Boa leitura!


Capítulo Cinco

Meu Vizinho e o Tinder

Liam sequer correspondeu o beijo, tamanha sua surpresa. Foi rápido, logo eu estava me afastando dele e ordenando para que o próximo participante da brincadeira seguisse com aquilo.

Rosalie me lançou um olhar cheio de julgamento, mas não travei uma batalha de caretas com ela. Voltei para o sofá, ficando novamente perto de Jasper, que não me julgou como sua irmã, apenas me esticou uma mão, que rapidamente aceitei, nossos dedos se entrelaçaram e meus olhos estavam fixos neles.

Eu evitei Edward quanto pude, mas logo algumas pessoas começaram a ir e foi impossível continuar fugindo dele. Além dele, Emmett, Jasper, Peter e Charlotte continuaram no meu apartamento, Rose e Alice também, óbvio.

A música foi desligada, já tínhamos recebido ligações de reclamações. Peter tocou um pouco em seu violão, nada muito barulhento, nós ficamos ali o ouvindo tocar, comendo o que tinha sobrado, conversando e jogando cartas.

Edward tinha acabado de vencer uma partida contra Emmett, estava todo feliz provocando o amigo e abrindo uma garrafa de cerveja no dente, como um selvagem. Um selvagem sexy.

— Edward? — Peter, que estava ao meu lado, chamou por ele. O Masen olhou na direção do amigo, mas seus olhos verdes se encontraram com os meus por uma fração de segundo. — Você sabe tocar e cantar aquela música lá de Modern Family, precisa dar uma palinha pra gente, já que o bolo da Bella foi uma referência à série.

— Você sabe tocar violão? — Rosalie gritou antes que eu pudesse gritar a mesma pergunta.

Ok, quem poderia me julgar por gostar de caras que sabiam tocar e cantar? Eles tinham um charme particular. Minha primeira paixonite da vida provavelmente foi pelo Bruno Mars em 2011, quando o vi tocar e cantar Just The Way You Are na TV.

— Sei tocar um pouco — Edward respondeu, não estava muito contente em ter sido revelado.

Aquilo levantou outra questão em minha mente, sempre ouvíamos Peter tocar. E se em algumas daquelas vezes não fosse o namorado de Charlotte e sim Edward?

Meu Deus… Ele jogava futebol e tocava violão. Isso não poderia ser verdade, não mesmo. Mike não curtia o esporte e era uma grande diferença entre a gente, já que eu adorava. E lá estava o Masen, um quarterback que iria tocar alguma música da minha série favorita.

Senti coisas, em lugares íntimos, quando o garoto aceitou o violão que Peter lhe estendeu. Edward ainda não parecia confortável, mas caralho, ficava muito mais gostoso com o instrumento junto de si.

— Espera, qual a música? — perguntei em um tom de voz muito baixo, mas ainda assim Edward escutou e respondeu:

In the Moonlight.

Soltei uma risadinha involuntária, meu corpo estava mais concentrado em sentir tesão não solicitado pelo meu vizinho, porém era impossível não rir ao lembrar da música tocada pelo personagem do Dylan no 4º episódio da primeira temporada da série. Edward começou a tocar, concentrado no violão, mas ainda assim tocar parecia algo muito fácil para ele, assim como cantar.

The stars are falling from the sky. And you're the reason why. The moon is shining on your face. And I finally think its found its place. Cause maybe, baby, I just wanna do you, do you. Do you wanna do me, do me? Underneath the moonlight, the moonlight? Baby, maybe I will steal you, steal you. Just so I can feel you, feel you. Maybe that would heal you, heal you. On the inside¹.

Okay, talvez eu ligasse para Liam. Pediria para meu colega de trabalho voltar e diria que queria transar com ele. Quer dizer, eu estava pegando fogo e precisava de sexo, mas não poderia dar para Edward. Claro que não, ele nem tinha chupado a porra do limão da minha boca, com certeza não queria nada comigo naquele quesito, se eu tentasse qualquer coisa poderia acabar com o jogador rindo da minha cara.

Edward devolveu o violão para Peter, enquanto todos o elogiavam pela rápida apresentação. O Masen agradeceu, mas não deixou a atenção nele se prolongar por muito tempo e mandou o amigo voltar a tocar.

