Um beijo não é apenas um beijo

Capítulo 11: A decisão

Harry ficou lá sentado, sem saber o que dizer, o que pensar ou que sentir. Uma estranha dormência estava tomando conta dele, que lutava contra ela, tentando responder ao que Rony dissera. Ele sentou na cama e esfregou a parte de trás do pescoço que estava dolorido do treino. Olhou rapidamente para Rony, antes de se sentar mais para frente e esfregar os olhos. Ele finalmente sentiu o resultado de estar dormindo mal e da aventura da noite anterior. Mas agora não era hora de pensar o quanto ele estava cansado, agora era hora de tentar arranjar pensamentos coerentes com relação a como se sentia com o que Rony acabara de revelar. Rony só ficou lá olhando para ele, esperando a resposta.

"Como você sabe?" Harry perguntou a ele, quase num sussurro.

"Como eu sei o que?"

"Que você a ama," Harry respondeu, tentando não deixar a raiva que estava sentindo afetar a sua voz.

"Não tenho certeza," Rony respondeu com um tom mais suave do que Harry esperava. "Acho que vem acumulando desde o quarto ano. Eu fiquei com muito ciúme quando ela foi ao baile de inverno com Victor Krum. Se lembra da briga que ela e eu tivemos depois?" Rony olhou para Harry como se esperando uma resposta, mas Harry apenas olhava para ele, seu rosto imóvel, ouvindo atentamente.

"Eu não consigo parar de pensar nela. Eu tentei tirá-la de minha cabeça e não funcionou. Eu até tentei beijar Meg hoje, mas ela não deixou porque ela desconfiou de alguma coisa."

Harry correu os dedos pelos cabelos, um turbilhão de pensamentos em sua cabeça. Ele olhou para seu melhor amigo, que estava lá com uma cara de torturado. Isso era horrível. Ele esperava encontrar outro bruxo apaixonado por Hermione, mas nunca considerou que pudesse ser Rony. Ele às vezes tinha a impressão que Rony a achava atraente, e ano passado achou que Rony tinha desenvolvido uma paixonite inofensiva por ela, mas nunca tinha levado os sentimentos de Rony a um nível tão sério.

"Bem, se você realmente a ama, isso faz minha decisão ainda mais fácil," Harry disse, a voz arrastada. "Se eu não posso tê-la, ao menos meu melhor amigo pode ter uma chance. Você é como um irmão para mim, Rony. Se vocês dois podem ficar felizes juntos, isso vai ser menos triste para mim."

Rony ficou com a aparência de alguém que estava passando por uma dura briga interior. Seu rosto estava contorcido e parecia que ele ia chorar ou gritar. Seus olhos passeavam por todo quarto, e ele estava usando todas suas forças para se conter. Quando o silêncio estava ultrapassando os limites que Harry podia agüentar, a expressão de Rony relaxou e ele respirou fundo.

"Você também é como um irmão para mim, Harry - só que você não tem o cabelo vermelho e as sardas," ele disse, dando seu sorriso característico por um instante. "E por isso não posso deixar você fazer isso. Você tem que me deixar te ajudar. Você faria a mesma coisa por mim, se eu estivesse em seu lugar".

Harry olhava para ele, sem saber o que dizer e comovido pelas palavras do amigo.

"Além disso," Rony continuou, "eu sempre saberia que era o número dois dela, não o número um. Não acho que gostaria muito disso. Claro, isso considerando que ela aceitaria namorar comigo, o que é algo distante da realidade, porque parece que tenho o dom de irrita-la na maior parte do tempo."

Eles riram do último comentário de Rony. Isso quebrou a tensão e também acionou a mente Harry. Talvez ele deixasse Rony ajuda-lo. Pela primeira vez desde que tudo isso começou, ele começou a acreditar que ele pudesse ter Hermione em seus braços novamente.

"Você se importa se eu pensar um pouco antes de responder?" Harry perguntou. "Preciso tomar banho. Talvez me ajude a clarear um pouco as coisas."

"Claro. Enquanto isso, vou juntando os ingredientes da poção - só para prevenir. Onde está a página que roubamos de Snape?"

