N/a: Um novo capítulo! Gostaria de agradecer pelo feedback deixado! Maria Teresa C, que ótimo que você está aprendendo português! Não tenho problema com a review em espanhol, estudei a língua por anos e consigo entender bem, apesar de não arriscar falar. Colleen S, I might consider translating it to English, maybe during my vacation as it requires some effort. JAC-LA, yes, there is a property in Norfolk, which is well protected. Lord Henry wants the residence in London because it belonged to his family in the past. I will come back to James' death, as well as Lucy's behaviour.
Capítulo 3 - Mrs. Collins
Elizabeth, Jane e Lucy foram recebidos com empolgação por Mr. Collins e mesmo Mary demonstrou satisfeita em vê-las. Ela fez questão de servir chá para as irmãs e, como Mr. Collins se propôs a mostrar o jardim para Lucy, as três irmãs tiveram paz para conversar a sós.
-Você parece bem aqui, Mary.
-Eu estou. - ela disse, o fantasma de um sorriso brincando em seu rosto. - Quando William está ocupado com seus afazeres eu tenho a casa só para mim, e é tudo tão silencioso.
Jane sorriu, entendendo que, de onde elas vinham, uma casa silenciosa era a coisa mais rara que poderiam imaginar.
-Tenho trabalhado duro na minha música e leitura. - continuou Mary. - Lady Catherine permite que eu use o pianoforte para estudar, assim como sua biblioteca.
-Ela parece gentil. - disse Elizabeth, tentando segurar o riso ao lembrar da eloquência que o primo assumira ao falar da senhora mais cedo.
-Essa seria uma forma de descrevê-la. - disse Mary, seus olhos iluminados por um tom brincalhão.
Elizabeth continuou a observá-la enquanto conversavam e tomavam chá. Era essa a primeira vez que olhava para a irmã mais nova com tanta atenção? Mary sempre havia sido a mais deixada de lado, era difícil demandar atenção com Lydia e Kitty para dividir os holofotes. Mas ela parecia estar florescendo em sua nova vida de casada, e isso se manifestava na forma como falava.
-Vocês poderão julgá-la pessoalmente. Fomos convidados para jantar em Rosings hoje à noite, e Lady Catherine gentilmente estendeu o convite para vocês duas.
~X~
Elizabeth deu as últimas instruções à Grace, a babá, antes de sair para o jantar em Rosings. Lhe preocupava deixar a filha depois do que acontecera na carruagem, mas não houve nada que falasse que pudesse convencer Mr. Collins de que ela teria motivos plausíveis para recusar o convite. Ela entrou no quarto para se despedir da menina, que lhe deu um beijo no rosto, a mirando fixamente.
-Mama... por que eu não tenho os seus olhos? - Elizabeth estranhou a pergunta.
-Seus olhos são muito mais bonitos que os meus, meu amor. - ela disse com sinceridade, admirando o verde vivo dos olhos da filha.
-Mas eu queria ter olhos castanhos, como você e papai.
Elizabeth suspirou. A cabecinha dela ainda estaria presa no mesmo assunto?
-Nós não escolhemos nossos traços físicos, Lucy. Se pudéssemos escolher, eu gostaria de ter seus olhos. Me lembra uma folha nova no verão.
A menina sorriu, levemente.
-E antes que pergunte, não, a cor de seus olhos não faria seu pai amá-la mais ou menos. Agora realmente preciso ir. Durma bem e tenha bons sonhos.
Lucy se demorou um pouco no último abraço, mas por fim se deixou ser colocada na cama. Elizabeth saiu do quarto da menina, sorrindo para a babá, e desceu as escadas pensando em seus questionamentos.
Ela não pôde continuar a pensar no assunto, no entanto, já que por todo o caminho até Rosings Mr. Collins lhe requisitava a atenção, pedindo que admirasse isso ou aquilo e contando muitas histórias interessantíssimas a respeito de sua benfeitora.
A primeira impressão que Elizabeth teve de Lady Catherine foi que ela era uma pessoa com influência, e tinha orgulho em mostrar isso. Ela fez várias perguntas a elas a respeito de sua família e Elizabeth sentia que as perguntas não eram movidas por um interesse genuíno na situação, mas sim no julgamento e posterior aconselhamento. Aquilo com certeza devia fazê-la sentir-se bem. Ela viu Mary fazer o mínimo movimento exasperado com os olhos, como costumava fazer quando Lydia ou Kitty repetiam a mesma pergunta pela milésima vez. Estaria Lady Catherine investigando as respostas que elas davam e comparando com aquelas que com certeza fizera à Mary?
-Mr. Collins me contou a respeito de seu marido, Mrs. Sheffield. Eu sinto muito.
-Eu agradeço, my ladyship.
-Você também tem uma jovem filha, não? Quantos anos ela tem?
-Está para fazer quatro anos.
-Pobrezinha. Ela sente muito a falta do pai, imagino. Minha Anne tinha dez anos quando perdeu o pai. É mais difícil para as crianças.
