Um beijo não é apenas um beijo

Capítulo 13: O despertar

"PAF!" A mão de Hermione se esticou e deu um tapa na cara de Malfoy antes que ele pudesse beijá-la. "Fique longe de mim!" ela disse, a voz tremendo, os olhos arregalados de susto.

Ele recuou um pouco, levando a mão até a bochecha vermelha. "Mas Hermione, eu te amo!" Malfoy sussurrou, atordoado, enquanto Goyle o puxava pela cintura para longe dela, Malfoy se debatendo e xingando.

"O que está acontecendo? Eu não consigo ver nada," Rony disse do chão perto de Hermione. Ele apontou a varinha para uma das tochas apagada da enfermaria e disse, "Lumosara." Todas as tochas foram acesas, iluminando o cômodo.

"O que deu em você, Malfoy?" Rony falou, ao vê-lo se debatendo. Ele avançou até Malfoy e Goyle, com a varinha em punho. "Ficou doido?" Malfoy não respondeu. Ele continuou resistindo a Goyle e agora também a Crabbe, que faziam de tudo para segura-lo.

Enquanto isso acontecia, Harry conseguiu chegar ao lado de Hermione. Ela estava sentada, completamente pasma.

"O que estou fazendo aqui, Harry?" ela perguntou, seus olhos correndo pela enfermaria. "A última coisa que lembro é da gente na sala de Astronomia Avançada e nós tínhamos..."

"Então, você sabe quem sou?" Harry a interrompeu, seu coração cheio de alívio. Isso indicava que o feitiço tinha funcionado. Ela acordara com as memórias dele intactas.

Uma expressão confusa cruzou o rosto dela. "Claro que sei quem você é. O que eu não sei é o que está acontecendo. O que estou fazendo na enfermaria? Por que Malfoy estava na minha cara daquele jeito? O que aconteceu comigo?"

"Eu te explico tudo daqui a pouco. Rony e eu precisamos tirar Malfoy daqui primeiro. Está bem assim?" ele perguntou gentilmente, tomando suas mãos nas dele.

Os olhos de Hermione se estreitaram como sempre faziam quando ela estava confusa. "Acho que sim," ela disse hesitante, esfregando a testa.

Harry deu as costas a Hermione e foi até Rony, que ainda apontava a varinha para Malfoy. Crabbe e Goyle continuavam a segurar o amigo, mas ele tinha parado de tentar escapar e agora olhava Hermione como se ela fosse a única pessoa no cômodo.

"O que há errado com você, Malfoy?" Harry perguntou. "Você está fora de controle, até pra você. E por que Crabbe e Goyle estão te segurando assim?"

Malfoy virou a cabeça para olhar Harry. Seus olhos estavam estreitados e sua bochecha ainda estava vermelha no lugar onde Hermione dera o tapa. Por um instante, ele pareceu mais perturbado do que nunca. Depois a face relaxou para a de zombaria de costume. "Não há nada errado comigo, Potter. Fiz o necessário para salvá-la." Ele pausou, olhando rapidamente para Hermione. "Eu tomei a poção de amor mais forte que existe - a poção de amor número nove- minutos antes de vim interromper você e o Weasley. Eu a fiz para que ficasse completamente apaixonado por Hermione. Antes de tomar, dei instruções que eles dois fizessem o que pudessem para não me deixar tocá- la. Eu gostaria de não ter pedido." Ele pausou, olhando desejoso para Hermione, que balançava a cabeça em descrença para ele. "A poção deve perder o efeito em duas horas, então não vou sentir isso por muito tempo."

"Mas você disse sob o efeito do veritaserum que não estava sob a ação de nenhum feitiço para fazer você dizer que a amava e que não desejava nenhum mal a nós dois," Harry disse.

Malfoy olhou para Harry complacente. "Você deveria ser mais preciso em como faz suas perguntas. Poção do amor não é feitiço. Da ultima vez que eu olhei, era uma poção."

Harry não respondeu a isso, mas fez uma anotação mental de estudar poções diligentemente no ano seguinte. Ele odiava que Malfoy soubesse mais que ele sobre qualquer coisa.

"Então, por que você fez isso?" Rony perguntou, abaixando a varinha.

"Eu tenho minhas razões que vocês entenderão algum dia," ele respondeu. "Tenho certeza que você vai ser a primeira a descobrir, meu amor," ele disse, sua voz ganhando repentinamente um tom gentil, seu olhar voltando para Hermione, "Você é tão inteligente e tão esperta." Ele deu um sorriso doentio para ela. Ela torceu o nariz e deixou escapar um som de desgosto, quase o mesmo som que Rony fez na mesma hora.

