A vida entre os trouxas
Eu fugi do Ministério e dos aurores
por quase 3 meses até eu conseguir achar um lugar em que eles não pudessem me
encontrar: Estados Unidos da América. Encontrei a cidade de Tulsa, em Oklahoma.
Era uma das poucas cidades que não tinham nenhum sinal de atividade mágica.
Mas eu estava tão perdido quanto um bruxo sobre Crucio.
Andei pelas ruas sem rumo. Minhas vestes negras de Death
Eater estavam sujas de lama, e eu chamava muita atenção nas ruas. Meu cabelo,
que costumava ser loiro, estava marrom de sujeira. Por sorte achavam que eu era
apenas um mendigo meio louco.
O que mais me interessava era saber como eles conseguiam
comprar coisas, eu estava morrendo de fome. Eu vi um lugar em que eles entravam
sem nada e voltavam com pedaços de papel verdes com rostos de pessoas na
frente. O que eu tinha que fazer era seguir algum deles e ver se aquilo tinha
algum valor para comprar comida ou qualquer coisa.
Uma moça de cabelos morenos claros e olhos verde escuro
entrou e eu fiquei a esperando pelo lado de fora. Ela saiu logo depois,
guardando os papéis no bolso. Comecei a segui-la sem nem disfarçar, e ela
pareceu perceber. Derrepente ela parou e se virou para mim, com um sorriso no
rosto.
"Olha, como você é um mendigo muito bonito eu vou te dar 20 doláres e você para de me seguir tá?" ela disse, me entregando a nota. Eu nem respondi. "Você podia dizer obrigado! Agora dá pra comprar comida para uma semana."
Não respondi, só saí correndo e
me enfinhei no primeiro beco que vi para verificar aquela nota esquisita. Pelo
jeito era com aquilo que eu ia pagar tudo. Peguei minha varinha e apontei para a
nota murmurando: Multipliquious. E logo eu estava com cem daquelas notas
em minhas mãos. Saí andando pelas ruas até achar um lugar que tivesse comida.
Achei um mercado e logo entrei. Comecei a pegar toda a comida possível e
colocar numa cesta. Quando eu terminei, respirei fundo fui pagar.
A mulher do caixa fez as contas e me disse o preço, dei
algumas notas para ela e fiquei esperando ver no que dava.
"Desculpe, moço... mas eu acho que essa
notas não são verdadeiras!"
"Como podem ser de mentira! Olha só: papel verde com cara de gente! Estão
perfeitamente bem!!!" eu gritei, agarrando a mulher pelo colarinho da
camiseta dela. Ela estava ficando desesperada.
A última coisa que lembro eram os policiais deles me arrastando para fora da loja. Eu tentava me soltar e pegar minha varinha, mas eles me seguravam forte. Derrepente, um rosto familiar: a moça que me deu a nota de 20 doláres. Fiz um escândalo para chamar atenção dela. Ela percebeu e veio correndo.
"Soltem ele, eu pago a fiança e deixem ele ir! Ele só é um coitado!" ela disse entregando mais daqueles papéis para eles. "Pronto, pronto." ela disse e chegou mais perto de mim. "Se metendo em confusão por aí não é bom. EU me chamo Clover. Clover Myers. E você é...?"
~***~
Depois daquele dia eu lembro que
ela acabou me levando para a casa dela. Ela confiou muito em mim. Nunca contei
de meu segredo para ela, nem quando ela perguntou da minha estranha tatuagem que
aparecia e desaparecia em forma de caveira com uma cobra saindo da boca.
Inventei uma história, e tudo acabou bem.
Comecei a aprender sobre os trouxas aos poucos, e até me
acostumei. E, obviamente, acabei começando a gostar de Clover. Ela era uma
trouxa até boa, não era bem o que eu pensava dos trouxas. Era exatamente o
contrário. No fim acabamos nos casando. Eu comecei a trabalhar como atendente
num mercado, até virar o dono do mercado mais bem sucedido do estado. Clover
pode parar de trabalhar como médica e pode começar a se empenhar na loja. Eu
ainda não tinha a mesma fortuna que antes (aquela vetada pelo ministério), mas
mesmo assim era um bom dinheiro.
Depois de 1 ano de casados tivemos a nossa única filha que
viríamos a ter. Tentamos ver se o nome de nossas mães combinavam, mas nenhum
deu certo. A minha mãe se chamava Narcissa e a dela Marieths. Então eu resolvi
dar uma mudada no nome de meu pai e ela ficou conhecida como Lucy. Tinha os
cabelos loiros e lisos como os meus e tinha os olhos verdes da mãe dela.