Elizabeth percebeu que, à sua menção, Lady de Bourgh ergueu levemente a cabeça, mas não disse nada.
-Você sempre viaja com a menina a tiracolo? - perguntou Lady Catherine repentinamente.
-Eu havia levado-a para visitar meus pais, senhora. Decidimos visitar minha irmã quando estávamos em Hertfordshire, e Mary me disse que não haveria problema em trazê-la.
-Mas com certeza você tem ao menos uma babá para a menina? Devia tê-la deixado em Londres, com a babá. Na sua rota para o sul com certeza passaram pela cidade!
-Sinto que minha filha precisa de mim frente à situação pela qual passamos. Não a afastaria por simples conveniência.
Foi com admiração que Elizabeth percebeu que a isso a senhora não teve resposta. Então mudou de assunto.
-Entendo que já faz quase um ano que tudo aconteceu. Pensa em casar novamente?
-Com todo respeito minha senhora, esse é um assunto que convém apenas a mim.
Um som de engasgo veio da direção de Mr. Collins, mas Elizabeth permaneceu com o olhar firme em Catherine de Bourgh. Estava cansada de ter cada aspecto de sua vida exposto e analisado pela senhora.
-Oras, me preocupa a sua posição, só isso. Imagino que o que você tem hoje pertencia ao seu marido, e você não tem herdeiros. Você precisa garantir o seu futuro, e o de sua filha. Tenho certeza de que Londres está cheia de cavalheiros que aceitariam a tarefa. Você já se mostrou capaz de gerar filhos.
Elizabeth sentiu a raiva lhe colorir as bochechas mas antes que ela falasse algo impensado, Jane veio ao seu resgate, fazendo perguntas a respeito de Anne e suas habilidades musicais. Elizabeth deu um olhar agradecido à irmã.
-Lizzy, não deixe que as palavras dela a incomodem. - diria Jane mais tarde, quando as duas caminhavam de volta a Hunsford, alguns passos atrás para que não fossem ouvidas – Aposto como ela não tem muita distração aqui, só com a filha como companhia. E, apesar de ser um pouco direta, ela parecia realmente preocupada com a sua situação.
Elizabeth riu, uma risada sem humor. Só Jane para conseguir ver as atitudes da mulher sob uma luz favorável. Ela respirou fundo, ainda com raiva.
-Sabe o que mais me irrita nisso tudo? - disse em um cochicho zangado. - Quando me casei com James achei que finalmente estava livre das pessoas comandando o que deveria fazer da minha vida. Esse peso que nos persegue, de que devemos nos casar... achei que estava livre dele, e à época me senti tão esperta. Quando eu iria imaginar que em poucos anos... que em poucos anos seria atormentada por ele novamente?
-Lizzy... - gemeu Jane, vendo os olhos brilhantes da irmã, mas sem saber se eram de um choro iminente ou de raiva.
-Lady Catherine não é a senhora mais generosa que já conheceram? - disse Mr. Collins, escolhendo aquele momento para se virar e dirigir-se às primas.
-Com certeza. - disse Jane, apertando a mão da irmã para que ela segurasse a língua. - Muito generosa.
~X~
Elizabeth observou a irmã mais nova falando com uma das empregadas a respeito do cardápio para o jantar. Ainda não se acostumara a ouvir as pessoas tratando-a por Mrs. Collins. Apesar de falar em um tom bem baixo e às vezes apertar as mãos, como se em nervosismo, Mary resolvia tudo que estava sob sua responsabilidade como senhora de Hunsford. A empregada saiu, e Mary olhou para a irmã, incerta.
-Você está se saindo muito bem. - Elizabeth disse, sabendo que ela precisava de encorajamento.
-Às vezes me pergunto se o tom de voz é apropriado, se minhas ordens são o que os empregados esperam, ou se eles riem de mim pelas costas. - disse ela, se sentando ao lado da irmã onde as duas tomavam o café da manhã. - Deveria haver um livro com instruções.
-Há vários livros no assunto de cuidar de uma casa.
-Mas nenhum deles traz instruções exatas. - disse ela, e Elizabeth teve a distinta impressão que a irmã havia lido todos os livros sobre o assunto que conseguira acessar.
-Não há instruções exatas, Mary. - disse Elizabeth, segurando sua mão. - Ao menos Mr. Collins parece não interferir nas suas decisões.
Mary riu.
-Depois de lidar com mamãe por tantos anos, Mr. Collins não é nenhum desafio. Ele é facilmente dobrável.
Elizabeth arregalou os olhos, logo depois caindo na risada. Onde estivera essa menina cheia de espírito em Longbourn? As duas realmente haviam crescido juntas?
Mary se juntou à ela nas prolongadas risadas mas logo as duas se forçaram a parar. Jane e Lucy ainda dormiam.
-Quais são seus planos para hoje? - perguntou Elizabeth, depois de as duas terem parado de rir e recuperado o fôlego.