Peter fez isso, eu troquei um rápido olhar com Rosalie e a vi fazer um sinal positivo para mim, ela sabia bem sobre meu tipo. Revirei os olhos e balancei a cabeça em uma negativa, depois enfiei o rosto no braço de Jasper, querendo um ponto de apoio para fugir dos pensamentos que estava tendo sobre Edward tocando, largando aquele violão e me… Meu Deus, eram tantos pensamentos pervertidos!

— Tô indo — Edward falou, isso chamou minha atenção na hora. Levantei a cabeça e vi o garoto se colocar de pé, estava emburrado com algo, eu acho, já que era normal dele viver de cara amarrada.

— Não, fica mais — Emmett pediu.

— Sim, ainda tem tanta cerveja, vamos continuar e matar tudo — Rosalie acrescentou.

— Valeu, mas vou mesmo pra casa. — Edward se foi, em nenhum momento se despediu de mim, sequer me olhou.

Era um grosso, quem saia de uma festa de aniversário sem dar tchau para a aniversariante? Tinha que ser aquele insuportável. E eu ainda queria transar com ele? Burrice minha.

— Mais cerveja — cantarolei, fingindo empolgação, estava mesmo me sentindo uma merda por estar com tesão no cara que mais me odiava no mundo. — Tenho 21 e finalmente posso encher a cara legalmente!

X

Bebi só mais uma cerveja e desisti, principalmente quando Peter e Charlotte foram para o apartamento dele cheio de risadinhas. Ela era uma sortuda, terminaria a noite transando com um músico, isso até me fez sentir falta de Mike, muita falta.

Minha cabeça ficou uma loucura, pensando sobre Mike, Edward e até mesmo Demetri. Ah, Demetri, ele também sabia tocar violão e mesmo que tivesse sumido no mundo, ainda parecia ser um cara muito melhor do que o traidor do meu ex e o ignorante do Masen.

Avisei para os outros que ia dormir, precisava me desligar e ver se isso resolvia meus problemas de tesão. Rosalie tentou me fazer ficar mais um pouco, para jogar cartas com ela, Alice, Emmett e Jasper, mas neguei.

Tomei um banho rápido e me tranquei no meu quarto, ainda podendo ouvir os outros se divertindo na sala, naquele momento vendo o presente que ganhei de Edward sobre minha cama. Ou melhor, em nome dele, um presentinho escolhido por nossos amigos com síndrome de casamenteiros.

Caminhei até a cama e tirei a caixa de dentro do papel de embrulho, o sugador era mesmo o que eu tinha visto semanas atrás e mostrado para Alice e Rosalie. Fora do meu orçamento, aparentemente dentro do de Edward. Era um aparelhinho pequeno, bem discreto, azul escuro, mas que prometia orgasmo rápido, tinha lido várias avaliações dele e todo mundo elogiava.

— Que se foda — murmurei, tirando o aparelho da caixa. Não importava quem tinha me dado ele, afinal, iria usar e aliviar o tesão que estava me consumindo. O sugador estava carregado, uma benção, não teria de esperar carregar. Rapidamente voltei para o banheiro, por sorte ninguém cruzou meu caminho, higienizei meu novo brinquedinho lá e voltei para o quarto ainda sem topar com qualquer um.

Terminei de me secar e me enfiei debaixo das cobertas da minha cama, apenas a cabeça de fora, todas as luzes desligadas. Coloquei um travesseiro embaixo do quadril, elevando um pouco meu corpo.

Peguei o lubrificante que também levei comigo para a cama e espalhei na área mais sensível e necessitada de mim naquele instante, logo liguei o sugador e o botei no lugar certo. E porra, eu daria 5 estrelas para aquele aparelhinho fácil, era mesmo muito bom.

— Caralho — gemi, sorrindo, me remexendo um pouco na cama. O prazer era imenso, era tudo ótimo, mas pensei que poderia ser um pouquinho melhor se estivesse acompanhada.

Fechei os olhos, tentando mentalizar George Lopez, um quarentão que era apresentador de um programa de culinária que Alice gostava de assistir.

Por poucos segundos consegui me imaginar ali com George, mas acabei falhando e pensando em Mike. Na nossa primeira vez, quando ele me chupou no minúsculo banheiro do apartamento de um amigo dele, onde estávamos na mesma festa.

