Um beijo não é apenas um beijo
Capítulo 15: O encontro
O coração de Hermione pulsava em seus ouvidos quando ela olhou para aqueles olhos verdes implorantes. Harry estava muito vermelho e por alguma razão tinha virado um pouco para o outro lado.
"O que foi?" ele disse, preocupado.
"Ai Harry, estou tão assustada!" ela disse, lutando contra as lágrimas em seus olhos.
Ele rapidamente colocou os braços a seu redor, abraçando-a bem forte. Ela repousou a cabeça no ombro dele, ouvindo sua respiração descompassada, enquanto ele mexia cabelo no cabelo dela. Ele estava bem quente e parecia estar tremendo um pouco. Ela tirou a cabeça do ombro dele e o olhou nos olhos.
"Você está bem?" ela perguntou.
"Acho que era eu quem tinha que perguntar isso," ele disse com um pequeno sorriso.
"Só que você está tremendo."
Os olhos de Harry caíram por um segundo para o pescoço dela antes de encontrarem os olhos dela de novo. "Eu preciso de uns segundos, se você me entende," ele disse constrangido.
"Oh!" Hermione disse, levantando a mão esquerda para cobrir a boca. "Eu não percebi Harry, me desculpe. Céus, isso é difícil, não é?"
Ele apertou os lábios e depois deu um pequeno sorriso. "Com certeza. Agora, sobre o que precisamos conversar?" ele pegou um travesseiro atrás dela, colocando-o em seu colo.
"Eu não sei como me sentir com esse conceito de verdadeiro amor. Assim, acho muito romântico, mas é um pouco intimidador, não acha?" ela disse, as palavras escapando de sua boca rapidamente, quase antes que ela pudesse controlá-las.
Harry riu. Ela olhou para ele, confusa e irritada com a reação. Ele achava isso engraçado? Ela estava tentando falar sério.
Harry deve ter notado o jeito como ela o estava olhando, porque sua expressão mudou imediatamente para uma sincera e carinhosa.
"Desculpe, eu não queria rir daquele jeito. É que eu estava lutando com os mesmos pensamentos há alguns dias quando descobri o significado da maldição. Também fiquei mais do que assustado, mas acho que acabei aceitando."
"Descobrir quem é seu amor verdadeiro aos quinze anos! Algumas pessoas nunca acham essa pessoa, e aqui estamos, tão jovens e já sabemos algo tão importante! É mais que suficiente para enlouquecer qualquer um!" Hermione exclamou, sentindo-se mais relaxada da tensão emocional enquanto falava. Seus olhos encheram-se de novo.
"Eu sei, eu sei. Concordo completamente. Mas não podemos fazer nada, não é? Nós não podemos simplesmente esquecer. Nós não podemos desfazer o que já foi feito."
"É, mas como isso vai nos afetar, Harry? Você está preparado pra ficar só comigo pelo resto de sua vida? E se você ficar entediado? E se você conhecer alguém mais interessante? Você sempre vai ficar se perguntando como seria estar com outra pessoa?" Hermione disse, mostrando todas suas inseguranças para ele, sentindo como se estivesse expondo seu coração de um jeito que nunca fizera.
Harry segurou as mãos dela entre as dele. Ele as trouxe para seus lábios e as beijou delicadamente. Ele olhou profundamente em seus olhos, quase como se quisesse entrar nela e tocar sua alma. Hermione sentiu tudo em seu interior derreter e se concentrou em deixá-lo entrar. Quando ele falou, sua voz estava profunda e gentil, mas intensa. Um arrepio correu por sua espinha.
"Eu não sei o que o futuro reserva, mas sei de uma coisa. Sentado aqui e agora, sei em meu coração que eu te amo, e acho que isso nunca vai mudar. Você disse que está com medo que chegue um dia que eu vá me cansar de você? Isso nunca vai acontecer, Hermione. Nós estamos destinados a ficar juntos, e tem alguma coisa em saber isso que é muito bom," suas palavras fizeram o estômago dela revirar e seu coração disparar. Ela queria beijá-lo, dizer que tudo o que ela desejava era estar com ele até o dia de sua morte, mas uma estranha sensação de dèja vu a assombrava, distraindo-a da resposta que queria dar para aquela declaração. Ela franziu a testa, tentando lembrar se ela já estivera ali antes. Não importava. Seus medos e inseguranças voltaram pra o topo de sua cabeça e fez que ela dissesse algo de que iria se arrepender depois.
"Mas sejamos práticos, Harry. E se estivéssemos destinados a nos encontrar bem mais tarde? Talvez fosse melhor que esperássemos para namorar daqui a uns dois anos, depois que tivéssemos a chance de ver o que há lá fora? Eu não sei. Eu me sinto tão pressionada com tudo isso," ela disse, angustiada por responder com a cabeça ao invés do coração, mas sabendo que não tinha outra escolha.
Harry parecia ter levado uma facada no coração com o que ela disse. "Você está... você está dizendo que não quer namorar comigo? Está dizendo que quer terminar e conhecer outras pessoas? Não era o homem que tinha que dizer isso?" Ele disse, sua voz num tom irritado. Ele se levantou de supetão.
"Não, Harry. Não é o que quis dizer." Hermione disse rápido, também se levantando. Ele foi em direção à porta, mas ela passou por ele e ficou em seu caminho. Ele olhou para ela, seu peito subindo e descendo com sua respiração ofegante, o rosto contorcido de emoções.
"Então o que quis dizer, Hermione? Eu sei que isso é muita coisa pra lidar, mas estou lidando do melhor jeito que conheço. Sabia que você ia se preocupar, mas não achava que ia chegar a esse ponto. É quase como se o que Malfoy disse na biblioteca tenha feito você pensar," ele disse irritado, de braços cruzados.
Hermione fez uma careta. Seria menos doloroso se Harry a tivesse estapeado com a mão, mas ele fez isso com palavras. Ele estava mesmo preocupado com o que aquele idiota disse na biblioteca? Pior, ele estava acusando-a de querer traí-lo?
"Harry, ouça-" ela começou, mas ele a interrompeu.
"Por favor, sai de minha frente, Hermione. Eu preciso de um tempo pra me acalmar."
"Não," ela respondeu, "Eu não vou deixar você sair assim, eu nunca me perdoaria."
"Eu preciso sair daqui," ele disse com raiva, "e não há nada que possa dizer que vá me convencer a ficar." Ele tinha um olhar magoado, quase como se tivesse perdido seu melhor amigo. Seu pé batia insistentemente no chão enquanto a encarava.
Hermione parou, pensando rápido. Ela sabia pela quantidade de vezes que o vira aborrecido que era perda de tempo tentar conversar com ele assim. Ela brincou com a idéia de tentar assim mesmo, explicando como ele estava se comportando irracionalmente tentando ir embora quando eles precisavam conversar sobre isso. Foi quando um pensamento lhe ocorreu. Talvez não houvesse nada que ela pudesse dizer pra mantê-lo ali, mas talvez existisse algo que ela pudesse fazer. Agora que a relação deles mudara, havia uma opção que não existia antes. Ela nervosamente tentou essa abordagem diferente.
Ela chegou mais perto e levou os lábios até os dele. No início ele não respondeu ao beijo, mantendo seus braços cruzados e continuando sério, mas ela continuou beijando-o, na ponta dos pés, primeiro as bochechas, depois a testa, depois o nariz, depois o queixo dele. "Fica," ela dizia com os olhos entre cada beijo. "Fica." Quando ela voltou para a boca dele, ele expirou e respondeu o beijo ardentemente. Rodeando-a fortemente com seus braços, ele a pegou e a deitou na cama, ficando em cima dela.