Harry estava dividido com a confissão de Malfoy. Era um alívio saber que Malfoy não amava Hermione de verdade, mas sua recusa em dar uma razão para sua interferência deixava Harry preocupado. Acima de tudo, tinha outra coisa ainda mais perturbadora. Desconsiderando os motivos de Malfoy, era inegável que Harry devia o sucesso do feitiço a ele. Ele agora lhe devia uma. Harry ficou com raiva com essa descoberta.

"Por que vocês não o levam de volta para o quarto e o trancam por umas duas horas?" Harry sugeriu furioso pra Crabbe e Goyle. Ele queria Malfoy fora de suas vistas antes que ele fizesse algo como socá-lo no estômago ou amaldiçoar ele e todos seus descendentes.

Crabbe e Goyle começaram a sair do cômodo, arrastando Malfoy. O cabelo de Malfoy estava bagunçado, os olhos estreitados e ele parecia um rebelde. "Você me deve uma Potter. Algum dia, vou exigir meu pagamento," ele disse selvagem. A porta da enfermaria bateu atrás dele, os passos ecoando pelo corredor.

Harry voltou para Hermione, ansioso para explicar os eventos dos últimos dias e confirmar se o feitiço funcionara. Rony foi para o outro lado da cama, a expressão preocupada.

"Como se sente, Hermione?" Rony perguntou.

Ela olhou para ele. "Bem. Agora vocês dois podem me explicar o que aconteceu aqui?" ele disse, irritada. Rony e Harry se entreolharam.

"Antes da gente explicar, tenho que tentar uma coisa," Harry disse, um pouco nervoso e torcendo para que ela não reagisse mal, "Se importa se eu a beijar de novo?"

Hermione pareceu surpresa e um pouco encabulada. Ela o olhou nos olhos e sorriu tímida. "Claro, Harry. Mas e..." ela olhou para Rony, que rolou os olhos e virou de costas.

Harry se inclinou para beijar Hermione, muito consciente do pânico que sentia. E se o feitiço não funcionasse e ela voltasse a dormir? E se a reação dela na sala de Astronomia Avançada tivesse sido única?

Enquanto a sua boca se aproximava da dela, todas suas preocupações abandonaram sua mente e tudo o que ele conseguia pensar era nela. O cheiro dela, o roçar de sua respiração no rosto dele, a inclinação de sua cabeça, seus olhos fechados, seus lábios meio abertos antecipando o beijo. Ele respirou rapidamente antes de seus lábios se tocarem.

Foi um beijo doce e gentil, muito diferente do primeiro. Os lábios dela estavam macios e mornos e tinham um gosto bom. Harry achou muito difícil se conter para não aprofundar o beijo. Mas Rony estava lá, e ele não se sentia muito confortável em namorar na frente de seu amigo, especialmente porque Rony tinha sentimentos suficientes fortes por Hermione a ponto de serem confundidos com amor.

Quando ele parou o beijo, Harry abriu os olhos e viu Hermione sorrindo tímida para ele. "Isso foi muito bom, Harry." Ela disse, seus lábios um pouco inchados e suas bochechas vermelhas. "Temos que fazer isso de novo quando tivermos mais privacidade," ela sussurrou, quase maliciosa. Ele sorriu. Ele estava extremamente aliviado dela ter gostado do beijo e que não tivesse caído em outro sono encantado.

"Vocês dois já acabaram?" veio a voz irritada de Rony, que fez os dois olharem pra o amigo. Ele ainda estava de costas e olhava o relógio.

"Sim, desculpe Rony," Harry disse. Rony se virou e balançou a cabeça. Depois rolou os olhos e cruzou os braços.

A única pergunta que restava era se Hermione se lembrava ou não de seus sonhos. Harry engoliu a seco e a olhou nos olhos.

"Só tem mais uma coisa que precisamos confirmar. Você se lembra alguma coisa de seus sonhos?" ele perguntou, a voz muito séria. Ele pôde sentir Rony lhe olhando ansioso. Os dois estavam sentados lá, esperando a resposta.

Ela parou um segundo, pensando. "Eu não acho que sonhei com nada. Por quanto tempo fiquei desacordada?"

Mas Rony e Harry não ouviram a pergunta. Eles estavam se cumprimentando, Rony comemorando e Harry rindo aliviado, a preocupação recente agora era uma memória distante.

"Ela está bem! O feitiço funcionou! Não foi demais? Você sentiu quanto aquele vento ficou forte? Pensei que ia começar a levantar a gente do chão!" Rony falou animado.