"Está dentro de Clareando o Futuro."

"Bem, ao menos você consegue fazer piadas com essa situação," Rony falou, indo até onde os livros de Harry estavam.

Harry apenas balançou a cabeça, pegou seu sabonete e xampu e foi para o chuveiro.

***

Quando voltou de seu longo banho, Harry encontrou Edwiges esperando por ele na sua mesa de cabeceira.

"Oi, Edwiges," ele disse. "O que trouxe para mim hoje?" Ela esticou a perna e ele tirou dois pedaços de pergaminhos. O primeiro bilhete era do prof. Dumbledore. Harry nem respirava enquanto lia o bilhete.

Harry

Venha a minha sala amanhã às nove da manhã com Rony para conversamos sobre os progressos com o caso da srta Granger. A senha é 'fio dental doce.'

Professor Dumbledore.



O segundo bilhete era de Sirius. Harry o leu rápido.

Harry,

O fato de não ter me mandado uma coruja indica que vai tentar fazer o contra-feitiço que te dei. Por favor, tome muito cuidado. Não seja pego, ou pode ser expulso. Use a capa de seu pai e faça durante a noite. Desejo toda a sorte. Por favor, mande uma coruja quando puder.

Sirius.

PS.: Lupin manda lembranças.

Isso definiu as coisas. Se ele ia tentar o contra-feitiço de Sirius, tinha que ser naquela noite. Se ele fosse falar com Dumbledore no dia seguinte, teria que admitir que ele foi o bruxo que invocara a maldição (ele não sabia porque, mas não queria fazer isso) e ele teria que fazer o outro contra-feitiço. Pelo que Sirius escrevera, parecia que o Diretor não seria muito tolerante com dois alunos fazendo um contra-feitiço perigoso como esse que eles queriam fazer.

Harry se vestiu rapidamente e pegou o pergaminho do contra-feitiço que Sirius lhe dera. Era chamado "Recurso de Merlin" e parecia ser muito complicado. Cada um dos três participantes do feitiço - o que estava dormindo, o bruxo que a beijara (que era chamado de amante) e o outro bruxo que amasse quem estava dormindo (era chamado de outro) - tinham que beber a poção. Algumas frases eram ditas, algumas pelo amante, algumas pelo outro. O pergaminho dizia que a poção tinha que ser feita muito cuidadosamente ou poderia haver efeitos indesejados. O último trecho que Harry leu continha um aviso, que Sirius tinha sublinhado.

"Por favor tenha certeza que o outro bruxo que está fazendo o feitiço ama quem está dormindo e não guarda nenhuma mágoa no coração contra ela ou contra o amante. Se essas condições não forem preenchidas, o efeito colateral mais comum é a morte da que dorme e de seu amante."

Harry se viu rindo por um momento depois de ler a última parte - listar a morte como um mero efeito colateral era o eufemismo do século. Apesar dele já estar há mais de quatro anos no mundo mágico, ele ainda achava os exageros e eufemismos nos feitiços muito engraçados.

Mas ele não riu por muito tempo, logo seus pensamentos se desviaram para Hermione pela milésima vez naquele dia. Ele queria muito tê-la de volta. Mas ele devia arriscar a morte - tanto dele como dela - só por que ele não conseguia sacrificar os desejos de seu coração?

Ele lembrou do beijo de Hermione na sala de Astronomia Avançada e estremeceu. Seu corpo se encheu de um desejo tão grande que o ar parou de chegar a seus pulmões, seu rosto corou em um segundo. Lágrimas ameaçavam cair e ele foi inundado por uma ansiedade dentro do coração. Ele colocou a cabeça para trás, olhando para o teto, respirando fundo, e tentando reganhar o controle de seu corpo e de seu coração.

Harry dobrou o pergaminho e o colocou no bolso. Estava decidido. Ele ia aceitar a oferta de Rony. Ele não agüentava nem pensar em nunca mais estar com Hermione. Ele sempre ia imaginar como seria sua vida se ele nem ao menos tentasse trazê-la de volta com a memória intacta. Ele só tinha ter certeza que Rony estava certo para que o contra-feitiço funcionasse.