Eles estavam se beijando com tanto fervor que Hermione logo ficou zonza e sem ar. Novas sensações de prazer e desejo corriam por seu corpo. Ela sentiu algo pressionando contra ela e pôde saber que ele estava tão excitado quanto ela. Isso a fez sentir-se assustada e viva ao mesmo tempo. Ela levou uma mão para a nuca dele, enterrando seus dedos em seus cabelos negros. A outra mão subia e descia pelas costas dele, sentindo seu corpo contra o dela. Ele mexia desajeitado nos botões da camisa dela, e dessa vez, ela não o interrompeu. Segundos depois, aparentemente irritado com a falta de progresso, ela sentiu-o puxar com força a camisa abrindo de vez, os botões voando para todos os lados, antes que ela pudesse ajuda-lo. Depois de um rápido "desculpe", ele começou a beijar o pescoço dela, avançado pela pelo sensível logo acima do sutiã de renda. Ela nunca se sentira tão fora de controle e tão extática ao mesmo tempo. Em algum lugar no fundo de sua mente, ela sabia que devia parar com isso, que eles não podiam deixar isso ir muito longe, mas não conseguia resistir aos fortes impulsos que se formavam dentro dela.
"Eu te amo," Harry dizia incessantemente enquanto a beijava. "Eu te amo." Ele afundou seu rosto na curva do pescoço dela, beijando-a com sua língua, e depois recuou, cobrindo sua boca com a sua, ainda mais apaixonadamente que antes.
Hermione fechou os olhos e se concentrou em seus outros sentidos, que eram preenchidos por estar assim com Harry - o seu toque, seu cheiro, seu gosto, seus sons de prazer se misturando com os dela.
"Eu te amo também," ela lhe respondeu, quase sem poder falar. Ela descobriu que estava chorando. Ele secou as lágrimas dela com beijos enquanto suas mãos a acariciavam suavemente. Depois ele parou, tirando sua boca da dela. Quando ela abriu os olhos, pôde vê-lo sorrindo carinhosamente.
"Parece que eu vou ser o mais forte dessa vez," ele sussurrou em seu ouvido, fazendo-a tremer involuntariamente. Ele rolou de cima dela e colocou as costas de seus braços sobre seus olhos, suspirando frustrado.
Depois de um momento de silêncio, durante o qual Hermione fez o que pôde para se acalmar e recuperar o fôlego, Harry falou.
"Eu realmente espero que exista uma poção ou um feitiço para esse tipo de... frustração," ele disse a voz apertada como se estivesse segurando um espirro.
"Deve existir," Hermione falou ofegante, sentindo o inchaço de seu queixo com a ponta de seu indicador. Ela virou para ele a seu lado. "Vou pesquisar sobre isso assim que acordar. É o único jeito da gente enfrentar os próximos dois anos, não é?" Ela passou a língua por seu lábio inferior, ainda sentindo o gosto dele.
Ele tirou o braço do rosto, mas não olhou para ela. "Isso quer dizer que você não quer terminar?"
"Claro que não quero terminar! E não quero conhecer mais ninguém também!" ela respondeu, e depois disse flertando, "Além disso, depois de beijos como esses, eu seria doida se te deixasse."
Ele sorriu e ficou de lado olhando para ela, a cabeça apoiada no braço dobrado, seu corpo tocando de leve o dela. "Você ainda está preocupada por cauda dessa historia de verdadeiro amor?"
"Bem, estou menos preocupada do que antes de conversarmos. Acho que posso dizer que só preciso de tempo para me acostumar com a idéia. Isso faz algum sentido?"
"Faz muito sentido," ele disse. "Nós dois precisamos tomar cuidado para não pensarmos muito sobre isso senão você está certa, vamos acabar loucos."
"Concordo," ela disse, ainda se sentindo um pouco preocupada, mas resoluta em deixar pra lá por enquanto. Afinal, eles teriam muito tempo para pensar sobre isso.
"Ei, Hermione?" Harry falou, tirando-a de seus pensamentos.
"Sim?"
"Desculpe por sua blusa. Acho que me deixei levar." Ele sorriu se desculpando.
"Ah, tudo bem. Sei um bom feitiço que vai deixá-la quase como nova."
"Claro que você sabe," Harry riu enquanto ela pensava que provavelmente teria que aprender muitos feitiços novos agora que eles estavam cruzando essa fronteira.
****
"Snape vai me matar," Megan resmungou para si mesma enquanto corria pelas escadas para a masmorra, atrasada para poções. Ela praticamente voou quando virou e continuaria assim, não fosse um ruivo alto em seu caminho.
"A-ha! Te achei!" era Rony Weasley. Ele estava muito bonito hoje, seus olhos azuis olhando para ela com uma expressão de puro interesse.
"Oi," ela disse, tentando parecer o mais casual possível. Ela passou por ele apressada, querendo parar, mas decidindo bancar a difícil.
Rony se virou e gritou pra ela, "Foi alguma coisa que eu disse?" Megan sorriu. Ela se sentia mal por passar por ele daquele jeito. Talvez mais alguns minutos de atraso valessem a pena por um bate-papo rápido. Ela se virou e deu um rápido sorriso. Ele correu até ela, olhando pelo corredor.
"É que eu tenho que ir para poções. Estou atrasada," ela se explicou. Rony se desanimou.
"Ah. Bem, não quero te tirá-la de Snape. Ele pode ser bem malvado com os atrasados. No outro dia, Harry e eu perdemos vinte pontos porque estávamos vinte segundos atrasados. Mas talvez ele não odeie tanto as outras casas."
"Bem, eu nunca o vi fazer nada muito duro, mas ele é bem assustador," Megan disse. Rony balançou a cabeça concordando.
"Então, por onde tem andado? Estive procurando por você em todo canto," ele disse, ajeitando a mochila no ombro, seu rosto concentrando-se no dela.
"Estive no salão comunal da Lufa-lufa. Tivemos muitos trabalhos em grupo ultimamente e tenho estado bastante ocupada," Megan explicou, sentindo ondas de culpa atravessarem seu corpo. Na verdade, ela vinha evitando a biblioteca e os lugares onde geralmente o encontrava. Ela queria dar a ele o espaço que precisava para superar seus sentimentos por sua melhor amiga, Hermione Granger.
"Oh," ele disse um pouco desapontado. Seus olhos se concentraram no chão, que ele chutou com o dedão várias vezes.
"Então, como está sua amiga?" Megan perguntou, tentando continuar a conversa.
"Quem? Hermione?"
"Sim, a que estava dormindo na enfermaria."
"Ela está bem. Ah. Estou tão feliz que tenha terminado," Ele disse, rolando os olhos e balançando a cabeça. Então ele deve ter pensado alguma coisa, porque sua expressão ficou bastante animada.
"Ei, você sabia que ela está namorando Harry?" ele disse, observando sua reação.
Essa noticia pareceu estranha para Megan. Harry Potter e Hermione Granger? Sempre correram rumores pela escola sobre eles serem um casal, especialmente depois do artigo de Rita Skeeter no semanário da bruxa ano passado, mas ela não achava que havia verdade neles. Ela olhou a expressão de Rony, tentando descobrir como ele se sentia sobre isso.
Quando ela o fez, ele parou de bater no chão com o pé e encontrou os olhos dela. Por um instante, eles ficaram no corredor se encarando, Megan corando cada vez mais, antes de Rony pegar sua mochila e procurar algo nela.
"Aqui," ele disse sorrindo e estendendo a mão com algo dentro, "eu transfigurei isso pra você." Ela esticou a mão e nela ele depositou um belo bracelete com vários cristaizinhos azuis que pareciam folhas. Ela respirou fundo, surpresa por esse presente tão inesperado, num momento tão inesperado.
"Eu gostaria que você usasse no baile, se é que você ainda vai comigo," Rony disse, olhando para ela ansioso.
Megan segurou o bracelete, abriu e colocou no pulso. Isso fez Rony sorrir, o mesmo sorriso charmoso que chamou sua atenção pela primeira vez. Aquele meio sorriso, meio bico que o fazia parecer tímido e malicioso ao mesmo tempo. Ela o olhou naqueles olhos azuis cristalinos que tinham quase a mesma cor de seu bracelete novo.
"Claro que ainda vou ao baile com você," ela lhe respondeu, feliz ao ver o sorriso dele se alargar ainda mais. Ele parecia realmente aliviado. Talvez já estivesse na hora de deixá-lo beijá-la.
"Bem, é melhor você ir antes que Snape tire centenas de pontos da Lufa- lufa," ele disse, passando a mão pelo ombro dela casualmente. "Se bem que, pensando melhor, talvez devesse mantê-la por aqui mais tempo, vocês estão liderando por enquanto, não é?"
