Kuro chegou com as compras nas mãos e novidades, que escutara no mercado, pra contar. Ao ver que haviam convidados, o homem fez uma reverência, meio desajeitada, e começou a arrumar as compras, contando o que ouvira
"- Vocês estão sabendo da última? Tem um exército de vinte homens rondando Kyoto atrás de uma menina... eles estão oferecendo até uma recompensa pra quem levar a garota até Ishido."
"- É mesmo... e como é essa menina, Kuro?" - Misao sustentava um olhar curioso para o homem que ainda arrumava as mercadorias. Kaoru olhava preocupada para Hana, que agora perdera o rosado das bochechas por completo.
"- Na verdade eu não sei... Não prestei muita atenção na foto." - o homem parecia despreocupado.
Kuro ainda não tinha reparado em quem estava na cozinha exatamente. Não notara a presença de Hana. Afinal, todos do Kenshin-gumi eram conhecidos, mas Hana era uma completa estranha.
"- Foto? Como assim foto?" - Megumi já estava com Kenji nos braços tentando fazer o menino tomar o leite, já que Kaoru não conseguira fazer tal trabalho.
"- Foto, oras... Estão espalhando pela cidade fotos da menina. Assim fica mais fácil de acharem ela." - ao ouvir tais palavras, Hana se levantou e saiu da cozinha.
"- Onde você vai?" - Misao se levantou rapidamente e correu em direção à jovem que agora estava parada em frente ao restaurante, olhando fixo para o chão.
"- Me faça um favor, Misao-san?" - sua voz era fraca.
"- Pode falar."
"- Diga 'Adeus' e 'Muito obrigado' ao Soujiro-sama, está bem?"
"- Do que você tá falando? Você acha que vai aonde?" - Misao gritava com a jovem que permanecia com a face voltada para baixo.
"- Eu vou voltar... Vou para Ishido. Já era demais colocar o Soujiro-sama nessa confusão. Não é justo com vocês também... Acho melhor eu ir embora." - uma lágrima caiu dos olhos de Hana, deixando uma pequena mancha no chão.
"- Não... você não pode. Soujiro veio até aqui, provavelmente, para pedir ajuda e é assim que você vai retribuir? Ele se importa com você, te ajuda a fugir, tenta te proteger e é assim que você agradece?!" - Misao gritava com a menina que já havia se afastado um pouco do Aoi-ya.
"- Onde a donzela pensa que vai?" - era Soujiro que saia do restaurante com um sorriso na face e uma voz tranqüila.
"- Hã?!" - Hana congelara. - "- Hum... eu vou voltar para Ishido. Vou acabar com isso. Se eu me casar logo com ele, todo esse sofrimento termina." - agora a jovem não conseguia controlar as lágrimas.
"- Do que você tá falando?"
"- Eles estão oferecendo recompensa pra quem me achar... Não posso mais ficar aqui. Sei que, se descobrirem que vocês me ajudaram, nunca mais terão sossego. Vou voltar e me casar com ele. Eu não agüento mais viver fugindo..." - as lágrimas vinham incontrolavelmente - "- Não quero viver assim pra sempre."
"- Então você prefere se casar com alguém que você não ama?" - o samurai olhava fixo para Hana.
"- Não é isso! Você sabe que eu não quero me casar com ele, mas eu não posso viver fugindo pra sempre!"
"- Concordo, mas se você desistir de lutar e voltar agora, todo sofrimento de sua família terá sido em vão, eles preferiram a morte a entregar o daimyo a Tsukishiro. Você pretende entregar tudo para ele, de graça? É assim que pretende resolver o problema?"
"- Não... não é assim..." - Hana soluçava desesperadamente e, virando-se para a entrada do restaurante, viu o jovem samurai em pé, próximo a Misao que permanecia muda, frente àquela cena. "- Me ajuda... me ajuda, por favor... Eu não quero que isso aconteça... Não quero entregar o daimyo."- Hana corria em direção ao menino e o abraçava forte.
"- Vai dar tudo certo. Aconteça o que acontecer, vai dar tudo certo!" - meio sem jeito, Soujiro passava as mãos pelos cabelos da jovem.