— Que saco — resmunguei, abrindo os olhos, dispersando um pouco até do prazer que estava sentindo. Eu não podia ficar me masturbando com meu ex filho da puta em mente, não ajudaria em nada meu processo de superar o namoro fracassado. — Vamos, pense no gostoso do George, Bella — sussurrei a ordem para mim mesma, voltando a fechar os olhos.

George sorrindo para mim, George levantando minha blusa… Edward levantando minha blusa. Espera, como? Edward beijando minha barriga, Edward subindo seus lábios até meus seios.

— Ah! — gemi mais alto. Eu sabia exatamente como era a sensação de ter os lábios do meu vizinho em mim e queria mais.

Edward sobre mim…

— Sim, porra! — gemi mais alto do que deveria, mas não conseguia me conter.

Edward me fodendo, enquanto segurava o sugador contra meu clitóris. Ele estaria dando um dos seus sorrisinhos malignos? Falaria que eu era gostosa?

Aumentei a potência do sugador, soltando um gritinho. Aquilo era muito potente, tão potente… Mordi meu lábio inferior, desejando que fosse Edward o mordendo, enquanto uma de suas mãos se perdia entre meus cabelos.

Mãos de jogador, mãos de arquiteto, mãos de músico. As mãos dele em mim, os lábios dele, sua risada, sua voz provocativa. Eu o queria, porra, queria sim.

— E… — Apertei os lábios, não podia fazer isso, gemer o nome dele. Não, ele não merecia isso, não tinha nem chupado a porra do limão da minha boca, deveria ter zero desejo por mim. Se tive qualquer impressão do contrário foi por estar alucinando, isso sim. — George — gemi o nome do apresentador, mas sem conseguir parar de pensar em Edward.

Eu gozei, com o nome dele preso entre meus lábios e mais desejo do que quando comecei. Queria bater na porta do apartamento 505 e implorar por uma foda, só uma, mas seria tão humilhante quando fosse rejeitada.

E não podia suportar mais rejeições na minha vida.

Uma porta bateu com força, provavelmente era Rosalie entrando no quarto ao lado, o dela, com Emmett. Eu teria que esperar mais um pouco antes de sair e ir ao banheiro me limpar, não queria correr o risco de ser vista por ninguém e acabar em qualquer tipo de conversa naquele momento.

X

No domingo acordei por volta das duas da tarde, com a maior dor de cabeça do mundo. Me arrastei para fora da cama, indo até o banheiro fazer xixi e lavar o rosto, eu estava com a maior cara de derrota de todas. Precisava de um remédio, mas não tinha mais nas minhas coisas.

Deixei o banheiro, indo atrás das minhas amigas na sala, conseguia ouvir a TV ligada lá. O apartamento estava arrumado, o que era ótimo, me pouparia de ter que lidar com limpeza e dor de cabeça ao mesmo tempo. Minhas amigas eram as melhores por terem arrumado tudo.

Alice era a única na sala, dormindo no sofá, claramente tão acabada quanto eu estava. Ainda que ela não tivesse bebido muito, entre nós duas e Rosalie, a baixinha era a que menos bebia.

Peguei o controle da TV no chão e desliguei, isso fez com que Alice na hora acordasse.

— Ei, eu tava assistindo.

— Você tava babando na almofada, Alice.

— Não, foi só por um segundo — resmungou e se sentou, eu fui para o lado dela.

— Sei. Cadê a Rosalie?

— Saiu com o Emmett, me pergunto como aqueles dois não estão piores do que a gente. Eles bebem pra caramba, porém saíram daqui como se tivessem dormido por doze horas e só tomado água ontem.

— Pois é, você tem remédio pra dor de cabeça? Eu tô sem e preciso de um com urgência.

— Acho que tenho, vou ver, mas qualquer coisa a Rose tem, ela deu um para o Edward ontem. Ele voltou aqui pra pedir depois que você foi dormir. — Alice levantou do sofá, o que lhe impediu de ver minha expressão conflitante ao escutar o nome do nosso vizinho.

Alice deixou a sala e eu fiquei ali pensando no Masen, o responsável indireto por meu orgasmo na última noite e por meu estresse também. Ainda estava remoendo a história do limão, como seguia revoltada comigo mesma por estar sentindo desejo por alguém que não dava a mínima para mim.

