A tarde passou veloz. Hana não tinha muito o que fazer, então, após arrumar as flores que trouxera, sentou-se fora da cabana, em um pequeno tronco caído, e ficou observando Soujiro, que treinava com sua katana.
Depois de muitos golpes, ambos se recolheram, fizeram a última refeição do dia e foram se deitar.
A jovem pegou rápido no sono enquanto Soujiro ficou quieto, sentado próximo à janela e com o olhar voltado para um céu muito estrelado.
O cheirinho de comida pronta começava a invadir o quarto de um jovem ainda meio sonolento.
"- Nossa, você acordou cedo, hein?!" - dizia o rapaz, tentando proteger os olhos da claridade.
"- Hai!" - Hana estava bem disposta e bem mais animada - "- Eu disse que iria ajudar, então tenho que começar desde cedo!"
Soujiro apenas olhava para o entusiasmo da menina que colocava o seu café da manhã sobre uma mesa.
O decorrer do dia não foi muito diferente. Depois de preparar o almoço e limpar toda a cabana, Hana foi ao rio, próximo à clareira, tomar um banho.
A jovem voltava para o seu novo e temporário lar quando um som desviou sua atenção. Seriam cavalos? E minutos depois ouvia-se vozes:
"- Vasculhem tudo. Ela não pode ter ido muito longe. O senhor Tsukishiro a quer viva. Rápido!"
"- Droga, por que eu coloquei esse kimono de novo? Assim eu não vou conseguir chegar na cabana a tempo. NÃO! Eu não posso voltar, assim eu vou colocar Soujiro-sama em perigo e ele não tem nada a ver com isso." - Hana tentava achar uma solução - "- Mas eu tenho que devolver as roupas ." - e olhava para o Gi e a Hakama que tinha em mãos.
"- Vamos! Não temos o dia todo! Ainda temos Kyoto para procurar. RÁPIDO!" - o som ficava cada vez mais alto e a jovem ia se desesperando ainda mais.
As pernas já não respondiam ao comando "CORRA" e a menina permaneceu imóvel sem decidir se voltava para a cabana ou se ia embora de vez. Ela não podia colocar um rapaz, que a ajudou tanto, em perigo sem ele ter qualquer envolvimento direto.
Com uma velocidade surpreendente, Hana foi levada.
"- Pronto, está acabado. Eu vou ter que me casar com aquele monstro." - e a jovem começou a chorar e soluçar descontroladamente.
"- Calma, donzela! Por favor, não faça barulho."
Assim que a menina abriu os olhos, ainda úmidos de lágrimas, já estava em uma outra parte da floresta que não conhecia. Soujiro estava com uma das mãos em sua cintura e a outra tampando sua boca.
"- Aqui eles não vão te encontrar! Fique clama." - e o rapaz lhe sorriu.
Hana tremia, mas não tinha a menor intenção de desobedecer as ordens do jovem. Ela se agarrou à manga do Gi de Soujiro e ficou completamente muda até que o som dos capangas de Tsukishiro Takashi fossem inaudíveis.
A menina tentava controlar algumas lágrimas que começavam a cair devido ao nervosismo. Suas mãos ainda estavam trêmulas e a jovem ainda não tinha forças para se levantar.
"- Pronto, o pior já passou. Eles devem ter ido para Kyoto." - o rapaz se levantava e estendia a mão para ajudar Hana, que com muita dificuldade fez o mesmo.
Depois de se recuperar, a jovem começou a falar tão rápido que Soujiro até se assustou:
"- Eu não posso ficar aqui. Eles não vão desistir, eu tenho certeza disso. Desculpe, fiz você correr perigo sem ter qualquer envolvimento em toda essa história. Acho melhor eu me esconder em outro lugar. Obrigado por tudo, mas não posso continuar aqui. Não é justo fazer isso com você, você me ajudou tanto."
"- Não vou deixar que a donzela saia daqui sem a minha companhia. Concordo que esses capangas não irão desistir tão fácil, mas de uma coisa eu discordo: a partir do momento em que eu te ajudei naquela noite, passei a estar envolvido em toda essa história. Não é justo que EU te abandone agora."
Hana ainda tinha um rosto triste, mas, depois de ouvir suas palavras, a única coisa que pôde fazer foi sorrir em agradecimento.
"-Eu não queria que isso estivesse acontecendo. Me desculpe!"
"- Mas não é sua culpa!" - o jovem sorriu e começou a caminhar de volta para a cabana. A menina ia atras com a cabeça baixa e um sentimento de culpa lhe perturbando.
O almoço foi silencioso. À tarde, como de costume, Soujiro pegou sua katana e começou o seu treino. Hana não dizia nada, apenas observava o rapaz com seus golpes leves e certeiros. Até que uma idéia lhe passou pela cabeça.
Horas depois, o jovem sentou ao lado da menina.
"- Amanhã bem cedo, vamos para Aoiya." - Soujiro parecia já ter traçado um plano - "- Troque o seu kimono pelo Gi que lhe dei. Assim ficará mais fácil se esconder."
A menina consentiu silenciosamente. No jantar também não tiveram grande assunto. Ambos concordaram em se deitar bem cedo, para que no dia seguinte estivessem de pé antes que o sol tivesse saído por completo.
A jovem tinha o costume de, antes de ir para o seu quarto, ver se tudo estava devidamente fechado. Passando pela porta do quarto de Soujiro, viu que a janela estava aberta demais para uma noite um tanto fria. Sem fazer som algum a menina entrou e com muito cuidado, fechou a janela. Quando saía do quarto, um brilho chamou sua atenção. A katana do rapaz estava em pé, ao lado do jovem.
Hana se aproximou cuidadosamente para ver a espada mais de perto. Não conseguindo conter a curiosidade, pegou com muito cuidado e desembainhou a arma. Era extremamente pesada. A menina tentou fazer um dos golpes que vira Soujiro praticar, mas quase deixou a katana cair no chão. Com medo de que um acidente pudesse acontecer, ou talvez que o rapaz acordasse, a jovem embainhou a espada e, depois de colocar no mesmo lugar, se retirou do quarto.
Era melhor ela não saber, assim não se sentiria tão constrangida. O menino, que estava encostado na parede ao lado da arma, vira todos os movimentos de Hana sem ao menos precisar abrir os olhos. Quando viu que ela já havia deixado o quarto, sorriu.
O sol ainda não tinha saído, mas Hana já estava com o Gi e Soujiro arrumava as últimas coisas antes de deixarem a cabana.
Os longos cabelos da jovem eram difíceis de disfarçar, o máximo que pôde fazer fora prende-los, com uma fita branca, no alto da cabeça.
"- Ai... já chega, eu não agüento mais, vou procurá-lo!" - uma jovem de vinte anos parecia muito impaciente.
"- Acho que ele não quer ser atrapalhado!"
"- Mas... mas..." - sem encontrar qualquer argumento, a menina virou as costas e saiu assim mesmo.
"- Essa menina... Quem irá se render primeiro?" - o senhor pensava consigo.
O coração batia forte. O nervosismo era praticamente incontrolável. Com mais de dez homens a procura de Hana, era muito difícil da menina ficar mais tranqüila. O fato de estarem fugindo a deixava mais nervosa ainda.
"- Se a donzela ficar com essa culpa, irá se sentir ainda pior." - Soujiro observava a expressão da menina que olhava desolada para o chão.
"- Oro? Ah, sim..." - a jovem tentou esboçar um sorriso.
Correndo e pensando numa boa desculpa para as suas ações...
"- O que eu vou falar pra ele? Hum... Oi, eu vim saber se precisa de algo! Não... Já sei! Eu achei que você pudesse estar sozinho e vim lhe fazer companhia. Hum... também não! E que tal... Posso ficar aqui também?"
Seus pensamentos foram interrompidos por um encontrão.
"- Ai! Desculpe, desculpe!" - a jovem de vinte anos se curvava.
"- Ai... tudo bem..." - Hana tinha ido ao chão devido a violenta batida.
Soujiro estendeu a mão para levantar a menina.
"- Você está bem?" - o rapaz perguntava com um sorriso no rosto.
"- Hai, arigatou!"
"- Hum... essa voz..." - a outra jovem, que corria, agora olhava quem estava à sua frente - "- Você?! Mas... mas... O que você tá fazendo aqui?" - rapidamente suas kunais já estavam preparadas.
"- É bom te ver também, Misao-san." - e Soujiro mantinha o sorriso no rosto.
"- O que ela vai fazer?" - Hanna perguntava baixo atrás do menino, com um olhar assustado.
"- Nada. Ela está me dando as boas vindas, não é?!"
"- Que boas vindas, que nada! Você não devia estar aqui."
"- Eu também não gostaria de estar aqui nas condições em que estamos." - Soujiro olhava agora para Hanna que parecia triste. "- Acho que tenho uma idéia melhor... Misao-san, acho que temos que conversar. Precisamos de sua ajuda. Por onde anda Aoshi-san?"
"- Aoshi-sama!" - exclamou a menina dando um salto. "- Eu vou chamá-lo, acho melhor vocês irem para Aoiya. Pelo menos lá têm pessoas para ficarem de olho em vocês."
Soujiro sorriu e continuou o caminho, Hana corria atrás do jovem.
Um alto assubiar pôde ser ouvido. Misao já avisara aos integrantes da Onniwabanshu.
