felizmente no terceiro dia de viagem o fez. Aparentemente a briga se deu depois que o irmão mais velho alegou que a receita fora passada para ele depois da morte da matriarca da família, enquanto o irmão mais novo se recusava a aceitar que a avó não teria deixado seu segredo para todos eles.
O impacto disso estava escancarado na tela do meu celular. Na foto que Edward me enviou era possível ver uma fita — daquelas de estilo de isolamento policial — dividindo verticalmente o restaurante. E o espaço, que já não era tão grande, agora comportava duas portas. Na frente de uma destas estava Jacob, posicionado de lado para demonstrar como eram estreitas. Ele tinha os braços para cima, uma de suas mãos apontava para o "Fine" e a outra para o "Dine", estando o "Ulley" acima das duas palavras, no meio exato dos — agora — dois restaurantes. Era ridículo. Eu amava.
Mas esse não era nem de perto o assunto mais urgente que precisamos tratar nesses dias em que ele esteve na outra costa dos Estados Unidos. Por exemplo, precisei compartilhar com ele o absurdo que vivenciei na última semana no bistrô. Felizmente a minha indignação também foi sentida por ele, porque era inaceitável viver em um planeta em que o meu colega de trabalho separava os macarroon de café com pistache para uma freguesa em específico.
Descobri isso quando fui fazer o pedido de reposição do produto ao nosso fornecedor, mas na planilha de compras estava evidente que havia uma caixa não consumida. O suficiente para abastecer o bistrô por mais três dias, mas que não estavam dentro do estoque. Quando dividi essa angústia com Mike, seu rubor foi suficiente para me dar a informação que eu nunca encontraria em uma planilha de excel.
"não tem como, B. Mike é o último romântico, aceita", Edward respondeu por mensagem de texto no quarto dia depois da sua ida à Forks, me dando o tempo que eu buscava para contar sobre as outras coisas "românticas" que Mike fizera nos últimos dias como.
Ou quando, do nada, enquanto eu acompanhava o ensaio para o Sarau no "Pedacinho do Céu", meu celular apitou com a notificação de uma mensagem de Edward. Nela, ele dizia: "preciso q vc confirme q a velha tá viva... não fala cmg direito há dias... só me responde por emoji ou figurinha". Fui imediatamente à casa de tia Lizzie.
Quando bati na porta e nada ouvi em resposta, usei a minha cópia da chave e encarei horrorizada a trilha de roupas que percorria o corredor até o quarto dela. O último item no chão era uma calcinha de renda rosa-chá, e os sons que saíam do cômodo com a porta entreaberta eram evidências suficientes de que ela estava bem. Estava ótima. Melhor do que nós dois juntos. E eu disse isso. Disse e imediatamente me arrependi, apavorada pela ideia de ele usar a minha última frase para fazer referências ao que fomos e/ou o que poderíamos ser.
Ele não fez. Sua última resposta foi sobre deletar minhas mensagens porque preferia lavar os olhos com ácido a voltar a lê-las. E a sensação amarga, o tal do retrogosto, que ficou em resposta à maneira com que ignorou um comentário que poderia gerar um duplo sentido, me atingiu em cheio. Mas não foi uma surpresa, e desde sua viagem para Forks, também não foi incomum.
Há dias que ele tomou meus pensamentos para si em um sequestro emocional. Eu jurava não estar pronta para lidar, mas era simplesmente incapaz de evitar. Há dias que fechava meus olhos e era Edward quem via. Há dias eu buscava frequentar os locais que mais gostamos em Nova Iorque só para poder ter uma razão para lhe mandar uma mensagem de texto, uma foto, um áudio. Há dias que comecei a reler um livro que ele me deu de Natal há três anos, só porque lembrava da discussão acirrada que tivemos sobre o desenvolvimento da história. Eu queria extrair dele novamente a vontade de discutir comigo, aquela paixão que ele sempre sentia ao se engajar em um assunto que lhe interessava.
Eu parecia empenhada em fazê-lo sentir qualquer coisa, desde que fosse comigo.
E pensar nisso me assustava. Me aterrorizava porque significava que eu fazia exatamente o que ele me acusou de ter feito: usá-lo apenas pelo meu bem-estar, quando eu deveria ter responsabilidade com a forma que ele se sentia.