— Vou baixar o Tinder hoje! — exclamei para Alice quando ela voltou para a sala e me entregou a cartela do remédio.

— Quê?

— Preciso transar, me ajuda a dar match com alguém legal?

— Não sei, Bella — murmurou, voltando a sentar no sofá. — Você e eu não somos o tipo de garotas que curtem esses aplicativos de relacionamento, né? Meu último encontro foi por lá e não terminou nada bem com o cara levando a namorada e falando que queria um ménage. Quero dizer, nada contra quem faz sexo a três, mas eu queria ter sido informada que essa era a intenção dele antes, ou nem teria saido de casa, estava procurando conhecer alguém e não participar de uma fantasia sexual. E a última vez que você usou o Tinder conheceu aquele aluno do Aro, que queria sair contigo para tentar o gabarito da prova do seu pai.

— Nossa, pra que me lembrar disso? — perguntei fazendo uma careta, tinha sido logo no começo da faculdade e mexeu muito comigo. Afinal eu era a doida da rejeição e achei que todos os caras da universidade fossem querer se aproximar de mim só por ser filha de um professor e do treinador do time de futebol, mas acabou que tirando Mike, nunca fiquei com nenhum aluno dos meus pais.

— Por que você não fica com o Liam? O beijo ontem não foi bom?

— Alice, durou três segundos.

— Saí com ele e beija mais, quem sabe é bacana.

— Liam é legal, mas não quero ficar de rolo com quem trabalha comigo, poderia acabar mal. — Fiquei de pé e fui até a cozinha pegar água para tomar o remédio. — Você não tem nenhum amigo pra me apresentar? — Alice riu baixinho.

— Bella, eu praticamente só tenho você, Rose e Jasper de amigos. Sabe que sou a mais antissocial dessa casa…

— Eu também sou.

— Até parece, tinha mais de vinte pessoas aqui ontem por você.

— Uma das pessoas por mim nem teria vindo.

— Sério? Você não reclamou do Edward tomando tequila da sua barriga.

Não respondi, tomei o remédio, peguei uma maçã e fui até o quarto pegar meu celular. Ao retornar para a sala já estava baixando o Tinder, mostrei para Alice e declarei:

— Hoje eu vou transar. Você deveria baixar também, vamos achar caras gostosos e curtir o domingo.

— Eu só quero ficar nesse sofá recuperando minhas energias.

— Alice, é sério, preciso que você me apoie, ou vou acabar saindo com algum idiota. Tipo aqueles que colocam no perfil: se for feia, nem tente. Ou pior ainda, vou desistir do Tinder e ir procurar o Mike.

— Você não pode voltar a ficar com aquele traidor!

— Eu sei, mas quero transar, você não faz ideia.

— Que tanto tesão é esse? — perguntou confusa. — Não tá na hora de ir a um médico ver se tá tudo bem com seus hormônios?

— Vai fazer dois meses que não transo, eu transava sempre quando tava namorando aquele traidor do Newton, meu corpo se acostumou. Sabe quando sua bateria do celular tá acabando, mas a luz ainda tá forte? A minha bateria está quase no fim e nem tem mais carga para a luz forte, estou nos 5%, aguentei por semanas na economia de energia, só que não dá mais.

— Que analogia ruim.

— Eu sei, mas é como me sinto. Há quanto tempo você não transa mesmo?

— Sei lá, mais de um ano? Fiquei com aquele amigo do Emmett no verão do ano passado.

— E não está necessitada como eu? Que inveja!

Alice riu.

— Vai ver a bateria do meu celular ainda não está viciada como a sua.

— Viu? Minha analogia nem é tão ruim assim.

— Você só quer sexo, mesmo? — perguntou apontando para meu celular, eu estava recuperando minha antiga conta no aplicativo. — Ou já acha que tá pronta para um novo namoro?