******

Quando chegou no salão comunal, Harry encontrou Rony sentado sozinho numa mesa no canto com seu kit de poções aberto. Ele tinha a mesma expressão confusa de quando estava lidando com poções.

"Ei, Rony, como está indo?" Harry disse, puxando uma cadeira e sentando-se também.

Rony olhou para Harry, a testa franzida, como se ele estivesse pensando profundamente sobre algo. "Está tudo bem, eu acho. Já se decidiu?"

"Sim," disse Harry hesitante. "Só preciso saber uma coisa: você tem certeza absoluta?"

Rony olhou firme para ele, "Tenho certeza, Harry."

"Porque eu posso morrer, a não ser que você realmente possa participar."

"Eu tenho certeza absoluta. Então, vai me deixar ajudar?"

"Sim, eu nunca vou te agradecer o suficiente-," ele começou, mas Rony levantou a mão e o interrompeu.

"Não precisa me agradecer. Vamos começar logo essa poção e pronto."

"É melhor mesmo. Acabo de receber uma coruja de Dumbledore. Ele quer nos ver amanhã de manhã em sua sala. Temos que fazer o contra-feitiço hoje."

Rony pareceu surpreso com essa notícia, mas logo se recuperou, "Acho que isso não devia ser surpresa. De acordo com a última coruja só tínhamos uns dois dias antes que aquela lua no pulso dela ficasse cheia."

"Queria que eles deixassem a gente vê-la, pra poder checar isso," Harry falou, olhando os ingredientes sobre a mesa.

"Eu sei. Temos que confiar que Dumbledore está certo. Ele não deixaria o prazo acabar sem nos dizer nada," Rony disse distraído. Ele estava conferindo a lista de ingredientes da página que eles arrancaram do livro de Snape.

"Bem lembrado," Harry disse se inclinando para poder ler as instruções da poção também.

"Certo, a coisa é assim," Rony explicou. "Essa poção é muito complicada. Não por causa dos ingredientes, graças a Deus, mas por que temos que misturar com muita precisão. Se colocarmos um grão fora da hora, vai arruinar tudo e teremos que começar de novo."

"Então temos que fazer num lugar em que possamos nos concentrar. Por que não tentamos o banheiro da Murta que Geme? Ninguém vai lá, e da última vez deu sorte."

Rony sorriu, provavelmente lembrando a última vez que eles fizeram uma poção naquele banheiro. Foi no segundo ano, quando Hermione os convenceu a fazer uma poção Polissuco para poder entrar no salão comunal da Sonserina.

"Ótima idéia, Harry. Só precisamos levar o caldeirão e um de nossos kits de poção. Você só precisa pegar seu saco de dinheiro para esse ingrediente," Rony disse, apontando a página.

Harry apertou os olhos para ler o que Rony estava apontando, e olhou para ele. "Não acha que devemos fazer a substituição que ele escreveu?"

"Não sei. Eu acho mais seguro fazer o que está no texto original, mas você pensou bem, talvez a substituição seja importante".

"Está escrito 'Para Potter: tenha certeza de fazer a substituição indicada'. É quase como se ele tivesse feito isso só para meu pai. Talvez seja algo em nossa família que impeça o uso do ingrediente original".

Rony coçou a cabeça, "Se supormos que foi Snape quem fez esse feitiço para seu pai," um suspiro de desgosto soltado por Harry interrompeu Rony por um segundo, "Então a substituição deve ter funcionado, certo? Seus pais sobreviveram e se casaram e te tiveram, não foi?"

"É. E Snape sobreviveu também, infelizmente," Harry acrescentou, engolindo a seco a náusea que sentiu ao pensar em Snape amar sua mãe. Houve um pequeno silêncio, durante o qual Rony coçou a cabeça de novo, depois olhou para Harry e deu os ombros.

Harry suspirou frustrado. "Eu acho que... Talvez a gente deva fazer a substituição? Os dois são metais preciosos, então talvez não seja nada importante. Queria que Hermione estivesse aqui. Ela saberia o que fazer."