Quando tentei razoar com meu emocional bagunçado, consegui ficar doze horas sem procurá-lo. E sua ausência fez da minha espera algo ainda mais excruciante.
Um desses dias perguntei quando voltaria, sucumbindo à humilhação da certeza de que ele estava certo nas suas acusações. Ele perguntou se eu já estava com saudade, mas não me deu tempo para confirmar sua pergunta. Antes que o respondesse, apagou a mensagem, como se eu já não a tivesse lido na notificação da tela bloqueada, e disse que voltaria no dia 10, em tempo para o último casamento da temporada. Explicou isto em outra mensagem e eu encarei aquelas letras por tempo demais. Tempo suficiente para o peso do anel no meu dedo, que não tirei desde que ele viajou, começar a incomodar.
Foi só no último dia dele em Forks que notei meu celular notificando sua solicitação de chamada de vídeo. Sorri quando observei a tela ser tomada pelo seu rosto pintado metade de azul, metade de laranja. Os olhinhos semicerrados e um bico que sempre fazia meu coração se expandir pela fofura. O dia foi marcado por uma aposta que ele perdeu e o fiz pagar usando a pintura facial que os fãs dos Mets fazem quando assistem o jogo de baseball nos estádios — que o obriguei a fazer também, mesmo ele sendo torcedor doente do Seattle Mariners. A foto estava salva em seu contato, e poucas coisas me faziam sorrir instantaneamente como essa imagem — e lembrança — fazia.
Meu coração palpitou esquisito só nos instantes que antecederam o meu aceite da ligação, mas quando o fiz e o olhei pela primeira vez nestes dias, finalmente notando a expressão tranquila em seu rosto. Instantaneamente senti o nó em minha garganta se desfazer.
— Tem alguém aqui maluco pra falar contigo — comentou e eu sorri.
— E esse alguém por acaso é você?
Ele gargalhou e eu bebi da imagem dele jogando o pescoço pra trás, perdido em sua própria felicidade. Eu era doida pelas gargalhadas dele, a forma com que ria sem se preocupar com a opinião das pessoas ao redor, sempre atraia umas risadas de mim também. Quando acalmou, voltou a encarar o celular só com o cantinho da boca levantado.
— Você é ridícula — disse com o mesmo sorriso. Rolei os olhos em resposta, mas também mantive o meu próprio riso intacto.
Ele pareceu querer dizer algo, e eu percebi porque notei quando o sorriso suavizou, a expressão ficou um pouco menos divertida e ele abriu de levinho a boca. Aguardei ansiosa, desejosa por qualquer coisa que ele quisesse me dizer. A espera novamente fazendo meu corpo inteiro reagir. Murchei um pouquinho quando ele fechou os lábios e apenas ofereceu um outro sorriso, diferente do remanescente da sua gargalhada anterior, esse era menos natural. Apontou para trás de si.
— Eu não faço ideia do que você tá falando — comentei, forçando para o sorriso se manter no meu rosto, a despeito da decepção.
— Peraí, vou trocar pra câmera traseira — explicou e quando o fez, notei que virou o celular e apontou para um montinho de lençóis e mini travesseirinhos.
Soltei um suspiro apaixonado quando percebi que o montinho em questão era o filho da Emily, que tinha poucas semanas de vida. O bebê nasceu no dia seguinte ao primeiro show que Edward fez no Piano Bar em Nova Iorque.
— Ele é muito pequenininho, Edward — suspirei, falando baixinho para evitar acordá-lo. Ouvi a risada dele e abafei um gritinho na minha palma quando ele acariciou os cabelos pretinhos do neném com a mão. Em seguida ele a abriu, esticando os dedos, para que eu pudesse ter um parâmetro de quão pequenininho o Billy era. — Acho que acabei de ovular — murmurei e ouvi a risada de Emily.
— Deixa eu falar com ela — pediu e eu já estava sorrindo quando minha amiga de infância apareceu na frente da câmera. — Que saudade!
— Meu deus que peitões! — exclamei e sorri quando ela tossiu uma gargalhada. — Parabéns, Emmy. Ele é lindo.
— Ele é o cão, Bells. Não se deixe enganar pelas aparências.
— Não tem como um neném daquele tamaninho ser "o cão", garota.
— Ele não caga, explode. Ele não dorme, cochila. Ele não arrota, me golfa inteira. Tá bom ou posso continuar? — perguntou rindo e em seguida arregalou os olhos. — Meu deus eu sou uma mãe terrível?