Quando eu cheguei em Tulsa eu tinha 21 anos, e agora eu já
estava com 28 anos e com uma filha de 6 anos. Tinhamos uma vida bem normal, se
é que eu podia chamar de normal. Lucy sempre fazia coisas "estranhas"
quando ficava brava ou triste. Eu sabia bem do que se tratava, mas eu não ousei
contar para Clover, ela ficaria extremamente irritada.
Achei que eu podia evitar tudo, e continuar com a minha vida
nova. Mas eu estava muito errado, e eu logo ia descobrir isso. E da pior maneira
possível.
~***~
Naquela manhã estávamos os três terminando o café da manhã, quando a campanhia tocou. Mas era diferente da de sempre, e eu sabia muito bem de onde vinha essa outra campanhia: da lareira. Eu tinha instalado "por via das dúvidas" e o que eu temia aconteceu. Continuei sentado, fingindo não estar ouvindo.
"Draco, a campanhia está tocando."
Clover insistiu, e eu me fingi de surdo. "DRACO!"
"Eu sei. Deixe ela tocar. Não estou afim de antender." eu respondi,
com a minha personalidade de sempre. Se tinha uma coisa que eu nunca perderia em
mundo nenhum era isso: minha personalidade. Eu ia carrega-la para sempre.
"Então eu atendo!" ela disse, e foi se levantar, mas eu a segurei em
sua cadeira.
"Se é assim, eu atendo." eu disse. Se eu ia ter que contar algo, ia
ter que ser agora. Puxei um quadro da cozinha para o lado e abri uma
pequena porta de madeira escondida. Clover pareceu confusa. Tirei minha varinha
do "compartimento secreto da parede" e comecei a me dirigir a lareira
da sala. Pus as mãos para trás, escondendo a varinha e me preparei para
liberar a lareira.
"Eu pensei que você fosse abrir a porta." Clover disse.
"E eu vou. E, por favor, não se assuste muito." eu disse, tentando
diminuir um pouco o impacto.
Liberei a lareira e 2 bruxos apareceram bem no meio da sala de estar. Clover e Lucy deram gritos, e minha filha correu para os braços da mãe. Eu encarei os dois. Um muito magro, um pouco mais baixo que eu e outro da minha altura. Eu conhecia os dois: cabelo preto e olhos verdes e cabelo ruivo e olhos azuis. Só podiam ser...
"Harry Potter e Ronald Weasley, que
surpresa." eu disse, no meu tom de voz habitual.
"Não precisa nos tratar com tanta frieza. Afinal, quem desapareceu foi
você, Malfoy." Potter retrucou.
"Você continua o mesmo. E você?" perguntei, olhando para o Weasley.
"Continua pobre como sempre?"
"Não venha com essas bobagens,Malfoy!" Weasley disse, com
impaciência. "Você-Sabe-Quem caiu já e como você fugiu foi considerado
inofencivo."
"Inofencivo, ahn?" eu perguntei, apertando a varinha que eu segurava
entre os dedos nas minhas costas.
"É, mas mesmo assim podemos prende-lo por qualquer outra coisa."
Potter acrecentou. "Como bons Aurores."
"Sim, sim... que seja." eu disse."Mas, afinal, o que vocês
querem comigo se eu sou inofencivo?"
"Bom... antes disso... por que não nos apresenta a sua família?" ele
perguntou, apontando para Clover e Lucy.
"Elas... não sabem de nada." eu respondi, com a voz baixa.
"Pois este é o momento certo para contar a elas. E, acredite, elas vão
precisar saber." Weasley disse, como soubesse de muita coisa.
"Sabe o que, Weasley? Tenho uma novidade: não vá se achando superior. Só
porque eu não sou mais um Death Eater não significa que eu não possa matar."
ele disse, e deu um sorrisinho, começando a se dirigir para a cozinha.
~***~
* Fim do Draco's POV, indo para 3a. pessoa*
"Meu papai é o dono da loja da família!" Lucy dizia
alegre para os dois estranhos como se os conhecesse a anos.
"Não, sério... isso é totalmente impossível." Ron disse e ficou
olhando Draco pelo canto dos olhos. Ele estava conversando com Clover na sala, e
ela não parecia animada.
Draco estava em pé a andava de um lado para o outro, tenso. Ele olhava para Clover com aquele olhar bravo e não conseguia deixar de sentir um pouco de nervoso. Ele respirou fundo e começou a explicar do começo.
"Eu... eles...ahn...nós... somos...bruxos."
ele disse, com pausas longas.
"E....?"
"A minha família não era exatamente da família dos 'mocinhos', entende?
