Um beijo não é apenas um beijo
Capítulo 8: A caçada
Chegando a seu dormitório um pouco antes do jantar, Harry foi recebido por uma cena que pensava ser impossível: Hagrid estava lá, sentado em sua cama, conversando com Rony. Como ele cabia ali? O quarto com certeza era pequeno demais para ter sido fácil.
"Estava pensando que horas voltaria, Harry," Hagrid disse a ele animado.
"Oi, Hagrid," Harry respondeu, um olhar espantando em seu rosto, "Como você- ?" ele começou, mas foi interrompido por Rony.
"Hagrid veio me visitar depois da aula, Harry, e eu contei tudo a ele. Perdoe-me se traí sua confiança, mas precisava falar com alguém," Rony disse, sem olhar para ele, de braços cruzados.
Harry olhou para Hagrid. Isso o fez sentir inquieto, apesar dele não saber porque se incomodava em Hagrid saber, ele lhe contava quase tudo mesmo.
Hagrid olhou para Harry e Ron muito sério e disse, "Vocês tem que parar de brigar e trabalhar para salvar a pobre Hermione."
"Quem está brigando?" Harry respondeu, sua raiva aumentando. O que Rony dissera a Hagrid?
"Vocês dois, se os conheço bem," Hagrid disse, olhando de um para o outro de novo. "Se tem algo que eu sei é que não se deve deixar uma bruxa ficar entre dois bons amigos, e é isso que vocês dois são: melhores amigos. Vocês não querem colocar isso em risco - mesmo se a bruxa for Hermione. É como eu disse a seu pai, Harry, quando ele teve esse problema: seja verdadeiro com seus amigos, o resto fica fácil." Ele deu a Harry um caloroso sorriso.
"Sim. Bem. Não sou eu que estou com problemas Harry. É o Rony," Harry respondeu, agora de braços cruzados.
Um silêncio desagradável se seguiu, durante o qual Rony e Harry trocaram olhares que variavam de perturbação a fúria. Depois de alguns segundos assim, Rony deu um pequeno sorriso e rolou os olhos. Ele foi o primeiro a falar.
"Ouça, Harry. Eu não estou zangado. Não mais. É que as coisas vão ser estranhas agora que vocês dois vão ser um casal. Eu vou ser o bruxo deixado de lado, se me entende. Está bem claro que vocês devem ficar juntos, mas isso não deixa as coisas mais fáceis de aceitar - ela também é minha amiga." Sua voz tinha um tom de amargura misturado com pacificação.
Harry respirou fundo e parou para pensar por um segundo antes de responder. "Eu sei, Rony. Eu, do mesmo jeito que você, não esperava que isso acontecesse. Mas agora que aconteceu, tudo que posso dizer é que eu prometo que você não vai ficar de fora. Tenho certeza que Hermione diria a mesma coisa. Nós três vamos continuar a ser amigos, você vai ver."
Harry parou para olhar para Rony antes de continuar, "Fico feliz que você não vai ficar sem falar comigo como ano passado. Foi muito ruim."
Harry virou-se para Hagrid, enquanto deixava Rony pensar no que dissera, "Obrigado pela dose de juízo para nós dois, Hagrid."
"É, obrigado, Hagrid," Rony falou em concordância. Os dois olharam para ele e sorriram. Hagrid se levantou tanto quanto pôde no pequeno dormitório e olhou de Harry pra Rony, um sorriso em seu rosto.
"Bem, eu só disse o que vocês já sabiam. Talvez só tenha apressado as coisas, só isso. Agora vocês vão apertar as mãos ou o que?" ele disse, ainda sorrindo.
Harry e Rony andaram até a área entre as duas camas, Harry estendeu sua mão para Rony e ele a apertou com força. Os dois começaram a rir, Rony dando tapinhas nas costas de Harry, como de costume. A tensão no quarto de quando Harry entrou agora era uma memória distante. Harry estava alegre! Ele agora tinha Rony a seu lado em sua busca e isso o fez sentir que ele conseguiria vencer, no fim das contas.
*****
"Bem, Dumbledore me procurou e disse que temos uns três dias pelas contas dele. Eu não disse que foi você. Pensei que você mesmo quisesse fazer isso. Agora fico feliz em não ter dito a ele, porque vamos precisar de mais tempo para fazer o feitiço que Sirius nos deu," Rony disse, enquanto amassava uma batata cozida.
"Você está certo," Harry disse olhando a sua volta pelo salão Principal para se certificar, pela décima vez, que ninguém estava escutando a conversa. "Só espero que a gente consiga encontrar o outro bruxo a tempo, e achar a receita da poção que é usada junto com o feitiço. Aposto que tem na Seção Restrita. Vou perguntar a Madame Pince quando acabarmos aqui, mas aposto que ela vai me dizer para ir embora. Se ela fizer isso, vou entrar escondido lá hoje e ver se consigo achar."
"Você quer dizer NÓS vamos entrar escondidos lá," Rony corrigiu.
"Certo, NÒS. Obrigado, Rony."
"Não perderia isso."
Eles pararam um pouco, para comer. Quando terminaram, Rony se inclinou pra frente.
"Então, vamos analisar os principais suspeitos," ele disse, pegando um pedaço de pergaminho e uma pena. "Isso até que vai ser divertido. Coitada de Hermione. Ela vai ficar tão envergonhada quando você acorda-la e ela souber do que aconteceu."
"É, eu sei. Queria não ter sido tão idiota para beija-la. Mas, por outro lado, com certeza foi algo - bem- realmente ótimo." Harry deixou escapar um suspiro e Rony riu, balançando a cabeça.
"Fico feliz em saber que ao menos o primeiro beijo de alguém foi divertido. A primeira garota que beijei me deixou com medo. Ela era muito maior que eu e eu me senti como se estivesse sendo atacado. Ela ficava empurrando a língua na minha garganta e eu quase vomitei."
Harry olhou pra Rony surpreso. "Como eu nunca soube disso antes?"
"Bem, não foi nada especial," Ron começou, "e eu prefiro esquecer da coisa toda. Ela foi apenas uma bruxa que eu conheci em um torneio de xadrez que eu fui no verão. Nós saímos pelo salão principal e depois por um corredor. Antes que pudesse saber o que estava acontecendo, ela estava me beijando - se é que se pode chamar aquilo de beijo."
Os dois riram. Era ótimo poder falar com Ron desse jeito novamente. Eles começaram a pensar nos possíveis suspeitos e fizeram uma lista.
"Certo, vamos repassar," Harry falou, notando que estava falando como Hermione. Ele riu triste, sentindo um aperto no coração de saudade dela.
"Temos Neville - apesar de achar que ele adora Hermione, não acho que ele a ame. Depois temos Viktor Krum - ele realmente gostava dela ano passado. A gente devia deixa-lo de fora, só pra último caso, se estivermos desesperados. Vai ser difícil contata-lo a tempo," Harry disse.
"Bem pensado," Ron concordou, riscando o nome de Krum da lista.
"Daí temos Ernie McMillan - boa teoria para ele, Ron. Desde que os dois viraram monitores, venho notando que ele é bem atencioso com ela. E, claro, tem sua idéia com Malfoy, mas acho que você está errado nessa. Não há possibilidade de Malfoy amar alguém cujos pais sejam trouxas. Você sabe como ele é com essa história de sangue-puro."
"Eu não sei, Harry, você devia ver o jeito que ele olha para ela. Ele parece tão obcecado em odiá-la que com certeza ele a ama. Existe uma linha muito fina entre o amor e o ódio," Rony disse, rabiscando a lista distraidamente.
"Bem, vamos deixá-lo na lista, apesar de não ter idéia de como vamos fazê- lo tocar a varinha dela, quanto mais deixar-nos testa-lo. Espero que ele não tenha nenhuma ressonância mágica com ela - ele nunca me ajudaria. Eu com certeza teria que fazer o outro feitiço se for ele o outro bruxo."
"Provavelmente vai ser McMillan," Rony disse enfático, "Eu estive de olho nele."
"Bem, espero que quem quer que seja esteja disposto a ajudar," Harry disse, um nó em seu estômago.
"Ei," Rony disse, tirando Harry de seus pensamentos, "esqueci de te dizer uma coisa. Eu convidei Megan para o Baile de Inverno. Ela aceitou. Não é ótimo?" Rony parecia animado.
"Que ótimo, Rony," Harry falou, genuinamente feliz por seu amigo. Ao menos um deles teria um par para o baile, ele pensou consigo mesmo. Por que as coisas sempre aconteciam com ele?
******
"Claro que não temos nada desse jeito aqui, nem mesmo na seção Restrita." Madame Pince torceu o nariz e devolveu o pedaço de pergaminho a Harry. "Você não deveria tocar em um livro de poções desses, é muito perigoso - principalmente para alguém que não sabe o que está fazendo."
"O mestre de poções provavelmente tem uma copia, para fins de referência, mas tenho certeza que ele nunca deixaria um aluno colocar os olhos nele," ela continuou. "Pra que você precisa dele?"
"Hã... pesquisa para Historia da Magia," Harry respondeu, tentando soar convincente, "Acho que vou ter escrever sobre outra coisa." Harry deu as costas para a mesa da bibliotecária e foi até onde Rony estava sentado.
"Sem sorte," Harry falou, sentando-se derrotado.
"O que? Sem livro?"
"Pior. Ela acha que Snape tem. Já posso imaginar: 'Oi, Snape, você se importaria em me emprestar uma cópia de um livro ilegal para que eu possa usa-lo para fazer um feitiço ilegal em meu verdadeiro amor?' não sei porque, mas acho que não seria muito bom," Harry disse irritado.
"É, mas talvez faça o Snape rir - isso deve valer algo," Rony falou, tentando animar Harry. "Talvez ele morra de rir."
"Nós nem sabemos se ele tem o livro," Harry disse, ainda frustrado. "Mas tenho que tentar. Eu não conseguiria viver comigo mesmo se não tentasse."
"Então, vamos invadir a sala dele hoje, para ver se ele tem. Nós não precisamos sair com ele, apenas copiar a poção e sair. Ele não vai nem saber," Rony planejou.
"Boa idéia. Só espero que consigamos passar pelas proteções que ele tenha colocado lá - ele quase enlouqueceu da última vez que invadimos a sala dele, tenho certeza que ele aumentou a segurança desde então," Harry disse, sentindo-se um pouco melhor agora que ele tinha um plano, mas ainda preocupado.
"Não pense nisso," Rony disse, tirando a lista de suspeito que eles tinham feito para o teste de ressonância. "Vamos ver se conseguimos testar alguns desses bruxos. Olhe - McMillan está ali, vamos testa-lo."
Rony tirou a varinha de Hermione de sua mochila e os dois foram até onde Ernie estava sentado, numa mesa com alunos de Lufa-lufa, inclusive Megan Jones. Rony sorriu para Megan quando eles chegaram na mesa.
"Oi, Rony," Megan disse, sorrindo para ele.
"Oi," Rony respondeu, seu rosto corando um pouco. Harry achou isso engraçado.
"Harry, você conhece Megan," Rony disse.
"Claro," Harry disse, sorrindo para ela.
Depois de uma pausa desconfortável, Harry limpou a garganta.
"Na verdade, eu não vim falar com você agora, Meg, a gente precisa falar com o McMillan, em particular," Rony disse, finalmente.
"Claro," Ernie disse, olhando ao redor da mesa e dando os ombros. Ele se levantou e seguiu Rony e Harry até atrás da biblioteca perto da Seção de História da Magia.
"O que foi?" Ernie perguntou, olhando entre Rony e Harry.
"Precisamos que faça algo para nós," Harry disse a ele. "É bem simples, mesmo. Tudo o que tem que fazer é balançar essa varinha." Rony segurou a varinha de Hermione.
"Pra que?" Ernie perguntou, coçando a cabeça.
"Não podemos te dizer isso," Harry continuou, "mas prometo que não vai machucar, é só um simples teste. Você topa?"
Ernie olhou de Harry, que o olhava intensamente, para Rony, que segurava a varinha na expectativa. E sorriu.
"Claro - confio em vocês dois. O que tenho que fazer mesmo?" ele perguntou.
"Apenas sacuda a varinha," Ron disse, entregando a ele.
Ernie pegou a varinha de sua mão e a olhou de mais perto. Harry ficou tenso, torcendo que ele não descobrisse a quem pertencia - isso poderia levar a algumas explicações que ele queria evitar. Ernie fez um som de reconhecimento.
"Ei!" ele disse, lendo as iniciais na varinha, "Diz, 'H.G.' essa por acaso não é a varinha de Hermione, é?"
Rony e Harry se olharam. Rony levantou um lado do lábio e as sobrancelhas de Harry levantaram. Nenhum dos dois respondeu.
"Como ela está? Eu tentei visitá-la, mas Madame Pomfrey não deixou. Eu sinto falta dela - ela deixa aquelas reuniões chatas dos monitores divertidas," ele disse. Rony e Harry trocaram olhares de concordância. Tinha que ser ele.
"Sim, é a varinha dela. A gente pegou emprestada, já que ela não vai precisar por enquanto," Harry mentiu. "Então, vai sacudir ou não?" ele estava ficando impaciente e lutando contra o sentimento de ciúmes que nunca havia experimentado.
"Certo, aqui vai," Ernie disse, sacudindo a varinha.
"Comparato Resonai," Rony murmurou, e faíscas prateadas encheram o ar em volta deles.
"Ei, legal!" Ernie disse. "O que isso quer dizer?"
Rony pegou a varinha de volta. "Quer dizer que o teste foi feito. Funcionou. Obrigado pela ajuda," Rony saiu apressado, irritado.
"Até mais," Harry disse, seguindo Rony de volta para mesa.
Ernie os olhou partir, deu os ombros e voltou para mesa da Lufa-lufa, onde se inclinou para frente, provavelmente para contar o que acontecera. Ele ficava olhando para Rony e Harry como se eles estivessem loucos. Harry o ignorou, enquanto Rony colocava a varinha de Hermione junto de uma pilha de livros e riscava o nome de Ernie da lista.
"Por que Hermione tinha que colocar as inicias na varinha?" Rony perguntou, aborrecido. "Ninguém faz isso. Deve ser coisa de trouxa."
"Não tenho idéia," respondeu Harry, pegando a varinha de Hermione e a examinando com mais cuidado. De repente, alguém a tomou dele. Ele se virou para olhar atrás dele, e viu que foi Malfoy.
"Me devolva Malfoy," Harry disse, levantando da cadeira.
"O que temos aqui?" ele disse, com seu sorriso zombeteiro de sempre. "Com saudades de sua amiga inconsciente?"
"Sai daqui, Malfoy," Rony disse, também se levantando.
"Sabe, não sei o que vocês dois vêem naquela sangue-ruim, ou o que ela vê em vocês," Malfoy continuou, ignorando Rony. Ele começou a imita-la, sacudindo a varinha e falando com uma voz fina.
"Oh, Harry, você é um ótimo bruxo, Harry. Oh, Rony, eu amo seu nariz cheio de sardas. Quer dividir comigo?" Malfoy riu, ainda sacudindo a varinha de Hermione.
Harry e Rony tiveram a mesma idéia simultaneamente. Eles gritaram na mesma hora.
"Comparato resonai!"
Faíscas douradas brilhantes saíram da varinha de Hermione. A força delas empurraram Malfoy para trás, de encontro a uma mesa, derrubando-o. Ele sentou-se, tonto, ainda segurando a varinha. Rony e Harry trocaram olhares assustados e Rony correu para tirar a varinha de Hermione das mãos de Malfoy antes que ele se recuperasse. Madame Pince e alguns alunos vieram ver o que acontecera.
"Eles me atacaram," Malfoy disse, levantando-se esfregando a cabeça. "Eles me atacaram com algum... algum..." ele não continuou. Um sorriso malvado em seu rosto.
Madame Pince virou-se para Rony e Harry, "Expliquem, por favor."
"Nós estávamos fazendo um teste," Harry disse, tentando parecer o mais arrependido possível, apesar de estar queimando por dentro com o que soube de Malfoy.
"Desculpe se falhou," Rony disse, tentando parecer inocente.
"Vocês três, para fora," Madame Pince falou, apontando para porta. Eles recolheram seus livros e saíram da biblioteca. Malfoy os alcançou no corredor.
"Eu sei pra que serve esse feitiço," ele disse, parecendo estar se divertindo.
"O que?" Harry e Rony se viraram para olhar para ele, espantados.
"Bem, a habilidade de invocar a maldição de Morgana está em minha família, então eu sei para que vocês estavam me testando," Malfoy falou, mais sério do que Harry imaginava ser possível.
"Bem, eu não ficaria surpreso se Morgana fosse de sua família, Malfoy, ela parece de seu tipo. Agora vá embora," Harry disse, muito irritado, seus nervos em frangalhos.
"Na verdade," Malfoy disse, "Minha família tem o orgulho de vir da linhagem diretamente dela."
"É mesmo?" Rony disse, parando e colocando as mãos na cintura. "Acho que você deve ter perdido a coruja especial Malfoy, então aqui vai a mensagem: não interessa. Vá embora agora." Harry e Rony continuaram a andar, deixando- o pra trás.
"Bem, achei que iam dizer isso. Mas como vocês sabem que não fui eu que a beijei?" ele gritou para eles.
Harry e Rony se voltaram para ele, suas expressões revelando o quanto estavam espantados.
Capítulo 8: A caçada
Chegando a seu dormitório um pouco antes do jantar, Harry foi recebido por uma cena que pensava ser impossível: Hagrid estava lá, sentado em sua cama, conversando com Rony. Como ele cabia ali? O quarto com certeza era pequeno demais para ter sido fácil.
"Estava pensando que horas voltaria, Harry," Hagrid disse a ele animado.
"Oi, Hagrid," Harry respondeu, um olhar espantando em seu rosto, "Como você- ?" ele começou, mas foi interrompido por Rony.
"Hagrid veio me visitar depois da aula, Harry, e eu contei tudo a ele. Perdoe-me se traí sua confiança, mas precisava falar com alguém," Rony disse, sem olhar para ele, de braços cruzados.
Harry olhou para Hagrid. Isso o fez sentir inquieto, apesar dele não saber porque se incomodava em Hagrid saber, ele lhe contava quase tudo mesmo.
Hagrid olhou para Harry e Ron muito sério e disse, "Vocês tem que parar de brigar e trabalhar para salvar a pobre Hermione."
"Quem está brigando?" Harry respondeu, sua raiva aumentando. O que Rony dissera a Hagrid?
"Vocês dois, se os conheço bem," Hagrid disse, olhando de um para o outro de novo. "Se tem algo que eu sei é que não se deve deixar uma bruxa ficar entre dois bons amigos, e é isso que vocês dois são: melhores amigos. Vocês não querem colocar isso em risco - mesmo se a bruxa for Hermione. É como eu disse a seu pai, Harry, quando ele teve esse problema: seja verdadeiro com seus amigos, o resto fica fácil." Ele deu a Harry um caloroso sorriso.
"Sim. Bem. Não sou eu que estou com problemas Harry. É o Rony," Harry respondeu, agora de braços cruzados.
Um silêncio desagradável se seguiu, durante o qual Rony e Harry trocaram olhares que variavam de perturbação a fúria. Depois de alguns segundos assim, Rony deu um pequeno sorriso e rolou os olhos. Ele foi o primeiro a falar.
"Ouça, Harry. Eu não estou zangado. Não mais. É que as coisas vão ser estranhas agora que vocês dois vão ser um casal. Eu vou ser o bruxo deixado de lado, se me entende. Está bem claro que vocês devem ficar juntos, mas isso não deixa as coisas mais fáceis de aceitar - ela também é minha amiga." Sua voz tinha um tom de amargura misturado com pacificação.
Harry respirou fundo e parou para pensar por um segundo antes de responder. "Eu sei, Rony. Eu, do mesmo jeito que você, não esperava que isso acontecesse. Mas agora que aconteceu, tudo que posso dizer é que eu prometo que você não vai ficar de fora. Tenho certeza que Hermione diria a mesma coisa. Nós três vamos continuar a ser amigos, você vai ver."
Harry parou para olhar para Rony antes de continuar, "Fico feliz que você não vai ficar sem falar comigo como ano passado. Foi muito ruim."
Harry virou-se para Hagrid, enquanto deixava Rony pensar no que dissera, "Obrigado pela dose de juízo para nós dois, Hagrid."
"É, obrigado, Hagrid," Rony falou em concordância. Os dois olharam para ele e sorriram. Hagrid se levantou tanto quanto pôde no pequeno dormitório e olhou de Harry pra Rony, um sorriso em seu rosto.
"Bem, eu só disse o que vocês já sabiam. Talvez só tenha apressado as coisas, só isso. Agora vocês vão apertar as mãos ou o que?" ele disse, ainda sorrindo.
Harry e Rony andaram até a área entre as duas camas, Harry estendeu sua mão para Rony e ele a apertou com força. Os dois começaram a rir, Rony dando tapinhas nas costas de Harry, como de costume. A tensão no quarto de quando Harry entrou agora era uma memória distante. Harry estava alegre! Ele agora tinha Rony a seu lado em sua busca e isso o fez sentir que ele conseguiria vencer, no fim das contas.
*****
"Bem, Dumbledore me procurou e disse que temos uns três dias pelas contas dele. Eu não disse que foi você. Pensei que você mesmo quisesse fazer isso. Agora fico feliz em não ter dito a ele, porque vamos precisar de mais tempo para fazer o feitiço que Sirius nos deu," Rony disse, enquanto amassava uma batata cozida.