— Não, meu amor — disse com um sorriso. — Você é só uma mãe. Eu gosto de saber sobre a maternidade real. Viu? Nem tava ovulando de verdade, era alarme falso. — Ela gargalhou novamente e virou a câmera para o lado, mostrando Sam pegar o filho do bercinho e o colocar nos braços de Edward.
Meu melhor amigo era grande e estabanado demais para segurar um bebê que pesava uns 5 quilos com a graciosidade que o gesto exigia, então a transferência de colo foi tão desajeitada que a Emily precisou largar o celular na mesa para ajudá-los. Aguardei observando a imagem sem nem segurar as lágrimas que caíam de tanto que eu ria.
— Parecia aqueles gatos paralisados quando são surpreendidos, sabe? — Eu disse quando a imagem dela voltou a aparecer. Sorri da gargalhada intempestiva da minha amiga.
— Sim, todo duro — complementou e eu senti meu sorriso expandir um pouquinho mais com o tanto de amor que aquela imagem me fazia sentir.
— Mas vai, para de me mostrar o Edward segurando seu neném e me conta de você — pedi, e passei a próxima hora me atualizando na vida da minha amiga, fingindo que não sentia nada diferente quando ouvia meu amigo se manifestar no fundo da chamada de vídeo.
Nem um minuto depois que Emily e eu desligamos a chamada, chegou uma mensagem de texto de Edward.
"Emmy falou que vc nem quis se despedir de mim :( espero que esteja td bem", ao que respondi que estava sim, mas que tinha surgido uma emergência de trabalho e eu precisei atender. E aí olhei as três bolinhas aparecerem e sumirem várias vezes até que a sua resposta chegou: "tô morrendo de sdd, b. forks não é a msm sem vc, espero que ny esteja assim sem mim também", que logo foi complementada por outra: "espera, n quis dizer isso. tomara que você esteja se divertindo aí, mas tlvz um pouquinho de sdd de mim?", seguida, claro, de "rs". Imediatamente respondi que Nova York não tinha o menor apelo sem ele, e que ele precisava parar de me deixar aqui sozinha.
E aqui se encaixa tudo o que falei sobre a espera. A antecipação, o desespero do incerto. Aquela sensação de aguardar por algo que a gente nem sabe se está por vir. Um frio na barriga que se mistura com um calor que te toma o corpo inteiro quando as três bolinhas dão lugar para um balãozinho com um agrupado de palavras. Foi só na quarta vez que reli sua última mensagem que consegui parar de portar o sorriso mais babaca que já destinei pro Edward.
"se depender de mim nunca masi te deixo".
Respondi da única forma possível, e curiosamente depois disso, não trocamos mais mensagens de texto.
Era ridículo a quantidade de vezes que abri nossa conversa só para reler as coisas que falamos enquanto ele estava em Washington, em especial a última mensagem que me mandou. Eu li tanto, que parecia ter tatuado no meu cérebro seu erro de digitação no "mais". Favoritei a mensagem e dei print na tela, salvando na nuvem só para me assegurar que ela ainda seria acessada caso um dia meu celular desse problema. Considerei mostrar para todos ao meu redor, mas imaginar as consequências disso me dava frio na barriga o suficiente para que eu mantivesse só entre nós.
No dia que ele chegou de volta ao Brooklin, me ligou para contar qual era a sua roupa do casamento para que eu pudesse alinhar direito com Alice o que usar. Não falamos da última mensagem de texto que me mandou, e por mais que eu sentisse alívio em não ter que ser forçada a lidar com meus sentimentos, sentia um pouco de incômodo por ele não endereçar uma coisa tão grande como aquela.
E era grande, porra.
Está certo que somos amigos desde que posso me lembrar, e que eu nunca pretendi deixar de tê-lo em minha vida. Edward é o tipo de pessoa que está destinado a ficar por perto até que eu dê o meu último suspiro. Não era segredo que ele também sentia isso sobre mim, antes mesmo dessa confusão toda estourar entre nós.
