III - Na Toca do Lobisomem

Pouco tempo depois Harry chegava à casa de Lupin, largando suas malas no chão. Teve que carrega-las todas sozinho, pois Lupin estava em muito pior situação carregando um cão quase do seu próprio tamanho no colo. Cambaleando até entrar na casa, Lupin soltou Sirius no chão com um grande estrondo.

- CABLAN!!!!

- Luuuuuuuuuuuuuuuuuupin!!!!! - Uma voz estridente ecoou pela casa, vindo do andar de baixo. - O que você está armando aí em cima?? - parecia pertencer a uma mulher muito irritada.

- Erm.. nada sra. Watson!!! Deixei cair... hum... o armário em cima de mim! - Lupin improvisou, gritando pela janela para sua vizinha de baixo.

- Bem feito. - a velha resmungou, voltando a se calar.

Lupin fechou a janela com força suficiente para faze-la voar para o outro lado da rua - Bem feito... - resmungou em tom falsete, em uma imitação da vizinha - maldita velha - praguejou.

Harry não se conteve eu deixar um leve risinho escapar. Era a primeira vez que via Lupin praguejar contra alguém.

- Bem, Harry... - Lupin voltou ao seu normal, pacífico como sempre. - Bem vindo ao meu humilde lar, não é lá grande coisa, mas espero que se sinta à vontade em casa. - sorriu.

Casa não era bem a palavra apropriada para o lugar. Muquifo seria mais associável ao ambiente. O apartamento, se é que dava para chamá-lo assim, pertencia a um velho prédio perto do Beco Diagonal, uma construção muito antiga, toda em madeira, que na opinião de Harry só por magia - e das boas! - é que ainda estava em pé.Por fora o prédio de três andares ainda mantinha seu aspecto desde os tempos em que fora construído.

O telhado de estilo holandês, com muitas falhas aqui e acolá de telhas faltando, e outras tantas meio apodrecidas, mostrava alguma cor vermelha ainda, como as floreiras um tanto quanto maltratadas sob as janelas.As venezianas das janelas estavam meio quebradas e emendadas com barbantes e pedaços de arame. Um dos vidros da janela de Lupin estava quebrado, e este aparentemente não havia se incomodado muito para consertar isso.

No primeiro andar se encontrava uma ampla sala com uma lareira de pedra. Harry notara que o ambiente de dentro era muito maior do que parecia ser, vendo a casa de fora, o que Harry julgava ser por causa de alguma magia. O chão de pedras estava muito empoeirado, assim como todo o resto dos poucos móveis naquele andar.Dois sofás vermelhos, meio remendados estavam de frente para a lareira, assim como uma velha poltrona estampada de flores amarelas, em estilo vitoriano, na qual um gato preto magro como o diabo descansava. Um tapete verde estava estendido no chão, muito desbotado em algumas partes, e em outras, furado, mas cumpria sua função ainda. No canto, uma pequena mesa redonda com um vaso de porcelana branco, com desenho em cor azul dava uma aparência agradável, ou melhor dizer, menos ruim, à sala. No outro canto um velho abajur permanecia esquecido.

Ainda no primeiro andar se encontrava um balcão, que Harry julgou ser uma espécie de portaria, ainda que não tivesse ninguém por lá quando chegaram.

A escada que levava aos outros andares ruía tanto quando alguém pisava em seus degraus que parecia que ia desabar a qualquer momento. Nos cantos das paredes com o teto - não havia forro - várias teias de aranha pendiam, em meio a tanta poeira.

O 'apartamento' de Lupin não era muito melhor. Para começar, a porta não podia sequer ser fechada, era somente equilibrada mal e mal na parede para não cair. Dentro da casa, as paredes eram cobertas por um papel amarelado, que no passado deveria ter sido uma bonita estampa de folhas e flores de estilo romântico, em alguns lugares, já bem desbotado, em outros, já parcialmente rasgado, mostrando a parede de madeira meio apodrecida pelo tempo. O chão de madeira envergava levemente a cada vez que alguém dava um passo, e fazia ruídos terríveis. Isso afora os pequenos buracos em alguns lugares, um ou outro suficientemente grandes para se observar o que acontecia no prédio de baixo.

No meio da sala, dois sofás mufubentos, um de cor azulada e outro xadrez verde, remendados com panos de cores diversas, e em outros lugares apenas rasgados com algumas almofadas velhas e remendadas jogadas por cima. Acompanhava uma poltrona em estado não muito pior, com um pufe para descansar as pernas. O tapete felpudo no chão estava calvo em alguns pontos, e a mesa de centro, cuja perna estava quebrada, estava calçada por dois volumes de um livro de Guilderoy Lockhart.

