Um beijo não é apenas um beijo
Capítulo 6: A maldição
Quando ele ia segurar a maçaneta da enfermaria, ela girou. Harry deu um pulo para trás e saiu do caminho, segurando a capa a seu redor. Quem viria à ala hospitalar a essa hora?
Ele assistiu Dumbledore entrar, seguido por Madame Pomfrey bastante preocupada. Eles foram direto para cama de Hermione. Harry os seguiu, curioso sobre o que traria o diretor até ali numa hora dessa, querendo mais pistas sobre o que estava errado com Hermione.
Madame Pomfrey falou primeiro, "Eu só preciso que você confirme a conclusão a qual cheguei hoje. Você estava aqui na última vez que isso ocorreu, se minha pesquisa no arquivo da escola está correta."
Dumbledore afirmou com a cabeça, "E você disse que ela está sonhando? Ela disse alguma coisa que você pudesse entender?" Dumbledore perguntou, inclinando-se sobre Hermione, sua voz pesada com preocupação.
"Não. Nada que fizesse sentido, Alvo. Mas você sabe sobre o que são os sonhos, se não estou enganada. É melhor que ela não diga nada, não acha?"
"Sim, Poppy, provavelmente você está certa." Ele pegou o braço direito de Hermione e o virou, olhando a parte de dentro de seu pulso. De onde estava, Harry não pôde ver o que Dumbledore estava olhando, mas deveria ser importante, pois ele olhou para Madame Pomfrey com uma preocupação que Harry raramente via no diretor.
"Sim, Alvo. Também notei isso."
"Talvez tenhamos alguns dias," Dumbledore falou solene.
Dumbledore colocou gentilmente o braço de volta e se levantou. Madame Pomfrey ajeitou o lençol para cobrir seus dois braços. "Cuide que nenhum garoto a visite. Eu falarei com seus dois amigos pela manhã," Dumbledore instruiu.
Madame Pomfrey respondeu imediatamente, "Evidente," houve uma pequena pausa antes que ela continuasse, "Mas Alvo, você acha que podemos encontrar -?" mas ela não terminou pois Dumbledore levantou sua mão.
"Não vamos especular por enquanto. Está tarde. Eu vou para cama. Recomendo que faça o mesmo. Boa noite." E com isso, Dumbledore saiu da ala hospitalar, deixando Madame Pomfey em pé com as mãos na cintura. Ela bocejou, checou Hermione rapidamente e depois saiu, trancando a porta atrás dela.
*****
Enquanto estava lá na enfermaria sob a capa da invisibilidade, a mente de Harry girava com tantos pensamentos que parecia que ia explodir. Essa doença de Hermione, o que quer que fosse, parecia ser muito séria. Por que ela não podia ser visitada por garotos? Era por causa daquela força estranha, invisível, que parecia estar a seu redor? Se esse era o caso, então por que Dumbledore pôde segurar o braço dela? E por que Harry e Rony puderam tocá-la quando tentavam acordá-la?
Ele lembrou da reação de Dumbledore ao que ele viu no pulso dela. Harry decidiu que ele próprio precisava ver. Ele foi até a cama de Hermione, apoiando-se sobre um joelho. Ele gentilmente dobrou o lençol para deixar o braço exposto que estava caído ao lado do corpo envolvido pelas vestes listradas padrão da enfermaria. Ele podia sentir a pontada de nervosismo em seu estômago quando ia levantar seu braço. Ele ia ser arremessado de novo?
Muito cuidadosamente, e apertando os dentes como se esperasse um soco na barriga, ele tocou o braço. Nada aconteceu. Ele o levantou e suavemente o virou para olhar a parte de dentro do pulso. Havia uma marca de uma lua crescente azul-celeste brilhando em sua pele. Era como se alguém tivesse colocado nela uma daquelas tatuagens que Duda uma vez usou para cobrir Harry quando ele tinha sete anos. Ele tentou esfregar para tirar, apesar de não saber porque tentou, já que sabia que não era uma daquelas tatuagens falsas.
Seu olhar voltou-se para o rosto de Hermione. Ele a olhou por alguns momentos, relembrando a noite na qual a beijou na sala de Astronomia Avançada. Ele disse que achava que a amava, mas ele sabia o que isso significava? Ele podia mesmo estar amando sendo tão jovem?
Ele lembrou de uma aula de saúde em particular que ele teve no ano anterior ao que ele entrou em Hogwarts. Separando os meninos e as meninas, os professores tentaram instruir os alunos sobre reprodução humana e relacionamentos. Ele sorriu ao lembrar a maioria dos garotos brincando tumultuosamente na sala enquanto o professor, um senhor chamado Speen, tentava manter um semblante calmo e de ordem durante seu discurso sobre o amor que um homem e uma mulher podiam compartilhar. Mas relembrando daquela aula, Harry lembrou que ele não mencionara nenhuma idade para começar a amar ou como saber se estava amando.
Ele pensou nas conversas que ele e Rony tiveram com Fred e Jorge sobre garotas e namoro. Essas conversas concentravam-se principalmente no que Fred e Jorge nomearam "fazer as jogadas no campo de quadribol". Eles pareciam bastantes interessados em "passar a goles pelos aros" e levavam muito discutindo várias técnicas vindas das gerações anteriores a deles. Mas eles raramente mencionavam estar amando. A única vez que o fizeram eles estavam falando de seu amigo, Lino Jordan e como ele estava completamente enfeitiçado por uma bruxa.
*****
"Vê como ele a segue para todo canto?" Jorge notou em uma manhã durante o café.
"Ele está caidinho por ela, aquele pobre coitado," Fred completou , balançando a cabeça em desaprovação. "Não se pode contar com ele pra mais nada agora. Ele sempre vai ter que falar com ela antes."