Megan sorriu largamente para ele e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, desejando poder ficar mais um pouco e conversar, ou talvez até entrar numa sala vazia para ganhar aquele beijo que perdera alguns dias atrás. Mas isso teria que esperar outra ocasião - talvez o baile de inverno. Ela suspirou alto, acenou para ele levemente e se virou a caminho da aula de poções.
Ela achou ter ouvido-o gritar "Isso!" enquanto abria a porta da masmorra com um sorriso.
******
Harry mandou uma coruja para Professor Lupin logo cedo naquela manhã. Ele ficou surpreso ao ver Edwiges chegar com uma resposta para ele durante o café da manhã, Lupin já tinha respondido?
Ele desamarrou o pergaminho apressado e deu um pouco de suas salsichas para Edwiges e leu o bilhete em voz alta, Hermione olhando por cima de seu ombro.
Harry
Ficarei feliz em encontrá-lo. Se minhas suspeitas estão corretas, acho que sei sobre o que está falando. Encontre-me hoje às 9 horas na cabana de Hagrid. Gostaria que viesse sozinho. Por favor responda confirmando.
Remo Lupin
"Que bom que ele está lhe dando uma chance de conversar com ele," Hermione disse, tomando um gole de seu suco de abóbora.
"Fico feliz também," disse Rony. "Apesar de ainda achar que isso só interessa a ele." Ele olhou para Hermione com um pouco de desrespeito. Depois seu rosto brilhou como se tivesse tido uma revelação.
"Não acredito, Harry!" ele exclamou. "Aposto que Hagrid sabia de tudo! Lembra como ele veio conversar com a gente no dormitório depois que você visitou Sirius? Ele ficava falando de não devíamos deixar isso interferir em nossa amizade e coisa assim. Aposto que ele sabia que foram seu pai e Lupin anos atrás!"
Os olhos de Hermione se arregalaram, "Aposto que está certo, Rony. Hagrid sabe."
"Bem, ele foi melhor que o de costume em guardar o segredo, se for o caso," Harry disse sorrindo. Os três riram. Eles já tinham bastante experiência em tirar informações de Hagrid, e já estavam familiarizados com sua falta de habilidade em manter um segredo.
O resto do dia se arrastou vagarosamente pra Harry. Ele não conseguia parar de pensar no que ia perguntar a Lupin quando se encontrassem naquela noite. Ele tinha a mesma preocupação de Rony sobre ser cuidadoso para não se intrometer na privacidade de Lupin, então ele se pegava pensando durante as aulas, escrevendo suas perguntas mentalmente.
Havia algo que ele não tinha certeza se queria perguntar a Lupin. Harry não sabia ao certo como se sentia a respeito de Lupin ter amado sua mãe. Mas isso explicava muito. Harry se lembrou do tempo que Lupin lhe ensinou o feitiço do Patrono em seu terceiro ano...
Ele estava deitado de costas no chão. As luzes da sala tinham reacendido. Ele não precisava perguntar o que acontecera.
"Desculpe," murmurou, sentando e sentindo o suor frio escorrendo por trás de seus óculos.
"Você está bem?" perguntou Lupin.
"Estou..." Harry usou uma carteira para se levantar, apoiando-se nela.
"Aqui - " Lupin lhe deu um sapo de chocolate. "Coma isso antes de tentarmos de novo. Eu não esperava que você conseguisse de primeira; na verdade, ficaria espantado se conseguisse."
"Está piorando," Harry murmurou, mordendo a cabeça do sapo. "Eu a ouvi mais alto dessa vez - e ele - Voldemort-"
Lupin pareceu mais pálido que de costume.
Momentos depois, Lupin revelou que havia sido amigo do pai de Harry, Tiago. Harry pensou se os sentimentos de Lupin por Lily revelados para Tiago tenham causado alguma ruptura na amizade. Foi por isso que foi tão fácil para Sirius convencer seus pais a usar Rabicho como fiel segredo? Foi por isso que Lupin não sabia da troca de última hora entre Sirius e Rabicho? Harry percebeu amargamente que ele provavelmente nunca saberia.
******
Harry chegou à cabana de Hagrid nove horas em ponto. Ele estava coberto com sua capa da invisibilidade e tinha uma lista de perguntas em seu bolso, Hermione sugeriu que ele as juntasse caso a língua travasse. Ele bateu na porta e ouviu o latido de canino.
Hagrid abriu a porta, com o casaco pesado e arco na mão. "Oi, Harry," ele disse, quando Harry tirou a capa. "Eu já estava de saída. Tenho assuntos para cuidar na floresta. Vou deixar vocês dois sozinhos," e com um sorriso e um aceno, ele se foi, levando canino com ele.
Harry entrou na cabana e viu Professor Lupin sentado a mesa, uma grande xícara de chá em sua frente. Ele sorriu e se levantou, estendendo a mão calorosamente.
"É ótimo vê-lo novamente, Harry. Já faz o que, quase dois anos? Parece que não é tanto tempo assim," Lupin disse. Harry pensou consigo mesmo como a percepção do tempo mudava dependendo da situação. Parecia ontem que ele se despediu de Lupin no fim do terceiro ano. Por outro lado, dois anos pareciam uma eternidade quando pensava no contexto de sua relação com Hermione.
"É ótimo revê-lo, professor," Harry disse sorrindo apertando sua mão.
"Por favor me chame de Remo, Harry. Eu não sou mais professor de Hogwarts e não gosto de ser chamado de Sr. Lupin - me faz sentir mais velho do que sou. Tenho certeza que Tiago ia fazer você me chamar pelo primeiro nome mesmo. Ele nunca gostou de formalidades com os amigos. Quer chá?"
Harry aceitou o chá e se sentou enquanto Lupin ficou no espaço da cozinha. Depois de um tempo, ele colocou o chá de Harry em sua frente e ofereceu os bolinhos de Hagrid. Harry os recusou; ele já tinha experiência com a culinária de Hagrid.
"Começando do inicio," Lupin disse, puxando sua cadeira, "Sirius mandou os parabéns pelo sucesso do feitiço. Eu nunca o vi tão aliviado quanto quando recebeu sua coruja dizendo que deu tudo certo."
"Espero que ele não tenha ficado com muita raiva por ter demorado tanto pra mandar notícias," Harry disse, lembrando como ele só mandou uma coruja depois de visitar Hermione no hospital na manhã posterior ao feitiço.
"Eu não vou mentir pra você. Ele ficou muito preocupado. Mas eu o lembrei que se algo tivesse dado errado, ele teria noticias de Dumbledore," Lupin disse, bebendo um pouco de seu chá e se remexendo na cadeira.
"Bem lembrado," Harry respondeu, imaginando quando eles falariam do motivo por qual ele estava ali.
Quase como se tivesse lido os pensamentos de Harry, Lupin colocou a xícara sobre a mesa e olhou muito sério. "Então Harry, estou certo em pensar que você queria me encontrar para saber sobre meu papel no Recurso de Merlin que fiz junto com seu pai?"
Harry quase engasgou com chá de surpresa. Ele não esperava que Lupin fosse ao ponto tão rapidamente.
"Na verdade, sim," ele respondeu, tomando seu chá num gole só.
Lupin sorriu. "Sabia que você tinha descoberto quando recebi sua coruja. Contei a Sirius também - não mais há porque manter em segredo. Aconteceu há muitos anos atrás, e muito aconteceu desde então."
"Então Sirius não sabia que foi você?"
"Ele não tinha idéia. Ele ficou tão surpreso quando lhe contei que quase caiu da cadeira." Lupin sorriu ao se lembrar. "Então, como você descobriu?"
"Na verdade foi Hermione quem descobriu," Harry explicou. Lupin sorriu. Ele sabia como ela era inteligente. "Rony e eu pensávamos que tinha sido Snape." Harry torceu o nariz de nojo, depois parou ao ver Lupin olhando para ele. Ele não queria parecer imaturo ou desrespeitoso.
"Por que pensou que foi Snape?"
Harry explicou como ele e Rony pegaram a página do livro de Snape. Foi divertido recontar a história para ele, porque ele reagia nos momentos certos. Quando ele chegou na parte da anotação, o rosto de Lupin ficou sério e ele se inclinou para frente em sua cadeira como se tivesse uma pergunta. Harry parou a história para dar a chance dele perguntar.