"Com certeza! Queria que tivesse visto, Hermione, havia energia mágica espalhada por todo canto, o vento estava soprando, e Malfoy estava mais que assustado!" Harry disse, sentindo-se tonto, com a animação de beijar Hermione e da confirmação que o feitiço funcionara.

"Espere aí!" Hermione disse alto, colocando as mãos na frente dos dois. "Vocês querem voltar um pouco e me explicar o que aconteceu desde o inicio?"

Harry e Rony se acalmaram e puxaram duas cadeiras pra perto de Hermione. Harry contou as manchetes da história, e Rony falava ocasionalmente para adicionar algum detalhe. A parte mais constrangedora foi contar o papel que Rony teve na confusão toda. Harry sabiamente deixou que ele contasse essa parte. Só levou alguns minutos.

"Então, você entende, Hermione," Rony disse, terminando sua parte na história, "Eu descobri que na verdade não amava você. Quer dizer, eu te amo, mas não desse jeito. Fico feliz da gente ter esclarecido isso antes de fazer o feitiço."

Depois do choque inicial de ter perdido vários dias de aula passou, a reação de Hermione foi exatamente como Harry esperava. Ela ficou bastante encabulada, mas muito curiosa com o que acontecera. Harry estava tão feliz de tê-la de volta., ele respondeu tantas perguntas do que ela perdera nas aulas, até muito depois que Rony começou a bocejar toda hora.

*****

"Harry Potter, senhor. Acorde. Acorde, Harry Potter." Era Dobby o elfo doméstico. Ele estava puxando a manga do pijama de Harry com urgência.

Harry bocejou e se virou para olhar Dobby. Ele estava exausto. "O que foi, Dobby?" ele bocejou de novo. Tinha sido uma longa noite.

"A senhorita Granger acordou de seu sonho, Harry Potter. Eu sei como ela é amiga de Harry Potter, então eu disse 'Dobby tem que contar a ele agora mesmo.' Por isso estou aqui. Madame Pomfrey não acreditava no que via! Devia ver a confusão que ela fez! E professor Dumbledore... ele a examinou e disse que ela estava completamente bem, Harry Potter!"

Harry sorriu. Na noite anterior ele, Rony e Hermione tinham decidido que era melhor Harry e Rony voltarem para o quarto e deixar que Hermione fosse encontrada acordada pela Madame Pomfrey de manhã. Assim eles não seriam acusados de fazer um contra-feitiço perigoso nem levariam detenção por andar pelo castelo depois da hora. Parecia que o plano deles funcionara.

Harry agradeceu a Dobby e praticamente pulou da cama. Rony estava acordado, e Harry lhe disse o que Dobby lhe contara. Os dois se vestiram rápido e foram direto para a ala hospitalar sem parar para o café.

Quando eles chegaram lá, Hermione estava conversando com Professor Dumbledore. Harry e Rony se entreolharam nervosos.

"Bem, olá," Dumbledore os cumprimentou enquanto eles iam até a cama. "Parece que não vamos precisar da nossa reunião."

"É Parece que Hermione está bem," Harry disse depois de uma pausa, tentando parecer o mais inocente possível.

"Parece que alguém entrou aqui ontem à noite e fez o contra-feitiço. Como ele não está mais por aqui, acho que nunca vamos descobrir quem ele era, já que a Srta Granger também não vai mais se lembrar dele," Dumbledore disse. "É uma pena, gostaria de ter agradecido."

"É, isso é uma pena," Rony disse, como se também estivesse tentando muito parecer inocente.

"Então, quanto tempo vou precisar ficar aqui, Professor?" Hermione perguntou. Ela olhou para Harry e sorriu.

"Acho que poderá ir hoje à tarde, depois que almoçar. Madame Pom-."

Mas ele não conseguiu terminar. A porta da enfermaria abriu-se abruptamente e Snape entrou marchando, suas vestes flutuando atrás dele. Ele apontava um dedo acusador para Harry e tinha uma expressão de extremo ódio em seu rosto.

"Esse aluno entrou em minha sala! Além disso, participou de um feitiço perigoso. Eu exijo que seja expulso por tal desrespeito!"

Todos olharam para ele. O coração de Harry começou a bater mais forte e ele se concentrou em manter uma expressão educada e confusa.

"O que te leva a crer nisso?" Dumbledore disse calmamente, sem se levantar.

"Ele fez o recurso de Merlin ontem à noite na Srta Granger. Eu sei disso porque ele roubou uma página de um de meus livros em minha sala," ele sorriu, olhando Harry com desprezo.