Hermione balançou a cabeça sorrindo e olhou do livro que lia para Lino enquanto ele seguia Alícia pelo Salão Principal. Ela fechou o livro, olhou para Fred e falou com o tom autoritário, "Você está com ciúmes Fred. Você vê o quanto ele está feliz com ela? Você só está interessado em ficar, mas você realmente está perdendo se é só nisso que você pensa. Amar é - "
Uma voz pretensiosa veio detrás de Harry e a interrompeu. "Ahh., olhem garotos, a grande Hermione Granger está dando conselhos sobre o amor. Poupe- se Granger, você seria a última bruxa que alguém procuraria para dicas de como se joga esse jogo. Você tem tanta chance de se apaixonar quanto aquela lula do lago." Era Draco Malfoy e seus dois guarda-costas Crabbe e Goyle. Mostrando sua falta de educação de costume, Malfoy tinha vindo até a mesa deles e se intrometido na conversa. "Você não sabe do que está falando, srta. Eu-vou-ser-virgem-até-os-40. Você não saberia a diferença de um caso para um amor verdadeiro mesmo que eles tivessem seus tipos escritos na testa."
Antes que Harry, Ron, Jorge ou Fred pudesse fazer alguma coisa para responder a Malfoy, Hermione levantou-se, lágrimas escorrendo por suas bochechas vermelhas, e ela disse com uma voz bastante controlada, "Para sua informação, Malfoy, quando eu estiver amando, eu simplesmente vou saber. Eu não vou precisar que alguém me diga. Eu vou saber. Um cafajeste como você nunca vai entender nada disso porque não tem a capacidade. Eu tenho pena de você, seu bastardo de coração frio , patético e de mente pequena!" e ela saiu correndo, deixando Malfoy um pouco surpreso, mas satisfeito e Fred e Jorge impedindo Harry e Rony de deixá-lo em mil pedacinhos.
*****
"Eu simplesmente vou saber," ela dissera. E foi aí que ele entendeu. Ela estava certa, como sempre. Ele não devia duvidar do que sentia. Ele não era jovem ou ingênuo demais para estar amando. Ele enlaçou seus dedos com os dela e olhou para seu rosto. Sim, ele pensou consigo mesmo. Sim. Ele podia e estava amando. Ele não precisava de nenhum livro para explicar, ou nenhum amigo para observar, ele sabia, do fundo do coração que ele estava caído de amores.
De repente ciente de sua posição, ele riu com a cena que estava fazendo. Lá estava ele, sobre um joelho, segurando a mão de sua amada que estava em um sono profundo e misterioso. Ele se lembrou de um conto de fadas que lera quando era um garoto: o intrépido príncipe encantado chega de uma batalha com um dragão para beijar sua amada e acordá-la de seu sono encantado. Exceto que Hermione estava longe de ser uma frágil donzela e ele não era um príncipe intrépido e seu beijo não a acordaria. Pelo contrário, o primeiro que eles trocaram provavelmente causou toda essa confusão.
Distraído por seus pensamentos, Harry baixou sua cabeça para beijar a mão dela. Quando ele ia fazer contato, a força invisível o bateu forte no peito. Ela o mandou através do quarto, derrubando vários carrinhos, espalhando bacias, jarras e barras de chocolate pela enfermaria. Harry estava tonto, caído no chão da enfermaria, a vários metros de Hermione.
******
Poucos segundos depois, a porta da enfermaria se abriu. Com grande esforço, Harry abriu seus olhos e viu Snape. Harry moveu seus braços doloridos o mais rápido que pôde para arrumar sua capa e ter certeza que estava completamente coberto. Foi sua imaginação ou Snape o vira antes dele conseguir se arrumar?
Ele viu Snape avançar mais pela enfermaria, olhando os estragos. Agora era sua chance. Ele podia levantar, passar por Snape e sair da enfermaria.
Quando Harry estava passando por ele, Snape esticou o braço, pegando o ar. Harry teve que dar uma pirueta, como uma bailarina, para sair do alcance de Snape.
"Eu sei que é você, Potter," ele zombou, "Não há porque se esconder. Quem mais seria?"
Harry continuou andando até a porta enquanto Snape o provocava.
"Vamos lá, Potter. Tentando espiar sua namorada, é? Você é muito burro para ficar longe, não é?" ele estava olhando furiosamente para os lados, como se pudesse ver Harry sob sua capa.
Ignorando as provocações de Snape, Harry finalmente chegou até a porta, hesitando por um momento para olhar na direção de Hermione e depois saiu. Por causa da confusão que aprontou na enfermaria, ele devia voltar para a torre da Grifinória o mais rápido possível e adiar sua ida até a biblioteca. Se dependesse de Snape, os monitores iam até o dormitório de Harry para verificar se ele estava na cama. Além de não querer ser pego fora da cama depois da hora, Harry não queria dar a Snape a satisfação de estar certo.
******
Na manhã seguinte, quando Harry e Rony iam tomar café, vários alunos da Grifinória e alguns de outras casas perguntaram da ausência de Hermione. Isso pareceu fortificar a decisão de Rony de achar a causa de seu sono.
"Deve estar na Seção Restrita, é a única explicação que há para não termos achado nada - além do fato de Hermione não estar com a gente." Falou Rony, mordendo sua torrada.
"É," disse Harry bocejando, "Hermione já teria achado." Talvez ela não tivesse, se também não soubesse de todos os fatos, pensou irritado consigo mesmo.
"Na primeira chance que tivermos, devíamos sair de fininho usando a capa e dar uma olhada naqueles volumes que estão proibidos," Rony sussurrou depois de se inclinar para que ninguém ouvisse.
"Concordo," Harry respondeu, desejando que Rony não tivesse tão entusiasmado com a biblioteca, como ele estava. Quando ele teria a chance de pesquisar sem Rony?
"Então, o que vai fazer com o Baile de Inverno agora que seu par está dormindo na enfermaria?" Rony perguntou, com um sorriso malicioso.
"Provavelmente não vou," Harry falou tentando não parecer muito rabugento.
"Bem, estou pensando em chamar alguém," Rony falou corando.
Harry ajeitou-se na cadeira. Isso era novidade. Ele estava tão concentrado no que estava acontecendo com Hermione que esquecera completamente de outras coisas, como o Baile de Inverno.
"Bem, vai me dizer quem é?" Harry perguntou, muito curioso.
