Um mês se passara desde a reunião da Ordem. E Harry voltara a ser feliz. Freqüentava as aulas normalmente, é claro. Foi a outras reuniões da Ordem e já havia se acostumado com isso. As maiores mudanças foram no quadribol. Agora, o time se reunia no mínimo três vezes por semana para treinar o novo goleiro: Rony. Este, quando soube que seria goleiro, ficou histérico. Comemorou tanto que Hogwarts inteiro ficou sabendo da novidade. E depois disso, ficou treinando sempre que podia. Agora, passado a excitação inicial, ele passara a treinar apenas junto com o time. Rony ainda ganhara uma Comet 260 dos irmãos Carlinhos e Gui. Fred fora escolhido capitão do time e Jorge parecia conformado em ter o irmão como capitão. Porém, todos desconfiavam que eles se revezavam durante os treinos.
- Bom pessoal! Hora de descer!- Fred gritou e o time desceu e se reuniu no campo.
- Foi um ótimo treino! Ótimo mesmo! Rony está quase pronto. Só falta treinar um pouco nos pênaltis. Seria bom, Rony, se você ficasse mais meia hora com as artilheiras, treinando. Pode?- Fred falava sério quando o assunto era quadribol. No início, isso fora motivo de piadas, mas agora eles já haviam se acostumado. Rony concordou com o irmão em ficar mais um pouco. Harry voltou para o castelo. Tomaria um banho e ficaria com a Mione na biblioteca.
Quando Harry estava se aproximando do Salão da Grifinória, ele escutou uns sussurros que vinham de dentro de uma sala. Harry tentou não se importar, porém parou quando percebeu que era a voz do Malfoy. Estranhou, afinal as masmorras não eram daquele lado. Ele deveria estar aprontando alguma. A porta da sala estava entreaberta e Harry resolveu olhar. Antes de espiar, Harry se certificou que havia uma armadura no corredor, logo poderia se esconder atrás desta, se precisasse. Olhou, então, pela fresta da porta e viu que Malfoy não estava sozinho, mas não conseguia identificar que estava com ele. Só sabia que o vulto era de uma mulher. Os dois estavam se beijando. Harry, no primeiro momento, sentiu vontade de rir. " Como alguém tem coragem de beijar o Malfoy?".Mas, logo em seguida, pensou que ele nunca havia beijado. Pensou também em Cho e como gostaria de estar com ela. Veio também a imagem de Gina, que foi interrompida por outro pensamento- " O que eu estou fazendo aqui? Não deveria estar aqui bisbilhotando!" Porém, quando ele ia sair, ele escutou uma outra voz familiar.
- Draco, eu tenho que ir...- " Engraçado...essa voz se parece com a da Gina..."- pensou. Mal teve tempo de achar que era impressão dele quando Draco falou.
- Não vá Ginny... fique comigo um pouco mais.
Harry sentiu como se uma faca tivesse cortado todo o seu abdômen. Seu estômago revirava e tinha a impressão que iria vomitar. Seu coração estava batendo rapidamente e o sentia pulsar na altura da sua garganta. Sentia-se mal por ver que Gina estava com alguém. E muito mais por esse alguém ser DracoMalfoy. Queria sair dali o mais rápido possível, mas as suas pernas pareciam não o obedecer.
- Draco... meu irmão já deve estar saindo do treino. Ele vai sentir a minha falta.
- Ginny querida... o seu irmão é tão ruim no quadribol que ele deve ficar por lá a noite inteira.
- Eu já te pedi mil vezes pra você não falar assim da minha família!
- E eu já te falei mil vezes que eu não gosto dos Weasleys, principalmente seu irmão! Nunca neguei isso!
- Eu sou uma Weasley!
- Você é a Gina... somente Gina.- Draco tentou abraçá-la mas ela o empurrou.
- Então, se você gosta de mim de verdade, me assuma para todos! Fale pra Hogwarts inteira que eu sou sua namorada e não aquela cara de buldogue da Pansy!
- Não posso Gina! Você sabe que eu não posso! Primeiro, que os seus irmãos me matariam!
- Eu estou começando a achar que você é que não quer!- Gina já estava choramingando, o que fez com que Harry tremesse de raiva.
Draco virou-se de costas para a menina.
- É isso aí! Não é isso que você acha? Então... é isso... Eu não quero falar para todos que você é minha namorada...- Draco arrastava bastante a voz e falava bem calmamente- Eu não quero destruir tudo o que eu criei juntando o meu nome com o de uma Weasley.
Draco respirou fundo. Gina também.
- Você escolheu. Tchau Draco.
Gina se aproximou da porta e Harry correu para trás da armadura. Gina passou correndo, chorando. Logo em seguida, Draco saiu. Harry conseguiu perceber que ele disse algo parecido com " que estúpido!". Ele veio caminhando calmamente na direção da armadura, onde Harry estava escondido. Harry prendeu a respiração. Quando Harry pensou que ele iria passar, o menino parou. Bem em frente de onde ele estava. Draco, deu-se o trabalho de virar apenas a cabeça em direção a Harry. Encarou-o com o olhar frio e cinzento de sempre. Depois de um longo silêncio, se pronunciou.
- O que foi Potter? Nunca viu não?