"Eu sei... mas ela não está. Temos que fazer o melhor que pudermos sem ela por enquanto. Você deve decidir, Harry, mas decida logo. Estamos ficando sem tempo."

Harry franziu a testa enquanto tentava decidir o que fazer. Ambas fontes de informação desse feitiço - a página do livro de Snape, bem como o pergaminho de Sirius - indicavam que eles tinham que ser muito cuidado ao fazer essa poção. Então por que arriscar o que estava no texto escrito? Por outro lado, deveria haver uma razão muito boa para Snape fazer aquela substituição. Harry se sentiu sem saída. Ele olhou para Rony, desesperado por algum sinal do que ele achava que deveria ser feito.

"Eu tenho uma idéia!" Rony gritou, fazendo algumas pessoas que estavam no salão comunal olhar para eles. Harry olhou para ele em repreensão. Rony abaixou a cabeça e a voz.

"Vamos tirar cara ou coroa. É o que podemos fazer. Aqui, tenho um nuque no bolso."

"É isso aí," Harry disse, sentindo a coragem pela qual os alunos da grifinória eram conhecidos correr em suas veias, "Cara fazemos a substituição, coroa, não fazemos."

Rony jogou a moeda no ar e depois a pegou. Ele a colocou nas costas da mão direita, cobrindo com a palma da esquerda. Rony e Harry trocaram um rápido olhar ansioso antes de Rony tirar a mão e revelar...

"Cara, então." Rony falou. "Parece que vamos fazer a substituição".

"Queria que a gente soubesse pra que ela serve".

"É, bem, não sabemos," Rony disse, quase tão ansioso quanto Harry. Mais uma pausa antes que ele falasse de novo.

"Temos que passar na cozinha pra pegar o cobre antes de irmos para o banheiro. Vamos indo".

Enquanto eles juntavam as coisas do kit de Rony, Harry não pode evitar desejar, pela primeira vez, ter prestado mais atenção nas aulas de poção.

****

Meia hora depois, Harry e Rony estavam no penúltimo boxe do banheiro da Murta que Geme. Um caldeirão fervia na privada, sobre o fogo à prova de água conjurado por Harry usando um feitiço que Hermione lhe ensinara.

"Não via vocês dois há séculos," uma voz mal-humorada falou. Era a Murta que Geme. Ela enfiou a cabeça pela parede esquerda do boxe. Harry esperava que ela aparecesse, até antes disso. Eles já estavam preparando a poção por quinze minutos antes que ela aparecesse.

"Oi, Murta," Harry disse gentil. Harry não se esquecera como ela o ajudara na segunda tarefa do torneio tribruxo no ano anterior.

Rony virou olhos e olhou impaciente para Harry. Ele não suportava Murta e, como a maioria dos alunos de Hogwats, a evitava de todo jeito. Ele voltou a mexer o caldeirão com uma careta.

"Bem, nós viemos escondidos aqui para termos um pouco de paz e silêncio," Harry disse, começando a desejar que tivessem ido a outro lugar. Depois ele acrescentou apressado, "Mas é bom te ver. Eu ainda não te agradeci o bastante pela sua ajuda na segunda tarefa ano passado." Ele queria evitar que ela explodisse e começasse a chorar - ela podia fazer muito barulho e atrair a atenção de Filch, ou pior, Snape.

A face de Murta se torceu no que pareceu uma tentativa de um sorriso. A cabeça dela desapareceu da parede do boxe e Harry ouviu um barulho de água que indicava que ela provavelmente decidira se esconder na própria privada. Ótimo. Talvez ela não voltasse, ele pensou. Ele estava errado.

Momentos depois, Murta retornou, mostrando sua cabeça pela parede de novo, olhando para Harry, que se assustou ao vê-la. "O que foi, Murta?" ele disse, tentando não parecer tão distraído quanto estava.

"Já que você está sendo tão legal comigo, vou te agradecer dizendo uma coisa bem engraçada - pelo menos eu acho engraçada," ela disse numa voz de deleite. "Eu vi sua amiga na ala hospitalar, e ela não parece bem, nada bem."