"Bem, ela é da Lufa-lufa, espero que você não tire onda disso."
"Rony, seu besta, como é que eu nunca soube disso?" Harry disse, jogando um pão meio comido, do qual Rony se desviou.
Rony ficou ainda mais vermelho. "Eu a conheci na biblioteca quando você estava no treino de quadribol e Hermione estava numa reunião de monitores."
"Sim..."
"Desde então," Rony continuou, "Nós estamos nos encontrando lá duas vezes por semana para fazer dever de Herbologia."
"Hermione me perguntou se você estava tendo ajuda nisso. Eu não tinha idéia do que ela estava falando," Harry falou, olhando para Rony e esperando mais.
"É. Bem, nós temos estudado juntos, e tem sido muito divertido."
"Então," Harry disse, inclinando-se para frente, "vai me dizer o nome dela?"
Rony olhou de um lado para outro, checando ser alguém estava ouvindo. Ele se encostou para mais perto e sussurrou, "O nome dela é Megan Jones e ela é do nosso ano."
"Megan Jones? Não a conheço muito bem. Ela é uma bonitinha de cabelo castanho, não é?"
"Exatamente. E ela tem um corpo de matar."
"Bem, o que te impede de convidá-la?" Harry perguntou.
"Não sei. Eu tenho andado tão distraído que não pensei em como tocar no assunto. Eu não posso chegar lá e convidá-la. Preciso de um plano," Rony disse.
"É melhor se apressar porque o baile é daqui a duas semanas e outra pessoa pode chamá-la. Não esqueça o que aconteceu comigo ano passado."
"Eu sei, eu sei. É que agora eu estou tão preocupado com o que está acontecendo com Hermione que eu não consigo pensar em outra coisa."
"Sei o quer dizer," Harry respondeu, mexendo os ovos fritos em seu prato.
Quando eles estavam terminando o café, a Professora McGonagall veio até eles.
"Dumbledore precisa vê-los na sala dele agora," ela falou no seu tom severo de sempre. "É sobre a amiga de vocês," ela disse, baixando o tom de voz e parecendo um pouco mais ansiosa.
Harry e Ron se entreolharam. Tendo ouvido os planos de Dumbledore de vê- los, Harry teve que se esforçar para parecer surpreso com o convite. Eles limparam a boca no guardanapo, pegaram seus livros e seguiram a professora até a sala de Dumbledore.
*****
Harry sorriu ao ver Rony olhando a sua volta, maravilhando o interior da sala de Dumbledore. Ele nunca estivera ali e continuava a olhar maravilhado entre Fawkes, o chapéu seletor e os vários itens mágicos nas prateleiras. Harry lembrava ter reagido quase do mesmo jeito da primeira que estivera naquela sala.
Dumbledore sentou-se a sua mesa, em frente a Harry e Rony, uma expressão ilegível em seu rosto.
"Eu os chamei aqui, senhores, porque sua amiga precisa de sua ajuda."
"Nós queremos ajudar, senhor. Queremos mesmo," Rony disse ansiosamente. Harry balançou a cabeça concordando.
"Bom," Dumbledore disse, oferecendo um pequeno sorriso a Rony. "Agora por favor escutem sem interromper o que tenho a dizer, porque é muito importante que entendam o que aconteceu com a Srta. Granger."
Rony e Harry concordaram e Dumbledore começou.
"No tempo do rei Artur, viveu uma poderosa bruxa, chamada Morgana. Ela era meia irmã do rei e era sacerdotisa de uma antiga religião das deusas."
"Morgana teve uma vida dura, e infelizmente perdeu quase todos que amava quando chegou a meia idade. Ela culpou muitas coisas por seu infortúnio, mas culpou muito de seu sofrimento a como foi manipulada quando era jovem. Ela descontou seu amargor na humanidade, colocando uma maldição de uma natureza séria e com longo alcance. Ela alegou que invocou a maldição para proteger suas irmãs de serem exploradas por homens, mas muitos acham que ela fez isso para vingar a morte de sua mãe adotiva, Viviane."
"A maldição causou muitos problemas a primeira vez que foi conjurada, mas através dos anos, bruxos e bruxas descobriram um antídoto que pode ser utilizado para vacinar jovens bruxas contra esse encanto terrível. Um pequeno problema foi encontrado quando perceberam que bruxas com pais trouxas não seriam vacinadas contra a maldição, já que seus pais não poderiam executar a magia necessária para protege-las. Foi aí que começaram a colocar o contra-feitiço em todas as bruxas de família trouxa que entraram em Hogwarts."
"Gerações e gerações de bruxas e bruxos passaram desde a maldição de Morgana e seu poder de afetar jovens bruxas quase desapareceu da comunidade mágica. Uns cinqüenta anos atrás, Hogwarts parou de vacinar as bruxas contra essa maldição, já que era tão raramente vista em tantos e tantos anos."
"A maldição ainda pode ser invocada nos dias de hoje, se algumas circunstancias raras acontecerem ao mesmo tempo. A bruxa tem que ter menos que dezessete anos quando for beijada por seu verdadeiro amor. Mais importante, é necessário muita magia para acordar a maldição de seu estado dormente atual, então só um bruxo que tenha alta ressonância mágica com a bruxa pode acordá-la."
"Eu tenho certeza que sua amiga foi afetada por essa maldição e está agora no chamado Sono Encantado dos Anos. Faz todo sentido: ela tem menos de dezessete, tem pais trouxas e está apresentando todos os sinais do avanço da maldição."
"Um desses sinais seria o jeito que a varinha de Madame Pomfrey ficou branca, vermelha e depois azul?" falou Rony entusiasmado.
Dumbledore sorriu, "Sim, Rony. Esse é uma maneira de saber se a maldição foi invocada. Existem outros sinais. O símbolo de Morgana, a lua azul crescente, aparece no pulso da bruxa sob esse encanto. A lua muda para fase cheia, à medida que a maldição torna-se irreversível."
"Outro sinal da maldição é que nenhum homem pode tocar a bruxa encantada, a não ser que seus motivos sejam - como posso dizer - de natureza não romântica. A lenda diz que uma força invisível protege a bruxa adormecida de qualquer contato que possa ameaçar seu estado de donzela. Vocês dois não sentiram a força quando trouxeram sua amiga até a enfermaria porque seu único motivo era ajudá-la."
Rony e Harry se entreolharam, mas antes que Harry pudesse tentar decifrar o olhar do amigo, Dumbledore continuou.
"Como já disse, a Srta Granger está sob o Sono Encantado dos Anos. Isso quer dizer que ela está sonhando com seu futuro com o homem que ela está destinada a compartilhar sua vida, seu verdadeiro amor. Se ela continuar esse sono sem ser interrompida, ela acordará em seu décimo sétimo aniversario, com memória de todos seus sonhos. Quando essa maldição era mais comum, o resultado era a bruxa ficar muito assustada e confusa, pois ela conhecia seu próprio destino e muitas vezes tinha medo de fazer algo que pudesse destruí-lo. Os dois amantes às vezes eram capaz de concertar as coisas, mas a bruxa vivia para sempre atormentada pelo seu conhecimento e medos."
"Agora, existe uma alternativa para essa cadeia de eventos. Se pudermos achar o bruxo que a beijou, ele pode fazer um feitiço que a acordará imediatamente. Ele deve fazer o feitiço, completamente ciente da conseqüência que ele trará, por mais dolorosa que possa ser para ele."
"E que conseqüência é essa?" Harry perguntou, sentado da beira de sua cadeira, deixando a pergunta escapar.
"O preço é que ela não terá lembrança alguma dele. Como se eles fossem estranhos, sem se amar novamente. Para muitos bruxos, esse preço era muito pra suportar e eles deixaram a cidade depois de fazer o feitiço, para nunca retornar."
"Certo, vamos ver se eu entendi. Hermione está num sono encantado porque um bruxo, que é seu verdadeiro amor, a beijou? É isso mesmo?" Harry disse, dividido entre o sarcasmo exterior e a histeria interior.
"Acho que você resumiu bem, Harry," Dumbledore disse, "Eu preciso que vocês dois o encontrem e decida que destino tomar."
"Quanto tempo temos para encontrá-lo?" Rony perguntou, olhando de lado para Harry.
"É difícil dizer. Pelo que parece na marca de Morgana, alguns dias."
Harry que estava lutando para se manter controlado durante a explicação de Dumbledore, agora se sentia enjoado. Ele se mexia desconfortável em seu assento, olhando seus sapatos. Ele olhou para Dumbledore, esperando ouvir mais.
"Harry, sinto que tem uma pergunta. Qual é?" Dumbledore perguntou.
Hary queria falar, mas as palavras estavam presas em sua garganta. Ele olhou para suas mãos, que fechadas em punhos. Ele as relaxou e finalmente conseguiu olhar para Dumbledore e perguntar, "O que quer dizer com 'verdadeiro amor'?" Como se também quisesse ouvir a resposta, Rony olhou na expectativa para Dumbledore.
"Bem, garotos, o mito do amor verdadeiro vem sido perseguido por muitos bruxos e bruxas sem sucesso. Em termos mais simples, é a pessoa para a qual está destinada a passar a vida e a amar por toda eternidade."
"Temos que encontrar esse cara, o amor verdadeiro de Hermione, mas como saber que o achamos?" Rony perguntou, olhando novamente para Harry de uma forma estranha.
"Bem, vocês conhecem bem sua amiga para tentar adivinhar quem é. E também temos a habilidade de fazer um feitiço para testar a ressonância mágica com a dela."
"Resso- o que?" Harry perguntou.
"Ressonância mágica. Falando simplesmente, é a compatibilidade mágica entre duas pessoas. Se lembrarem da história que acabei de contar, um dos fatores para invocar a maldição é alto nível de ressonância mágica entre o bruxo e a bruxa envolvidos. Compatibilidade mágica significa que suas habilidades mágicas se complementam e funcionariam bem juntos em certos feitiços muito difíceis."
"Então, como vamos-?" Harry e Rony começaram a fazer a mesma pergunta ao mesmo tempo.
"O bruxo que estiverem testando, deve balançar a varinha dela enquanto vocês dizem o encanto. Se a varinha dela emanar faíscas douradas, então o bruxo testado tem alta ressonância com ela. Faíscas prateadas significam nível médio de ressonância e faíscas bronze querem dizer baixo nível de ressonância. Mas cuidado. Só porque um bruxo tem alto nível de ressonância não quer dizer que seja ele. O teste de ressonância é só um indicador. Vocês terão que usar seus critérios para achar o par dela."
"Mas nós não estamos com a varinha dela, não é?" Rony perguntou, olhando de Dumbledore para Harry.
"Ah, mas temos sim." Dumbledore disse, abrindo uma gaveta de sua mesa e tirando uma varinha. "acredito que essa seja varinha da Srta Granger."
Ele a segurou e Harry a pegou. Segurando-a em suas mãos, ele a virou e viu as iniciais de Hermione, H.G., talhadas belamente na base, com a caligrafia dela. Segurando sua varinha na sala de Dumbledore, Harry sentiu ainda mais a sua ausência.
"Um elfo-doméstico a encontrou enquanto fazia uma limpeza na sala de Astronomia Avançada," Dumbledore continuou casualmente, enquanto Harry virava a varinha entre seus dedos, distraído. Isso o fez parar.
Rony soltou um som de puro choque, e Harry sabia que não podia olhá-lo por medo de trair a verdade que continuava a esconder de todos. Rony sabia tanto quanto ele o que tinha fama de acontecer naquela sala. Ele imaginava se Dumbledore também sabia disso.
"O encanto que vão precisar usar está nesse pedaço de pergaminho," Dumbledore disse. Ele entregou o pergaminho a Rony. "Lembrem-se que deve ser dito enquanto o bruxo balança a varinha dela."
Os dois assentiram com a cabeça. Dumbledore levantou-se e sorriu.
"Obrigado aos dois pela ajuda. Confio que serão discretos para que sua amiga não se sinta constrangida."
"Sim, professor," eles responderam em juntos.