Harry abriu a boca, mas logo fechou. Não encontrou nada para dizer. Não encontrava um xingamento, nada que pudesse ofender o Draco. Este, já que não obteve resposta, continuou a caminhar. Harry então, saiu do transe e gritou:
- O QUE VOCÊ QUER COM ELA? VOCÊ DEVE ESTAR SE APROXIMANDO DELA PRA FAZER MAL NÃO É? QUER ATINGIR A MIM E AO RONY! POIS SEJA HOMEM E ENFRENTE A NÓS DOIS! DEIXE A GINA FORA DISSO!!!
Draco, que continuava andando enquanto Harry gritava, parou, deu meia-volta, deu um sorriso bem irônico e sussurrou:
- Nunca...
Virou-se novamente e foi embora, deixando um Harry sem ação para trás.
Harry sofria um conflito interno. Não sabia se contava para o Rony, não sabia se conversava com Gina. Não sabia o que poderia fazer. Para piorar ainda mais, teve um outro pesadelo esta noite. Não tinha um desse jeito desde quando estava na casa dos Dursley. Sonhou com aquela mesma mulher, que ia em direção a um rio. Harry tentava correr atrás dela, mas não conseguia, suas pernas estavam presas no chão. Gritou então, para que ela parasse. A mulher, como cedesse aos seus apelos, se virou para ele. Harry não parecia ver o seu rosto, que parecia um vidro completamente embaçado. Só conseguia identificar as mechas ruivas que fugiam do capuz da sua capa negra. Como da outra vez, os olhos de Harry bateram num grande amuleto, que jorrou uma luz verde, atingindo-o na cicatriz. Dessa vez ele não acordou com a dor. Pelo contrário, ficou sentindo como se a luz o perfurasse e a dor se intensificasse cada vez mais. Agonizante, Harry viu quando a luz verde se fundiu e formou a palavra ABRAXAS no ar. Harry então deu um grito abafado e acordou.
Sentou-se na cama, estava suado, ofegante. Sua franja estava grudada na sua testa por causa do suor. Procurou pelos seus óculos e foi até a janela. Batia uma leve brisa que movimentava suavemente as árvores da Floresta Proibida. O lago refletia a lua, que estava imponente no centro do céu. Embora o clima estivesse calmo, Harry não estava. Não sabia se era por causa do pesadelo, mas aquela tranqüilidade estava dando arrepios. Parecia aquele filme de terror trouxa que Duda assistia. Voltou para cama e tentou dormir novamente. Não conseguiu. No primeiro momento se lembrou da mulher do seu sonho e o quanto ela parecia com a sua mãe. Ao tentar esquecer isso, lembrou-se de Gina com Malfoy. Como ela o magoara e como Malfoy olhara para ele. Parecia ter vingança no olhar... talvez deboche. Harry, sabia que havia sido um olhar diferente. Como se Malfoy soubesse de algo que ele ainda não sabia.
Harry deve ter ficado por horas ali, com as mãos embaixo da cabeça, olhando para o teto...pensando... Até que cansou disso e desceu para o Salão Comunal. Ao chegar lá, viu que haviam duas pessoas sentadas de frente para a lareira. Uma estava com a cabeça jogada para trás e a outra estava com a cabeça no colo da outra. Harry se aproximou e viu que Parvati Patil era a que estava deitada e Lilá Brown era a que estava sentada. O menino resolveu voltar para o dormitório, mas escutou alguém lhe chamar.
- Harry? É você?
Harry tornou a se virar. Lilá tirou com cuidado a cabeça da amiga e deitou-a no sofá. A menina parecia desacordada. Lilá foi até Harry.
- Você poderia fazer um favor para mim não é?
- Aham- Harry concordou com a cabeça.
- Sabe o que é... a Parvati...meio que teve um pesadelo esta noite e acordou, aos prantos. Ela veio pra cá e eu vim com ela, é claro. Fiquei aqui até ela adormecer. Agora eu quero subir, pra dormir confortavelmente, entende? Hum.. será que você.. poderia levar a Parvati... até lá em cima?
- Por quê você não a acorda? Já está quase de manhã.
- Harry! Que insensibilidade! A menina teve um pesadelo horrível! Demorou horas pra dormir e...
- Ta bom Lilá. Eu a levo. Mas antes... diga-me... ela falou como foi esse pesadelo?
- Ah.. ela me disse que era algo com uma mulher. Uma luz verde.- Harry engoliu em seco, Lilá pareceu não perceber- Eu não entendi muito bem. Não tinha muito nexo no que ela falava. E então? Vamos?
- Ah... sim, vamos.
Harry se aproximou de Parvati e pegou a menina no colo. De repente, ficou completamente ruborizado. Achou aquilo muito constrangedor. Foi até o dormitório das meninas. Nunca havia estado lá antes e provavelmente nunca estaria de novo. Aliás, se a professora McGonagall o visse ali, mesmo que fosse por uma causa nobre, iria repreende-lo severamente. Sentia medo só de pensar.
O quarto das meninas era, sem dúvida, muito mais organizado que o dos meninos, mas a estrutura era a mesma. Viu a cama, que provavelmente seria de Hermione, já que as coisas dela estavam ao lado da cama. Não a viu, pois a cortina estava fechada.
Harry sorriu pensando, se por acaso, Hermione acordasse e o visse ali, mas depois, sorriu mais ainda ao pensar se fosse Rony no lugar dele. Harry colocou Parvati na cama, Lilá agradeceu e Harry voltou ao seu dormitório, para enfim, dormir.