"Você está certo," Harry disse olhando a sua volta pelo salão Principal para se certificar, pela décima vez, que ninguém estava escutando a conversa. "Só espero que a gente consiga encontrar o outro bruxo a tempo, e achar a receita da poção que é usada junto com o feitiço. Aposto que tem na Seção Restrita. Vou perguntar a Madame Pince quando acabarmos aqui, mas aposto que ela vai me dizer para ir embora. Se ela fizer isso, vou entrar escondido lá hoje e ver se consigo achar."
"Você quer dizer NÓS vamos entrar escondidos lá," Rony corrigiu.
"Certo, NÒS. Obrigado, Rony."
"Não perderia isso."
Eles pararam um pouco, para comer. Quando terminaram, Rony se inclinou pra frente.
"Então, vamos analisar os principais suspeitos," ele disse, pegando um pedaço de pergaminho e uma pena. "Isso até que vai ser divertido. Coitada de Hermione. Ela vai ficar tão envergonhada quando você acorda-la e ela souber do que aconteceu."
"É, eu sei. Queria não ter sido tão idiota para beija-la. Mas, por outro lado, com certeza foi algo - bem- realmente ótimo." Harry deixou escapar um suspiro e Rony riu, balançando a cabeça.
"Fico feliz em saber que ao menos o primeiro beijo de alguém foi divertido. A primeira garota que beijei me deixou com medo. Ela era muito maior que eu e eu me senti como se estivesse sendo atacado. Ela ficava empurrando a língua na minha garganta e eu quase vomitei."
Harry olhou pra Rony surpreso. "Como eu nunca soube disso antes?"
"Bem, não foi nada especial," Ron começou, "e eu prefiro esquecer da coisa toda. Ela foi apenas uma bruxa que eu conheci em um torneio de xadrez que eu fui no verão. Nós saímos pelo salão principal e depois por um corredor. Antes que pudesse saber o que estava acontecendo, ela estava me beijando - se é que se pode chamar aquilo de beijo."
Os dois riram. Era ótimo poder falar com Ron desse jeito novamente. Eles começaram a pensar nos possíveis suspeitos e fizeram uma lista.
"Certo, vamos repassar," Harry falou, notando que estava falando como Hermione. Ele riu triste, sentindo um aperto no coração de saudade dela.
"Temos Neville - apesar de achar que ele adora Hermione, não acho que ele a ame. Depois temos Viktor Krum - ele realmente gostava dela ano passado. A gente devia deixa-lo de fora, só pra último caso, se estivermos desesperados. Vai ser difícil contata-lo a tempo," Harry disse.
"Bem pensado," Ron concordou, riscando o nome de Krum da lista.
"Daí temos Ernie McMillan - boa teoria para ele, Ron. Desde que os dois viraram monitores, venho notando que ele é bem atencioso com ela. E, claro, tem sua idéia com Malfoy, mas acho que você está errado nessa. Não há possibilidade de Malfoy amar alguém cujos pais sejam trouxas. Você sabe como ele é com essa história de sangue-puro."
"Eu não sei, Harry, você devia ver o jeito que ele olha para ela. Ele parece tão obcecado em odiá-la que com certeza ele a ama. Existe uma linha muito fina entre o amor e o ódio," Rony disse, rabiscando a lista distraidamente.
"Bem, vamos deixá-lo na lista, apesar de não ter idéia de como vamos fazê- lo tocar a varinha dela, quanto mais deixar-nos testa-lo. Espero que ele não tenha nenhuma ressonância mágica com ela - ele nunca me ajudaria. Eu com certeza teria que fazer o outro feitiço se for ele o outro bruxo."
"Provavelmente vai ser McMillan," Rony disse enfático, "Eu estive de olho nele."
"Bem, espero que quem quer que seja esteja disposto a ajudar," Harry disse, um nó em seu estômago.
"Ei," Rony disse, tirando Harry de seus pensamentos, "esqueci de te dizer uma coisa. Eu convidei Megan para o Baile de Inverno. Ela aceitou. Não é ótimo?" Rony parecia animado.
"Que ótimo, Rony," Harry falou, genuinamente feliz por seu amigo. Ao menos um deles teria um par para o baile, ele pensou consigo mesmo. Por que as coisas sempre aconteciam com ele?
******
"Claro que não temos nada desse jeito aqui, nem mesmo na seção Restrita." Madame Pince torceu o nariz e devolveu o pedaço de pergaminho a Harry. "Você não deveria tocar em um livro de poções desses, é muito perigoso - principalmente para alguém que não sabe o que está fazendo."
