Disclaimer: Eu sei que já fiz o disclaimer na Nota, mas arranjei algo que
afinal me pertence!! O livro original é da Louise Plummer e os personagem a
JK Rowling, excepto a versão humana da Snitch, cuja história estará em
breve aqui, no ff.net; nesta história ela pode parecer um pouco Mary Sue,
mas interpretem como quiserem; ela pertence a mim e á minha melhor amiga.
Este capítulo é dedicado a Tomoyo Hiiragizawa(está bem escrito?), que revisou o segundo capítulo. Algumas notas aos que revisaram a 1ª parte desse capítulo...
Anna Potter- Mt obrigada! Espero que vc goste desse capítulo!
MarcelleBHalliwell- Aqui está o resto do cap. 2, eu vou começar já, já a trabalhar no cap. 3.
Miss Lyric- Eu também ñ gosto mt da ideia de G/H, mas é o único modo da fic fazer sentido, para além de que quando eu comecei escrevendo era uma fã de G/H. Prefiro a Gin com o Draco.
~Hermione Weasley~
Capítulo 2- Família Reunida
É no capítulo dois de um romance que a antagonista é introduzida. Sabem, aquela personagem que vai «atazanando» a protagonista, neste caso, eu. A tarefa da antagonista é tentar irrita-la para impedir que a heroína e o herói fiquem juntos e que os leitores cheguem demasiado depressa a um final feliz. Um romance, no fim de contas, deve conter pelo menos cem páginas de pura tensão. Alguém tem que conspirar contra a heroína e o herói.
Como eu disse, ela era linda de morrer.
-Que tropeção! Magoaste-te?- perguntou numa voz que podia derreter um queijo com quinze anos.
Eu podia jurar que ela mal pronunciava o «r».
-Essas botas são um perigo dentro de casa- disse o meu pai. Teria ouvido também? Ele e a mãe foram os últimos a chegar á sala de jantar, vindos da cozinha.
-Peço desculpa- murmurei. Não podia deixar de contemplar a cara da rapariga. A cara de um anjo.
-Ela está bem- disse o Ron.- Desde pequena que costuma andar aos tropeções.
-Tira essas botas, querida- disse a minha mãe.
O Harry deu um murro no peito como para se refazer da pancada que eu lhe tinha dado.
-É bom voltar a ver-te, Boo.- Ele usou a minha alcunha dos treze anos, mas sorriu, e nós trocamos um olhar breve. Os nossos olhos não foram atraídos nem nada, mas foi fácil perdoa-lo. Depois, como se estivesse distraído, acrescentou- Oh, esta é a minha amiga Snitch Ev. Riddle.
Juro, aquele era o seu verdadeiro nome. Snitch Ev. Riddle. Inventaria eu um nome daqueles?
-O Harry não tem estado no Minnesota desde que a família se mudou para a Califórnia- disse o Ron.
Eu já sabia.
-Por isso convidámo-lo a vir connosco. Além disso, o seu carro trabalhava e o nosso não- sorriu o Ron- Ele também está no curso de literaturas comparadas.
Eu já sabia.
-E a Snitch também está.
Bolas. Não conseguia deixar de a fitar. Era o seu cabelo, uma juba preta (o que não era vulgar na Califórnia), combinada com um bronze e olhos verdes.
-Olá!- disse-lhe. Ela era sua amiga. O que queria isso dizer exactamente? A sua bonita pele bronzeado fazia-me sentir um limão.
-Estou tão contente por terem decidido vir todos!- exclamou a minha mãe. E eu podia sentir que aquilo era verdade. O seu nível de energia tinha aumentado desde que eu saíra, havia pouco.- Ia ser um Natal tão solitário só com nós os três!
Isso já era exagero. Nós os três nunca nos tínhamos sentido sozinhos na vida.
-Devíamos ter avisado...- desculpou-se a Hermione- mas o Ron queria fazer uma surpresa.
A Snitch enrolou o casaco á volta do pescoço.- Se for preciso, eu posso ficar num hotel.
-Podíamos os dois- disse o Harry.
Havia excitação na sua voz ou era impressão minha? No mesmo quarto de hotel? Na mesma cama? Possivelmente. Imagens deprimentes deles os dois, com pernas e braços enrolados flutuaram na minha imaginação.
O Ron sacudiu a cabeça como se fosse a coisa mais idiota que tivesse ouvido, e a minha mãe levantou as mãos agitando-as, como se quisesse afastar tal ideia.
-Não, não, há espaço suficiente para todos- insistiu.
Não pude deixar de notar como a Snitch e o Harry formavam um par prefeito para uma história de amor. Ela era relativamente baixa e magra, mas não demasiado, e a sua cabeça mal chagava ao ombro dele. Ele tinha mais um ou dois centímetros que eu, se tanto. