Kenshin e Soujiro aprontavam uma carruagem para que pudessem chegar em Ishido enquanto Yahiko separava tudo que iriam precisar.
"- Onde está Misao-san?" - Soujiro perguntava com o habitual sorriso no rosto.
"- Ela estava com Hana-dono. Estava se preparando para partirmos." - Kenshin respondia terminando de colocar algumas coisas na carruagem.
"- Já está quase tudo pronto, acho que em meia hora podemos partir, ao amanhecer estaremos chegando no han."
"- Soujirou-san, acho muito nobre o que você tem feito por esta donzela. Fico feliz em poder conhecer o Soujirou de agora e ver que não se parece nem um pouco com o assassino, exceto pelo sorriso." - Kenshin sorria para o jovem.
"- Hai, mas... Isso é o que eu mais quero mudar... Não sei o que sinto, não sei como reagir quando..." - como se houvesse despertado, Soujiro se calou.
"- Oro?" - Kenshin não esperava ouvir uma confissão, então preferiu não puxar assunto.
""- Atrapalho?" - Hana aparecia à porta e sorria para os dois espadachins. - "- Misao-san já está pronta."
Fazia muito tempo que alguém não via Misao com seus cabelos livres da trança que usava, mas naquele dia era um motivo especial. Misao vestia o seu uniforme da Oniwabanshuu mas usava os cabelos completamente soltos.
"- Onde tá a minha manta? Mas que droga..."
Enquanto a jovem procurava por uma manta com o capuz, dentro de um grande baú, não reparara que alguém entrava no quarto.
"- Procurando isso?" - Aoshi deixava a manta cair em frente à ninja.
"- Hã?! Ah, arigatou Aoshi-sama." - Misao pegou o pano e, se olhando no espelho, ajeitou a roupa, vestiu a capa, arrumou o cabelo e colocou o capuz. Seu rosto ficou completamente coberto.
Observando a jovem se arrumar, Aoshi pôde recordar alguns momentos que passara perto da ninja. Ensinara muitas coisas a ela junto aos companheiros da Oniwabanshuu. Mas algo, de alguma forma, o incomodava. Misao estava crescendo e Aoshi podia ver isso. Isso não era ruim, era? E todo aquele carinho que a jovem nutria pelo ex-okashira, será que tudo era apenas uma ilusão? Não, não era e Aoshi sabia disso. Talvez Misao também soubesse de seus sentimentos, mas ouvir as palavras vindas diretamente dele não seria algo ruim.
Quando Aoshi acordou de suas lembranças e pensamentos, viu que a menina o observava perguntando:
"- Aoshi-sama, você está bem?"
Nesse momento, Aoshi pôde enxergar a mesma garotinha de cinco anos de idade e pôde ouvir: "Aoshi-sama... Aoshi-sama..."
Sem qualquer reação exagerada, Aoshi se voltou em direção à porta do quarto e parando, ainda com a face no sentido contrário, disse:
"- Tome cuidado e boa sorte..." - e o ex-okashira deixou o quarto de Misao.
"- Aoshi-sama..."
Hana estava sentada na varanda do restaurante observando os últimos preparativos. De repente Misao apareceu.
"- Já tá tudo pronto?"
"- Quase tudo." - Kenshin sorriu.
Vendo que Hana tinha uma expressão preocupada na face, Misao se aproximou e sentou ao seu lado.
"- Não se preocupe, ele ficará bem..." - a ninja sorria.
"- Oro?" - agora sua expressão era confusa.
"- O Soujiro-san. Ele vai ficar bem..."
"- Hum..." - por um momento Hana parecia meio sem graça - "- É que... É que eu me sinto culpada por tudo que está acontecendo. Eu me arrependo de ter fugido de Ishido, agora estou colocando todos vocês em perigo."
"- Não diga uma coisa dessas..." - Misao olhava nos olhos de Hana - "- Você se arrepende de ter conhecido o Soujiro-san?"