— Hoje eu só quero sexo, mas se for um cara legal… — Suspirei. — Pode ser que evolua pra algo sério, né? Eu ainda tô muito mexida por conta da traição, mas ainda quero casar um dia, ter uma família e tudo mais, não vou fugir de romance, só vou tomar mais cuidado de não acabar me envolvendo com quem não me ama verdadeiramente de volta. Sinto que fui só uma brincadeirinha pro Mike, toda vez que lembro dele sendo chupado por aquela lá, depois vindo até aqui como se pudesse consertar os erros dele com palavras arquitetadas me sinto uma idiota tola. Então, sim, eu vou transar com alguém hoje, mas não irei entregar meu coração para qualquer um, já sofri muito e não quero sofrer mais.

— E você acha que consegue lidar apenas com sexo sem compromisso? Mesmo que apenas por uma noite.

— Claro que sim.

— Você ainda fantasia com o Demetri… — Olhei para ela na hora, estava séria me olhando de volta. — E só transou com ele uma vez.

— É diferente, não me imagino com o Demetri só por conta daquele sexo, eu era apaixonada por ele, Alice. Foi minha primeira paixão por um cara não famoso, sabe? Demetri era muito, muito legal, parte de mim ainda acha que ele é o meu cara certo, minha alma gêmea, infelizmente perdemos o contato. Mas vai saber, quem sabe um dia ele reaparece. Talvez foi por isso que levei chifre do Mike, para acabar solteira de novo e reencontrar Demetri.

— Não acho que a vida seja tão comédia romântica assim, amiga.

— Vamos mudar de assunto e focar aqui? — Balancei meu celular, o Tinder estava prontinho para uso.

— Você já pensou em voltar para a terapia?

— Estou bem, Alice.

— É sério, deveria voltar.

— Não preciso — teimei. — Agora foco nos gostosos.

Nem tive tempo de ver cara algum, na hora ligaram para mim e apesar de detestar ligações, eu quase nunca deixava de atender a pessoa me ligando naquele momento. Pedi licença para Alice e fui atender na cozinha.

— Oi, Renata — falei ao atender.

— Olá, tudo bem?

— Tudo sim, e você? Aconteceu alguma coisa?

— Não, não, tudo bem, querida. Só liguei porque acabei de sair do trabalho e estou com tantas saudades suas, você acha que consegue me ver hoje? Podemos comer alguma coisa aí por Berkeley, que tal?

Bom, foda-se o Tinder e minha intenção de transar naquele domingo. Eu ainda preferia ir ver Renata, fazia muito tempo que não nos víamos, e eu estava um pouquinho melhor sobre nossa relação naquele domingo, depois de dias atrás quando até acabei chorando na academia pensando em nosso passado.

— Claro, podemos sim! — concordei na hora. — Vem de carro? Me busca no meu prédio?

— Perfeito, eu te busco. Devo chegar aí por volta de três e meia, tudo bem para você? Ainda preciso ir em casa trocar de roupas e depois pegar a estrada.

— Sim, ótimo, é o tempo de eu me arrumar também. Até depois.

— Já já tô aí, beijos.

Mandei beijos também e finalizei a ligação.

— E o Tinder? — Alice perguntou.

— Fica pra outro dia. — Dei de ombros. — Acho que meu celular não vai desligar ainda por falta de bateria.

X

Eu era muito parecida com Renata, formato de rosto, cor de olhos e cabelos, sorriso e até mesmo pintinhas iguais no pulso esquerdo. Olhar para ela era como ter uma prévia de como seria mais velha, e os homens viviam de olho nela, então talvez eu não fosse morrer solteira.

— Ele tá afim de você — comentei sobre o garçom que estava atendendo a gente no restaurante. — Dá seu número para ele — incentivei.

— Nem pensar. — Renata riu, tirando a vela do cupcake que tinha pedido para cantar parabéns para mim. O garçom tirou fotos nossas, eu já estava publicando uma no Instagram, com a legenda falando que aquela já era minha terceira comemoração dos meus 21 anos, as fotos da outra noite publiquei quando estava no carro com Renata e não escolhi nenhuma com Edward presente.

— Por quê?

— Não estou procurando um namorado. Pode comer seu cupcake agora? Deixa esse celular de lado.

— Ok, ok. — Postei a foto e guardei o celular na bolsa, podendo enfim comer meu bolinho, diferente de mim ela não gostava tanto de doces e tinha pedido mais uma porção de batata frita.

Não estávamos em um restaurante caro, era um lugar legal, mas com preços em conta. Renata tinha uma vida financeira bem melhor trabalhando como gerente de uma loja de shopping, mas estava longe de ser rica, disso eu sabia.