"E que livro seria esse, Severo? Por favor não me diga que ainda tem livros com poções perigosas por aqui. Pensei que tivesse colocado todos na seção restrita."

Snape apenas ficou parado, e Harry notou que ele estava pensando numa resposta que não o colocaria em apuros. Ela abaixou o dedo acusador e se aproximou de Dumbledore. Ele falou numa voz baixa e dissimulada.

"Apenas confie, eu sei que foi Potter, Alvo. Foi ele quem a acordou. E usou um contra-feitiço ilegal para fazer isso. Ele é como o pai, sempre infringindo as regras quando lhe convém."

"Se você está sugerindo que Harry é o culpado por causa de algo que ocorreu tantos anos atrás, Severo, eu acho que está tomando o caminho errado. Agora, por que não volta para masmorra e prepara a suas aulas de amanhã? Teremos uma semana cheia, não é mesmo?"

Snape lançou a Harry um último olhar, cheio de ódio, depois se virou e saiu da enfermaria, batendo a porta atrás dele.

Harry olhou para Dumbledore, e viu que ele sorria. Mais uma pausa onde ninguém disse nada se seguiu, depois Dumbledore falou.

"Como eu dizia, Srta Granger, Madame Pomfrey quer fazer mais alguns testes em você, e depois você pode ir. Tenho certeza que está ansiosa para voltar a seus estudos."

"Com certeza estou, Professor," Hermione disse na sua voz estilo 'amo estudar e nunca me canso'. "Espero que não tenha perdido nenhuma matéria importante que vá estar nos exames finais".

"Não sei porque, mas não estou preocupado com seus exames finais, Srta Granger," Dumbledore disse, sorrindo e se levantando. "Bem, é melhor eu ir. Quero ir tomar um chá com Hagrid hoje, mas tenho que mandar muitas corujas e tenho que fazer isso antes de ir. Bom dia." E com isso, ele saiu.

******

No outro dia, Harry estava sentado com Hermione na biblioteca. Ela estava ocupada revisando as anotações depois de incomodar todos os professores atrás dos tópicos que perdera. Harry estava tentando ler Como um gira e sacode pode mudar sua vida para aula de feitiços, mas ele tirava os olhos constantemente, roubando alguns olhares dela.

Hermione tirou os olhos da anotação e o viu olhando para ela. Ela sorriu e fechou o caderno, as bochechas corando. Nesse instante, Rony se juntou a eles. Ele estava procurando por Megan.

"Como os namorados estão indo?" ele disse, sentando-se a mesa.

"Pare com isso Rony," Hermione respondeu. "Você não vai parar de zombar da gente por causa disso?"

"Algum dia, talvez. Quando estiverem velhos e de cabelos brancos e não puderem me escutar direito," ele disse, sorrindo. Harry sorriu também, encontrando os olhos de Hermione.

"Por que não pergunta a Rony com quem foi seu primeiro beijo?" Harry disse, dando uma cotovelada nas costelas de Rony.

"Harry!" Rony disse, seu rosto mais vermelho que um tomate.

"Eu não sabia que tinha beijado alguém, Rony! Me diga. Prometo que não vou rir," Hermione disse, inclinando-se para frente.

"Sem essa! Eu não diria nem se você colocasse uma maldição Cruciatius em mim!" Rony disse alto. Madame Pince pediu silencio.

"Então Harry sabe e eu não sei," Hermione sussurrou. Ela fez bico e cruzou os braços.

"É, mas ele teve que usar veritaserum para tirar isso de mim. A não ser que você tenha um pouco, vai ficar sem saber."

"Bem, eu não tenho veritaserum, mas não acho que deva perder meu tempo tentando tirar isso de você. Você está certo, seria muito difícil. Vou ter que usar minhas armas femininas até que Harry me conte," Hermione disse pensativa.

"Você não faria isso," Harry disse, olhando para ela, os olhos estreitados de choque.

"Tem certeza?" ela disse, e abriu o caderno, com um sorriso malicioso.

Rony coçou a cabeça e respirou fundo. Ele olhou ao redor da biblioteca, provavelmente procurando Megan. Hermione notou isso e tirou os olhos de seu caderno, preocupada.

"Então, encontrou ela?" Hermione perguntou.

"Não. Acho que ela está me evitando."

"Talvez não. Talvez ela só tenha ficado no salão comunal da Lufa-lufa hoje," Hermione disse.

"É, quem sabe."

