Capítulo 3 – Epílogo
O barulho do despertador tirou Trunks de um maravilhoso sonho que tinha com a esposa. Pan estava vestida com... Sorvete! Ela tinha o corpo todo coberto por sorvete de morango e provocava Trunks dizendo que ele não seria capaz de comer tudo aquilo. E que se ele conseguisse ganharia um prêmio... Bem, ele era meio-saiya-jin, comer era uma de suas melhores habilidades... Mas por que aquele maldito despertador tinha que tocar bem na hora que estava terminando?! Iria reclamar com a gerência do hotel... Onde já se viu colocar despertadores nos quartos...
Abriu um olho, esticou o braço e disparou contra o aparelhinho barulhento. O despertador explodiu em vários pedacinhos. Espreguiçou-se e rolou para o lado. Demorou um pouco para perceber que estava deitado no espaço onde Pan deveria estar.
"Pan?", chamou ainda de olhos fechados. Não obteve resposta. Talvez ela estivesse no banheiro. Concentrou-se e procurou pelo ki dela. Não sentiu nada.
Nervoso e preocupado, Trunks abriu os olhos. E deparou-se com um aposento que há semanas não via. Seu quarto no condomínio de luxo na Cidade do Oeste. Sentiu um frio na barriga. Não podia ter voltado...
Levantou-se e olhou tudo a sua volta. As coisas estavam exatamente como deixara antes de dormir naquela noite. Seu paletó usado estava pendurado num cabideiro de ferro perto do armário. Abriu a porta e foi para a sala. Estava tudo arrumado e impecável. A pasta em cima do aparador na entrada, como havia deixado.
"Não... Não pode ser...", murmurou, sentindo os olhos arderem e um nó na garganta. "NÃO!!", gritou, enquanto lágrimas escorriam por suas bochechas e seu ki se elevava drasticamente.
Correu até o banheiro e encarou o espelho. "Apareçam, suas bruxinhas! Apareçam agora! Eu exijo que me levem de volta! Eu exijo!".
Ao invés das imagens familiares das duas seenzen-jins, um outro ser apareceu no espelho. Era um ser masculino e devia ser alguém importante, por causa das vestes que vestia e dos ornamentos que usava.
"Olá, Sr. Briefs", disse o 'homem'.
"Eu quero voltar agora!", exclamou Trunks.
"Sinto muito, Sr. Briefs, mas isso não pode ser feito".
"Por que não?!", vociferou o saiya-jin. "Aquelas duas me mandaram pra lá uma vez, podem muito bem me mandar de novo... E quem é você afinal?".
"Eu sou Zeigen, líder dos seenzen-jins. E quero me desculpar pelo que minhas duas observadoras fizeram...", disse o ser.
"Se desculpar?", estranhou Trunks. "Não estou entendendo".
"Kyra e Aya usaram uma antiga magia em você, meu rapaz", respondeu Zeigen. "Uma magia poderosa capaz de fazê-lo sentir tudo a sua volta como real, mas na verdade, tudo não para se uma ilusão...".
"Quer dizer que...".
"Nada do que você viveu foi real, Sr. Briefs. Tudo não passou de um sonho".
Trunks sentiu como se tivesse levado um soco na boca do estômago. Nada fora real? Seus filhos não existiam? Pan, a sua Pan... Não era casado com ela?! Não podia acreditar... Como puderam ter feito algo assim como ele? Dar-lhe a oportunidade de experimentar uma vida nova, feliz e tirá-la dele no instante seguinte.
"Isso significa que não posso voltar...", concluiu Trunks. "Nada daquilo existiu".
"Aquelas coisas existiriam se você tivesse escolhido ficar com a jovem Pan, ao invés de ter rejeitado o amor dela", disse Zeigen. "Mas...".
"Mas...?", uma chama de esperança aqueceu o coração de Trunks.
"Você ainda pode ser feliz, Sr. Briefs. Basta seguir seu coração. Os fatos que viveu não foram reais, decerto... no entanto lhe deram uma mostra de que é possível ser feliz. Basta que...".
"Eu vá atrás de meus próprios sonhos", completou Trunks, entendendo a mensagem de Zeigen.
"Exatamente. Seu destino está nas suas mãos e cabe a você decidir como quer viver seus dias", respondeu o líder dos seenzen-jins.
"Obrigado, Sr. Zeigen. Já sei o que devo fazer".
"Não precisa agradecer, rapaz...", disse Zeigen, enquanto desaparecia. "E lembre-se: carpem dien!".