No entanto, desta vez pareceu diferente. Parecia que o significado era mais potente, mais duradouro. Que a mensagem era diferente da dita pelo meu melhor amigo sobre sempre sermos isto: melhores amigos. Dessa vez ela bateu no meu estômago e palpitou meu coração como se eu tivesse acabado de receber a declaração de amor mais importante da minha vida. Não sei de onde isso veio, se foi a saudade com a sua ida à Forks, ou a ideia de que nós quase perdemos tudo o que somos... Um pensamento que estou há dias tentando ignorar porque a sensação de vazio que me sufoca é absurda. Como se sua ausência fosse me—
— Você tá tão avoada hoje. Tá pensando no quê? — Alice interrompeu meus pensamentos e eu imediatamente a olhei. Torcendo para que meu rosto não estivesse traduzindo meus sentimentos, meneei a cabeça.
— Cansada, só.
— Hm... O que achou desta? — perguntou levantando um cabide com um vestido preto enorme. Era um tecido endurecido, com pouco movimento. A saia gigantesca e nada nele gritava "conforto".
— Eu preciso que seja um tecido que não amasse.
— Esquece, nem tem como. — Ouvi Alice gritar de dentro do closet. — Com o que a gente tem aqui pra trabalhar, acho mais fácil você dar um jeito de entrar lá antes e esconder suas roupas. — Ela colocou o rosto pra fora e me encarou com o maior sorrisão.
— Para! Que saco — reclamei rindo. Estava beirando a obsessão a quantidade de vezes que ela me encarava com esse sorriso implicante, e tudo começou quando tive a brilhante ideia de mostrar pra ela a última conversa que tive com seu primo. Aquela em que disse que se dependesse dele nunca me deixaria.
— Não sei o que eu gosto mais, se é o erro de digitação dele que mostra bem que ele digitou rápido, sem olhar, com medo do dedão do pé até os fios do cabelo do cu, e mandou antes de se arrepender... Ou se... Mhm... É. É isso.
— O erro de digitação?
— Não! — exclamou e com um sorriso quase tão grande quanto seu rosto inteiro, concluiu. — Acho que o ganhador é o seu "tomara", sabe? Me quebra toda vez imaginar a reação que ele teve quando leu a sua resposta. O bichinho, coitado... Deve ter dormido abraçado com o telefone — riu, se escondendo novamente entre os vestidos do ateliê.
Fiquei até agradecida porque consegui segurar o meu próprio sorriso idiota quando me lembrei que ele me ligou por vídeo algumas horas depois daquilo, quando estava indo dormir só para se despedir, já que não conseguiu antes.
Na ligação ele deixou escapar que esperava sonhar comigo para tentar aplacar um pouco a falta que eu fazia. Ele ficou tão envergonhado, que decidi não segurar meus próprios pensamentos, ao que respondi com o mesmo "tomara", usado na mensagem de texto. O sorriso que ele me deu em resposta foi tão grande, tão genuíno e apaixonado que achei criminoso tentar me refrear de espelhar o que ele me demonstrava, e por isso não o fiz. Em resposta, ele suspirou um "amanhã". Sorri porque seus olhinhos já estavam fechando, depois de ficarmos quase duas horas jogando conversa fora. Com a diferença de fuso horário, já era mais de três da manhã onde estava, e ele simplesmente recusou todas as chances que lhe dei de desligar a chamada.
Era quase como se ele estivesse se apegando a qualquer palavra, gesto, som... Parecido demais com o modo com que eu estava me comportando.
Eu estava completamente apavorada, surtando a cada segundo com a ideia de que, eventualmente, teríamos que endereçar o que aconteceu na cozinha? Sim. Mas me sentir assim, com um frio na barriga toda vez que pensava nele era tão... bom.
Será mesmo que a conversa é tão importante? E se passássemos uma borracha no que aconteceu e fingíssemos que estava tudo bem?
A ignorância é mesmo uma benção mesmo. Infelizmente lembrar do que aconteceu sob às vistas daquela banoffee fazia impossível me fingir ignorante. Ainda assim, era tão bom me sentir assim nos intervalos do surto. Será que não dá mesmo pra ignorarmos a briga?
— Bella pelo amor de deus! — Alice me sacudiu os ombros por trás e eu gargalhei.
— Desculpa, tô distraída, cansada.
— Cansada, né? Edward me falou que tá cansado também. Inclusive chegou de viagem e foi direto para casa dormir. O pobrezinho foi dormir quase 4 da manhã, sendo que viajava cedinho no dia seguinte.
— Foi, é? — perguntei com um sorriso irônico e ela abriu um grande em resposta.