"Bem, que tal você dois me contarem mais do recurso de Merlin? Quero saber de todos detalhes mágicos," Hermione disse. Harry sabia que ela estava tentando distrair Rony do que eles chamavam 'questão Megan'.

"Bem, eu tenho o pergaminho e a página do livro de Snape que usamos se você quiser olhar," Harry disse, pegando a mochila. Ele não sabia porque ainda não tinha mostrado a ela. Talvez porque ela tenha passado a maior parte do dia visitando os professores para recuperar o que perdeu.

Harry entregou os papéis a Hermione que ficou animada. Ela se inclinou para frente, lendo o contra-feitiço de Sirius primeiro. Rony tirou as coisas da pasta e começou a ler um de seus livros. Depois de alguns segundos lendo, Hermione olhou para Harry, o rosto cheio de preocupação.

"Não acredito que tenha feito esse feitiço, Harry. A gente podia ter morrido!"

"Eu sei," ele disse, falando para o livro para esconder como ele de repente se sentiu emocionado com tudo isso. "Eu só não conseguia suportar a idéia de não estar com você. Eu não teria feito se pensasse que iria falhar."

Hermione respirou fundo. Harry olhou para ela. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas e a cabeça estava inclinada para trás, como para evitar que as lágrimas escorressem por suas bochechas.

"O que foi?" Harry disse gentil, se inclinando para mais perto dela.

"É só que... bem... é que nunca ninguém arriscou a vida por mim. Faz me sentir tão... amada."

"Você é amada," Harry disse, o rosto corado. Ele esperava que Rony não estivesse ouvindo.

"Acho que nunca tinha percebido quanto," ela disse, secando os cantos dos olhos com as pontas dos dedos e sorrindo para Harry. Ele sorriu em resposta e tomou a mão dela entre as dele.

Depois de alguns instantes segurando as mãos, ela colocou o pergaminho de lado e começou a ler a página do livro de Snape. Harry continuava vigiando para ter certeza que ninguém estava olhando o que ela estava lendo. Ele não queria dar a Snape as evidências que ele queria.

"As anotações nessa página," Hermione comentou distraída. "Você estava certo. Parece que foi Snape quem fez a poção com seu pai, mas o que é isso? Você fez a substituição?"

"Sim, eu fiz," Harry respondeu. "Você sabe, é engraçado. Malfoy também perguntou."

"Bem, vocês pesquisaram o que a substituição faria?" Hermione perguntou, devolvendo a página a Harry, que enfiou em sua mochila. Ela olhou para ele esperando.

Rony tinha largado o livro ao ouvir a pergunta de Hermione e olhou pra Harry. Parece que eles levariam outro sermão sobre precauções de Hermione. Era melhor que se explicassem.

"Bem, nós pensamos muito sobre isso," Harry começou.

"É. Primeiro, pensamos em continuar com o texto original. Quer dizer, quem sabe o que Snape estava pensando quando anotou aquilo?"

"Depois percebemos que se Snape fez a poção com meu pai então deve ter tido uma razão muito boa."

"Depois pensamos no que a substituição faria. Mas não tivemos tempo de procurar." Rony disse rápido. Hermione franziu a testa, cruzando os braços.

"Então, fizemos a melhor coisa em que pensamos para tomar uma decisão." Harry disse.

"E foi...?" Hermione perguntou.

"Nós tiramos cara ou coroa," eles disseram juntos e esperaram que o sermão viesse. Não veio. Ao invés disso, a expressão de Hermione mudou como se ela tivesse tido uma revelação. Ela correu os dedos pelo cabelo e mordeu o lábio.

"Eu não acredito," ela disse, visivelmente abalada com algo.

"Eu sei, Hermione," Harry disse, "nós devíamos ter sido mais cuidadosos na hora que fizemos a substituição."

"Não! Eu não estou com raiva com seu método maluco de tomar decisões, mas deveria estar. Me dê a página de novo, por favor!" ela parecia que ia explodir de animação. Harry procurou em sua pasta a página da poção.

"O que foi, Hermione?" Rony perguntou, sua voz um misto de impaciência e curiosidade.

"Eu acho que descobri uma coisa," ela disse, tomando a página de Harry e lendo rápido. Os dois olharam para ela, ansiosos para saber o que passava pela sua cabeça. O rosto dela formou o mesmo sorriso que tinha se formado no ano anterior quando ela descobrira que Rita Skeeter era um animago.

"Bem, você vai nos dizer?" Harry perguntou quase transbordando de impaciência.

"Sim, claro." Hermione respondeu, limpando a garganta. "Acho que descobri quem foi o outro bruxo que fez o feitiço com seu pai - e não foi Snape."