Eles saíram da sala sem dizer mais nada.
Quando ele ia segurar a maçaneta da enfermaria, ela girou. Harry deu um pulo para trás e saiu do caminho, segurando a capa a seu redor. Quem viria à ala hospitalar a essa hora?
Ele assistiu Dumbledore entrar, seguido por Madame Pomfrey bastante preocupada. Eles foram direto para cama de Hermione. Harry os seguiu, curioso sobre o que traria o diretor até ali numa hora dessa, querendo mais pistas sobre o que estava errado com Hermione.
Madame Pomfrey falou primeiro, "Eu só preciso que você confirme a conclusão a qual cheguei hoje. Você estava aqui na última vez que isso ocorreu, se minha pesquisa no arquivo da escola está correta."
Dumbledore afirmou com a cabeça, "E você disse que ela está sonhando? Ela disse alguma coisa que você pudesse entender?" Dumbledore perguntou, inclinando-se sobre Hermione, sua voz pesada com preocupação.
"Não. Nada que fizesse sentido, Alvo. Mas você sabe sobre o que são os sonhos, se não estou enganada. É melhor que ela não diga nada, não acha?"
"Sim, Poppy, provavelmente você está certa." Ele pegou o braço direito de Hermione e o virou, olhando a parte de dentro de seu pulso. De onde estava, Harry não pôde ver o que Dumbledore estava olhando, mas deveria ser importante, pois ele olhou para Madame Pomfrey com uma preocupação que Harry raramente via no diretor.
"Sim, Alvo. Também notei isso."
"Talvez tenhamos alguns dias," Dumbledore falou solene.
Dumbledore colocou gentilmente o braço de volta e se levantou. Madame Pomfrey ajeitou o lençol para cobrir seus dois braços. "Cuide que nenhum garoto a visite. Eu falarei com seus dois amigos pela manhã," Dumbledore instruiu.
Madame Pomfrey respondeu imediatamente, "Evidente," houve uma pequena pausa antes que ela continuasse, "Mas Alvo, você acha que podemos encontrar -?" mas ela não terminou pois Dumbledore levantou sua mão.
"Não vamos especular por enquanto. Está tarde. Eu vou para cama. Recomendo que faça o mesmo. Boa noite." E com isso, Dumbledore saiu da ala hospitalar, deixando Madame Pomfey em pé com as mãos na cintura. Ela bocejou, checou Hermione rapidamente e depois saiu, trancando a porta atrás dela.
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Enquanto estava lá na enfermaria sob a capa da invisibilidade, a mente de Harry girava com tantos pensamentos que parecia que ia explodir. Essa doença de Hermione, o que quer que fosse, parecia ser muito séria. Por que ela não podia ser visitada por garotos? Era por causa daquela força estranha, invisível, que parecia estar a seu redor? Se esse era o caso, então por que Dumbledore pôde segurar o braço dela? E por que Harry e Rony puderam tocá-la quando tentavam acordá-la?
Ele lembrou da reação de Dumbledore ao que ele viu no pulso dela. Harry decidiu que ele próprio precisava ver. Ele foi até a cama de Hermione, apoiando-se sobre um joelho. Ele gentilmente dobrou o lençol para deixar o braço exposto que estava caído ao lado do corpo envolvido pelas vestes listradas padrão da enfermaria. Ele podia sentir a pontada de nervosismo em seu estômago quando ia levantar seu braço. Ele ia ser arremessado de novo?
Muito cuidadosamente, e apertando os dentes como se esperasse um soco na barriga, ele tocou o braço. Nada aconteceu. Ele o levantou e suavemente o virou para olhar a parte de dentro do pulso. Havia uma marca de uma lua crescente azul-celeste brilhando em sua pele. Era como se alguém tivesse colocado nela uma daquelas tatuagens que Duda uma vez usou para cobrir Harry quando ele tinha sete anos. Ele tentou esfregar para tirar, apesar de não saber porque tentou, já que sabia que não era uma daquelas tatuagens falsas.
Seu olhar voltou-se para o rosto de Hermione. Ele a olhou por alguns momentos, relembrando a noite na qual a beijou na sala de Astronomia Avançada. Ele disse que achava que a amava, mas ele sabia o que isso significava? Ele podia mesmo estar amando sendo tão jovem?
Ele lembrou de uma aula de saúde em particular que ele teve no ano anterior ao que ele entrou em Hogwarts. Separando os meninos e as meninas, os professores tentaram instruir os alunos sobre reprodução humana e relacionamentos. Ele sorriu ao lembrar a maioria dos garotos brincando tumultuosamente na sala enquanto o professor, um senhor chamado Speen, tentava manter um semblante calmo e de ordem durante seu discurso sobre o amor que um homem e uma mulher podiam compartilhar. Mas relembrando daquela aula, Harry lembrou que ele não mencionara nenhuma idade para começar a amar ou como saber se estava amando.
Ele pensou nas conversas que ele e Rony tiveram com Fred e Jorge sobre garotas e namoro. Essas conversas concentravam-se principalmente no que Fred e Jorge nomearam "fazer as jogadas no campo de quadribol". Eles pareciam bastantes interessados em "passar a goles pelos aros" e levavam muito discutindo várias técnicas vindas das gerações anteriores a deles. Mas eles raramente mencionavam estar amando. A única vez que o fizeram eles estavam falando de seu amigo, Lino Jordan e como ele estava completamente enfeitiçado por uma bruxa.
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"Vê como ele a segue para todo canto?" Jorge notou em uma manhã durante o café.
"Ele está caidinho por ela, aquele pobre coitado," Fred completou , balançando a cabeça em desaprovação. "Não se pode contar com ele pra mais nada agora. Ele sempre vai ter que falar com ela antes."
