Um beijo não é apenas um beijo
Capítulo 10: O amigo
Enquanto Harry rolava na cama aquela noite, o sonho encantado de Hermione continuava, seus olhos fechados brilhando durante o sono.
O sol brilhava iluminando as terras de Hogwarts naquele lindo dia de junho. Bruxos e bruxas, bem como alguns trouxas, enchiam as cadeiras brancas sob a tenda armada, enfeitada com o brasão de Hogwarts. Um grande quadro atrás do palco brilhava, ora com a mensagem "Classe de 2021 de Hogwarts", ora "Felizes que os NIEMs acabaram, agora vamos festejar".
O apresentador, Neville Longbottom, entretia a multidão com suas histórias sobre terapia contra aversão a vampiros e adestramento de demônios de seu Instituto Mágico de Reinvenção da Mente. A maioria dos formandos de Hogwarts, que estava sentada nas duas primeiras filas, ouvia atentamente. De vez em quando, montes de confete ou uma rajada de cerveja amanteigada passava de um lado para o outro.
"Não acredito que ela já está se formando," Harry sussurrou nostálgico, repousando sobre Hermione, "Parece que foi ontem que a levamos para plataforma 9 e ½."
Hermione se remexeu em sua cadeira, se esticando para ver melhor o que acontecia. O discurso de Neville estava acabando e ela queria ter certeza que não perderia a próxima parte - Samantha recebendo o diploma. "Eu sei querido. Ela cresceu tão rápido. Antes que a gente perceba, ela vai estar casada e começando a própria família." Hermione procurou seu lenço no bolso.
"Hmmm," Harry respondeu. Ele se ajeitou na sua cadeira, quieto por alguns instantes e depois murmurou. "Bem, é melhor que Joe Weasley se comporte com ela, se ele souber o que é bom pra ele. Se eu descobrir que ele fez algo para machucá-la, ele vai ter que me agüentar junto com toda a família Weasley."
Hermione sorriu. Ela achava fofo como Harry era protetor com Samantha. Ela tinha começado a namorar o filho de Fred a uns dois meses, e Harry ouviu falar da reputação dele de conquistador.
"Tenho certeza que ele é um doce com ela," Hermione respondeu, batendo carinhosamente na perna de Harry. "Afinal, eles se conhecem desde criança. Ele não faria nada que a magoasse, do mesmo jeito que você quando a gente namorava."
"É, bem, isso é diferente," Harry disse. "Nós éramos muito maduros e fiéis para nossa idade. Nós não namorávamos como os adolescentes de hoje." Ele olhou de lado para ela, maliciosamente, já antecipando sua resposta.
Ela mordeu a isca, virando na cadeira para encará-lo. "Harry James Potter. Essa é a maior mentira que você já contou. 'Nós éramos muito maduros e fiéis para nossa idade,'" ela disse imitando-o, "Não esqueça que já estávamos tendo relações na época da formatura. Se não é assim que os adolescentes de hoje namoram, não sei como é!"
Harry corou, e sorriu culpado. Aproximando-se de Hermione, ele a beijou no pescoço, no ponto que a deixava louca de desejo. "Eu estava brincando," ele murmurou em seu ouvido. Ela estava sentindo um tremor de prazer do beijo e da respiração quente roçando a pele sensível de seu pescoço. "Você fica tão sexy quando está discutindo."
"Mmmm," foi tudo que Hermione conseguiu dizer. Sua irritação tinha passado e ela só conseguia se concentrar em Harry agora. Ele não parecia ter envelhecido um só dia desde da formatura deles, tempos atrás. Apesar deles serem casados por vinte anos, ela ainda o achava irresistível.
Antes que ela pudesse ponderar sobre uma demonstração pública, Harry veio até ela e a beijou. Respirando fundo, ela respondeu ao beijo, o programa da formatura caiu esquecido no chão, quando ela levantou os braços e os enlaçou pelo pescoço dele.
"Mãe, pai, dá pra parar?" Era a voz agitada do filho de catorze anos deles, Jimmy. "Vocês vão perder Samantha recebendo o diploma." Ele estava encolhido em sua cadeira de vergonha, fingindo que estava em qualquer lugar, menos ao lado de seus pais se beijando.
"Desculpe, Jimmy," Hermione disse, se afastando de Harry e limpando o batom da boca dele com seus dedos. Harry sorriu para ela e deu um olhar que dizia que eles iam terminar isso mais tarde - talvez no lugar favorito escondido que eles acharam na Floresta Proibida no sexto ano.
"Mãe!"Jimmy respondeu, "Por favor, me chame de James enquanto estamos na escola. Jimmy é tão infantil. Eu vou para o quinto ano e ser monitor ano que vem, as pessoas não podem me chamar de Jimmy. Eu não vou ser respeitado."
"Claro, James," Hermione disse, sorrindo para o filho deles e arrumando o cabelo dele. Harry apenas virou os olhos e sorriu.
Instantes depois, o nome Samantha Potter foi chamada. Levantando-se de sua cadeira, Samantha andou pelo palco e recebeu seu diploma. Apertou as mãos com o diretor, ela acenou sorrindo para sua família e amigos que batiam palmas com toda força e faziam muito barulho. Ela repousou o olhar um instante em seus pais e acenou de novo, antes de deixar o palco. Hermione tinha os olhos cheios de lágrimas e virou para Harry, que olhava para o espaço com um sorriso, os olhos brilhando.
"Estou tão orgulhosa dela, você não está?" Hermione falou, colocando a mão sobre o ombro de Harry. Ele virou para ela, seus olhos verdes mergulhando nos dela enquanto ele falava maravilhado, "Nossa Sam se formou. Hermione, quando a vi lá em cima, ela estava igual a você. Estou mais orgulhoso do que as palavras podem expressar."
*****
Como era sábado e Harry estava no treino de quadribol, Rony decidiu procurar Megan com a desculpa de precisar de ajuda em Herbologia. Na verdade, ele estava procurando uma distração para o que vinha sentindo nos últimos dias.
Hermione. Ele não conseguia parar de pensar em Hermione. No início, ele associou sua preocupação à que qualquer amigo sentiria. Afinal, que tipo de pessoa ele seria se não estivesse preocupado por sua amiga estar amaldiçoada? Essa maldição poderia ter um impacto terrível no bem-estar dela, além do dano que poderia causar a relação entre ela e Harry.
Mas depois ele começou a sentir como se sua preocupação ultrapassasse a preocupação de um amigo. Ele pensava nela no meio da aula de poções, enquanto ouvia Snape tagarelar sobre antídotos. Ele pensava nela enquanto estava em Adivinhação e Trelawney descrevia como encontrar seu amor. Ele pensava nela enquanto assistia Hagrid lutar com um de seus bichos. E não ajudava o fato de ele estar sonhando muito com ela ultimamente.
Droga de subconsciente! Por que ele não podia sonhar com Megan? Ela era alguém ao alcance dele. Desde que ele descobriu sobre a maldição, a compreensão que Harry e Hermione estavam pré-destinados um ao outro bateu pesado dentro dele. Fez com que se questionasse sobre a amizade, a lealdade e especialmente a ligação entre eles três. A discussão com Harry e Hagrid aliviou alguns de seus medos, mas não os fez sumir por completo. E agora, para completar todas essas inseguranças, ele tinha que se contentar com pensamentos errantes e sonhos de sua melhor amiga, que também era o amor de seu melhor amigo.
Rony vestiu seu casaco marrom e desceu para o café. Quando ele chegou ao salão comunal, ficou satisfeito de ter levado a varinha de Hermione, porque Neville Longbottom estava sentado no sofá, lendo.
"Oi, Neville," Rony disse, parando em frente a Neville que se assustou e derrubou o livro.
"Oi, Rony," Neville respondeu, pegando o livro. "Droga - perdi a página."
"Desculpe," Rony respondeu, "eu não queria te assustar. O que está lendo?" Rony perguntou, mas não estava interessado na resposta.
"Algo para me ajudar com poções," Neville disse sombrio. "Snape passou leituras extras como substitutas, ele disse que parece que eu faço as poções sem sabê-las mesmo. É muito difícil de ler, as letras são muito pequenas. Olhe." Ele mostrou o livro a Rony, que apertou os olhos e mal conseguia ler o que estava escrito.
"Ele quer que escreva uma redação de 2 pés para entregar até segunda pela manhã. Eu não vou ter tempo para mais nada neste fim-de-semana," Neville disse, balançando a cabeça e expirando resignado.
"É bem a cara de Snape mesmo," Rony disse distraído, tirando a varinha de Hermione. Neville reabrira o livro e apertava os olhos, concentrado.
"Ei, Neville, pode balançar essa varinha para mim?" Rony perguntou.
"Claro," Neville disse, tirando os olhos do livro e deixando Rony pôr a varinha em sua mão. Ele balançou a varinha sem hesitar e Rony disse o feitiço de teste da Ressonância.
Nada aconteceu. Nem uma faísca saiu da varinha. Ron pediu que Neville balançasse de novo e disse o feitiço mais alto - de novo, nenhum resultado. Isso estava errado. O que queria dizer? Rony praguejou enquanto tirava a varinha de Neville, que já estava concentrado em seu livro, como se sua vida dependesse disso.
Frustrado pela falta de progresso que ele e Harry tiveram na procura de um bruxo adequado para fazer o feitiço de Sirius, Rony saiu pelo retrato e foi tomar seu café-da-manhã.
****
"Oi, Megan. Se importa se eu sentar com você?" Rony disse, vermelho e sorrindo.
"Claro que não," ela disse, sorrindo de volta e se afastando um pouco para dar espaço para ele sentar.
"A que devemos essa honra?" disse Susan Bones, outra garota do quinto ano de Lufa-lufa.
"Como?" Rony perguntou, tentando ser educado.
"A honra de alguém de Grifinória sentar-se a nossa mesa," Susan falou, olhando para Rony desconfiada.
"Deixe ele em paz, Susan," Megan riu, jogando o guardanapo na amiga. Ela se virou para Rony enquanto Susan ria e foi até um grupo de garotas da Lufa- lufa que estavam olhando a cena.
"Eu admiro sua coragem de encarar tudo isso para vir sentar comigo," Megan disse a Rony, sorrindo docemente. Ela tinha um sorriso tão doce, assim como o de Hermione.
"Bem, nós da Grifinória somos famosos por isso: coragem. É. Temos isso pra dar e vender," Rony respondeu, tentando ignorar o fato de sua mente estar distraída. "Concentre-se em Megan, concentre-se em Megan, concentre-se em Megan," ele repetia para si mesmo.
"O que?" ela perguntou, olhando curiosa para ele.
"Nada," Rony respondeu, corando e decidindo deixar seus pensamentos mais silenciosos dali em diante.
"Bem, eu estou quase acabando meu café, mas vou esperar você acabar o seu," Megan disse, seus olhares se cruzando. Ela tinha olhos castanhos tão bonitos, como os de Hermione. Isso era demais; ele tinha que fazer algo para parar de pensar nela.
"Quer saber," Rony disse se levantando, "eu não estou com tanta fome. Você quer ir à torre de Astronomia comigo? Tem umas constelações ótimas no céu nessa época do ano. Eu preciso analisa-las pra preparar um mapa astral que estou fazendo para Adivinhação."
O rosto de Megan corou com o convite. Pela reação dela, ficou claro para Rony que ela sabia exatamente porque ele a estava convidando para a Torre de Astronomia.
"Bem, eu... estou lisonjeada pelo convite, Rony," Megan começou, olhando para suas mãos, "mas ainda é dia. Não acha melhor esperar a noite para fazer suas observações?" ela olhava para ele como se estivesse maluco.
"Certo, certo, bem observado," Rony respondeu, sentindo-se mais constrangido que nunca. Ele nunca tivera muito jeito pra paquerar as garotas, mas essa deve ter sido a tentativa mais patética num tempo recorde.
Um silêncio constrangedor ficou no ar, durante o qual Megan olhava para todos os cantos do Salão Principal, menos para Rony, que estava ocupado procurando uma desculpa para sair dali o mais depressa possível.
"Por que não vem comigo?" Megan disse, quebrando o silêncio e sorrindo para ele. "Quero te mostrar uma coisa." Ela ofereceu a mão e ele a tomou, imaginando o que ela planejava.
Ela o levou para fora, para uma das estufas que ele nunca havia visitado. Era pequena, e pelo o que pôde ver através do vidro, tinha umas plantas estranhas crescendo lá dentro nos vários potes que enchiam as prateleiras.
"Pra que é essa estufa?" Rony perguntou enquanto ela abria a porta para ele entrar.
"É para plantas que não suportam a luz do sol, mas precisam da luz das estrelas. Tem um feitiço especial para filtrar o sol que faz parecer que é sempre noite." Ela fechou a porta e eles ficaram na mais completa escuridão, exceto pelas estrelas e pela lua brilhando no teto de vidro sobre eles.
"Isso é bem legal," Rony disse virando-se para Megan. Seus olhos estavam lentamente se adequando à quantidade de luz e ele notou que ela parecia preocupada com algo. Talvez beija-la não tenha sido a melhor das idéias.
"O que há, Herm, quer dizer, Meg?" Rony perguntou, se punindo por quase ter chamado-a pelo nome errado.
Megan sorriu e cruzou os braços. "Por que você não me diz?" ela perguntou.
"Como assim?," Rony respondeu, depois pensou melhor e decidiu tentar responder algo que ela gostaria de ouvir. "Quer dizer, talvez eu esteja um pouco nervoso."
"Com o que?" ela perguntou, seu semblante preocupado.
"Com isso," Rony disse e se inclinou para beija-la, acariciando o lado da cabeça dela com sua mão esquerda, deslizando seus dedos no cabelo dela.
Antes que seus lábios pudessem se encontrar, ela recuou. Ele abriu os olhos e encontrou os castanhos dela olhando nos dele.
"Acho que não vou deixar você me beijar ainda," ela disse timidamente. "Eu o trouxe aqui na esperança que você me beijasse, mas acho que mudei de idéia."
"Por quê? O que está errado?" Rony disse, sentindo-se constrangido e decepcionado.
"Acho que você sabe. Você está distraído, Rony. Obviamente existe outra bruxa em sua mente."
"O que? Isso é loucura! Eu te convidei para o baile, não foi?"
"Sim, você convidou, e eu realmente estou animada por ir com você. Eu só quero ser única bruxa na sua cabeça quando você me beijar. E estou disposta a esperar. Ouvi dizer que os Weasley beijam muito bem, então tenho certeza que vai valer a espera." Ela disse, flertando com um sorriso e uma piscadela.
Rony riu apesar da situação. Ele nunca tinha ouvido falar isso de seus irmãos. Ao menos uma vez ele estava tirando proveito de ser o mais novo dos seis irmãos Weasley.
"Eu lamento que você não acredite em mim quando digo que você é a única que me interessa," Rony disse a ela, colocando o cabelo castanho dela atrás da orelha e puxando sua mão. "Quando vou saber que você mudou de idéia?"
"Você saberá," ela lhe respondeu. Depois ela abriu a estufa e saiu, enquanto ele a olhava partir com um sorriso torto nos lábios.
Por um momento, Rony ficou lá olhando ela ir através do vidro da estufa, depois um pensamento lhe veio à cabeça. Ele tirou a varinha de Hermione e sussurrou o feitiço. Faíscas douradas brilhantes iluminaram a estufa antes escura, envolvendo Rony em seu brilho.
****
Rony estava deitado em sua cama quando Harry voltou do treino de quadribol. Ele teve bastante tempo para pensar no que diria a Harry e estava aliviado de finalmente o encontra-lo.
"Rony, o que está fazendo aqui? Está se sentindo bem?" Harry perguntou, quando entrou no dormitório segurando sua Firebolt.
"Estou bem, eu acho," Rony respondeu. Agora que Harry estava mesmo ali, ele estava perdendo a coragem de lhe dizer o que queria.
"Bem, que bom que um de nós está bem," Harry respondeu, tirando as vestes do treino de quadribol. "Eu estava um pesadelo hoje. Não conseguia me concentrar em nada. Acho que vão me tirar do time, se continuar assim," ele resmungou.
"Eles não vão te tirar do time," Rony respondeu. "Eles sabem que está distraído com essa coisa com Hermione."
"Eles sabem? Como assim eles sabem?" Harry pareceu alarmado com isso, por algum motivo.
"Eles sabem já faz um tempo que ela está desmaiada na ala hospitalar," Rony respondeu. Era impressão dele, ou Harry parecia mais paranóico que o de costume?
"Ah, claro. Mas eles não sabem da maldição e o que a invocou, ou nada disso. Sabem?" Ele perguntou.
"Não, a não ser que você tenha contado."
"Não, não disse nada, a não ser para você e para Sirius."
"Bem, acrescente Hagrid na lista e somos os únicos a saber - além daquele idiota do Malfoy. Não me surpreenderia se ele contasse a escola toda."
Harry parou um momento, provavelmente pensando o mesmo que Rony. Parecia que Malfoy não contara a ninguém, o que era meio estranho para ele.
"Estranho," Harry falou, balançando a cabeça. "Por que será que Malfoy não contou a ninguém?"
"Meu palpite é tão bom quanto o seu," Rony disse, dando os ombros e se dando os parabéns por adivinhar o que Harry estava pensando.
A conversa teve uma pequena pausa enquanto Harry se preparava para tomar banho, amarrando a tolha na cintura. Ele estava colocando as roupas sujas no cesto quando Ron falou novamente.
"Eu fiz o teste em Neville hoje de manhã," Rony disse, esperando a reação de Harry.
Harry tampou o cesto e olhou pra ele. "E...?" ele perguntou.
"E a varinha não emitiu nenhuma faísca. Nenhuma sequer. Eu fiz duas vezes para ter certeza," Rony contou.
Harry riu. "Bem, parece que Neville não tem nenhuma ressonância com Hermione. Imagino se ele tem ressonância mágica com alguém, coitado."
Isso fez Rony rir também. Depois ele ficou sério, lembrando o que tinha que dizer a Harry.
"Pensei em um bruxo que talvez possa lhe ajudar," ele disse a Harry, tentando soar o mais relaxado possível.
Harry ficou branco. Ele olhou para Rony e depois para o chão. Sua voz estava pesada quando ele sentou na beira da cama e falou. "Rony, estive pensando sobre isso e já me decidi. Só há uma escolha sensata que é fazer o contra-feitiço de Dumbledore. Depois que tomar banho, vou lá falar com ele."
Rony levantou ao ouvir isso. "Não Harry, não pode fazer isso!"
"Deixe eu acabar, por favor," ele falou, pondo-se de pé e levantando as mãos, "se fizermos o contra-feitiço, ao menos Hermione tem a chance de ter uma vida normal. Pode ser melhor para ela se for assim. Voldemort provavelmente virá atrás de mim algum dia para me matar. Odiaria saber que magoei ela. Ela tem que ficar com alguém que vai estar por aqui por muito tempo e que possa dar a ela a vida que merece."
"É isso aí, Harry! Continue assim, tão otimista! Se continuar falando assim, ele não vai precisar te matar, porque eu mesmo vou!" Rony respondeu.
"Eu não esperava que entendesse, Rony," Harry disse, a cabeça levemente inclinada para um lado, seus olhos abaixados e cheios do que parecia ser remorso. "É muito intimidante descobrir que alguém é seu verdadeiro amor. Eu sinto como estivesse cheio de responsabilidades com as quais não sei lidar. Eu não conheço muito do mundo, nem tenho muita experiência, mas reconheço que sou muito novo para lidar com o que sei."
"Harry, você sempre foi muito novo para tudo, por que com isso seria diferente? Você foi o bruxo mais novo a encarar Voldemort e sobreviver - três vezes! Você foi o jogador mais novo a entrar num time de Quadribol de uma casa em séculos! Você era o bruxo mais novo no torneio tribruxo! Esse é você Harry! Quer você goste ou não, esse é você!" Rony estava tentando com todas suas forças não gritar, mas estava tendo dificuldades em se conter. Sentimentos de raiva e de ciúmes estavam se misturando com a preocupação que sentia por sua amiga.
Harry não respondeu. Rony ficou olhando para ele e ofegando, sua mente trabalhando a toda velocidade. Ele percebeu que tinha que falar agora, ou nunca falaria. "Harry, quero que faça algo para mim," Rony disse. Harry olhou para ele.
"Quero que fale o feitiço de teste de Ressonância," Rony disse, pegando a varinha de Hermione.
"Por que -?" Harry queria perguntar, mas Rony o interrompeu.
"Apenas diga."
"Comparato resonai," Harry disse, impaciente. Faíscas douradas saíram da varinha de Hermione enquanto Rony a balançava. Harry apenas olhava para Rony, seu semblante confuso.
"Eu tenho que te dizer uma coisa, Harry, e você não vai gostar. Eu amo Hermione."
Capítulo 10: O amigo
Enquanto Harry rolava na cama aquela noite, o sonho encantado de Hermione continuava, seus olhos fechados brilhando durante o sono.
O sol brilhava iluminando as terras de Hogwarts naquele lindo dia de junho. Bruxos e bruxas, bem como alguns trouxas, enchiam as cadeiras brancas sob a tenda armada, enfeitada com o brasão de Hogwarts. Um grande quadro atrás do palco brilhava, ora com a mensagem "Classe de 2021 de Hogwarts", ora "Felizes que os NIEMs acabaram, agora vamos festejar".
O apresentador, Neville Longbottom, entretia a multidão com suas histórias sobre terapia contra aversão a vampiros e adestramento de demônios de seu Instituto Mágico de Reinvenção da Mente. A maioria dos formandos de Hogwarts, que estava sentada nas duas primeiras filas, ouvia atentamente. De vez em quando, montes de confete ou uma rajada de cerveja amanteigada passava de um lado para o outro.
"Não acredito que ela já está se formando," Harry sussurrou nostálgico, repousando sobre Hermione, "Parece que foi ontem que a levamos para plataforma 9 e ½."
Hermione se remexeu em sua cadeira, se esticando para ver melhor o que acontecia. O discurso de Neville estava acabando e ela queria ter certeza que não perderia a próxima parte - Samantha recebendo o diploma. "Eu sei querido. Ela cresceu tão rápido. Antes que a gente perceba, ela vai estar casada e começando a própria família." Hermione procurou seu lenço no bolso.
"Hmmm," Harry respondeu. Ele se ajeitou na sua cadeira, quieto por alguns instantes e depois murmurou. "Bem, é melhor que Joe Weasley se comporte com ela, se ele souber o que é bom pra ele. Se eu descobrir que ele fez algo para machucá-la, ele vai ter que me agüentar junto com toda a família Weasley."
Hermione sorriu. Ela achava fofo como Harry era protetor com Samantha. Ela tinha começado a namorar o filho de Fred a uns dois meses, e Harry ouviu falar da reputação dele de conquistador.
"Tenho certeza que ele é um doce com ela," Hermione respondeu, batendo carinhosamente na perna de Harry. "Afinal, eles se conhecem desde criança. Ele não faria nada que a magoasse, do mesmo jeito que você quando a gente namorava."
"É, bem, isso é diferente," Harry disse. "Nós éramos muito maduros e fiéis para nossa idade. Nós não namorávamos como os adolescentes de hoje." Ele olhou de lado para ela, maliciosamente, já antecipando sua resposta.
Ela mordeu a isca, virando na cadeira para encará-lo. "Harry James Potter. Essa é a maior mentira que você já contou. 'Nós éramos muito maduros e fiéis para nossa idade,'" ela disse imitando-o, "Não esqueça que já estávamos tendo relações na época da formatura. Se não é assim que os adolescentes de hoje namoram, não sei como é!"
Harry corou, e sorriu culpado. Aproximando-se de Hermione, ele a beijou no pescoço, no ponto que a deixava louca de desejo. "Eu estava brincando," ele murmurou em seu ouvido. Ela estava sentindo um tremor de prazer do beijo e da respiração quente roçando a pele sensível de seu pescoço. "Você fica tão sexy quando está discutindo."
"Mmmm," foi tudo que Hermione conseguiu dizer. Sua irritação tinha passado e ela só conseguia se concentrar em Harry agora. Ele não parecia ter envelhecido um só dia desde da formatura deles, tempos atrás. Apesar deles serem casados por vinte anos, ela ainda o achava irresistível.
Antes que ela pudesse ponderar sobre uma demonstração pública, Harry veio até ela e a beijou. Respirando fundo, ela respondeu ao beijo, o programa da formatura caiu esquecido no chão, quando ela levantou os braços e os enlaçou pelo pescoço dele.
"Mãe, pai, dá pra parar?" Era a voz agitada do filho de catorze anos deles, Jimmy. "Vocês vão perder Samantha recebendo o diploma." Ele estava encolhido em sua cadeira de vergonha, fingindo que estava em qualquer lugar, menos ao lado de seus pais se beijando.
"Desculpe, Jimmy," Hermione disse, se afastando de Harry e limpando o batom da boca dele com seus dedos. Harry sorriu para ela e deu um olhar que dizia que eles iam terminar isso mais tarde - talvez no lugar favorito escondido que eles acharam na Floresta Proibida no sexto ano.
"Mãe!"Jimmy respondeu, "Por favor, me chame de James enquanto estamos na escola. Jimmy é tão infantil. Eu vou para o quinto ano e ser monitor ano que vem, as pessoas não podem me chamar de Jimmy. Eu não vou ser respeitado."
"Claro, James," Hermione disse, sorrindo para o filho deles e arrumando o cabelo dele. Harry apenas virou os olhos e sorriu.
Instantes depois, o nome Samantha Potter foi chamada. Levantando-se de sua cadeira, Samantha andou pelo palco e recebeu seu diploma. Apertou as mãos com o diretor, ela acenou sorrindo para sua família e amigos que batiam palmas com toda força e faziam muito barulho. Ela repousou o olhar um instante em seus pais e acenou de novo, antes de deixar o palco. Hermione tinha os olhos cheios de lágrimas e virou para Harry, que olhava para o espaço com um sorriso, os olhos brilhando.
"Estou tão orgulhosa dela, você não está?" Hermione falou, colocando a mão sobre o ombro de Harry. Ele virou para ela, seus olhos verdes mergulhando nos dela enquanto ele falava maravilhado, "Nossa Sam se formou. Hermione, quando a vi lá em cima, ela estava igual a você. Estou mais orgulhoso do que as palavras podem expressar."
*****
Como era sábado e Harry estava no treino de quadribol, Rony decidiu procurar Megan com a desculpa de precisar de ajuda em Herbologia. Na verdade, ele estava procurando uma distração para o que vinha sentindo nos últimos dias.
Hermione. Ele não conseguia parar de pensar em Hermione. No início, ele associou sua preocupação à que qualquer amigo sentiria. Afinal, que tipo de pessoa ele seria se não estivesse preocupado por sua amiga estar amaldiçoada? Essa maldição poderia ter um impacto terrível no bem-estar dela, além do dano que poderia causar a relação entre ela e Harry.
Mas depois ele começou a sentir como se sua preocupação ultrapassasse a preocupação de um amigo. Ele pensava nela no meio da aula de poções, enquanto ouvia Snape tagarelar sobre antídotos. Ele pensava nela enquanto estava em Adivinhação e Trelawney descrevia como encontrar seu amor. Ele pensava nela enquanto assistia Hagrid lutar com um de seus bichos. E não ajudava o fato de ele estar sonhando muito com ela ultimamente.
Droga de subconsciente! Por que ele não podia sonhar com Megan? Ela era alguém ao alcance dele. Desde que ele descobriu sobre a maldição, a compreensão que Harry e Hermione estavam pré-destinados um ao outro bateu pesado dentro dele. Fez com que se questionasse sobre a amizade, a lealdade e especialmente a ligação entre eles três. A discussão com Harry e Hagrid aliviou alguns de seus medos, mas não os fez sumir por completo. E agora, para completar todas essas inseguranças, ele tinha que se contentar com pensamentos errantes e sonhos de sua melhor amiga, que também era o amor de seu melhor amigo.
Rony vestiu seu casaco marrom e desceu para o café. Quando ele chegou ao salão comunal, ficou satisfeito de ter levado a varinha de Hermione, porque Neville Longbottom estava sentado no sofá, lendo.
"Oi, Neville," Rony disse, parando em frente a Neville que se assustou e derrubou o livro.
"Oi, Rony," Neville respondeu, pegando o livro. "Droga - perdi a página."
"Desculpe," Rony respondeu, "eu não queria te assustar. O que está lendo?" Rony perguntou, mas não estava interessado na resposta.
"Algo para me ajudar com poções," Neville disse sombrio. "Snape passou leituras extras como substitutas, ele disse que parece que eu faço as poções sem sabê-las mesmo. É muito difícil de ler, as letras são muito pequenas. Olhe." Ele mostrou o livro a Rony, que apertou os olhos e mal conseguia ler o que estava escrito.
"Ele quer que escreva uma redação de 2 pés para entregar até segunda pela manhã. Eu não vou ter tempo para mais nada neste fim-de-semana," Neville disse, balançando a cabeça e expirando resignado.
"É bem a cara de Snape mesmo," Rony disse distraído, tirando a varinha de Hermione. Neville reabrira o livro e apertava os olhos, concentrado.
"Ei, Neville, pode balançar essa varinha para mim?" Rony perguntou.
"Claro," Neville disse, tirando os olhos do livro e deixando Rony pôr a varinha em sua mão. Ele balançou a varinha sem hesitar e Rony disse o feitiço de teste da Ressonância.
Nada aconteceu. Nem uma faísca saiu da varinha. Ron pediu que Neville balançasse de novo e disse o feitiço mais alto - de novo, nenhum resultado. Isso estava errado. O que queria dizer? Rony praguejou enquanto tirava a varinha de Neville, que já estava concentrado em seu livro, como se sua vida dependesse disso.
Frustrado pela falta de progresso que ele e Harry tiveram na procura de um bruxo adequado para fazer o feitiço de Sirius, Rony saiu pelo retrato e foi tomar seu café-da-manhã.
****
"Oi, Megan. Se importa se eu sentar com você?" Rony disse, vermelho e sorrindo.
"Claro que não," ela disse, sorrindo de volta e se afastando um pouco para dar espaço para ele sentar.
"A que devemos essa honra?" disse Susan Bones, outra garota do quinto ano de Lufa-lufa.
"Como?" Rony perguntou, tentando ser educado.
"A honra de alguém de Grifinória sentar-se a nossa mesa," Susan falou, olhando para Rony desconfiada.
"Deixe ele em paz, Susan," Megan riu, jogando o guardanapo na amiga. Ela se virou para Rony enquanto Susan ria e foi até um grupo de garotas da Lufa- lufa que estavam olhando a cena.
"Eu admiro sua coragem de encarar tudo isso para vir sentar comigo," Megan disse a Rony, sorrindo docemente. Ela tinha um sorriso tão doce, assim como o de Hermione.
"Bem, nós da Grifinória somos famosos por isso: coragem. É. Temos isso pra dar e vender," Rony respondeu, tentando ignorar o fato de sua mente estar distraída. "Concentre-se em Megan, concentre-se em Megan, concentre-se em Megan," ele repetia para si mesmo.
"O que?" ela perguntou, olhando curiosa para ele.
"Nada," Rony respondeu, corando e decidindo deixar seus pensamentos mais silenciosos dali em diante.
"Bem, eu estou quase acabando meu café, mas vou esperar você acabar o seu," Megan disse, seus olhares se cruzando. Ela tinha olhos castanhos tão bonitos, como os de Hermione. Isso era demais; ele tinha que fazer algo para parar de pensar nela.
"Quer saber," Rony disse se levantando, "eu não estou com tanta fome. Você quer ir à torre de Astronomia comigo? Tem umas constelações ótimas no céu nessa época do ano. Eu preciso analisa-las pra preparar um mapa astral que estou fazendo para Adivinhação."
O rosto de Megan corou com o convite. Pela reação dela, ficou claro para Rony que ela sabia exatamente porque ele a estava convidando para a Torre de Astronomia.
"Bem, eu... estou lisonjeada pelo convite, Rony," Megan começou, olhando para suas mãos, "mas ainda é dia. Não acha melhor esperar a noite para fazer suas observações?" ela olhava para ele como se estivesse maluco.
"Certo, certo, bem observado," Rony respondeu, sentindo-se mais constrangido que nunca. Ele nunca tivera muito jeito pra paquerar as garotas, mas essa deve ter sido a tentativa mais patética num tempo recorde.
Um silêncio constrangedor ficou no ar, durante o qual Megan olhava para todos os cantos do Salão Principal, menos para Rony, que estava ocupado procurando uma desculpa para sair dali o mais depressa possível.
"Por que não vem comigo?" Megan disse, quebrando o silêncio e sorrindo para ele. "Quero te mostrar uma coisa." Ela ofereceu a mão e ele a tomou, imaginando o que ela planejava.
Ela o levou para fora, para uma das estufas que ele nunca havia visitado. Era pequena, e pelo o que pôde ver através do vidro, tinha umas plantas estranhas crescendo lá dentro nos vários potes que enchiam as prateleiras.
"Pra que é essa estufa?" Rony perguntou enquanto ela abria a porta para ele entrar.
"É para plantas que não suportam a luz do sol, mas precisam da luz das estrelas. Tem um feitiço especial para filtrar o sol que faz parecer que é sempre noite." Ela fechou a porta e eles ficaram na mais completa escuridão, exceto pelas estrelas e pela lua brilhando no teto de vidro sobre eles.
"Isso é bem legal," Rony disse virando-se para Megan. Seus olhos estavam lentamente se adequando à quantidade de luz e ele notou que ela parecia preocupada com algo. Talvez beija-la não tenha sido a melhor das idéias.
"O que há, Herm, quer dizer, Meg?" Rony perguntou, se punindo por quase ter chamado-a pelo nome errado.
Megan sorriu e cruzou os braços. "Por que você não me diz?" ela perguntou.
"Como assim?," Rony respondeu, depois pensou melhor e decidiu tentar responder algo que ela gostaria de ouvir. "Quer dizer, talvez eu esteja um pouco nervoso."
"Com o que?" ela perguntou, seu semblante preocupado.
"Com isso," Rony disse e se inclinou para beija-la, acariciando o lado da cabeça dela com sua mão esquerda, deslizando seus dedos no cabelo dela.
Antes que seus lábios pudessem se encontrar, ela recuou. Ele abriu os olhos e encontrou os castanhos dela olhando nos dele.
"Acho que não vou deixar você me beijar ainda," ela disse timidamente. "Eu o trouxe aqui na esperança que você me beijasse, mas acho que mudei de idéia."
"Por quê? O que está errado?" Rony disse, sentindo-se constrangido e decepcionado.
"Acho que você sabe. Você está distraído, Rony. Obviamente existe outra bruxa em sua mente."
"O que? Isso é loucura! Eu te convidei para o baile, não foi?"
"Sim, você convidou, e eu realmente estou animada por ir com você. Eu só quero ser única bruxa na sua cabeça quando você me beijar. E estou disposta a esperar. Ouvi dizer que os Weasley beijam muito bem, então tenho certeza que vai valer a espera." Ela disse, flertando com um sorriso e uma piscadela.
Rony riu apesar da situação. Ele nunca tinha ouvido falar isso de seus irmãos. Ao menos uma vez ele estava tirando proveito de ser o mais novo dos seis irmãos Weasley.
"Eu lamento que você não acredite em mim quando digo que você é a única que me interessa," Rony disse a ela, colocando o cabelo castanho dela atrás da orelha e puxando sua mão. "Quando vou saber que você mudou de idéia?"
"Você saberá," ela lhe respondeu. Depois ela abriu a estufa e saiu, enquanto ele a olhava partir com um sorriso torto nos lábios.
Por um momento, Rony ficou lá olhando ela ir através do vidro da estufa, depois um pensamento lhe veio à cabeça. Ele tirou a varinha de Hermione e sussurrou o feitiço. Faíscas douradas brilhantes iluminaram a estufa antes escura, envolvendo Rony em seu brilho.
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Rony estava deitado em sua cama quando Harry voltou do treino de quadribol. Ele teve bastante tempo para pensar no que diria a Harry e estava aliviado de finalmente o encontra-lo.
"Rony, o que está fazendo aqui? Está se sentindo bem?" Harry perguntou, quando entrou no dormitório segurando sua Firebolt.
"Estou bem, eu acho," Rony respondeu. Agora que Harry estava mesmo ali, ele estava perdendo a coragem de lhe dizer o que queria.
"Bem, que bom que um de nós está bem," Harry respondeu, tirando as vestes do treino de quadribol. "Eu estava um pesadelo hoje. Não conseguia me concentrar em nada. Acho que vão me tirar do time, se continuar assim," ele resmungou.
"Eles não vão te tirar do time," Rony respondeu. "Eles sabem que está distraído com essa coisa com Hermione."
"Eles sabem? Como assim eles sabem?" Harry pareceu alarmado com isso, por algum motivo.
"Eles sabem já faz um tempo que ela está desmaiada na ala hospitalar," Rony respondeu. Era impressão dele, ou Harry parecia mais paranóico que o de costume?
"Ah, claro. Mas eles não sabem da maldição e o que a invocou, ou nada disso. Sabem?" Ele perguntou.
"Não, a não ser que você tenha contado."
"Não, não disse nada, a não ser para você e para Sirius."
"Bem, acrescente Hagrid na lista e somos os únicos a saber - além daquele idiota do Malfoy. Não me surpreenderia se ele contasse a escola toda."
Harry parou um momento, provavelmente pensando o mesmo que Rony. Parecia que Malfoy não contara a ninguém, o que era meio estranho para ele.
"Estranho," Harry falou, balançando a cabeça. "Por que será que Malfoy não contou a ninguém?"
"Meu palpite é tão bom quanto o seu," Rony disse, dando os ombros e se dando os parabéns por adivinhar o que Harry estava pensando.
A conversa teve uma pequena pausa enquanto Harry se preparava para tomar banho, amarrando a tolha na cintura. Ele estava colocando as roupas sujas no cesto quando Ron falou novamente.
"Eu fiz o teste em Neville hoje de manhã," Rony disse, esperando a reação de Harry.
Harry tampou o cesto e olhou pra ele. "E...?" ele perguntou.
"E a varinha não emitiu nenhuma faísca. Nenhuma sequer. Eu fiz duas vezes para ter certeza," Rony contou.
Harry riu. "Bem, parece que Neville não tem nenhuma ressonância com Hermione. Imagino se ele tem ressonância mágica com alguém, coitado."
Isso fez Rony rir também. Depois ele ficou sério, lembrando o que tinha que dizer a Harry.
"Pensei em um bruxo que talvez possa lhe ajudar," ele disse a Harry, tentando soar o mais relaxado possível.
Harry ficou branco. Ele olhou para Rony e depois para o chão. Sua voz estava pesada quando ele sentou na beira da cama e falou. "Rony, estive pensando sobre isso e já me decidi. Só há uma escolha sensata que é fazer o contra-feitiço de Dumbledore. Depois que tomar banho, vou lá falar com ele."
Rony levantou ao ouvir isso. "Não Harry, não pode fazer isso!"
"Deixe eu acabar, por favor," ele falou, pondo-se de pé e levantando as mãos, "se fizermos o contra-feitiço, ao menos Hermione tem a chance de ter uma vida normal. Pode ser melhor para ela se for assim. Voldemort provavelmente virá atrás de mim algum dia para me matar. Odiaria saber que magoei ela. Ela tem que ficar com alguém que vai estar por aqui por muito tempo e que possa dar a ela a vida que merece."
"É isso aí, Harry! Continue assim, tão otimista! Se continuar falando assim, ele não vai precisar te matar, porque eu mesmo vou!" Rony respondeu.
"Eu não esperava que entendesse, Rony," Harry disse, a cabeça levemente inclinada para um lado, seus olhos abaixados e cheios do que parecia ser remorso. "É muito intimidante descobrir que alguém é seu verdadeiro amor. Eu sinto como estivesse cheio de responsabilidades com as quais não sei lidar. Eu não conheço muito do mundo, nem tenho muita experiência, mas reconheço que sou muito novo para lidar com o que sei."
"Harry, você sempre foi muito novo para tudo, por que com isso seria diferente? Você foi o bruxo mais novo a encarar Voldemort e sobreviver - três vezes! Você foi o jogador mais novo a entrar num time de Quadribol de uma casa em séculos! Você era o bruxo mais novo no torneio tribruxo! Esse é você Harry! Quer você goste ou não, esse é você!" Rony estava tentando com todas suas forças não gritar, mas estava tendo dificuldades em se conter. Sentimentos de raiva e de ciúmes estavam se misturando com a preocupação que sentia por sua amiga.
Harry não respondeu. Rony ficou olhando para ele e ofegando, sua mente trabalhando a toda velocidade. Ele percebeu que tinha que falar agora, ou nunca falaria. "Harry, quero que faça algo para mim," Rony disse. Harry olhou para ele.
"Quero que fale o feitiço de teste de Ressonância," Rony disse, pegando a varinha de Hermione.
"Por que -?" Harry queria perguntar, mas Rony o interrompeu.
"Apenas diga."
"Comparato resonai," Harry disse, impaciente. Faíscas douradas saíram da varinha de Hermione enquanto Rony a balançava. Harry apenas olhava para Rony, seu semblante confuso.
"Eu tenho que te dizer uma coisa, Harry, e você não vai gostar. Eu amo Hermione."