Na janela, uma cortina de um tecido estampado de azul com flores verdes havia sido improvisada. À sua frente estava uma escrivaninha muito velha, como o resto dos móveis da casa, coberta de livros e pó.

No outro cômodo encontrava-se a cozinha. Armários capengas para todos os lados, outra mesa bamba, uma geladeira cuja porta mantinha-se fechada com muita fita adesiva, um fogão mais sujo que carvão propriamente dito, e todo quanto é tipo de parafernália espalhada pelos quatro cantos do cômodo. Um fio de arame cruzava a cozinha de um lado a outro, com várias panelas penduradas, assim como conchas, colheres e outros utensílios domésticos, todos balançando acima da cabeça de quem quer que tivesse a coragem de entrar ali.

Harry jogou suas malas num quarto que Lupin indicara, e quando voltou para a sala, qual foi sua surpresa ao encontrar seu padrinho, Sirius Black, em sua fama humana, acordado, embora um pouco atordoado ainda, em pé no meio da sala.

Harry não se conteve em correr e dar um abraço em Sirius, que foi pego de surpresa, nunca antes tinha sido o alvo de uma demonstração de afeto assim. Afagou a cabeça de Harry de forma paterna.

- Ei.. agora você está aqui com a gente... - sorriu para Harry. Um sorriso que logo logo sumiu de seu rosto, substituído pó uma expressão meio desconfiada, meio aborrecida, - O que me faz lembrar, ONDE VOCÊ ESTAVA?!?!?! Quer me matar do coração????????

Depois de uma longa conversa, na qual Harry teve que explicar todos os acontecimentos para Sirius, os três se acomodaram na cozinha para tomar um chá e acabarem a conversa mais calmamente.

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*enquanto isso na sala de Alvo Dumbledore*

- Não.

- Severus... Pense bem , não estamos falando de nenhuma missão de alto risco que envolva... - Albus Dumbledore interrompeu sua frase, ao lembrar- se com quem estava falando, e de onde exatamente esse alguém estava voltando.

- Estamos Irônicos, hoje, não? - replicou em um tom de puro veneno - Até de mais para o meu gosto. - Snape apoiou as mãos na escrivaninha de Dumbledore, a cabeça abaixada, as mechas oleosas de seu cabelo cobrindo o rosto.

- Severus, perdoe-me, por um momento eu acabei esquecendo-me do que estava acontecendo... - Dumbledore estendeu a mão sobre o ombro do bruxo mais jovem, em um tom paternal.

Snape desvencilhou-se em um movimento rápido e brusco. - É comum quando se trata desse assunto em especial, não é mesmo? Já estava me esquecendo, todos os outros problemas do mundo perdem sua importância quando estamos lidando com a criança de cristal da Grifinória. - comentou amargamente.

Alvo não disse nada, apenas fitou os olhos do professor de poções por alguns instantes. Nos olhos claros do diretor, poderia-se ler claramente sua preocupação a respeito de Snape.

- Não há... nada que você possa fazer sobre isso, diretor. - Snape estendeu a mão na frente do rosto de Dumbledore antes que este pudesse interromper sua frase. - Eu entrei nisso sozinho, de meu livre arbítrio. E do mesmo modo continuo.

Snape afastou-se em direção à porta, em passos longos. Virou-se nos calcanhares antes de deixar a sala. - Vou. Mas somente para checar se nada deu errado - Snape torceu o lábio, alguma coisa tinha que dar errado, estando se falando de quem estavam - Não espere grandes recepções da minha parte. - resmungou antes de sair da sala, deixando o diretor sozinho, em sua cadeira.

O diretor analisou o que acabara de ouvir de Snape, momentos antes deste deixar a sala. Antes de começarem a discutir por causa de Harry Potter. Assuntos mais importantes, ou ao menos mais urgentes. Assuntos que tinham a ver com Lord Voldemort.

O ex-aluno de Dumbledore, aquele que em seu tempo brilhara como nenhuma outra jovem mente de Hogwarts e que se corrompera, debandando-se para o lado das trevas, estava de volta. E começava a arquitetar seu plano como um jogador experiente, próximo a começar um joguinho de xadrez.