"O mestre de poções provavelmente tem uma copia, para fins de referência, mas tenho certeza que ele nunca deixaria um aluno colocar os olhos nele," ela continuou. "Pra que você precisa dele?"
"Hã... pesquisa para Historia da Magia," Harry respondeu, tentando soar convincente, "Acho que vou ter escrever sobre outra coisa." Harry deu as costas para a mesa da bibliotecária e foi até onde Rony estava sentado.
"Sem sorte," Harry falou, sentando-se derrotado.
"O que? Sem livro?"
"Pior. Ela acha que Snape tem. Já posso imaginar: 'Oi, Snape, você se importaria em me emprestar uma cópia de um livro ilegal para que eu possa usa-lo para fazer um feitiço ilegal em meu verdadeiro amor?' não sei porque, mas acho que não seria muito bom," Harry disse irritado.
"É, mas talvez faça o Snape rir - isso deve valer algo," Rony falou, tentando animar Harry. "Talvez ele morra de rir."
"Nós nem sabemos se ele tem o livro," Harry disse, ainda frustrado. "Mas tenho que tentar. Eu não conseguiria viver comigo mesmo se não tentasse."
"Então, vamos invadir a sala dele hoje, para ver se ele tem. Nós não precisamos sair com ele, apenas copiar a poção e sair. Ele não vai nem saber," Rony planejou.
"Boa idéia. Só espero que consigamos passar pelas proteções que ele tenha colocado lá - ele quase enlouqueceu da última vez que invadimos a sala dele, tenho certeza que ele aumentou a segurança desde então," Harry disse, sentindo-se um pouco melhor agora que ele tinha um plano, mas ainda preocupado.
"Não pense nisso," Rony disse, tirando a lista de suspeito que eles tinham feito para o teste de ressonância. "Vamos ver se conseguimos testar alguns desses bruxos. Olhe - McMillan está ali, vamos testa-lo."
Rony tirou a varinha de Hermione de sua mochila e os dois foram até onde Ernie estava sentado, numa mesa com alunos de Lufa-lufa, inclusive Megan Jones. Rony sorriu para Megan quando eles chegaram na mesa.
"Oi, Rony," Megan disse, sorrindo para ele.
"Oi," Rony respondeu, seu rosto corando um pouco. Harry achou isso engraçado.
"Harry, você conhece Megan," Rony disse.
"Claro," Harry disse, sorrindo para ela.
Depois de uma pausa desconfortável, Harry limpou a garganta.
"Na verdade, eu não vim falar com você agora, Meg, a gente precisa falar com o McMillan, em particular," Rony disse, finalmente.
"Claro," Ernie disse, olhando ao redor da mesa e dando os ombros. Ele se levantou e seguiu Rony e Harry até atrás da biblioteca perto da Seção de História da Magia.
"O que foi?" Ernie perguntou, olhando entre Rony e Harry.
"Precisamos que faça algo para nós," Harry disse a ele. "É bem simples, mesmo. Tudo o que tem que fazer é balançar essa varinha." Rony segurou a varinha de Hermione.
"Pra que?" Ernie perguntou, coçando a cabeça.
"Não podemos te dizer isso," Harry continuou, "mas prometo que não vai machucar, é só um simples teste. Você topa?"
Ernie olhou de Harry, que o olhava intensamente, para Rony, que segurava a varinha na expectativa. E sorriu.
"Claro - confio em vocês dois. O que tenho que fazer mesmo?" ele perguntou.
"Apenas sacuda a varinha," Ron disse, entregando a ele.
Ernie pegou a varinha de sua mão e a olhou de mais perto. Harry ficou tenso, torcendo que ele não descobrisse a quem pertencia - isso poderia levar a algumas explicações que ele queria evitar. Ernie fez um som de reconhecimento.
"Ei!" ele disse, lendo as iniciais na varinha, "Diz, 'H.G.' essa por acaso não é a varinha de Hermione, é?"
Rony e Harry se olharam. Rony levantou um lado do lábio e as sobrancelhas de Harry levantaram. Nenhum dos dois respondeu.
"Como ela está? Eu tentei visitá-la, mas Madame Pomfrey não deixou. Eu sinto falta dela - ela deixa aquelas reuniões chatas dos monitores divertidas," ele disse. Rony e Harry trocaram olhares de concordância. Tinha que ser ele.