A cena não durou muito tempo, sendo interrompida por Aoshi, Kenshin e Yahiko que vinham saindo do restaurante.
"- Comovente... agora, acho que temos algo a fazer, certo?!"
"- Tem razão, Aoshi-san." - Soujiro colocou as mãos sobre os ombros de Hana e, calmamente disse:
"- Não tente fugir novamente. Eu não vou te abandonar, tudo isso vai terminar e o daimyo será seu. Você não vai precisar se casar com ele, acredite em mim, está bem?"
"- Eu acredito..." - a jovem sorriu timidamente.
Uma sala grande, cinza e fria abrigava um homem de traços severos e olhar profundo. Takashi Tsukishiro era um jovem de aproximadamente vinte e quatro anos, cabelos castanhos e olhos âmbar.
"- Senhor Tsukishiro, já espalhamos fotos da senhorita Hana." - um dos soldados entrava na sala e se punha em uma reverência.
"- A incompetência de vocês me irrita. Como podem levar tanto tempo pra achar uma garota. Ela só tem dezenove anos, como vocês podem ser tão imprestáveis." - o homem se mostrava bem insatisfeito com as ações de seus subordinados.
Takashi levantou-se e começou a caminhar pela sala, deixando pra trás uma grande mesa de madeira negra e talhada com alta precisão. De repente, parou à janela e notou uma pequena movimentação: cinco cavalos, com seus cavaleiros, estavam parados à porta da casa, e mais três soldados se aproximavam, parecendo discutir algo.
Cinco minutos depois, a porta da sala se abriu e os três soldados que Takashi vira entravam na sala com expressões animadas.
"- Senhor, temos informações de que quatro pessoas avistaram a Senhorita Hana." - um deles se apressou em dar a boa notícia.
"- Hum... está começando a ficar melhor..." - agora Takashi mostrava um sorriso frio no canto da boca. - "- E quando virão com a menina?!"
"- Eles devem chegar amanhã, senhor!"
"- Está bem... estão dispensados..." - o homem agora se mostrava estranhamente satisfeito com a notícia.
Os soldados se retiraram. Takashi voltara para sentar-se à mesa, mas resolvera levantar-se e deixou a sala.
"- Naoko, minha cara, como andam os preparativos para o casamento?" - Takashi entrava em uma sala não muito grande e amontoada de roupas e outros enfeites, talvez para a festa.
"- Tudo sobre controle, senhor Tsukishiro." - uma mulher de traços frágeis estava escondida por trás de um longo vestido branco. - "- Estou terminando os últimos retoques para o vestido. Assim que acabar, tudo estará pronto e... só faltará a noiva."
"- Não por muito tempo, Naoko, não por muito tempo." - e o homem caminhava em direção a porta soltando uma gargalhada gelada. "- Por que ela deixa tudo tão complicado?" - e deixou a sala. Os passos firmes podiam ser ouvidos a uma larga distância.
"- Tá bem... então esse é o plano de vocês, né?!" - Misao se levantava energicamente.
Todos da Oniwabanshuu e do Kenshin-gumi ouviam atentamente ao plano que Aoshi, Kenshin, Yahiko e Soujiro traçaram.
"- Espero que dê certo. Não podemos nos dar ao luxo de perder, em uma posição tão perigosa."
"- Kaoru, você quer deixar de ser pessimista!" - Megumi repreendia a jovem.
"- É verdade... não podemos ser pessimistas. Sei que tudo dará certo." - Hana tinha um brilho nos olhos.
"- Ela está certa... acho que precisamos fazer os últimos preparativos. Vamos..." - Soujirou se levantou, seguido por Kenshin. - "- Aoshi-san vai ficar para cuidar de vocês."
"- Tome cuidado, viu, Kenshin?" - Kaoru olhava preocupada para o marido.
"- Não se preocupe." - o samurai se aproximou e deu um beijo terno na fronte da jovem.
Aquela troca de carinho fez algo dentro de Hana despertar. Sem notar, um sorriso veio a face da menina, mas rapidamente tratou de esconder. Talvez aquele não fosse o momento adequado para se falar sobre sentimentos.