— Foi, menina. Ele não me falou o motivo, mas nunca vi o Edward suspirar tanto numa ligação.
— Com certeza eram bocejos.
— Com certeza. Ai! — Me agarrou por trás e abraçou forte. Eu estava em um tablado redondo, só de calcinha e sutiã, enquanto nos encarava no espelho à nossa frente. — Eu tô tão feliz por vocês. Sério.
Senti o tão familiar peso no estômago quando era forçada a pensar em nós dois enquanto casal, mas dessa vez deixei o estômago desconfortável enquanto passava meus braços por cima dos dela, que estavam apoiados na minha barriga. Tentei sorrir, mas Alice arregalou tanto os olhos que tenho certeza que pareceu uma careta.
— Desculpa, desculpa! — Ela levantou as mãos em rendição, e só aí consegui gargalhar.
— Não tem nada rolando entre a gente — expliquei e ela rolou os olhos.
— Você tá tentando me convencer ou se convencer?
— É que a gente ainda tem muito pra conversar, sabe? Ele foi embora depois de uma briga horrível. A gente falou umas coisas que… Sei lá, Alice, só queria esquecer...
— Ele mencionou que vocês trocaram algumas farpas.
— Ele disse isso, é? Eu acho que tá mais pra um banho de sangue. — Alice rolou os olhos e se enfiou novamente no meio dos vestidos.
Encarando minha imagem no espelho, me senti forçada a refletir sobre os últimos minutos. Porque pareceu mesmo mais um banho de sangue do que uma troca de farpas. Eu falei coisas horríveis, nas quais certamente não acreditava, e ainda era difícil digerir o comentário sobre como me amar o machucava. Ainda assim, os últimos dias foram suficientes para me mostrar que mesmo nas nossas piores versões, seguimos juntos e tentando fortalecer o que somos.
Provei o terceiro vestido, e apesar de ter ficado muito sensual com o slip dress de cetim lavanda, a alcinha definitivamente não me protegeria do frio de novembro em Nova Iorque. Isso ficou evidente pelo meu mamilo e a tira da calcinha fio dental marcados, mesmo com o aquecimento artificial do ateliê em que Alice trabalhava.
Quando olhei por trás do ombro procurando-a, notei que encarava o celular com o olho esbugalhado. Logo me olhou e jogou a cabeça para trás em uma risada descontrolada.
— O quê?
— Esse não vai servir — disse, ainda com um riso na expressão. Olhei meu reflexo, e mesmo que concordasse com sua opinião, não achava que a forma com que o vestido me servia fosse motivo de graça.
A roupa me marcava nas minhas melhores partes, e era soltinho onde meu corpo menos colaborava. Ele era longo e tinha uma fenda até o topo da minha coxa esquerda. Se eu fizesse ondulações no cabelo liso, e usasse os acessórios corretos, sem dúvida não deixaria a desejar no casamento, mesmo que fosse um no Terrace On The Park.
Virei de frente e a fitei séria. Vi quando apontou o celular na minha direção e tirou uma foto.
— O que é, hein?
— Edward pediu.
— Ah?
— Eu mandei de costas, ele pediu pra ver de fren— disse sem terminar a frase, e novamente se largou em uma risada.
— Mas caramba, o que eu tô perdendo? — perguntei irritada, e desci do tablado indo em sua direção.
— Aqui... — Ofereceu o celular e notei que o aplicativo de mensagens estava aberto em uma conversa com Edward. Nela, ele pedia para que Alice mostrasse o que escolheu para mim, e vi que ela enviou a foto dos três vestidos que experimentei. Abaixo deste que usava, tinha um emoji de olhos arregalados e um rubor no rosto.
[Edward]: ela já vestiu esse?
[Alice]: Vestindo agora. Pq?
[Edward]: se te arrumar ingressos pro próximo NYFW vc me mostra qnd tiver no corpo dela?
[Alice]: o ateliê provavelmente consegue ingresso, ed.
[Edward]: e se eu levar seu carro pra manutenção?
[Edward]: pelos próximos 5 anos
[Edward]: e comprar aquele sapato de sola vermelha que vc vive babando?
[Alice]: OK. Peraí que ela tá vestindo, já te mando!
[Alice]: A propósito, vc nem precisava implorar. Eu te mostraria só pq sou uma cadelinha por homem babão.
[Edward]: ...