"Sim, é a varinha dela. A gente pegou emprestada, já que ela não vai precisar por enquanto," Harry mentiu. "Então, vai sacudir ou não?" ele estava ficando impaciente e lutando contra o sentimento de ciúmes que nunca havia experimentado.
"Certo, aqui vai," Ernie disse, sacudindo a varinha.
"Comparato Resonai," Rony murmurou, e faíscas prateadas encheram o ar em volta deles.
"Ei, legal!" Ernie disse. "O que isso quer dizer?"
Rony pegou a varinha de volta. "Quer dizer que o teste foi feito. Funcionou. Obrigado pela ajuda," Rony saiu apressado, irritado.
"Até mais," Harry disse, seguindo Rony de volta para mesa.
Ernie os olhou partir, deu os ombros e voltou para mesa da Lufa-lufa, onde se inclinou para frente, provavelmente para contar o que acontecera. Ele ficava olhando para Rony e Harry como se eles estivessem loucos. Harry o ignorou, enquanto Rony colocava a varinha de Hermione junto de uma pilha de livros e riscava o nome de Ernie da lista.
"Por que Hermione tinha que colocar as inicias na varinha?" Rony perguntou, aborrecido. "Ninguém faz isso. Deve ser coisa de trouxa."
"Não tenho idéia," respondeu Harry, pegando a varinha de Hermione e a examinando com mais cuidado. De repente, alguém a tomou dele. Ele se virou para olhar atrás dele, e viu que foi Malfoy.
"Me devolva Malfoy," Harry disse, levantando da cadeira.
"O que temos aqui?" ele disse, com seu sorriso zombeteiro de sempre. "Com saudades de sua amiga inconsciente?"
"Sai daqui, Malfoy," Rony disse, também se levantando.
"Sabe, não sei o que vocês dois vêem naquela sangue-ruim, ou o que ela vê em vocês," Malfoy continuou, ignorando Rony. Ele começou a imita-la, sacudindo a varinha e falando com uma voz fina.
"Oh, Harry, você é um ótimo bruxo, Harry. Oh, Rony, eu amo seu nariz cheio de sardas. Quer dividir comigo?" Malfoy riu, ainda sacudindo a varinha de Hermione.
Harry e Rony tiveram a mesma idéia simultaneamente. Eles gritaram na mesma hora.
"Comparato resonai!"
Faíscas douradas brilhantes saíram da varinha de Hermione. A força delas empurraram Malfoy para trás, de encontro a uma mesa, derrubando-o. Ele sentou-se, tonto, ainda segurando a varinha. Rony e Harry trocaram olhares assustados e Rony correu para tirar a varinha de Hermione das mãos de Malfoy antes que ele se recuperasse. Madame Pince e alguns alunos vieram ver o que acontecera.
"Eles me atacaram," Malfoy disse, levantando-se esfregando a cabeça. "Eles me atacaram com algum... algum..." ele não continuou. Um sorriso malvado em seu rosto.
Madame Pince virou-se para Rony e Harry, "Expliquem, por favor."
"Nós estávamos fazendo um teste," Harry disse, tentando parecer o mais arrependido possível, apesar de estar queimando por dentro com o que soube de Malfoy.
"Desculpe se falhou," Rony disse, tentando parecer inocente.
"Vocês três, para fora," Madame Pince falou, apontando para porta. Eles recolheram seus livros e saíram da biblioteca. Malfoy os alcançou no corredor.
"Eu sei pra que serve esse feitiço," ele disse, parecendo estar se divertindo.
"O que?" Harry e Rony se viraram para olhar para ele, espantados.
"Bem, a habilidade de invocar a maldição de Morgana está em minha família, então eu sei para que vocês estavam me testando," Malfoy falou, mais sério do que Harry imaginava ser possível.
"Bem, eu não ficaria surpreso se Morgana fosse de sua família, Malfoy, ela parece de seu tipo. Agora vá embora," Harry disse, muito irritado, seus nervos em frangalhos.
"Na verdade," Malfoy disse, "Minha família tem o orgulho de vir da linhagem diretamente dela."
"É mesmo?" Rony disse, parando e colocando as mãos na cintura. "Acho que você deve ter perdido a coruja especial Malfoy, então aqui vai a mensagem: não interessa. Vá embora agora." Harry e Rony continuaram a andar, deixando- o pra trás.
"Bem, achei que iam dizer isso. Mas como vocês sabem que não fui eu que a beijei?" ele gritou para eles.
Harry e Rony se voltaram para ele, suas expressões revelando o quanto estavam espantados.