-Preciso visitar um membro da congregação que anda doente. Irei lhe levar alguns livros. Jane irá comigo, não gostaria de se juntar a nós?
-Não, tenho planos de explorar o parque, hoje que o tempo está mais firme. Ainda não tive essa chance.
A caminhada pelo parque e então pelo bosque que ladeava Rosings se provou tão prazerosa quanto Elizabeth esperava. Seu espírito estava leve pois sabia que, naquela noite teria que aturar apenas Mr. Collins. Era uma tarefa cansativa, mas fácil se comparada à de aturar Lady Catherine.
Os convites para jantar em Rosings continuaram, no entanto, e Elizabeth ficava cada vez mais contrariada. Mais de uma vez Lady Catherine pediu para que ela levasse a filha para conhecê-la, mas ela não queria ter que suportar o julgamento da senhora também na menina. Ainda mais agora que Lucy parecia ter voltado ao seu temperamento normal. Ela não mais mencionou James, e gostava de correr pelo jardim de Hunsford e pelos bosques ao redor. Grace tinha dificuldade em acompanhá-la, e Mr. Collins reclamou mais de uma vez de legumes pisoteados, ao que Elizabeth se desculpava e prometia conversar com a filha. Mas, apesar dela realmente repreender a menina, pedindo que tivesse mais cuidado em suas brincadeiras, estava feliz em vê-la novamente se divertindo. As duas faziam uma caminhada pelo bosque juntas todas as manhãs e, entre tentar subir em uma árvore ou correr à frente da mãe, Lucy conversava com ela a respeito do que achava de Hunsford e das pessoas.
-Eu gosto da Ruth, ela sempre me deixa roubar biscoitos na cozinha – disse Lucy, referindo-se à cozinheira dos Collins. - E o tio William é engraçado, mas eu não entendo nada do que ele fala.
-Às vezes eu também não entendo. - disse Elizabeth em tom de segredo, rindo.
Algo que também lhe surpreendera fora a forma como Mary e Lucy haviam se aproximado. Quando ela ainda morava com os pais, Mary nunca mostrara nenhuma inclinação especial pela sobrinha quando essa visitava. Mas ali, como senhora da casa e não mais uma das tias, ela tomara gosto por fazer muitas atividades junto da menina. O que Lucy mais gostava era de sentar ao lado da tia enquanto essa lia. Ela se enroscava em seu colo como um gato e Mary, cativada pela atenção, lhe contava tudo sobre os sermões de Fordyce. A menina fingia interesse mas logo se distraía e Mary percebia, por suas perguntas aleatórias, que ela não estava prestando atenção. Então ela deixava o livro de lado e sugeria que as duas apostassem uma corrida até o lado de fora, ou fossem atrás de frutas silvestres que tivessem sobrevivido ao inverno. Lucy não gostava de ser desafiada e não responder à altura, por isso se colocava em pé assim que ouvia o desafio ser proferido.
Certo dia Elizabeth passou mais de meia hora procurando a menina, sabendo bem que não havia comido nada desde de manhã. A menina, no entanto, não estava em nenhum dos lugares onde ela costumava brincar e Elizabeth adentrou os jardins de Rosings, tentando avistar a cabecinha loira. Ela pensou ter ouvido uma risada vir de trás de um dos altos arbustos, e resolveu fingir que não havia visto, caminhando naquela direção com uma falsa distração. Ela mais uma vez ouviu uma gargalhada contida, agora voltando na direção das passagens que davam para a mansão. Resolvendo surpreender a filha, ela saiu correndo de trás do arbusto, se jogando contra...
Um momento depois ela estava caída no chão, confusa. Ergueu os olhos para o homem em quem tinha trombado. Ele parecia surpreso demais para dizer qualquer coisa, por isso ela se pôs de pé sozinha, batendo a sujeira do vestido.
-Peço perdão, senhor. Não o vi no caminho, imaginei que fosse minha filha...
-E o que exatamente estava fazendo, se escondendo atrás de arbustos e se jogando em pessoas? - ele disse, ríspido.
Elizabeth o mirou, tentando decifrar quem ele era. Suas roupas eram finas e sua pose, altiva. Ela se lembrou de uma conversa entre Collins e Mary no dia anterior, de que Lady Catherine estava esperando a visita dos sobrinhos. Seria ele o Coronel Fitzwilliam? Ou Mr. Darcy?
Elizabeth sentiu algo abraçar suas pernas e não precisou olhar para saber que a filha se agarrara a ela. Ela colocou a mão na cabeça da menina, sabendo o quão tímida ela era com estranhos. Mas Lucy também era protetora, e ela com certeza ouvira a forma como o cavalheiro se dirigira à mãe.
-Parece que acabei de encontrar minha filha. Tenha um bom dia, senhor. - disse Elizabeth com a voz controlada, fazendo uma mesura e se afastando, levando a filha pela mão. Ela arriscou olhar uma vez para trás. O cavalheiro não dissera nada, mas olhava as duas se afastando, a boca levemente aberta em uma manifestação de surpresa.