E tinha esse bruxo super forte que...matava outros bruxos e..." Draco
olhava para os lados preocupado, tentando achar outra coisa que não fossem os
olhos da esposa para olhar.
"Pare de falar como se eu fosse uma criança e me explique isso direito! Se
você é um bruxo, então isso pode influenciar até na vida da sua própria
filha." Clover insistiu, batendo a mão no braço do sofá com força.
"Eu sei muito bem disso. Mas sabe, não é fácil contar tudo isso.
Especialmente quando eu preferia só esquecer toda essa história e continuar
com a minha vida normal." ele explicou. Ela lançou-lhe um olhar
ameaçador. "Mas se você insiste..."
Ron se levantou da cadeira rápidamente e foi até Draco com um sorriso malicioso. Ele chegou bem perto da orelha dele e murmurou em deboxe:
"Se borrando na frente da sua esposa, Malfoy?"
ele disse. Draco colocou a mão no bolso e tirou a varinha de dentro, apontando
diretamente para o nariz sardento de Ron.
"Cale a boca, Weasley. Diga mais uma palavra e eu não vou me arrepender em
dizer as duas palavrinhas mágicas." ele disse, e Ron recuou sem tirar o
sorriso do rosto.
"Draco e... você, carinha ruivo! Parem de brigar, porque eu estou querendo
algumas explicações, não cadáveres na minha sala de estar limpa!" ela
disse, apontando para Ron. "E você! Pare de provocar. Por que, pelo o que
eu percebi, o loiro aqui não ia pensar duas vezes antes de tentar te matar. Na
verdade..." ela virou o olhar para Draco. " Ele nunca pensa antes de
fazer nada, não é?"
Os dois ficaram calados, era incrível o poder que uma esposa tinha, mesmo sendo uma simples trouxa. Harry segurou o riso na cozinha, e quando Ron chegou lá mandou-o calar a boca. Draco suspirou.
"Entao agora eu acho que eu posso explicar." ele
disse, e começou. "Nós, bruxos, sempre nos mantivemos distantes do mundo
trouxa porque a aceitação não ia ser muito grande. E pela sua atitude já dá
para saber isso. Muito bem, existiu um grande bruxo chamado Voldemort. Ele
pregava que todos os humanos não-mágicos ou que vinham de famílias trouxas
não mereciam viver. Por isso ele criou um grupo de bruxos, os Death Eaters.
Eles matavam em seu nome.
"Mas uma vez um bebê simples conseguiu refletir o feitiço da morte,
quando Voldemort lançou-o sobre ele. Esse bebê saiu só com uma cicatriz em
forma de raio.Voldemort ficou desaparecido por 12 anos. Ah! E o bebê ele é
aquele idiota alí." Draco fez uma pausa, apontando para Harry, que
arrumava os óculos redondos que insistiam em descer quando ele abaixava a
cabeça um pouco."E a minha família, toda de sangue puro, era uma das
principais aliadas do Lord das Trevas. Ele recuperou suas forças quando eu
tinha 14 anos e, um ano depois, eu estava com a Marca Negra no meu braço. Foram
anos de luta, até que o Ministério da Magia descobriu sobre a minha família.
Perdemos tudo e começamos a ser caçados. Primeiro mataram minha mãe, e então
meu pai. E até hoje não sei quem foi esse auror anônimo."
Harry se revirou na cadeira em que estava. Draco virou para Clover. Ela parecia esperar algo mais, mas ele só deu de ombros.
"E aqui estou eu agora. Pelo que percebi o Lord das Trevas
caiu novamente e eles vieram desenterrar o passado na minha casa." Draco
terminou. Ron bateu duas palmas desanimadas. "Weasley!"
"Agora eu só quero saber se a Lucy vai ter algum..." Clover começou,
mas logo foi interrompida.
"O que foi doninha quicante?" Ron perguntou, rindo. Draco não
aguentou. Dois segundos depois estava na frente dele, o segurando pelo colarinho
das vestes e apontando a varinha bem para o meio da testa dele.
"Draco!" Clover exclamou, e foi até ele, tentando faze-lo soltar Ron.
Harry se manteve estranhamente indiferente. Ele só observava Draco, Ron e Clover brigando entre eles. Clover puxava o marido para trás, mas Ron insistia que podia aguentar qualquer feitiço que ele quisesse usar contra ele. Harry levantou da cadeira, pronto para pegar Lucy e leva-la para qualquer lugar longe daqueles loucos. Mas o que ele viu foi uma surpresa. Harry arregalou os olhos e sorriu para a menininha, e ela sorriu de volta.