Carpem dien. Era uma expressão latina que queria dizer aproveite o dia, aproveite o momento presente... Trunks iria aproveitar o seu momento. Ia atrás de Pan e tentaria consertar a besteira que fizera a tantos anos atrás.
* * * * *
"Ah, tio Goten! Isso é tudo que você pode fazer?", perguntou Pa, entre risadas. "Você está ficando mole".
"Não estou mole, não!", defendeu-se Goten. "Você me pegou desprevenido!".
"Ha ha ha!", a moça riu com gosto. "Vou fingir que acredito nisso!".
"Ah, é assim, é?", o meio saiya-jin arregaçou as mangas, segurando com vontade seu controle do Play Station. "Vou acabar com você agora!".
Da cozinha, ouvindo a conversa entre o filho e a neta, Chichi balançou a cabeça. "Esses dois não mudam mesmo...", suspirou. "Será que nunca vão crescer?".
"Acho que você iria reclamar se eles crescessem também no espírito, Chichi", respondeu Videl, de seu lugar na pia.
As duas estavam preparando o almoço daquela bela manhã de sábado. Pan tinha chegado de mais uma viagem e iria passar uma semana com a família. Como a nova diretora executiva da Satan Incorporações, a filha de Gohan passava mais tempo viajando do que em casa.
Chichi sorriu, concordando com a cabeça. A nora tinha razão. As coisas seriam muito mais tristes se Goten fosse um adulto sério e responsável ou se Pan deixasse de ser a menina espevitada de sempre. Voltou a mexer o cozido na panela, pensando como aquele seria um dia feliz... Sua família estava toda reunida, com exceção de seu pai que falecera há alguns anos e de seu amado Goku, que partira junto com as esferas do Dragão e Shenlong. Sabia que ele tinha feito isso para proteger a Terra e seus habitantes, no entanto isso não fazia sua saudade diminuir.
Uma batida na porta chamou a atenção das duas mulheres. Um jovem negro, com um penteado que seria chamado de punk em alguns lugares do mundo, estava parado na soleira da porta da cozinha.
"Bom dia, senhoras!".
"Bom dia, Ubb!", cumprimentou Chichi, sorridente. Ela gostava muito do jovem que era a reencarnação do malvado Majin Buu e considerava-o como parte de sua família. Desde o desaparecimento de Goku, Ubb passara a freqüentar a casa, se tornando grande amigo de Goten e Pan.
"Vejo que cheguei muito cedo", disse ele, colocando os embrulhos que trazia em cima da mesa. "Trouxe alguns doces para sobremesa".
"Ora, Ubb! Não precisava!", protestou Videl, enquanto enxugava as mãos num pano de prato.
"Mas é um prazer ajudá-las, Sra. Videl", replicou o rapaz, sem parar de sorrir. "E onde está Pan?".
"Na sala... Jogando videogame com Goten", Chichi revirou os olhos, o que fez Ubb sorrir ainda mais. "Pode ir lá, meu querido. Fique à vontade".
"Obrigado, Sra. Chichi".
"Ele é um amor, não é?", disse a esposa de Goku, vendo o jovem se afastar. "Pena que Pan não esteja interessada nele...".
"Oh! Isso seria um problema, Chichi", comentou Videl, guardando as vasilhas de sorvete que Ubb trouxera. "Ele gosta da Marrom".
"É verdade?! Que maravilha!", deslumbrou-se a mulher mais velha. "Ainda bem que convidei Kurilin para vir almoçar!". Mas ela voltou a ficar séria. "Porém isso não muda o fato da nossa Pan não ter um pretendente sequer...".
"Pan diz que os homens fogem dela quando descobrem a força que ela tem", respondeu Videl. "Eu sei bem como é isso, pois passei pelos mesmos problemas na adolescência... Até conhecer Gohan". A bela mulher de olhos azuis sorriu, relembrando-se da juventude.
"Mas Pan não é mais uma adolescente! É uma mulher de 26 anos!".
"EI!! NÃO VALE! ISSO É ROUBO!", elas ouviram a referida 'mulher' gritar da sala. "Ubb! Não pode ajudar!".
"Acho que ela se esqueceu disso, Chichi", respondeu a mãe de Pan, rindo a valer. "Mas se quer saber de uma coisa, Chichi?", ela se voltou para a sogra. "Acho que Pan gosta de alguém... Às vezes eu a pego suspirando pelos cantos. Uma vez perguntei quem era o rapaz que fazia ela ficar tão melancólica...".