Hermione balançou a cabeça sorrindo e olhou do livro que lia para Lino enquanto ele seguia Alícia pelo Salão Principal. Ela fechou o livro, olhou para Fred e falou com o tom autoritário, "Você está com ciúmes Fred. Você vê o quanto ele está feliz com ela? Você só está interessado em ficar, mas você realmente está perdendo se é só nisso que você pensa. Amar é - "
Uma voz pretensiosa veio detrás de Harry e a interrompeu. "Ahh., olhem garotos, a grande Hermione Granger está dando conselhos sobre o amor. Poupe- se Granger, você seria a última bruxa que alguém procuraria para dicas de como se joga esse jogo. Você tem tanta chance de se apaixonar quanto aquela lula do lago." Era Draco Malfoy e seus dois guarda-costas Crabbe e Goyle. Mostrando sua falta de educação de costume, Malfoy tinha vindo até a mesa deles e se intrometido na conversa. "Você não sabe do que está falando, srta. Eu-vou-ser-virgem-até-os-40. Você não saberia a diferença de um caso para um amor verdadeiro mesmo que eles tivessem seus tipos escritos na testa."
Antes que Harry, Ron, Jorge ou Fred pudesse fazer alguma coisa para responder a Malfoy, Hermione levantou-se, lágrimas escorrendo por suas bochechas vermelhas, e ela disse com uma voz bastante controlada, "Para sua informação, Malfoy, quando eu estiver amando, eu simplesmente vou saber. Eu não vou precisar que alguém me diga. Eu vou saber. Um cafajeste como você nunca vai entender nada disso porque não tem a capacidade. Eu tenho pena de você, seu bastardo de coração frio , patético e de mente pequena!" e ela saiu correndo, deixando Malfoy um pouco surpreso, mas satisfeito e Fred e Jorge impedindo Harry e Rony de deixá-lo em mil pedacinhos.
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"Eu simplesmente vou saber," ela dissera. E foi aí que ele entendeu. Ela estava certa, como sempre. Ele não devia duvidar do que sentia. Ele não era jovem ou ingênuo demais para estar amando. Ele enlaçou seus dedos com os dela e olhou para seu rosto. Sim, ele pensou consigo mesmo. Sim. Ele podia e estava amando. Ele não precisava de nenhum livro para explicar, ou nenhum amigo para observar, ele sabia, do fundo do coração que ele estava caído de amores.
De repente ciente de sua posição, ele riu com a cena que estava fazendo. Lá estava ele, sobre um joelho, segurando a mão de sua amada que estava em um sono profundo e misterioso. Ele se lembrou de um conto de fadas que lera quando era um garoto: o intrépido príncipe encantado chega de uma batalha com um dragão para beijar sua amada e acordá-la de seu sono encantado. Exceto que Hermione estava longe de ser uma frágil donzela e ele não era um príncipe intrépido e seu beijo não a acordaria. Pelo contrário, o primeiro que eles trocaram provavelmente causou toda essa confusão.
Distraído por seus pensamentos, Harry baixou sua cabeça para beijar a mão dela. Quando ele ia fazer contato, a força invisível o bateu forte no peito. Ela o mandou através do quarto, derrubando vários carrinhos, espalhando bacias, jarras e barras de chocolate pela enfermaria. Harry estava tonto, caído no chão da enfermaria, a vários metros de Hermione.
******
Poucos segundos depois, a porta da enfermaria se abriu. Com grande esforço, Harry abriu seus olhos e viu Snape. Harry moveu seus braços doloridos o mais rápido que pôde para arrumar sua capa e ter certeza que estava completamente coberto. Foi sua imaginação ou Snape o vira antes dele conseguir se arrumar?
Ele viu Snape avançar mais pela enfermaria, olhando os estragos. Agora era sua chance. Ele podia levantar, passar por Snape e sair da enfermaria.
Quando Harry estava passando por ele, Snape esticou o braço, pegando o ar. Harry teve que dar uma pirueta, como uma bailarina, para sair do alcance de Snape.
"Eu sei que é você, Potter," ele zombou, "Não há porque se esconder. Quem mais seria?"
Harry continuou andando até a porta enquanto Snape o provocava.
"Vamos lá, Potter. Tentando espiar sua namorada, é? Você é muito burro para ficar longe, não é?" ele estava olhando furiosamente para os lados, como se pudesse ver Harry sob sua capa.
Ignorando as provocações de Snape, Harry finalmente chegou até a porta, hesitando por um momento para olhar na direção de Hermione e depois saiu. Por causa da confusão que aprontou na enfermaria, ele devia voltar para a torre da Grifinória o mais rápido possível e adiar sua ida até a biblioteca. Se dependesse de Snape, os monitores iam até o dormitório de Harry para verificar se ele estava na cama. Além de não querer ser pego fora da cama depois da hora, Harry não queria dar a Snape a satisfação de estar certo.
******
Na manhã seguinte, quando Harry e Rony iam tomar café, vários alunos da Grifinória e alguns de outras casas perguntaram da ausência de Hermione. Isso pareceu fortificar a decisão de Rony de achar a causa de seu sono.
"Deve estar na Seção Restrita, é a única explicação que há para não termos achado nada - além do fato de Hermione não estar com a gente." Falou Rony, mordendo sua torrada.
"É," disse Harry bocejando, "Hermione já teria achado." Talvez ela não tivesse, se também não soubesse de todos os fatos, pensou irritado consigo mesmo.
"Na primeira chance que tivermos, devíamos sair de fininho usando a capa e dar uma olhada naqueles volumes que estão proibidos," Rony sussurrou depois de se inclinar para que ninguém ouvisse.
"Concordo," Harry respondeu, desejando que Rony não tivesse tão entusiasmado com a biblioteca, como ele estava. Quando ele teria a chance de pesquisar sem Rony?
"Então, o que vai fazer com o Baile de Inverno agora que seu par está dormindo na enfermaria?" Rony perguntou, com um sorriso malicioso.
"Provavelmente não vou," Harry falou tentando não parecer muito rabugento.
"Bem, estou pensando em chamar alguém," Rony falou corando.
Harry ajeitou-se na cadeira. Isso era novidade. Ele estava tão concentrado no que estava acontecendo com Hermione que esquecera completamente de outras coisas, como o Baile de Inverno.
"Bem, vai me dizer quem é?" Harry perguntou, muito curioso.
"Bem, ela é da Lufa-lufa, espero que você não tire onda disso."