"Você não fez a, hã, troca, fez?" ele perguntou, uma expressão de aflição.
"Infelizmente, sim," Harry disse, ainda se sentindo idiota por ter feito uma escolha tão ruim.
"Eu lamento em ouvir isso Harry. Sei o que custou para você." Um silêncio pairou sobre eles, e depois Harry balançou a cabeça sorrindo, Lupin se juntou a ele.
"Então, o que o fez decidir pela troca? Você deve ter pesquisado e visto a limitação que dava ao feitiço?" ele perguntou, pegando um bolinho e tentando parti-lo ao meio. Ele desistiu e colocou de volta no prato.
"Nós não pensamos em pesquisar - eu nunca vou cometer esse erro de novo. No fim, decidimos no cara ou coroa," Harry disse com um sorriso fraco. Isso fez Lupin rir. Era divertido ficar na cabine de Hagrid e trocar histórias com ele assim - Harry se perguntou quantas vezes seu pai fizera a mesma coisa.
"Pena que Sirius não sabia da troca, ou do fato que Snape fizera a poção. Ele podia ter lhe alertado," Lupin falou se desculpando.
"Ele sabia do limite, mas pensou que fosse padrão do feitiço." A conversa parou por um momento enquanto os dois tomaram um pouco de chá.
"Então, por que vocês procuraram Snape para poção?" Harry perguntou. "Como sabiam que podiam confiar a ele seu segredo?"
"Foi idéia do Tiago, não minha. Ele disse que precisava fazer isso direito e que Snape lhe devia uma por ter salvado sua vida. Snape era o melhor aluno do nosso ano em poções; na verdade, provavelmente ele era o melhor da escola."
Lupin limpou a garganta e tomou um gole de chá antes de continuar. "No inicio, não queria que a gente usasse a ajuda dele. Eu suspeitava que ele estava desenvolvendo sentimentos por Lil- quer dizer, sua mãe - também. Nós até fizemos o teste de ressonância com ele, mas ele não passou. Acho que ele descobriu o que estávamos fazendo, porque não pareceu muito surpreso quando Tiago lhe pediu ajuda."
"Então o que o fez ficar calado todos esses anos?" Harry perguntou. Ele segurava a xícara entre as duas mãos, para mantê-las quentes.
"Eu honestamente não tenho idéia- estou tão surpreso quanto você. Acho que ele tem suas razões," foi a resposta de Lupin. Depois ele ficou mais sério.
"Harry tem algo mais que precisa saber que é muito importante."
"O quê?" Harry disse, com a mesma sensação de catástrofe com a qual tinha se familiarizado nesses dias.
"É sobre o feitiço. Existem outras limitações causadas pela substituição que não estão documentadas em lugar nenhum - tem a ver com os sonhos."
"Os sonhos que Hermione teve enquanto dormia?"
"Sim. Existe a possibilidade remota dela encontrar os mesmos problemas que sua mãe. De vez em quando, ela tinha uma sensação de dèja vu que não podia explicar. Tiago e eu tínhamos a teoria que provavelmente era alguma memória dos sonhos tentando voltar. Não acontecia com freqüência, e ela não se incomodava, mas achei que você devia saber."
"É só isso?" Harry perguntou olhando a expressão de Lupin. Claramente ele não disse tudo.
"Não. Tem mais. Tiago disse que duas vezes ela teve sonhos que a acordaram no meio da noite. Ele não tinha certeza o que eles significavam, e ela os esquecia na manhã seguinte. Mas ele lembrava, e realmente se preocupava."
"Como assim? Pensei que todos os sonhos causados pela maldição eram bons."
"A maioria é, mas alguns não são. Os dois que a acordaram não eram. Um em particular era bastante perturbador - ela sonhou que vocês três seriam mortos. Mas como sabe, não aconteceu desse jeito - você sobreviveu," Lupin disse, olhando para Harry preocupado.
Harry ficou lá sentado, pensando no que Lupin dissera. Sua mãe sonhara com suas mortes pelas mãos de Voldemort. Por que o pai dele não foi mais cuidadoso com essa informação? Ele poderia ter prevenido o que aconteceu se tivesse interpretado o sonho corretamente? Ou talvez por isso eles tivessem se escondido - uma tentativa de impedir os sonhos de se realizarem. A cabeça de Harry girava com tantas suposições.
Ele ainda estava perdido em seus pensamentos quando Lupin falou de novo. "Sabe, Harry, não deixe que isso te consuma. Mesmo que Hermione relembre seus sonhos todas as noites, não há como dizer se eles vão realmente se realizar. O fato de você ter sobrevivido apesar de sua mãe ter previsto sua morte é um exemplo perfeito de que ninguém pode saber seu futuro. Mesmo uma maldição tão poderosa como a de Morgana não é cem por cento certa. Todas as escolhas que você faz tem um poder significativo de mudar sua vida. Não fique pensando no que poderia acontecido ou no que vai acontecer, vai ficar louco se o fizer."
Os pensamentos de Harry se desviaram para a conversa que teve com Hermione na noite anterior sobre o futuro. "Prof- quer dizer- Remo, o que você acha da idéia de haver apenas um verdadeiro amor para cada pessoa?"
Lupin levantou-se da cadeira e colocou as mãos nos bolsos, passeando pelo cômodo enquanto respondia. "É uma pergunta bem filosófica, Harry. Existem muitas opiniões sobre isso." Ele parou em frente à lareira, de costas para Harry.
"É, eu já sabia disso. Mas gostaria de saber a sua," Harry disse, desejando não estar pressionando Lupin com um assunto muito doloroso.
Lupin se virou e parou por um minuto antes de responder. O jeito que ele estava apertando os olhos formava pequenas rugas ao redor deles. "Sinto-me honrado por querer saber minha opinião - e eu te darei- mas lembre-se que essa opinião vem de alguém que ainda tem que achar essa pessoa especial e provavelmente nunca achará, devido às minhas condições."
"Se não quiser, não precisa-" Harry começou, mas Lupin levantou a mão para interrompe-lo.
"Eu acredito que existem várias pessoas no mundo que têm o potencial de ser seu verdadeiro amor. As circunstâncias e experiências te colocam no caminho de algumas e não de outras. Uma vez que esteja com aquele alguém especial que você ama e que te ama também, muito trabalho, dedicação e entendimento mútuo vão mantê-los juntos e aprofundar o amor que sentem. Entenda, Harry, você vai encontrar muitos obstáculos e sucessos pela vida, e achar alguém para ajuda a passar por isso, a torna muito mais prazerosa."
"Mas a maldição de Morgana-" Harry começou, mas Lupin o interrompeu de novo.
"Eu sei que a maldição de Morgana diz que Hermione é seu verdadeiro amor. Mas isso não é totalmente exato, na minha opinião. Existem lendas sobre um amor verdadeiro, mas como a maioria das lendas, são muito exageradas. Essa é uma delas. Aposto que se outra pessoa com potencial de ser o verdadeiro amor dela a beijasse e tivesse a ressonância correta, a maldição seria invocada do mesmo jeito. Claro, isso é só na minha opinião, então você pode não aceitar."
Harry se sentiu um pouco desapontado por ouvir a opinião de Lupin. Ele estava se acostumando com a idéia de Hermione ser seu verdadeiro amor e já estava gostando. Tinha algo tão certo e tão confortável em saber isso. Na verdade, ele deve ter sido um pouco ingênuo para acreditar numa idéia tão romantizada. Harry achou que precisava de um pouco de tempo para pensar no que tinha acabado de escutar.
Eles passaram o resto do tempo discutindo outras coisas - como o que Harry estava estudando esse ano e como o retorno de Voldemort tinha mudado a rotina de Hogwarts entre os alunos e os professores. Depois de outra xícara de chá, Lupin estava apertando a mão de Harry e lhe desejando tudo de bom. Eles combinaram de tentar se encontrar durante uma ida a Hogsmead mais tarde no ano.
Harry voltou ao castelo sob sua capa da invisibilidade, ansioso pra compartilhar os detalhes de seu encontro com Rony e Hermione. Ele não tinha certeza do que sentia sobre o que aprendeu, e sabia que ainda ia pensar por muito tempo sobre isso.