Logo logo, os alicerces dos planos de terror de Voldemort estariam montados novamente, e desta vez, ninguém sabia o que poderia acontecer. Errar é humano, permanecer no erro é pura ingenuidade. E se havia uma coisa que Dumbledore aprendera analisando o jovem Riddle, é que ele nunca fora ingênuo, e, a julgar pela atual situação, tampouco humano.

Snape tentara voltar ao círculo dos comensais, numa nova tentativa de começar novamente o jogo de espião. Mas a mesa não era mais a mesma agora, e ele temia que os jogadores também não.

Aparentemente Voldemort aceitara Snape novamente no círculo. O mestre das poções argumentou que se unira a Dumbledore pois precisava manter-se informado sobre qualquer atividade de seu antigo mestre, e, quem melhor saberia sobre Lord Voldemort que seu maior rival, Alvo Dumbledore. Snape buscaria informações de dentro de Hogwarts para Voldemort. Dumbledore em sua e petulância de achar que todos obedeciam a sua mais simples ordem, acreditara que Snape estava espionando entre os comensais, e que as informações que passava eram as mais verídicas possíveis. Na hora certa Snape o trairia. E qual seria o gosto do senhor das trevas ao ver o diretor de Hogwarts ser apunhalado pelas costas, por uma das pessoas em que mais confiava em sua escolinha de bruxos infestada de trouxas.

Ou assim disse-lhe Severus Snape. Segundo o professor tudo corria como o planejado; mas Dumbledore não tinha tanta certeza disso.

Snape estava pálido, mais que de costume, e, a julgar pela cor natural do professor, isso era muito. Estava mais nervoso que de costume, e Dumbledore notara algumas pequenas oscilações em seu temperamento, e mudanças quase imperceptíveis no professor. Coisas que passariam despercebidas para outros, como a expressão do olhar de Snape ou seus comentários sarcásticos.

Ele havia perdido totalmente seu humor. Ah! Sim.. Severus Snape tinha um certo senso de humor. Humor negro e de puro sarcasmo, mas que ainda estava lá, e que chegava até a divertir Dumbledore às vezes. Mas de algumas semanas para então, esse leve toque de ironia havia desaparecido, restavam apenas os comentários amargos.

E Dumbledore tinha receio do que poderia acontecer com Snape, caso Voldemort descobrisse seu disfarce. E ainda que o professor insistisse que não havia nada que pudesse afetar com a sua ausência em Hogwarts, Dumbledore sabia que não seria bem assim.

Naquele exato ano, Snape completaria quinze anos de Diretor da Sonserina. E nenhum mestre das casas contava com tanta devoção de seus alunos quanto Snape contava naqueles tempos. Nem mesmo Dumbledore, em sua época dirigindo a Grifinória. E se Snape deixasse seus alunos, haviam alguém que provavelmente não pensaria duas vezes em acolher seus alunos. Alguém que Dumbledore não fazia questão nenhuma de deixar seus alunos, quem quer que fossem, seguir. Lord Voldemort.

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*manhã seguinte, 7:30, cozinha da casa de Remo Lupin*

Harry Potter acordou em uma cama estranha, em um lugar menos familiar ainda. E suas costas doíam. Muito.

Levantou-se, se espreguiçando, sua coluna deu um leve estalo. Pegou seus óculos na cabeceira da cama, e o ambiente à as volta finalmente veio em foco. Ah, sim. Agora podia se lembrar. Estava na casa de Remo Lupin.

CABLÉM!!!!

Um barulho na cozinha, resultado de pelo menos vinte panelas caindo ao chão e em seguida a voz muito ranzinza da vizinha de baixo amaldiçoando Lupin fizeram com que Harry acordasse de vez. Isso e a curiosidade de descobrir o que os membros restantes dos Marotos estavam fazendo a uma hora dessas da manhã.

Na cozinha, Remo Lupin sentava-se à mesa calmamente servindo-se de chá. Servindo-se não seria bem a palavra, na verdade a chaleira estava flutuando no ar e preenchendo a xícara com o líquido quente. O açucareiro, também animado, despejou algumas colheres de açúcar na xícara.

Harry tinha que se acostumar com esses utensílios vivos do mundo dos bruxos. A chaleira encurvou-se levemente, cumprimentando Harry, o que fez com que um pouco de chá caísse no chão.

- Ah! Bom dia Harry! - Lupin cumprimentou, sorridente. - Espero que tenha dormido bem.

Harry concordou com a cabeça.

- O que Sirius está fazendo?!?! - Harry acabara de perceber seu padrinho, quase dentro da geladeira, procurando alguma coisa.