"E o que ela respondeu?", quis saber Chichi, interessada.
"Ela disse que era um homem muito especial, apesar de vê-la só como amiga...".
"Mas que canalha!", Chichi deu um soco na palma da mão. "Ah, se eu boto minhas mãos nesse cafajeste que faz minha pequena sofrer...".
Videl riu da sogra. Apesar de todas as coisas tristes que aconteceram na vida dela, Chichi tinha uma espirituosidade, uma espontaneidade difícil de se encontrar. Talvez apenas em Pan. As duas eram muito parecidas, que a própria Videl se assombrava.
Os outros convidados não demoraram muito a chegar. Kurilin, Dezoito, Marrom, Yamcha, Mestre Kame, Oolong e Puar logo se juntaram a Chichi, Gohan, Videl, Goten e Pan numa mesa armada no quintal, para que almoçassem ao ar livre, aproveitando aquela dia ensolarado.
"Pena que Bulma e Vegeta não puderam vir...", queixou-se Kurilin, enquanto se servia de uma boa porção de purê de batatas.
"É verdade...", concordou Gohan. "Você não conseguiu falar com eles, querida?".
"Vegeta, Bulma e Bra estão viajando", respondeu Videl. "O único que está na cidade é Trunks... Deixei uma mensagem com a secretária dele. Mas acho que ele não vem". Assim que a filha do Sr. Satan terminou de falar, Pan se ergueu, seguida por Goten e Ubb.
"O que foi, meu filho?", perguntou Chichi.
"Tem alguém se aproximando...", ele respondeu, olhando para o céu. "É um ki bem familiar".
Pan fechou os olhos e concentrou-se. Abriu-os de supetão e todos puderam ver a surpresa expressa em seu rosto. "É Trunks!", ela exclamou antes de sair voando.
"Hum... Agora sei em quem Pan está interessada", riu Videl.
"O quê!?", exclamou Gohan atônito.
"Nada, querido...", a esposa respondeu, depois de dar uma piscadinha para a sogra.
* * * * *
Trunks voava a toda velocidade em direção a casa de Gohan. Após a conversa que tivera com Zeigen, tomara um banho, se arrumara. Depois de voltas e mais voltas na cidade a procura de um presente perfeito, optara por comprar um buquê de flores. Recebera uma mensagem de sua secretária logo após sair do banho. Haveria um almoço de boas vindas para Pan na casa de Gohan e Videl. Por isso ele resolvera comprar um presente para levar.
A poucos quilômetros de distância de seu destino, sentiu um ki se aproximar. Não demorou muito e uma figura entrou em seu campo visual. Era Pan! Parou no lugar, sentindo o coração disparado. Repensou todas as frases que tinha ensaiado naquela manhã quando se encontrasse com ela. Tinha imaginado todas as reações ela teria, menos a que realmente aconteceu. Não esperava que ela voasse direto para seus braços e o abraçasse como se não houvesse amanhã.
"Trunks!", Pan exclamou, colada nele. "Que bom que você veio!".
Abismado, o homem ficou sem saber o que fazer. Afinal de contas, não falava com ela há oito anos, desde o bendito baile de formatura. E aquela não fora uma boa despedida. Desde então, evitava participar das reuniões que os guerreiros Z faziam, para não se encontrar com Pan... E agora ela o abraçava como se nada tivesse acontecido. Lentamente, mexeu os braços e retribuiu o abraço. Afastaram-se alguns momentos depois, e Trunks enrubesceu ao se lembrar dos momentos ardentes que passara com ela no sonho mágico que as seenzen-jins colocaram-no.
Sacudiu rapidamente a cabeça para se recompor, sentindo o olhar curioso de Pan sobre si. Fitou-a com carinho. Ela estava exatamente como na outra 'realidade'. Os cabelos negros estavam compridos e presos num rabo de cavalo e ela usava uma camiseta regata vermelha com uma calça jeans, que tinha um rasgo no joelho. Sua velha corrente estava presa na cintura, como de costume, e o toque final era dado pelas botas de treinamento. Se alguém dissesse a Trunks que a figura à sua frente era a diretora executiva da Satan Inc., Trunks teria rido a valer... Mas ele também não se vestia como um empresário. Estava usando uma calça baggy bege e uma camisa azul por baixo de uma antiga jaqueta da Corporação Cápsula. E calçava suas botas de treinamento.