"Como assim? Hermione? O que há errado com ela?" Harry perguntou desesperado.

"Bem, eu ouvi Madame Pomfrey dizer que aquela coisa no pulso dela parecia bem próxima de estar cheia. Ooooo, ela estava tão chateada e nervosa, o Professor Dumbledore teve que lhe dar uma poção calmante."

Rony e Harry trocaram olhares preocupados. "O que mais? Parecia que ela estava sentindo alguma dor?" Harry perguntou, querendo qualquer informação que pudesse do estado de Hermione.

"Bem, não, na verdade, ela estava com um sorriso bobo na cara. Eu lembro quando ela estava com cara de gato. Combinava bem mais com ela, na minha opinião."

Harry virou os olhos. Murta nunca gostara muito de Hermione, e não tinha vergonha de mostrar isso.

"Mais alguma coisa? Ela disse algo?" Harry perguntou, procurando saber mais.

Murta apertou os olhos e suas narinas começaram a dilatar. Ela puxou a cabeça de volta para o seu próprio boxe e começou a fungar, o que indicava que ela estava prestes a explodir.

"Você faz todas essas perguntas sobre ela, mas alguém pergunta por mim? Alguém se importa com o que Murta tem a dizer? Não. Ninguém diz 'Murta, que bom te ver' ou 'Murta, como vai você?'" Ela berrou.

"Murta, eu não queria-" Hary começou, mas já era tarde.

"Espero que ela nunca acorde," Murta disse com raiva, ainda chorando. Um esguicho de água informava que ela tinha mergulhado na privada de novo. Ele esperava que ela ficasse lá, ou que fosse importunar os monitores no banheiro deles. Ele precisava se concentrar em ajudar Rony a terminar a poção.

"Tudo o que precisamos fazer agora é acrescentar a essência de belladonna e esperar," Rony disse, mexendo o caldeirão que agora tinha uma fumaça roxa.

Harry abriu o frasco rotulado "essência de belladonna" e mediu a quantidade requerida pela poção. Ele despejou e a fumaça parou imediatamente. A poção virou azul-celeste claro e brilhante.

"Nunca vi uma poção parar de fumegar tão de repente antes," Rony disse.

"Nem eu. Espero que esteja certo," Harry disse, colocando a rolha de volta no frasco de essência de belladonna e guardando-a.

Os dois olharam a poção no caldeirão por alguns minutos, como estivessem esperando que explodisse. Harry quebrou o silêncio.

"Quanto tempo temos que esperar? Deixa eu ver a página."

As instruções diziam que a poção deveria ficar aquecida por pelo menos uma hora, depois devia ser esfriada até a temperatura ambiente para ser usada. Era de se esperar que Rony se preocupasse com o tempo. Eles pegaram os lixeiros vazios para se sentar e esperar.

"Se importa se perguntar algo pessoal?" Rony perguntou a Harry, depois de alguns minutos.

"Não, vá em frente."

"Como soube que a amava?" Rony disse, corando. Ele olhou para os pés, sendo que ele batia um deles no chão bastante rápido.

Harry não esperava que Rony lhe perguntasse isso. Ele não queria responder porque tinha medo de faze-lo sentir ainda pior do que ele estava se sentindo. Decidiu responder assim mesmo. Rony tinha suas razões para perguntar e Harry não queria adivinhar quais eram.

"Acho que já sabia há algum tempo, mas estava negando. Eu não sabia como era estar amando."

"Então, como soube?" Rony perguntou, se inclinando para frente em seu lixeiro, curioso.

"Bem, nos últimos meses, eu sentia uma forte necessidade de estar perto dela, o quanto pudesse. Eu me sentia intoxicado perto dela, como se nunca fosse suficiente. Eu me pegava admirando constantemente a inteligência dela, a beleza dela e até os defeitos dela. Depois vieram os sonhos. Eu comecei a sonhar a fazendo coisas que me faziam sentir culpado na manhã seguinte. Quer dizer, ela é minha amiga e sentia como se fosse errado pensar nela daquele jeito, mesmo dormindo. Eu não conseguia parar de pensar em como seria se fôssemos mais que amigos. Eu tentei lutar contra isso por um tempo, até quando nos beijamos. Foi quando tudo se esclareceu para mim. Foi tão natural, tão fácil, tão certo."