E aí vinha a minha foto em cima do tablado. Eu estava de costas e segurando meu cabelo no topo da cabeça, enquanto ainda debatia o tipo de penteado a fazer. Assim, minhas costas ficavam à mostra pelo decote traseiro profundo que parava em uma dobra de tecido um pouquinho acima das minhas covinhas de vênus. Eu estava na ponta dos pés, analisando como ficaria o caimento com salto, e minha panturrilha — bem definida, graças às minhas corridas diárias no Central Park, muito obrigada — estava marcada.
[Edward]: de frente?
[Edward]: por favor, alice, vou te dar um sapato caro
[Edward]: eu to implorando. vc disse que gostava de homem que se humilha
[Edward]: pqp não vou conseguir passar 10min do lado dela nesse vestido
[Edward]: MANDA A FOTO LOGO ALICE
Ela respondeu com a minha foto de frente. Tirou quando virei e a vi gargalhando. Na foto eu tinha uma mão na cintura e meus cabelos estavam caídos. Parte na frente dos meus ombros, parte nas costas. Meus olhos semicerrados encaravam diretamente a câmera do celular, e parecia que eu estava brigando com quem quer que estivesse olhando minha foto.
[Edward]: puta merda eu tô pronto
[Alice]: ?
[Edward]: pra apanhar dela. pronto pra apanhar de mulher bonita
[Edward]: desta mulher bonita. olha essa carinha de irritada
[Edward]: num conflito alice. tô em conflito
[Edward]: quero mt ela nesse vestido, mas não sei se tenho condição de ficar perto dela vestida desse jeito. cacete alice que covardia vc tá tentando me matar. segura ela aí, dá uma enrolada sla.. tô indo
Essa última mensagem chegou enquanto eu lia as outras. Olhei para Alice sem saber o que dizer.
— Você tá muito vermelha — riu e surrupiou o celular das minhas mãos. Ficou na pontinha do pé e me deu um beijo no rosto.
— Ele disse que tá vindo aqui — murmurei encostando minhas mãos geladas no rosto para ver se fazia o rubor sumir.
— Nem fodendo — reclamou e rapidamente começou a digitar no celular. Colocou o aparelho na mesa de corte e voltou para os vestidos.
— É pra eu tirar esse?
— Sim, Bella. O ateliê deixou te emprestar os vestidos, contanto que você desfile com eles em casamentos de ricos.
— E eu não faria isso com esse? — Olhei novamente no espelho só para confirmar que gostava do reflexo.
— Você não viu o que o Edward falou? Se você for com esse vestido, vocês sequer passam da entrada da recepção.
— Fala sério... — rolei os olhos, fingi indiferença, mas assim que sumiu das minhas vistas, fui bisbilhotar o celular dela.
Já tinham chegado duas mensagens. Puxei a notificação pela tela de bloqueio e li: "puta merda, alice, não era pra ela ver o que eu tava falando, né?" e logo abaixo outra "ela tá chateada?". Quando li, tomei uma ação impulsiva. Peguei meu próprio celular, subi no tablado e fiz um vídeo curto de mim girando na frente do espelho e mostrando todos os ângulos. Antes que pudesse me questionar, enviei para o celular dele com a legenda: "o que eu tô sentindo não chega nem perto de chateação".
Vi as três bolinhas que simbolizam que ele estava digitando, aparecerem e sumirem várias vezes. Quando o "te fez sentir o que?" chegou, senti meu coração palpitar forte. Respondi um "eu acho que você pode imaginar, mas talvez te conte hoje à noite" e não consegui parar de surtar, cheia de nervoso, até a resposta dele chegar.
O seu "tomara" em resposta fez o meu corpo inteiro aquecer em uma antecipação que eu não sabia se conseguiria suportar por mais algumas horas.
Tomara.
N/a: Vocês encaram uma briga de frente ou são como esses dois que vão desviando da bala enquanto dá?
Eu desvio. Sou mestre de fuga se isso me livrar de entrar em conflito com pessoas que amo.
Ela tá quebrando né? Finalmente ela tá se deixando pensar um pouquinho além do amanhã, mas ainda tem mt caminho nesse chão pros dois caminharem. NÃO SE ASSANEHM — ainda ;)
Já me segue no twitter? vai lá que vez ou outra meto um negocinho deles lou5858_
Me conta o que vc achou?