"Pan... Eu... Bem...", ele tentou falar. 'Raios! Por que estou nervoso como um colegial? Eu sou um adulto, oras!', pensou ansioso. Viu a moça sorrir levemente. Ela estava achando graça dele! "Ah! Droga!", ele praguejou, corando fortemente. "Pode rir à vontade, sua baixinha!".
Pan não ligou para o insulto e gargalhou de bom grado. Logo Trunks se juntou a ela. A risada dela era algo contagiante. E os dois ficaram ali, flutuando no céu, rindo como dois malucos. Depois de respirar fundo e se recompor, Trunks se sentiu mais à vontade para falar. "Pan, será que nós podíamos conversar?", ele pediu.
"Claro! Aqui perto tem um lago... É um lugar bem tranqüilo. Podemos conversar lá se quiser".
"Mostre o caminho".
Os dois seguiram voando para uma região que Trunks achou um tanto conhecida. Quando pousaram à beira do lago, ele reconheceu o lugar. Eles costumavam ir muito ali, para pescar, treinar, conversar, ou simplesmente apreciar a vista. Era um lugar muito bonito. Pan notou o reconhecimento nos olhos azuis.
"Você se lembra...".
"Como eu poderia esquecer? Passamos ótimos momentos aqui...", ele sorriu para ela, que corou. Trunks ficou feliz ao perceber que ainda tinha o poder de fazê-la corar. Talvez as coisas fossem mais fáceis. Lembrou-se o buquê que comprara. Tirou-o de dentro da jaqueta e olhos para as flores amassadas.
"Eu devia ter vindo de carro...", resmungou, ao notar o estado das flores.
"Essas flores são para mim?", ela perguntou curiosa. Apesar da vontade de dizer que não, Trunks concordou com a cabeça. "Elas são lindas, Trunks. Obrigada", disse Pan, pegando o buquê das mãos dele.
"Mas elas estão tão...", ele fez uma careta, tentando achar um adjetivo que se encaixasse para aquelas flores amassadas e despetaladas. "Vou comprar outras...".
"Não precisa", ela o interrompeu. "Eu gostei".
"Sério?!". Trunks estava realmente se sentindo como um adolescente...
Pan riu. "Sério".
Os dois se fitaram, olhos azuis perdidos nos negros. Foi Pan quem quebrou o 'encanto'. "Você disse que queria conversar...".
"Ah, é! É sim...", ele sorriu sem graça, coçando a nuca. "Na verdade, eu queria mesmo era me desculpar... Eu agi como um idiota com você nesses últimos anos e...".
"Trunks. Esquece, tá?", Pan disse com firmeza. "Que tal começarmos de novo?".
"Do zero?", ele perguntou, com uma pontinha de esperança.
"Do zero", ela assentiu, sorrindo.
"Certo, então...", ele pigarreou, limpando a garganta. Depois estendeu a mão. "Oi, eu sou Briefs Trunks".
"E eu sou Son Pan", ela respondeu, retribuindo o cumprimento. "Prazer em conhecê-lo".
Um calor percorreu o corpo de Trunks quando ele sentiu a mão pequena dela apertada contra a dele. "O prazer é todo meu", disse em voz baixa, olhando-a direto nos olhos. Quase pulou exultante quando a viu ficar vermelha.
"Sabe...", ela abaixou os olhos, meio embaraçada. "Tem um almoço na casa do meu pai... Vários amigos da minha família estão lá. Gostaria de ir?".
"Eu adoraria", disse Trunks, sem tirar os olhos dela.
Os dois levantaram vôo juntos, de mãos dadas. Para Trunks, aquilo era um ótimo sinal. No final, tudo daria certo. Tudo acabaria bem. Como dissera Zeigen, ele mesmo era quem decidia seu destino. E se dependesse dele, passaria o resto de seus dias com Pan, pois ela era o seu destino.
* ~ * ~ FIM ~ * ~ *
N/A: Acabou! Adorei escrever esta história! Foi muito divertido. Deixou um gostinho de quero mais... Acho que vou escrever outro fic com esses dois... Trunks e Pan formam um casal tão bacana e tão legal de escrever. Com certeza, escreverei mais sobre eles! ^_^
Espero que tenham gostado da história. Mandem-me um e-mail (ou deixem um review) me dizendo o que acharam. Quero saber muito a opinião de vocês! Responderei a todos com enorme prazer!
Um grande abraço e até a próxima!
Andréa Meiouh