Capítulo 15: O encontro
O coração de Hermione pulsava em seus ouvidos quando ela olhou para aqueles olhos verdes implorantes. Harry estava muito vermelho e por alguma razão tinha virado um pouco para o outro lado.
"O que foi?" ele disse, preocupado.
"Ai Harry, estou tão assustada!" ela disse, lutando contra as lágrimas em seus olhos.
Ele rapidamente colocou os braços a seu redor, abraçando-a bem forte. Ela repousou a cabeça no ombro dele, ouvindo sua respiração descompassada, enquanto ele mexia cabelo no cabelo dela. Ele estava bem quente e parecia estar tremendo um pouco. Ela tirou a cabeça do ombro dele e o olhou nos olhos.
"Você está bem?" ela perguntou.
"Acho que era eu quem tinha que perguntar isso," ele disse com um pequeno sorriso.
"Só que você está tremendo."
Os olhos de Harry caíram por um segundo para o pescoço dela antes de encontrarem os olhos dela de novo. "Eu preciso de uns segundos, se você me entende," ele disse constrangido.
"Oh!" Hermione disse, levantando a mão esquerda para cobrir a boca. "Eu não percebi Harry, me desculpe. Céus, isso é difícil, não é?"
Ele apertou os lábios e depois deu um pequeno sorriso. "Com certeza. Agora, sobre o que precisamos conversar?" ele pegou um travesseiro atrás dela, colocando-o em seu colo.
"Eu não sei como me sentir com esse conceito de verdadeiro amor. Assim, acho muito romântico, mas é um pouco intimidador, não acha?" ela disse, as palavras escapando de sua boca rapidamente, quase antes que ela pudesse controlá-las.
Harry riu. Ela olhou para ele, confusa e irritada com a reação. Ele achava isso engraçado? Ela estava tentando falar sério.
Harry deve ter notado o jeito como ela o estava olhando, porque sua expressão mudou imediatamente para uma sincera e carinhosa.
"Desculpe, eu não queria rir daquele jeito. É que eu estava lutando com os mesmos pensamentos há alguns dias quando descobri o significado da maldição. Também fiquei mais do que assustado, mas acho que acabei aceitando."
"Descobrir quem é seu amor verdadeiro aos quinze anos! Algumas pessoas nunca acham essa pessoa, e aqui estamos, tão jovens e já sabemos algo tão importante! É mais que suficiente para enlouquecer qualquer um!" Hermione exclamou, sentindo-se mais relaxada da tensão emocional enquanto falava. Seus olhos encheram-se de novo.
"Eu sei, eu sei. Concordo completamente. Mas não podemos fazer nada, não é? Nós não podemos simplesmente esquecer. Nós não podemos desfazer o que já foi feito."
"É, mas como isso vai nos afetar, Harry? Você está preparado pra ficar só comigo pelo resto de sua vida? E se você ficar entediado? E se você conhecer alguém mais interessante? Você sempre vai ficar se perguntando como seria estar com outra pessoa?" Hermione disse, mostrando todas suas inseguranças para ele, sentindo como se estivesse expondo seu coração de um jeito que nunca fizera.
Harry segurou as mãos dela entre as dele. Ele as trouxe para seus lábios e as beijou delicadamente. Ele olhou profundamente em seus olhos, quase como se quisesse entrar nela e tocar sua alma. Hermione sentiu tudo em seu interior derreter e se concentrou em deixá-lo entrar. Quando ele falou, sua voz estava profunda e gentil, mas intensa. Um arrepio correu por sua espinha.
"Eu não sei o que o futuro reserva, mas sei de uma coisa. Sentado aqui e agora, sei em meu coração que eu te amo, e acho que isso nunca vai mudar. Você disse que está com medo que chegue um dia que eu vá me cansar de você? Isso nunca vai acontecer, Hermione. Nós estamos destinados a ficar juntos, e tem alguma coisa em saber isso que é muito bom," suas palavras fizeram o estômago dela revirar e seu coração disparar. Ela queria beijá-lo, dizer que tudo o que ela desejava era estar com ele até o dia de sua morte, mas uma estranha sensação de dèja vu a assombrava, distraindo-a da resposta que queria dar para aquela declaração. Ela franziu a testa, tentando lembrar se ela já estivera ali antes. Não importava. Seus medos e inseguranças voltaram pra o topo de sua cabeça e fez que ela dissesse algo de que iria se arrepender depois.
"Mas sejamos práticos, Harry. E se estivéssemos destinados a nos encontrar bem mais tarde? Talvez fosse melhor que esperássemos para namorar daqui a uns dois anos, depois que tivéssemos a chance de ver o que há lá fora? Eu não sei. Eu me sinto tão pressionada com tudo isso," ela disse, angustiada por responder com a cabeça ao invés do coração, mas sabendo que não tinha outra escolha.
Harry parecia ter levado uma facada no coração com o que ela disse. "Você está... você está dizendo que não quer namorar comigo? Está dizendo que quer terminar e conhecer outras pessoas? Não era o homem que tinha que dizer isso?" Ele disse, sua voz num tom irritado. Ele se levantou de supetão.
"Não, Harry. Não é o que quis dizer." Hermione disse rápido, também se levantando. Ele foi em direção à porta, mas ela passou por ele e ficou em seu caminho. Ele olhou para ela, seu peito subindo e descendo com sua respiração ofegante, o rosto contorcido de emoções.
"Então o que quis dizer, Hermione? Eu sei que isso é muita coisa pra lidar, mas estou lidando do melhor jeito que conheço. Sabia que você ia se preocupar, mas não achava que ia chegar a esse ponto. É quase como se o que Malfoy disse na biblioteca tenha feito você pensar," ele disse irritado, de braços cruzados.
Hermione fez uma careta. Seria menos doloroso se Harry a tivesse estapeado com a mão, mas ele fez isso com palavras. Ele estava mesmo preocupado com o que aquele idiota disse na biblioteca? Pior, ele estava acusando-a de querer traí-lo?
"Harry, ouça-" ela começou, mas ele a interrompeu.
"Por favor, sai de minha frente, Hermione. Eu preciso de um tempo pra me acalmar."
"Não," ela respondeu, "Eu não vou deixar você sair assim, eu nunca me perdoaria."
"Eu preciso sair daqui," ele disse com raiva, "e não há nada que possa dizer que vá me convencer a ficar." Ele tinha um olhar magoado, quase como se tivesse perdido seu melhor amigo. Seu pé batia insistentemente no chão enquanto a encarava.
Hermione parou, pensando rápido. Ela sabia pela quantidade de vezes que o vira aborrecido que era perda de tempo tentar conversar com ele assim. Ela brincou com a idéia de tentar assim mesmo, explicando como ele estava se comportando irracionalmente tentando ir embora quando eles precisavam conversar sobre isso. Foi quando um pensamento lhe ocorreu. Talvez não houvesse nada que ela pudesse dizer pra mantê-lo ali, mas talvez existisse algo que ela pudesse fazer. Agora que a relação deles mudara, havia uma opção que não existia antes. Ela nervosamente tentou essa abordagem diferente.
Ela chegou mais perto e levou os lábios até os dele. No início ele não respondeu ao beijo, mantendo seus braços cruzados e continuando sério, mas ela continuou beijando-o, na ponta dos pés, primeiro as bochechas, depois a testa, depois o nariz, depois o queixo dele. "Fica," ela dizia com os olhos entre cada beijo. "Fica." Quando ela voltou para a boca dele, ele expirou e respondeu o beijo ardentemente. Rodeando-a fortemente com seus braços, ele a pegou e a deitou na cama, ficando em cima dela.