"Rony, seu besta, como é que eu nunca soube disso?" Harry disse, jogando um pão meio comido, do qual Rony se desviou.
Rony ficou ainda mais vermelho. "Eu a conheci na biblioteca quando você estava no treino de quadribol e Hermione estava numa reunião de monitores."
"Sim..."
"Desde então," Rony continuou, "Nós estamos nos encontrando lá duas vezes por semana para fazer dever de Herbologia."
"Hermione me perguntou se você estava tendo ajuda nisso. Eu não tinha idéia do que ela estava falando," Harry falou, olhando para Rony e esperando mais.
"É. Bem, nós temos estudado juntos, e tem sido muito divertido."
"Então," Harry disse, inclinando-se para frente, "vai me dizer o nome dela?"
Rony olhou de um lado para outro, checando ser alguém estava ouvindo. Ele se encostou para mais perto e sussurrou, "O nome dela é Megan Jones e ela é do nosso ano."
"Megan Jones? Não a conheço muito bem. Ela é uma bonitinha de cabelo castanho, não é?"
"Exatamente. E ela tem um corpo de matar."
"Bem, o que te impede de convidá-la?" Harry perguntou.
"Não sei. Eu tenho andado tão distraído que não pensei em como tocar no assunto. Eu não posso chegar lá e convidá-la. Preciso de um plano," Rony disse.
"É melhor se apressar porque o baile é daqui a duas semanas e outra pessoa pode chamá-la. Não esqueça o que aconteceu comigo ano passado."
"Eu sei, eu sei. É que agora eu estou tão preocupado com o que está acontecendo com Hermione que eu não consigo pensar em outra coisa."
"Sei o quer dizer," Harry respondeu, mexendo os ovos fritos em seu prato.
Quando eles estavam terminando o café, a Professora McGonagall veio até eles.
"Dumbledore precisa vê-los na sala dele agora," ela falou no seu tom severo de sempre. "É sobre a amiga de vocês," ela disse, baixando o tom de voz e parecendo um pouco mais ansiosa.
Harry e Ron se entreolharam. Tendo ouvido os planos de Dumbledore de vê- los, Harry teve que se esforçar para parecer surpreso com o convite. Eles limparam a boca no guardanapo, pegaram seus livros e seguiram a professora até a sala de Dumbledore.
*****
Harry sorriu ao ver Rony olhando a sua volta, maravilhando o interior da sala de Dumbledore. Ele nunca estivera ali e continuava a olhar maravilhado entre Fawkes, o chapéu seletor e os vários itens mágicos nas prateleiras. Harry lembrava ter reagido quase do mesmo jeito da primeira que estivera naquela sala.
Dumbledore sentou-se a sua mesa, em frente a Harry e Rony, uma expressão ilegível em seu rosto.
"Eu os chamei aqui, senhores, porque sua amiga precisa de sua ajuda."
"Nós queremos ajudar, senhor. Queremos mesmo," Rony disse ansiosamente. Harry balançou a cabeça concordando.
"Bom," Dumbledore disse, oferecendo um pequeno sorriso a Rony. "Agora por favor escutem sem interromper o que tenho a dizer, porque é muito importante que entendam o que aconteceu com a Srta. Granger."
Rony e Harry concordaram e Dumbledore começou.
"No tempo do rei Artur, viveu uma poderosa bruxa, chamada Morgana. Ela era meia irmã do rei e era sacerdotisa de uma antiga religião das deusas."
"Morgana teve uma vida dura, e infelizmente perdeu quase todos que amava quando chegou a meia idade. Ela culpou muitas coisas por seu infortúnio, mas culpou muito de seu sofrimento a como foi manipulada quando era jovem. Ela descontou seu amargor na humanidade, colocando uma maldição de uma natureza séria e com longo alcance. Ela alegou que invocou a maldição para proteger suas irmãs de serem exploradas por homens, mas muitos acham que ela fez isso para vingar a morte de sua mãe adotiva, Viviane."
"A maldição causou muitos problemas a primeira vez que foi conjurada, mas através dos anos, bruxos e bruxas descobriram um antídoto que pode ser utilizado para vacinar jovens bruxas contra esse encanto terrível. Um pequeno problema foi encontrado quando perceberam que bruxas com pais trouxas não seriam vacinadas contra a maldição, já que seus pais não poderiam executar a magia necessária para protege-las. Foi aí que começaram a colocar o contra-feitiço em todas as bruxas de família trouxa que entraram em Hogwarts."
"Gerações e gerações de bruxas e bruxos passaram desde a maldição de Morgana e seu poder de afetar jovens bruxas quase desapareceu da comunidade mágica. Uns cinqüenta anos atrás, Hogwarts parou de vacinar as bruxas contra essa maldição, já que era tão raramente vista em tantos e tantos anos."
"A maldição ainda pode ser invocada nos dias de hoje, se algumas circunstancias raras acontecerem ao mesmo tempo. A bruxa tem que ter menos que dezessete anos quando for beijada por seu verdadeiro amor. Mais importante, é necessário muita magia para acordar a maldição de seu estado dormente atual, então só um bruxo que tenha alta ressonância mágica com a bruxa pode acordá-la."
"Eu tenho certeza que sua amiga foi afetada por essa maldição e está agora no chamado Sono Encantado dos Anos. Faz todo sentido: ela tem menos de dezessete, tem pais trouxas e está apresentando todos os sinais do avanço da maldição."
"Um desses sinais seria o jeito que a varinha de Madame Pomfrey ficou branca, vermelha e depois azul?" falou Rony entusiasmado.
Dumbledore sorriu, "Sim, Rony. Esse é uma maneira de saber se a maldição foi invocada. Existem outros sinais. O símbolo de Morgana, a lua azul crescente, aparece no pulso da bruxa sob esse encanto. A lua muda para fase cheia, à medida que a maldição torna-se irreversível."
"Outro sinal da maldição é que nenhum homem pode tocar a bruxa encantada, a não ser que seus motivos sejam - como posso dizer - de natureza não romântica. A lenda diz que uma força invisível protege a bruxa adormecida de qualquer contato que possa ameaçar seu estado de donzela. Vocês dois não sentiram a força quando trouxeram sua amiga até a enfermaria porque seu único motivo era ajudá-la."