Porém, ficava feliz dela conseguir se sustentar sozinha. Morava com seu gato, o Percy — nome que eu escolhi em homenagem a Percy Jackson —, em um apartamento de um quarto em São Francisco. Não era apartamento próprio, mas ela não ser mais despejada como rolava antigamente já era ótimo.

Ela não tinha se estabilizado financeiramente magicamente depois de me entregar para a adoção, ainda passou por um monte de problema por falta de dinheiro e teve que trabalhar pra caramba. Mas com o tempo, tudo foi se ajeitando, conseguiu se firmar por períodos mais longos nos seus empregos e foi crescendo. Era muito bom ver que minha mãe não tinha mais a vida conturbada de antes, que as coisas tinham se ajeitado para nós duas, ainda que com a gente separadas.

— Me conta, nenhum namorado mesmo? — perguntei, ela riu outra vez.

— Eu deveria estar fazendo essa pergunta, Bella. — Mexeu em meus cabelos. — Você cortou o cabelo, né?

— Sim, no dia 13, mas foi só um pouquinho. E não tem nada, nenhum tipo de cara na minha vida desde o que rolou com Mike.

Eu acabei contando sobre a traição para ela dias depois de tudo que rolou, Renata ficou muito chateada por mim, mas tentou me confortar e garantir que iria encontrar alguém melhor.

— Já encontrou esse aí depois do término?

— Não, mas estudando na mesma universidade será questão de tempo até isso acabar rolando.

— E quem era aquele no dia do seu aniversário? Vi no Instagram, o garoto com vocês no restaurante.

— O ruivo com cara de emo? — perguntei meio irritada.

Renata franziu o cenho.

— É meu vizinho, Edward. Ele joga futebol no time do papai, e é amigo do namorado da Rose.

— E por que você tá falando dele com esse tom de voz bravo?

— Porque ele é um idiota. — Bebi mais um pouco de coca-cola.

— Por quê?

— É o cara que atropelei andando de skate, lembra dessa história? — Renata engoliu uma risada, eu percebi, o que só me fez revirar os olhos.

E eu não contaria para ela sobre quando Edward me fez, por conta de outro joguinho de verdade ou desafio, invadir propriedade alheia para nadar de roupas íntimas. Meus pais sabiam disso, não aguentei e acabei contando para eles, para anunciar como o ódio por Edward tinha se tornado mútuo, mas tinha vergonha de contar para Renata e ela me ver como uma criadora de problemas.

Essa era uma diferença entre ela e meus pais, ou melhor, na forma como eu via eles e a mulher. Aprendi a confiar tudo aos dois, meus sonhos, minhas dores, meus erros. E apesar de ainda contar muita coisa para Renata, ela não era para mim uma figura que representava apoio incondicional, não quando no fundo ainda achava que a qualquer momento minha mãe biológica poderia sair da minha vida novamente.

— Sim, eu lembro de você me contar da história do atropelamento e que esse Edward não te suportava, mas o que ele estava fazendo no seu jantar de aniversário? Já que não gosta dele.

— Ele apareceu na pizzaria e papai Charlie o convidou para se juntar a gente, não foi porque eu quis e só postei aquela foto que ele aparece por estar bonita nela.

— Ah sim, entendo.

— Podemos mudar de assunto? — questionei, sem querer voltar aos pensamentos da última noite.

— Sim, me fala mais do estágio.

E eu falei, podendo tirar minha mente de Edward Masen.

X

Fiquei com Renata na rua até seis horas, no meu apartamento Alice estava mais uma vez dormindo no sofá com a TV ligada. Daquela vez tinha certeza de que ela estava apagada, já que passava um programa de esportes e minha amiga não era nada ligada ao mundo esportivo.

— Tchau, Grande Marcus — murmurei para o apresentador do programa antes de desligar a TV.

Alice não acordou, eu segui para meu quarto e me joguei na minha cama, só tirando meus tênis. Com o celular em mãos vi que Rosalie mandou mensagem no grupo que tínhamos com Alice avisando que não sabia ainda se iria dormir no apartamento de Emmett, mas qualquer coisa nos avisaria para não ficarmos preocupadas. Respondi, falando que tudo bem e informando sobre nossa amiga ainda estar recarregando suas energias dormindo.