Sirius não se incomodou em sair da posição em que se encontrava. De fato, até entrou mais dentro da geladeira.

- Acho que vi alguma coisa se mexendo aqui dentro... - grunhiu.

Os cabelos de Harry ficaram em pé. - Como é que é?!?

Lupin nem pareceu dar muita importância, na verdade, continuou tomando seu chá, como se Sirius tivesse dito apenas que o céu era azul, ou algo comum.

- Se descobrir o que é, mata. - foi a única coisa que disse.

Harry não sabia se ria ou se chorava com esse último comentário de Lupin.

- Haha! Achei!!! - Sirius exclamou, triunfante.

Alguma coisa verde e gosmenta atravessou a cozinha voando, indo chocar- se com a parede a meros centímetros de Snape, que desviara com um salto para o lado. Snape?

- De tudo que eu esperava achar aqui, devo confessar que isso não era uma das coisas que passara pela minha cabeça. - Snape sibilou, olhando a cena com uma expressão de nojo em seu rosto.

- Tecnicamente não passou pela sua cabeça, passou pelo seu lado, e você desviou. - Sirius sorriu.

Argh. Se as piadas de seu padrinho fossem continuar nesse calibre, Harry não tinha certeza que continuaria vivo por muito tempo nesse verão.

Snape limitou-se a um erguer de sobrancelha ao comentário de Black.

Lupin levantou-se de sua cadeira para cumprimentar o ex-colega.

- Bom dia Severus. O que o traz à minha casa? - Lupin sorriu, de modo sinceramente simpático, apesar das rixas com Snape alguns anos antes.

- E é um costume dos Sonserinos invadirem as casas sem ao menos bater, ou você é que inaugurou a moda? - Black emendou, encarando Snape.

Snape deu um sorriso de desdém. - Para começar, se eu tivesse batido à porta, ela teria caído, ou talvez até partido ao meio, a julgar pela situação aqui. - atirou para Sirius. - Quanto à sua pergunta, Lupin, Só vim para checar se o menino havia chegado aqui inteiro.

E desde quando Snape se preocupava com a situação de Harry? Harry pensou, uma de suas sobrancelhas levantada. Snape pareceu ler seus pensamentos, pois tão logo emendou;

- Apenas por ordens de Dumbledore. Confie em mim, nada me faria aparecer aqui por livre e espontânea vontade.

Por alguns momentos os três ficaram se encarando. Harry pensou que coisa boa não sairia daquele encontro. Mas então Snape apenas cumprimentou Lupin com um curto baixar de cabeça e deixou a casa.

- Apenas por ordens de Dumbledore. Confie em mim, nada me faria aparecer aqui por livre e espontânea vontade. - Sirius repetiu a frase de Snape em um tom muito falsete, fazendo caras e bocas. Depois disso começou a chamar Snape de tantos nomes que Harry tinha certeza que não conhecia nem a metade dos palavrões que seu padrinho estava usando.

Lupin sibilou para Sirius calar a boca, pois Harry ainda estava ali e não era muito bom exemplo de sua parte praguejar de tal maneira. Lílian possivelmente não iria gostar daquilo, se ainda estivesse viva, lembrou a Sirius, com seriedade e saudades dos amigos.

Sirius resolveu mudar o rumo da conversa para algo mais agradável, já que uma nuvem de constrangimento baixara na cozinha depois daquilo.

- Ah! Temos que chegar logo ao Beco Diagonal! Afinal, não temos o dia todo para fazer compras não é? - Remus olhou para Sirius com um ar confuso, e ele provavelmente notou, pois logo emendou - Bem, na verdade nós temos a tarde inteira à toa pra fazer compras... mas é sempre mais agradável sair de casa para dar um passeio, não é Harry? - Sirius deu um tapa amigável nas costas de Harry.

Remus suspirou.

- Bem, vamos lá então. Devo pegar a sua coleira? - acrescentou, com ar maroto.

- Não. - Sirius resmungou. Harry abafou um riso.

Lupin jogou um pouco de pó de flú na lareira, lançando um olhar para Harry, - Espero que dessa vez nada saia errado... - sorriu.

Minutos depois, o jovem Harry Potter acompanhado de seu ex-professor de DCAT e um enorme cão negro aterrissavam na lareira d'O Caldeirão furado.



Notas: Bom, e aê? Alguém gostou? Acha que dá pra continuar? Se pelo menos 2 pessoas lerem e acharem que deve ir pra frente, eu continuo, então, por favor, façam uma criticazinha, é só clicar em review, né?!!!