"- Iie... claro que não!" - agora Misao pôde ter certeza de ter visto a jovem corar.
"- Então não se arrependa... Ele é forte e vai voltar."
Hana não deu uma palavra, apenas sorriu em resposta.
"- Vamos, Misao-dono, já está tudo pronto." - Kenshin se aproximava da varanda - "- Hana-dono, cuide-se."
Misao se levantou e entrou na carruagem, Yahiko entrou logo depois seguido por Kenshin.
"- Tudo vai dar certo, não se preocupe." - Soujiro pegou na mão da menina e pôde senti-la úmida pelo suor.
O jovem também não entendera sua atitude.
"- Se cuide." - Hana soltou o cabelo tirando a fita branca e a amarrou no punho do rapaz - "-Volte, está bem?" - a jovem sorria, porem duas lágrimas brotavam de seus olhos.
"- Hai." - o sorriso do espadachim era constante.
Logo que Soujiro entrou na carruagem, esta partiu rumo a Ishido.
Hana ainda ficou ali, sentada, observando a carruagem se afastar. Novas lágrimas brotavam dos belos olhos esmeralda da jovem. Uma brisa jogou seus cabelos para trás. De repente um choro tirou sua atenção do ponto onde a carruagem havia sumido.
Kaoru estava parada à porta de Aoi-ya com Kenji nos braços.
"- Por que ele está chorando?" - Hana dizia com compaixão e passando suas mãos pelo rosto para secar suas próprias lágrimas.
"- Ele está meio inquieto, mas eu te faço a mesma pergunta. Por que você está chorando?" - Kaoru parou perto da jovem.
"- Eu sei que não vai adiantar pensar dessa forma, mas mesmo assim eu ainda me sinto culpada. Vocês estão correndo perigo por causa da minha teimosia..." - os olhos da menina voltaram a marejar - "- Se papai ainda fosse vivo... mas, mas aquele monstro... Ele me tomou tudo. Perdi minha família, perdi minha liberdade e ele tentou tomar minha felicidade também..."
"- E acho que foi absolutamente certo você ter fugido. Deixe-me contar um segredo: você não podia ter caído em melhores mãos. Apesar de conhecer o passado de Soujiro Seta, acho que ele seria incapaz de fazer algo a você, entende..."
"- Oro?"
"- Ele parece ter um carinho especial..."
"- Carinho... Carinho..." - Hana repetiu essas palavras para si num sussurro.
"- Falei algo errado?"
"- Iie, claro que não. É que eu tava pensando... Nunca amei alguém... Nunca me apaixonei por uma pessoa de verdade, e nem pensava muito sobre o assunto... Papai não tinha filhos e me ensinava tudo sobre como cuidar do han então nunca tive muito tempo, nem dava muita atenção aos filhos das amigos de meu pai... Ele também aproveitava e me tratava como se fosse o filho que ele nunca teve..."
"- Então você tem dezenove anos e nunca se apaixonou por ninguém?"
"- Iie."
"- Mas... Bom, a forma como vocês... Sabe, você... ele..."
"- Oro?"
"- Nossa, você parece o Kenshin... Você e o Soujiro-san pareciam bem... próximos."
"- Hã?!" - mais uma vez Hana corara.
"- Hum... Acho que me enganei, mas agora estou começando a entender o que se passa na sua cabeça..."
"- Como assim?"
"- Você está sentindo alguma coisa... Uma sensação boa, mas que você não consegue saber o que é, não é isso?"
"- Hai..." - Hana parecia surpresa com as palavras de Kaoru.
"- Então tudo muda! Acho que você está começando a se apaixonar..." - e sentindo que Kenji parecia impaciente, resolveu entrar - "- Já está ficando frio e tá anoitecendo rápido, acho que você devia entrar também."
"- Apaixonar... Isso é paixão?" - Hana se perguntava em voz baixa olhando para o infinito.