Harry se surpreendeu com a resposta eloqüente que dera a Rony. Ele olhou a reação do amigo. Ele apenas olhava o chão, como se estivesse hipnotizado por ele. Harry soltou a respiração e terminou, falando num tom mais gentil.

"Eu não acreditava que pudesse sentir algo assim por alguém, nunca. Ainda é bem assustador, mas sei em meu coração que a amo, tão certo quanto meu nome é Harry Potter e que o céu é azul." Harry ficou em silêncio. Ele começou a estudar Rony, a procura de alguma reação.

Rony olhou para seu relógio e se ajeitou. Quando ele olhou para Harry, seus olhos estavam vidrados e sua cara borrada. Ele não disse nada.

Harry checou seu relógio também e notou que ainda tinham um tempo antes da hora chegar. Ele se sentia mal por Rony - se estivesse no lugar dele, estaria muito infeliz agora. Harry distraiu os dois começando um debate das chances da Grifinória ganhar o Torneio de Quadribol aquele ano.

Quando a hora passou, Harry apagou o fogo sob o caldeirão, e eles colocaram a poção num frasco em que pudesse esfriar. Eles voltaram para o dormitório para esperar a poção esfriar até a temperatura correta e para se preparar para a tarefa que estava por vir.

*****

Depois de esperar o que pareceu uma eternidade, Harry se encontrou na porta da enfermaria com Rony, os dois cobertos pela capa de invisibilidade. "Quietamora," Harry sussurrou, enquanto abria a porta cuidadosamente. Ele e Rony entraram e ele tirou a capa.

"O que esse feitiço faz?" Rony perguntou, enquanto ele Harry iam até o leito de Hermione.

"Hermione usou na noite que nós... deixa pra lá." Harry disse, desconfortável, trocando a mochila de um ombro para o outro. "Ele envolve o quarto em silêncio para Madame Pomfrey não nos ouça enquanto fazemos o feitiço."

"Bem pensado," Rony disse, depois ele respirou fundo. Os dois pararam na frente de Hermione. Ela estava bastante pálida, mas parecia estar num sono tranqüilo.

"Imagino com o que ela está sonhando," Harry disse sorrindo docemente para a forma imóvel dela. Ele de repente teve uma enorme vontade de tirar uma mecha da testa dela, mas se conteve. Ele não queria ser mandado pelos ares até o canto enfermaria como da outra vez.

Rony apenas olhava para ela com os olhos bem abertos. "Vamos acabar logo com isso," ele disse nervoso.

Harry colocou a mochila no chão e tirou o frasco com a poção e três cálices. Ele cuidadosamente dividiu a poção entre os cálices, e deixou o frasco de lado. Rony tirou a página do livro de Snape e colocou junto dos três cálices, para se eles precisassem depois. Harry desembolsou o pergaminho de Sirius e o desdobrou, lendo os passos mais uma vez.

"Certo, vamos lá," Harry disse, colocando as instruções numa mesa. Rony concordou com a cabeça. Harry pegou um dos cálices e foi até o lado de Hermione. Ajoelhando-se, ele gentilmente abriu a boca dela e colocou o conteúdo do cálice aos poucos. Foi um trabalho demorado, e levou uns dez minutos antes que Harry se levantasse e voltasse para mesa com os dois cálices restantes. Ele colocou o cálice vazio junto aos dois cheios - um para ele, outro para Rony.

Rony foi até Harry. Cada um pegou um cálice. Levantando os cálices com suas bebidas, os dois pararam bruscamente quando Rony falou.

"Harry, eu -," mas ele não conseguiu terminar. Foi interrompido por um alto...

"Pare!" Rony e Harry viraram as cabeças e viram Malfoy se aproximando deles, um olhar determinado em seu rosto - Crabbe e Goyle seguindo-o de perto. Todos três com a varinha em punho, apontada para Harry.