Como ainda era cedo, decidi que podia voltar ao meu projetinho do gostoso do Tinder. Abri o aplicativo e comecei a ver os caras, dei match com alguns, e recebi mensagens, mas iria olhar outros antes de começar a responder.

Ri quando apareceu o perfil de Jasper, deslizando para a esquerda. E parei de rir quando o próximo foi Edward Masen, meu maldito vizinho.

A sua foto era dele jogando futebol americano, mal dava para ver o rosto por conta do capacete, mas consegui enxergar o vislumbre de um sorriso. Meu dedo coçou para deslizar o ícone da direita, mas resisti à tentação.

Comecei a ler as mensagens dos outros caras.

Harry: Oi, gatinha.

Aquele ignorei, não queria ninguém me chamando daquele jeito, só me fazia pensar em Mike.

Bruce: Ei, você é amiga da Rose Hale, né? Ela ainda tá namorando?

— Idiota!

Paul: Oi, acho que a gente já fez aula juntos no ano passado. Tudo bem?

Eu lembrava dele, era Paul Lahote e tínhamos mesmo feito uma matéria juntos.

Bella: Oiii, tudo bem. Como você tá?

Estava esperando a resposta dele quando recebi outra mensagem, mas não pelo Tinder e sim pelo Instagram. E era… Porra, era do Edward.

Edward Masen: A mulher da foto é a Renata? Você é a cara dela.

Em seguida, recebi a notificação de que ele tinha acabado de curtir minha foto com a Renata. O que achei suspeito, Edward tinha visto a foto, mandado mensagem primeiro e só depois curtido? Meu vizinho estava stalkeando meu perfil silenciosamente?

Recebi mais notificações do Tinder, mas acabei as deixando de lado para responder Edward.

Isabella Volturi: Sim, é ela…

Edward Masen: Você tá em casa?

Isabella Volturi: Uhum.

Por que ele queria saber aquilo? Ia colocar uma das músicas chatas dele para atormentar meu juízo?

Edward Masen: Posso ir aí?

— O quê? — Sentei na cama. — O que você quer comigo? — perguntei para o celular e digitei uma pergunta como resposta.

Isabella Volturi: Pra?

Edward Masen: Quero conversar com você.

Edward Masen: Pessoalmente.

— Pelo amor de Deus — murmurei. Como assim conversar? Sobre o que?

Edward Masen: Posso ir aí?

Ele podia?

Edward Masen: Você tá sozinha?

Isabella Volturi: Alice tá aqui.

Meu coração estava muito, muito acelerado.

Edward Masen: Vem aqui em casa, então, eu tô só. Aí a gente pode conversar sem ninguém por perto.

Ele queria me matar? Ele queria me foder? Porra, ele queria transar! Eu queria transar com Edward? Caralho, sim, eu queria!

Edward Masen: Você vem?

Eu iria? Fechei os olhos e contei até dez calmamente, pensando no que fazer, me acalmei só um pouquinho, mas o suficiente para tomar minha decisão.

Isabella Volturi: Vou.

Larguei meu celular e pulei da cama, abri meu armário e comecei a procurar o que vestir. Estava em um dilema de moda, até me deparar com a camiseta de Edward que tecnicamente eu tinha roubado.

— Que se foda! — Peguei a camiseta para vestir, escolhendo também uma calcinha nova e linda que eu tinha comprado no Havaí e nem usado ainda, um short jeans curto e nada de sutiã.

Corri até o banheiro, tomei um rápido banho sem lavar os cabelos — por sorte tinha os lavado antes de sair com Renata —, escovei os dentes duas vezes, coloquei um pouco de maquiagem para esconder as olheiras e passei só um hidratante nos lábios. Me vesti e peguei meu celular, só para checar se Edward não tinha desistido da nossa conversa durante o tempo que fiquei me arrumando.

Ele não tinha dito mais nada, então mandei outra mensagem.

Isabella Volturi: Tô indo.

Fiquei mordendo a ponta do meu polegar direito até meu vizinho responder.

Edward Masen: Tô te esperando.