"Vocês três!" ele chamou, mas eles não se preocuparam em olhar. Harry colocou a mão no bolso das vestes e tirou a varinha. Ele apontou para os três, e pigarreou. "Petricous Totallus!"
Draco, Ron e Clover tiveram os braços e pernas grudados ao corpo, e só não caíram no chão porque se apoiaram na parede ou (no caso de Ron) no sofá.
"Pra quê isso?!" Ron exclamou, e olhou para frente.
"Enquanto vocês brigavam a filha de vocês dois estava se mostrando bem
inclinada para a magia." ele disse, e foi um pouco para o lado. Lucy estava
parada de costas para a pia, e todas as portas e gavetas estavam abertas. Os
garfos, facas, colheres, panelas e qualquer coisa que fosse feito de algum tipo
de metal estava flutuando no ar. Ela mexeu a cabeça um pouco para o lado para
dar uma olhada ela mesma, e os objetos seguiram-a.
"Minha filhinha!!!" Clover quase gritou, e tentou abraçar a filha.
Draco por um instante sorriu, mas logo fechou a cara novamente. "Me solta
disso, por favor!" Harry desfez o feitiço rápido, e deixou que elas se
abraçassem. Quando elas se abraçaram todas as panelas caíram no chão fazendo
um barulho infernal.
"Agora, Malfoy... eu acho que está na hora de conversarmos exatamente
sobre o que viemos conversar." Harry disse, e foi até a sala.
Draco fechou a porta de correr branca que dividia a sala da cozinha. Ele guardou a própria varinha no bolso. Tudo isso sem mudar a expressão séria. Ron sentou em cima do encosto do sofá, esperando que Harry explicasse. E ele ia explicar.
"Voldemort caiu, Malfoy. Ninguém mais estava temendo que
ele voltasse, tanto que agora todos dizem o seu nome. Isso durou quase 3 anos,
mas agora recebemos alguns sinais de que ele ainda não esteja
morto." Harry disse.
"Por acaso ele é imortal?" Draco perguntou, levantando a sombrancelha
direta. Ron deu uma risadinha, mas logo parou ao ver a cara de censura do
próprio Harry.
"Parece que sim, mas ele não é. Só tem muita sorte. Mas isso não
vem ao caso. O que está acontecendo é que Voldemort está ganhando forças em
algum lugar, e nós não sabemos exatamente onde. Mas, o que sabemos, é que em
uma área no sul da França está impenetrável por ambos bruxos e trouxas.
Então nós estávamos imaginando se só os Death Eaters pudessem entrar. Ou
melhor, todos que tivesse a marca no braço." Harry acrescentou, apontando
para o braço direito de Draco. "E nós precisamos de um espião, alguém
que se infiltre e nos dê notícias do que fazer."
"E vocês logo pensaram em mim, não é?" Draco perguntou. Ele deu
alguns passos, e riu. Ron pareceu curioso. "Se vocês acham que eu sou
idiota, não sou. Para pensar logo em mim é meio óbvio que vocês querem
alguém suicida, que não tenha medo de fazer qualquer loucura para vencer.
Afinal, meus pais morreram... eu deveria estar sozinho no mundo, não? E para
vocês também não interessa se eu morra, ou se eu viva."
"Não é isso..." Harry tentou explicar, mas Draco o cortou no meio da
frase. Ele foi até bem perto de Harry.
"É bem isso, Potter. Mas eu tenho uma novidade para você: eu tenho
uma família. E que se não for pela minha esposa mandona o que eu vou dizer
agora vai ser pela minha filha: eu-não-vou!" Draco respondeu, com a voz
baixa.
"Muito bem." Harry disse e foi até a lareira, Ron o seguiu.
"Pois saiba que está casa foi protegida por anos e por muitos feitiços,
porque achamos que você gostaria de se vingar dele. Agora não vamos mais
protege-la, e não vai mais ser da nossa conta o que pode acontecer com
vocês."
Draco não respondeu, e nem mesmo olhou para eles quando desapareceram nas chamas verdes da lareira. Era muito óbvio. Eles não tinham aparatado porque a casa estava protegida. E ninguém tinha o perturbado porque ela era totalmente a prova de qualquer bruxo das trevas. Ele suspirou e abriu a porta da cozinha como se nada tivesse acontecido.
"O que eles queriam?" Clover perguntou, segurando a
filha no colo.
"Nada." Draco respondeu, seco.
~***~
A/N: Bom, por enquanto é isso! O próximo capítulo deve demorar um pouco mais para chegar, pq eu tenho outra fanfic para terminar um capítulo. Mas pode ter certeza que uma hora o capítulo 2 vai aparecer por aqui.
Ah! E obrigada pelos reviews! Eles significam muito para mim.