Eles estavam se beijando com tanto fervor que Hermione logo ficou zonza e sem ar. Novas sensações de prazer e desejo corriam por seu corpo. Ela sentiu algo pressionando contra ela e pôde saber que ele estava tão excitado quanto ela. Isso a fez sentir-se assustada e viva ao mesmo tempo. Ela levou uma mão para a nuca dele, enterrando seus dedos em seus cabelos negros. A outra mão subia e descia pelas costas dele, sentindo seu corpo contra o dela. Ele mexia desajeitado nos botões da camisa dela, e dessa vez, ela não o interrompeu. Segundos depois, aparentemente irritado com a falta de progresso, ela sentiu-o puxar com força a camisa abrindo de vez, os botões voando para todos os lados, antes que ela pudesse ajuda-lo. Depois de um rápido "desculpe", ele começou a beijar o pescoço dela, avançado pela pelo sensível logo acima do sutiã de renda. Ela nunca se sentira tão fora de controle e tão extática ao mesmo tempo. Em algum lugar no fundo de sua mente, ela sabia que devia parar com isso, que eles não podiam deixar isso ir muito longe, mas não conseguia resistir aos fortes impulsos que se formavam dentro dela.
"Eu te amo," Harry dizia incessantemente enquanto a beijava. "Eu te amo." Ele afundou seu rosto na curva do pescoço dela, beijando-a com sua língua, e depois recuou, cobrindo sua boca com a sua, ainda mais apaixonadamente que antes.
Hermione fechou os olhos e se concentrou em seus outros sentidos, que eram preenchidos por estar assim com Harry - o seu toque, seu cheiro, seu gosto, seus sons de prazer se misturando com os dela.
"Eu te amo também," ela lhe respondeu, quase sem poder falar. Ela descobriu que estava chorando. Ele secou as lágrimas dela com beijos enquanto suas mãos a acariciavam suavemente. Depois ele parou, tirando sua boca da dela. Quando ela abriu os olhos, pôde vê-lo sorrindo carinhosamente.
"Parece que eu vou ser o mais forte dessa vez," ele sussurrou em seu ouvido, fazendo-a tremer involuntariamente. Ele rolou de cima dela e colocou as costas de seus braços sobre seus olhos, suspirando frustrado.
Depois de um momento de silêncio, durante o qual Hermione fez o que pôde para se acalmar e recuperar o fôlego, Harry falou.
"Eu realmente espero que exista uma poção ou um feitiço para esse tipo de... frustração," ele disse a voz apertada como se estivesse segurando um espirro.
"Deve existir," Hermione falou ofegante, sentindo o inchaço de seu queixo com a ponta de seu indicador. Ela virou para ele a seu lado. "Vou pesquisar sobre isso assim que acordar. É o único jeito da gente enfrentar os próximos dois anos, não é?" Ela passou a língua por seu lábio inferior, ainda sentindo o gosto dele.
Ele tirou o braço do rosto, mas não olhou para ela. "Isso quer dizer que você não quer terminar?"
"Claro que não quero terminar! E não quero conhecer mais ninguém também!" ela respondeu, e depois disse flertando, "Além disso, depois de beijos como esses, eu seria doida se te deixasse."
Ele sorriu e ficou de lado olhando para ela, a cabeça apoiada no braço dobrado, seu corpo tocando de leve o dela. "Você ainda está preocupada por cauda dessa historia de verdadeiro amor?"
"Bem, estou menos preocupada do que antes de conversarmos. Acho que posso dizer que só preciso de tempo para me acostumar com a idéia. Isso faz algum sentido?"
"Faz muito sentido," ele disse. "Nós dois precisamos tomar cuidado para não pensarmos muito sobre isso senão você está certa, vamos acabar loucos."
"Concordo," ela disse, ainda se sentindo um pouco preocupada, mas resoluta em deixar pra lá por enquanto. Afinal, eles teriam muito tempo para pensar sobre isso.
"Ei, Hermione?" Harry falou, tirando-a de seus pensamentos.
"Sim?"
"Desculpe por sua blusa. Acho que me deixei levar." Ele sorriu se desculpando.
"Ah, tudo bem. Sei um bom feitiço que vai deixá-la quase como nova."
"Claro que você sabe," Harry riu enquanto ela pensava que provavelmente teria que aprender muitos feitiços novos agora que eles estavam cruzando essa fronteira.
****
"Snape vai me matar," Megan resmungou para si mesma enquanto corria pelas escadas para a masmorra, atrasada para poções. Ela praticamente voou quando virou e continuaria assim, não fosse um ruivo alto em seu caminho.
"A-ha! Te achei!" era Rony Weasley. Ele estava muito bonito hoje, seus olhos azuis olhando para ela com uma expressão de puro interesse.
"Oi," ela disse, tentando parecer o mais casual possível. Ela passou por ele apressada, querendo parar, mas decidindo bancar a difícil.
Rony se virou e gritou pra ela, "Foi alguma coisa que eu disse?" Megan sorriu. Ela se sentia mal por passar por ele daquele jeito. Talvez mais alguns minutos de atraso valessem a pena por um bate-papo rápido. Ela se virou e deu um rápido sorriso. Ele correu até ela, olhando pelo corredor.
"É que eu tenho que ir para poções. Estou atrasada," ela se explicou. Rony se desanimou.
"Ah. Bem, não quero te tirá-la de Snape. Ele pode ser bem malvado com os atrasados. No outro dia, Harry e eu perdemos vinte pontos porque estávamos vinte segundos atrasados. Mas talvez ele não odeie tanto as outras casas."
"Bem, eu nunca o vi fazer nada muito duro, mas ele é bem assustador," Megan disse. Rony balançou a cabeça concordando.
"Então, por onde tem andado? Estive procurando por você em todo canto," ele disse, ajeitando a mochila no ombro, seu rosto concentrando-se no dela.
"Estive no salão comunal da Lufa-lufa. Tivemos muitos trabalhos em grupo ultimamente e tenho estado bastante ocupada," Megan explicou, sentindo ondas de culpa atravessarem seu corpo. Na verdade, ela vinha evitando a biblioteca e os lugares onde geralmente o encontrava. Ela queria dar a ele o espaço que precisava para superar seus sentimentos por sua melhor amiga, Hermione Granger.
"Oh," ele disse um pouco desapontado. Seus olhos se concentraram no chão, que ele chutou com o dedão várias vezes.
"Então, como está sua amiga?" Megan perguntou, tentando continuar a conversa.
"Quem? Hermione?"
"Sim, a que estava dormindo na enfermaria."
"Ela está bem. Ah. Estou tão feliz que tenha terminado," Ele disse, rolando os olhos e balançando a cabeça. Então ele deve ter pensado alguma coisa, porque sua expressão ficou bastante animada.
"Ei, você sabia que ela está namorando Harry?" ele disse, observando sua reação.
Essa noticia pareceu estranha para Megan. Harry Potter e Hermione Granger? Sempre correram rumores pela escola sobre eles serem um casal, especialmente depois do artigo de Rita Skeeter no semanário da bruxa ano passado, mas ela não achava que havia verdade neles. Ela olhou a expressão de Rony, tentando descobrir como ele se sentia sobre isso.
Quando ela o fez, ele parou de bater no chão com o pé e encontrou os olhos dela. Por um instante, eles ficaram no corredor se encarando, Megan corando cada vez mais, antes de Rony pegar sua mochila e procurar algo nela.
"Aqui," ele disse sorrindo e estendendo a mão com algo dentro, "eu transfigurei isso pra você." Ela esticou a mão e nela ele depositou um belo bracelete com vários cristaizinhos azuis que pareciam folhas. Ela respirou fundo, surpresa por esse presente tão inesperado, num momento tão inesperado.
"Eu gostaria que você usasse no baile, se é que você ainda vai comigo," Rony disse, olhando para ela ansioso.
Megan segurou o bracelete, abriu e colocou no pulso. Isso fez Rony sorrir, o mesmo sorriso charmoso que chamou sua atenção pela primeira vez. Aquele meio sorriso, meio bico que o fazia parecer tímido e malicioso ao mesmo tempo. Ela o olhou naqueles olhos azuis cristalinos que tinham quase a mesma cor de seu bracelete novo.
"Claro que ainda vou ao baile com você," ela lhe respondeu, feliz ao ver o sorriso dele se alargar ainda mais. Ele parecia realmente aliviado. Talvez já estivesse na hora de deixá-lo beijá-la.
"Bem, é melhor você ir antes que Snape tire centenas de pontos da Lufa- lufa," ele disse, passando a mão pelo ombro dela casualmente. "Se bem que, pensando melhor, talvez devesse mantê-la por aqui mais tempo, vocês estão liderando por enquanto, não é?"
