Asas Falsas

Songfic. Angst. Yaoi/Slash. Título original da música: Fake Wings, da trilha sonora o anime .hack//SIGN.

Brilhe, radiante luz da manhã
Agora, no ar, a primavera está chegando

Os acordes do violão eram suaves, melancólicos. Sirius parou as cordas e devolveu às costas uma mecha dos cabelos longos, que teimava a cair-lhe pelos ombros, atrapalhando sua visão, e continuou a dedilhar delicadamente as cordas do instrumento. Os primeiros raios de sol da manhã vinham chegando, ferindo-lhe branda e lentamente os olhos, negros como a noite que tinha passado em claro. Parou novamente de tocar e levantou o rosto, protegendo a vista com as costas da mão, observando o sol cobrir vagarosamente as colinas, banhando tudo em uma luz morna e aconchegante, como a primavera, que estava chegando naquele dia, era, desfazendo as trevas da noite, frias e desoladas, como o inverno, que estava indo, era. Mas, quando esta luz chegou até ele, não se sentiu renovado como as estações. A tristeza que tinha se alojado em seu coração era forte o bastante, persistente o bastante, para ali ficar, não sendo expulsa nem pelo calor do dia que vinha. Sirius sabia o que aquilo significava. A desconfiança. As evidências. A traição. Não podia lutar contra o que achava estar certo. Não iria duvidar de si próprio, nem pelo enorme amor que sentia por ele. A única pessoa a derrubar o muro de amargura que construíra dentro de seu peito. Remo.

Doce vento que corre

Cantando pelas montanhas e vales

O vento fazia seus cabelos voarem, os fios castanho-claros se desalinhando pelo rosto cansado de Remo. Ele observava, aparentemente calmo, o doce pôr-do-sol, os raios alaranjados e róseos se derramando e sendo refletidos pelo lago, que, de tão quieto e cristalino, parecia um enorme espelho, a se desenhar por entre as infinitas montanhas que rodeavam o castelo da escola de magia e bruxaria. Seus olhos faziam o mesmo trabalho da água, podendo se ver o brilho dourado do sol neles, antes tão expressivos, a ponto de o envergonhar em tantas situações, agora tão vazios e sem vida, a mirarem a janela aberta do dormitório. Os pensamentos iam e vinham, embalados naquele vento. Porque não tinha forças de fazer o que era certo? Porque toda vez que tentava levantar a voz sobre o assunto que tanto o afligia, ela sumia? A resposta era óbvia em seu coração, mas sua razão não a podia aceitar. Imagine, sua honra derrotada e humilhada por um sentimento? Isso era o que acontecia, depredando cada vez mais sua estabilidade mental, o pondo a ponto de evitar qualquer aproximação de seus amigos. E dele. Principalmente. Não podia vê-lo, que disparava, na direção oposta. Fugir. Será que deveria o fazer? Se afastar dele. Justo ele. Porque, Sirius?

Mantenha seus olhos em mim

Agora estamos na margem do inferno

Os olhos castanhos e negros se cruzam, os livros fazem um estardalhaço no chão de pedra do corredor. Paralisados, presos, assustados, desesperados, apaixonados. O ritmo dos dois corações era enlouquecedor, parecendo que poderiam ser ouvidos. Os dois meninos, um de frente para o outro, centímetros os afastando. O resto do corredor, vazio. Desta vez não tinha platéia. As vontades de abraçar um ao outro eram latejantes, igual à desconfiança que brigava no coração de ambos pelo espaço. Por fim o último ganhou. Cada um se desviou, com o semblante frio e foram seguindo seus respectivos caminhos.

Querido amor, doce luz da manhã

Espere por mim, você foi muito longe, muito mais longe

Ao ver a cena, Remo teve certeza do que mais temia. A rua devastada, os amigos mortos e ele ali. Parado. Rindo, ainda por cima. Rindo não, gargalhando. Inocentes sacrificados. Sirius no meio de tudo, ensandecido. O choque tomou conta do corpo de Lupin e ele caiu, ajoelhado no chão. Seu mundo desabou.

Fim