Peguei camisinha na mesa de cabeceira e guardei no bolso do short, respirei fundo algumas vezes e saí do quarto. Alice ainda estava dormindo, então deixei uma mensagem em nosso grupo com Rosalie.

Bella: Vou sair com meus pais, amores.

Okay, não era legal mentir para minhas amigas, mas não queria falar nada sobre Edward e eu ainda. Afinal, talvez nem rolasse algo, não era uma certeza.

Saí do meu apartamento e bati na porta do 505, Edward abriu tão rápido que parecia estar esperando junto da porta. Usava uma calça moletom preta e uma camiseta cinza com o nome da universidade, os cabelos estavam molhados, ele exalava cheiro de shampoo e sabonete.

— Oi — murmurou para mim, desviando seu olhar para meu corpo. — Sabia que você tinha roubado minha camiseta, Isabella.

Eu sorri, os olhos dele se voltaram para meu rosto e Edward sorriu também.

— Entra. — Indicou o interior do seu apartamento.

Entrei, nossos braços se tocando por dois segundos quando passei por ele. Já tinha estado naquele apartamento algumas vezes, era parecido com o meu, só que mais bagunçado, não que eu fosse a rainha da organização, ao menos tinha um cheiro bom de chocolate no ar.

— Quer comer alguma coisa? — ele perguntou, ao mesmo tempo que eu questionei.

— O que você queria conversar?

Edward assentiu, sentando no sofá, sentei ao lado dele, mas não muito perto. Precisando de espaço para respirar.

— Não consigo parar de pensar em você deitada naquela mesinha — disse, sem desviar os olhos dos meus. Eu senti que estava derretendo ao escutar aquilo, já que Edward falou em um tom de voz que gritava sexo.

Respirou fundo e se moveu para ficar mais próximo, repousando uma mão sobre meu joelho direito. A mão dele era quente, grande e grossa.

— Não consigo esquecer o gosto da sua pele.

Puta merda, eu ia mesmo transar com ele!

— Por que você não pegou o limão da minha boca? — me vi perguntando.

— Você queria que eu pegasse? — Respondi com um aceno de cabeça, ele fez uma careta. — Você estava muito tensa deitada lá, quis acabar com tudo logo pra te livrar, achei que não estava curtindo.

— Eu estava. — Ele soltou uma risada baixa e olhou para sua mão sobre meu joelho.

— Achei que você fosse me beijar depois, mas beijou aquele cara.

— Eu ia te beijar.

— Por que não beijou? — Ainda olhava para sua mão, seus dedos se moveram sobre minha pele bem devagar.

— Porque você tirou o limão de mim com a mão. — Ergui seu rosto, fazendo com que me olhasse. Ficamos em silêncio por alguns segundos, levei meus dedos até seu pescoço e quis beijá-lo ali.

— Quero transar com você, Isabella — declarou.

— Eu vim aqui, não vim? — Dei de ombros.

— É, você veio. — Tirou a mão do meu joelho e colocou na minha nuca, me arrepiei por completo. — Só quero sexo, Isabella. Tá tudo bem por você?

— Beleza, eu também só preciso de um carregador com urgência.

— O quê?

— Esquece, concordo que é só sexo!

— Não acredito que vou transar com a menina que roubou minhas roupas.

— Você vai.

— É, eu vou.

Então, ele me beijou. Me puxou para mais perto de si, a mão ainda na minha nuca. Seus lábios encontraram minha boca, ele tinha gosto de M&M's, beijava com vontade, me deixou mais uma vez derretida.

Com a outra mão, me colocou sobre seu colo, eu gemi e ele sorriu contra meus lábios. Ouvimos música country começar a tocar, não no apartamento dele, nem no meu, deveria ser a vizinha do 501.

Afastei nossas bocas e pedi:

— Coloca alguma das suas músicas emo pra tocar, melhor do que essa chatice country.

— Vamos pro meu quarto.


¹As estrelas estão caindo do céu. E você é a razão disso. A lua está brilhando em seu rosto. Porque finalmente parece que ela encontrou seu lugar. Porque querida, querida quero transar com você, com você. Você quer transar comigo, comigo, sob o luar, o luar? Querida, querida, talvez eu a roube a roube. Só para senti-la, senti-la. Talvez isso a cure, a cure. Por dentro.

Beijão!

Lola Royal.

16.10.22