Megan sorriu largamente para ele e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, desejando poder ficar mais um pouco e conversar, ou talvez até entrar numa sala vazia para ganhar aquele beijo que perdera alguns dias atrás. Mas isso teria que esperar outra ocasião - talvez o baile de inverno. Ela suspirou alto, acenou para ele levemente e se virou a caminho da aula de poções.
Ela achou ter ouvido-o gritar "Isso!" enquanto abria a porta da masmorra com um sorriso.
******
Harry mandou uma coruja para Professor Lupin logo cedo naquela manhã. Ele ficou surpreso ao ver Edwiges chegar com uma resposta para ele durante o café da manhã, Lupin já tinha respondido?
Ele desamarrou o pergaminho apressado e deu um pouco de suas salsichas para Edwiges e leu o bilhete em voz alta, Hermione olhando por cima de seu ombro.
Harry
Ficarei feliz em encontrá-lo. Se minhas suspeitas estão corretas, acho que sei sobre o que está falando. Encontre-me hoje às 9 horas na cabana de Hagrid. Gostaria que viesse sozinho. Por favor responda confirmando.
Remo Lupin
"Que bom que ele está lhe dando uma chance de conversar com ele," Hermione disse, tomando um gole de seu suco de abóbora.
"Fico feliz também," disse Rony. "Apesar de ainda achar que isso só interessa a ele." Ele olhou para Hermione com um pouco de desrespeito. Depois seu rosto brilhou como se tivesse tido uma revelação.
"Não acredito, Harry!" ele exclamou. "Aposto que Hagrid sabia de tudo! Lembra como ele veio conversar com a gente no dormitório depois que você visitou Sirius? Ele ficava falando de não devíamos deixar isso interferir em nossa amizade e coisa assim. Aposto que ele sabia que foram seu pai e Lupin anos atrás!"
Os olhos de Hermione se arregalaram, "Aposto que está certo, Rony. Hagrid sabe."
"Bem, ele foi melhor que o de costume em guardar o segredo, se for o caso," Harry disse sorrindo. Os três riram. Eles já tinham bastante experiência em tirar informações de Hagrid, e já estavam familiarizados com sua falta de habilidade em manter um segredo.
O resto do dia se arrastou vagarosamente pra Harry. Ele não conseguia parar de pensar no que ia perguntar a Lupin quando se encontrassem naquela noite. Ele tinha a mesma preocupação de Rony sobre ser cuidadoso para não se intrometer na privacidade de Lupin, então ele se pegava pensando durante as aulas, escrevendo suas perguntas mentalmente.
Havia algo que ele não tinha certeza se queria perguntar a Lupin. Harry não sabia ao certo como se sentia a respeito de Lupin ter amado sua mãe. Mas isso explicava muito. Harry se lembrou do tempo que Lupin lhe ensinou o feitiço do Patrono em seu terceiro ano...
Ele estava deitado de costas no chão. As luzes da sala tinham reacendido. Ele não precisava perguntar o que acontecera.
"Desculpe," murmurou, sentando e sentindo o suor frio escorrendo por trás de seus óculos.
"Você está bem?" perguntou Lupin.
"Estou..." Harry usou uma carteira para se levantar, apoiando-se nela.
"Aqui - " Lupin lhe deu um sapo de chocolate. "Coma isso antes de tentarmos de novo. Eu não esperava que você conseguisse de primeira; na verdade, ficaria espantado se conseguisse."
"Está piorando," Harry murmurou, mordendo a cabeça do sapo. "Eu a ouvi mais alto dessa vez - e ele - Voldemort-"
Lupin pareceu mais pálido que de costume.
Momentos depois, Lupin revelou que havia sido amigo do pai de Harry, Tiago. Harry pensou se os sentimentos de Lupin por Lily revelados para Tiago tenham causado alguma ruptura na amizade. Foi por isso que foi tão fácil para Sirius convencer seus pais a usar Rabicho como fiel segredo? Foi por isso que Lupin não sabia da troca de última hora entre Sirius e Rabicho? Harry percebeu amargamente que ele provavelmente nunca saberia.
******
Harry chegou à cabana de Hagrid nove horas em ponto. Ele estava coberto com sua capa da invisibilidade e tinha uma lista de perguntas em seu bolso, Hermione sugeriu que ele as juntasse caso a língua travasse. Ele bateu na porta e ouviu o latido de canino.
Hagrid abriu a porta, com o casaco pesado e arco na mão. "Oi, Harry," ele disse, quando Harry tirou a capa. "Eu já estava de saída. Tenho assuntos para cuidar na floresta. Vou deixar vocês dois sozinhos," e com um sorriso e um aceno, ele se foi, levando canino com ele.
Harry entrou na cabana e viu Professor Lupin sentado a mesa, uma grande xícara de chá em sua frente. Ele sorriu e se levantou, estendendo a mão calorosamente.
"É ótimo vê-lo novamente, Harry. Já faz o que, quase dois anos? Parece que não é tanto tempo assim," Lupin disse. Harry pensou consigo mesmo como a percepção do tempo mudava dependendo da situação. Parecia ontem que ele se despediu de Lupin no fim do terceiro ano. Por outro lado, dois anos pareciam uma eternidade quando pensava no contexto de sua relação com Hermione.
"É ótimo revê-lo, professor," Harry disse sorrindo apertando sua mão.
"Por favor me chame de Remo, Harry. Eu não sou mais professor de Hogwarts e não gosto de ser chamado de Sr. Lupin - me faz sentir mais velho do que sou. Tenho certeza que Tiago ia fazer você me chamar pelo primeiro nome mesmo. Ele nunca gostou de formalidades com os amigos. Quer chá?"
Harry aceitou o chá e se sentou enquanto Lupin ficou no espaço da cozinha. Depois de um tempo, ele colocou o chá de Harry em sua frente e ofereceu os bolinhos de Hagrid. Harry os recusou; ele já tinha experiência com a culinária de Hagrid.
"Começando do inicio," Lupin disse, puxando sua cadeira, "Sirius mandou os parabéns pelo sucesso do feitiço. Eu nunca o vi tão aliviado quanto quando recebeu sua coruja dizendo que deu tudo certo."
"Espero que ele não tenha ficado com muita raiva por ter demorado tanto pra mandar notícias," Harry disse, lembrando como ele só mandou uma coruja depois de visitar Hermione no hospital na manhã posterior ao feitiço.
"Eu não vou mentir pra você. Ele ficou muito preocupado. Mas eu o lembrei que se algo tivesse dado errado, ele teria noticias de Dumbledore," Lupin disse, bebendo um pouco de seu chá e se remexendo na cadeira.
"Bem lembrado," Harry respondeu, imaginando quando eles falariam do motivo por qual ele estava ali.
Quase como se tivesse lido os pensamentos de Harry, Lupin colocou a xícara sobre a mesa e olhou muito sério. "Então Harry, estou certo em pensar que você queria me encontrar para saber sobre meu papel no Recurso de Merlin que fiz junto com seu pai?"
Harry quase engasgou com chá de surpresa. Ele não esperava que Lupin fosse ao ponto tão rapidamente.
"Na verdade, sim," ele respondeu, tomando seu chá num gole só.
Lupin sorriu. "Sabia que você tinha descoberto quando recebi sua coruja. Contei a Sirius também - não mais há porque manter em segredo. Aconteceu há muitos anos atrás, e muito aconteceu desde então."
"Então Sirius não sabia que foi você?"
"Ele não tinha idéia. Ele ficou tão surpreso quando lhe contei que quase caiu da cadeira." Lupin sorriu ao se lembrar. "Então, como você descobriu?"
"Na verdade foi Hermione quem descobriu," Harry explicou. Lupin sorriu. Ele sabia como ela era inteligente. "Rony e eu pensávamos que tinha sido Snape." Harry torceu o nariz de nojo, depois parou ao ver Lupin olhando para ele. Ele não queria parecer imaturo ou desrespeitoso.
"Por que pensou que foi Snape?"
Harry explicou como ele e Rony pegaram a página do livro de Snape. Foi divertido recontar a história para ele, porque ele reagia nos momentos certos. Quando ele chegou na parte da anotação, o rosto de Lupin ficou sério e ele se inclinou para frente em sua cadeira como se tivesse uma pergunta. Harry parou a história para dar a chance dele perguntar.