Rony e Harry se entreolharam, mas antes que Harry pudesse tentar decifrar o olhar do amigo, Dumbledore continuou.
"Como já disse, a Srta Granger está sob o Sono Encantado dos Anos. Isso quer dizer que ela está sonhando com seu futuro com o homem que ela está destinada a compartilhar sua vida, seu verdadeiro amor. Se ela continuar esse sono sem ser interrompida, ela acordará em seu décimo sétimo aniversario, com memória de todos seus sonhos. Quando essa maldição era mais comum, o resultado era a bruxa ficar muito assustada e confusa, pois ela conhecia seu próprio destino e muitas vezes tinha medo de fazer algo que pudesse destruí-lo. Os dois amantes às vezes eram capaz de concertar as coisas, mas a bruxa vivia para sempre atormentada pelo seu conhecimento e medos."
"Agora, existe uma alternativa para essa cadeia de eventos. Se pudermos achar o bruxo que a beijou, ele pode fazer um feitiço que a acordará imediatamente. Ele deve fazer o feitiço, completamente ciente da conseqüência que ele trará, por mais dolorosa que possa ser para ele."
"E que conseqüência é essa?" Harry perguntou, sentado da beira de sua cadeira, deixando a pergunta escapar.
"O preço é que ela não terá lembrança alguma dele. Como se eles fossem estranhos, sem se amar novamente. Para muitos bruxos, esse preço era muito pra suportar e eles deixaram a cidade depois de fazer o feitiço, para nunca retornar."
"Certo, vamos ver se eu entendi. Hermione está num sono encantado porque um bruxo, que é seu verdadeiro amor, a beijou? É isso mesmo?" Harry disse, dividido entre o sarcasmo exterior e a histeria interior.
"Acho que você resumiu bem, Harry," Dumbledore disse, "Eu preciso que vocês dois o encontrem e decida que destino tomar."
"Quanto tempo temos para encontrá-lo?" Rony perguntou, olhando de lado para Harry.
"É difícil dizer. Pelo que parece na marca de Morgana, alguns dias."
Harry que estava lutando para se manter controlado durante a explicação de Dumbledore, agora se sentia enjoado. Ele se mexia desconfortável em seu assento, olhando seus sapatos. Ele olhou para Dumbledore, esperando ouvir mais.
"Harry, sinto que tem uma pergunta. Qual é?" Dumbledore perguntou.
Hary queria falar, mas as palavras estavam presas em sua garganta. Ele olhou para suas mãos, que fechadas em punhos. Ele as relaxou e finalmente conseguiu olhar para Dumbledore e perguntar, "O que quer dizer com 'verdadeiro amor'?" Como se também quisesse ouvir a resposta, Rony olhou na expectativa para Dumbledore.
"Bem, garotos, o mito do amor verdadeiro vem sido perseguido por muitos bruxos e bruxas sem sucesso. Em termos mais simples, é a pessoa para a qual está destinada a passar a vida e a amar por toda eternidade."
"Temos que encontrar esse cara, o amor verdadeiro de Hermione, mas como saber que o achamos?" Rony perguntou, olhando novamente para Harry de uma forma estranha.
"Bem, vocês conhecem bem sua amiga para tentar adivinhar quem é. E também temos a habilidade de fazer um feitiço para testar a ressonância mágica com a dela."
"Resso- o que?" Harry perguntou.
"Ressonância mágica. Falando simplesmente, é a compatibilidade mágica entre duas pessoas. Se lembrarem da história que acabei de contar, um dos fatores para invocar a maldição é alto nível de ressonância mágica entre o bruxo e a bruxa envolvidos. Compatibilidade mágica significa que suas habilidades mágicas se complementam e funcionariam bem juntos em certos feitiços muito difíceis."
"Então, como vamos-?" Harry e Rony começaram a fazer a mesma pergunta ao mesmo tempo.
"O bruxo que estiverem testando, deve balançar a varinha dela enquanto vocês dizem o encanto. Se a varinha dela emanar faíscas douradas, então o bruxo testado tem alta ressonância com ela. Faíscas prateadas significam nível médio de ressonância e faíscas bronze querem dizer baixo nível de ressonância. Mas cuidado. Só porque um bruxo tem alto nível de ressonância não quer dizer que seja ele. O teste de ressonância é só um indicador. Vocês terão que usar seus critérios para achar o par dela."
"Mas nós não estamos com a varinha dela, não é?" Rony perguntou, olhando de Dumbledore para Harry.
"Ah, mas temos sim." Dumbledore disse, abrindo uma gaveta de sua mesa e tirando uma varinha. "acredito que essa seja varinha da Srta Granger."
Ele a segurou e Harry a pegou. Segurando-a em suas mãos, ele a virou e viu as iniciais de Hermione, H.G., talhadas belamente na base, com a caligrafia dela. Segurando sua varinha na sala de Dumbledore, Harry sentiu ainda mais a sua ausência.
"Um elfo-doméstico a encontrou enquanto fazia uma limpeza na sala de Astronomia Avançada," Dumbledore continuou casualmente, enquanto Harry virava a varinha entre seus dedos, distraído. Isso o fez parar.
Rony soltou um som de puro choque, e Harry sabia que não podia olhá-lo por medo de trair a verdade que continuava a esconder de todos. Rony sabia tanto quanto ele o que tinha fama de acontecer naquela sala. Ele imaginava se Dumbledore também sabia disso.
"O encanto que vão precisar usar está nesse pedaço de pergaminho," Dumbledore disse. Ele entregou o pergaminho a Rony. "Lembrem-se que deve ser dito enquanto o bruxo balança a varinha dela."
Os dois assentiram com a cabeça. Dumbledore levantou-se e sorriu.
"Obrigado aos dois pela ajuda. Confio que serão discretos para que sua amiga não se sinta constrangida."
"Sim, professor," eles responderam em juntos.
Eles saíram da sala sem dizer mais nada.