"Você não fez a, hã, troca, fez?" ele perguntou, uma expressão de aflição.
"Infelizmente, sim," Harry disse, ainda se sentindo idiota por ter feito uma escolha tão ruim.
"Eu lamento em ouvir isso Harry. Sei o que custou para você." Um silêncio pairou sobre eles, e depois Harry balançou a cabeça sorrindo, Lupin se juntou a ele.
"Então, o que o fez decidir pela troca? Você deve ter pesquisado e visto a limitação que dava ao feitiço?" ele perguntou, pegando um bolinho e tentando parti-lo ao meio. Ele desistiu e colocou de volta no prato.
"Nós não pensamos em pesquisar - eu nunca vou cometer esse erro de novo. No fim, decidimos no cara ou coroa," Harry disse com um sorriso fraco. Isso fez Lupin rir. Era divertido ficar na cabine de Hagrid e trocar histórias com ele assim - Harry se perguntou quantas vezes seu pai fizera a mesma coisa.
"Pena que Sirius não sabia da troca, ou do fato que Snape fizera a poção. Ele podia ter lhe alertado," Lupin falou se desculpando.
"Ele sabia do limite, mas pensou que fosse padrão do feitiço." A conversa parou por um momento enquanto os dois tomaram um pouco de chá.
"Então, por que vocês procuraram Snape para poção?" Harry perguntou. "Como sabiam que podiam confiar a ele seu segredo?"
"Foi idéia do Tiago, não minha. Ele disse que precisava fazer isso direito e que Snape lhe devia uma por ter salvado sua vida. Snape era o melhor aluno do nosso ano em poções; na verdade, provavelmente ele era o melhor da escola."
Lupin limpou a garganta e tomou um gole de chá antes de continuar. "No inicio, não queria que a gente usasse a ajuda dele. Eu suspeitava que ele estava desenvolvendo sentimentos por Lil- quer dizer, sua mãe - também. Nós até fizemos o teste de ressonância com ele, mas ele não passou. Acho que ele descobriu o que estávamos fazendo, porque não pareceu muito surpreso quando Tiago lhe pediu ajuda."
"Então o que o fez ficar calado todos esses anos?" Harry perguntou. Ele segurava a xícara entre as duas mãos, para mantê-las quentes.
"Eu honestamente não tenho idéia- estou tão surpreso quanto você. Acho que ele tem suas razões," foi a resposta de Lupin. Depois ele ficou mais sério.
"Harry tem algo mais que precisa saber que é muito importante."
"O quê?" Harry disse, com a mesma sensação de catástrofe com a qual tinha se familiarizado nesses dias.
"É sobre o feitiço. Existem outras limitações causadas pela substituição que não estão documentadas em lugar nenhum - tem a ver com os sonhos."
"Os sonhos que Hermione teve enquanto dormia?"
"Sim. Existe a possibilidade remota dela encontrar os mesmos problemas que sua mãe. De vez em quando, ela tinha uma sensação de dèja vu que não podia explicar. Tiago e eu tínhamos a teoria que provavelmente era alguma memória dos sonhos tentando voltar. Não acontecia com freqüência, e ela não se incomodava, mas achei que você devia saber."
"É só isso?" Harry perguntou olhando a expressão de Lupin. Claramente ele não disse tudo.
"Não. Tem mais. Tiago disse que duas vezes ela teve sonhos que a acordaram no meio da noite. Ele não tinha certeza o que eles significavam, e ela os esquecia na manhã seguinte. Mas ele lembrava, e realmente se preocupava."
"Como assim? Pensei que todos os sonhos causados pela maldição eram bons."
"A maioria é, mas alguns não são. Os dois que a acordaram não eram. Um em particular era bastante perturbador - ela sonhou que vocês três seriam mortos. Mas como sabe, não aconteceu desse jeito - você sobreviveu," Lupin disse, olhando para Harry preocupado.
Harry ficou lá sentado, pensando no que Lupin dissera. Sua mãe sonhara com suas mortes pelas mãos de Voldemort. Por que o pai dele não foi mais cuidadoso com essa informação? Ele poderia ter prevenido o que aconteceu se tivesse interpretado o sonho corretamente? Ou talvez por isso eles tivessem se escondido - uma tentativa de impedir os sonhos de se realizarem. A cabeça de Harry girava com tantas suposições.
Ele ainda estava perdido em seus pensamentos quando Lupin falou de novo. "Sabe, Harry, não deixe que isso te consuma. Mesmo que Hermione relembre seus sonhos todas as noites, não há como dizer se eles vão realmente se realizar. O fato de você ter sobrevivido apesar de sua mãe ter previsto sua morte é um exemplo perfeito de que ninguém pode saber seu futuro. Mesmo uma maldição tão poderosa como a de Morgana não é cem por cento certa. Todas as escolhas que você faz tem um poder significativo de mudar sua vida. Não fique pensando no que poderia acontecido ou no que vai acontecer, vai ficar louco se o fizer."
Os pensamentos de Harry se desviaram para a conversa que teve com Hermione na noite anterior sobre o futuro. "Prof- quer dizer- Remo, o que você acha da idéia de haver apenas um verdadeiro amor para cada pessoa?"
Lupin levantou-se da cadeira e colocou as mãos nos bolsos, passeando pelo cômodo enquanto respondia. "É uma pergunta bem filosófica, Harry. Existem muitas opiniões sobre isso." Ele parou em frente à lareira, de costas para Harry.
"É, eu já sabia disso. Mas gostaria de saber a sua," Harry disse, desejando não estar pressionando Lupin com um assunto muito doloroso.
Lupin se virou e parou por um minuto antes de responder. O jeito que ele estava apertando os olhos formava pequenas rugas ao redor deles. "Sinto-me honrado por querer saber minha opinião - e eu te darei- mas lembre-se que essa opinião vem de alguém que ainda tem que achar essa pessoa especial e provavelmente nunca achará, devido às minhas condições."
"Se não quiser, não precisa-" Harry começou, mas Lupin levantou a mão para interrompe-lo.
"Eu acredito que existem várias pessoas no mundo que têm o potencial de ser seu verdadeiro amor. As circunstâncias e experiências te colocam no caminho de algumas e não de outras. Uma vez que esteja com aquele alguém especial que você ama e que te ama também, muito trabalho, dedicação e entendimento mútuo vão mantê-los juntos e aprofundar o amor que sentem. Entenda, Harry, você vai encontrar muitos obstáculos e sucessos pela vida, e achar alguém para ajuda a passar por isso, a torna muito mais prazerosa."
"Mas a maldição de Morgana-" Harry começou, mas Lupin o interrompeu de novo.
"Eu sei que a maldição de Morgana diz que Hermione é seu verdadeiro amor. Mas isso não é totalmente exato, na minha opinião. Existem lendas sobre um amor verdadeiro, mas como a maioria das lendas, são muito exageradas. Essa é uma delas. Aposto que se outra pessoa com potencial de ser o verdadeiro amor dela a beijasse e tivesse a ressonância correta, a maldição seria invocada do mesmo jeito. Claro, isso é só na minha opinião, então você pode não aceitar."
Harry se sentiu um pouco desapontado por ouvir a opinião de Lupin. Ele estava se acostumando com a idéia de Hermione ser seu verdadeiro amor e já estava gostando. Tinha algo tão certo e tão confortável em saber isso. Na verdade, ele deve ter sido um pouco ingênuo para acreditar numa idéia tão romantizada. Harry achou que precisava de um pouco de tempo para pensar no que tinha acabado de escutar.
Eles passaram o resto do tempo discutindo outras coisas - como o que Harry estava estudando esse ano e como o retorno de Voldemort tinha mudado a rotina de Hogwarts entre os alunos e os professores. Depois de outra xícara de chá, Lupin estava apertando a mão de Harry e lhe desejando tudo de bom. Eles combinaram de tentar se encontrar durante uma ida a Hogsmead mais tarde no ano.
Harry voltou ao castelo sob sua capa da invisibilidade, ansioso pra compartilhar os detalhes de seu encontro com Rony e Hermione. Ele não tinha certeza do que sentia sobre o que aprendeu, e sabia que ainda ia pensar por muito tempo sobre isso.
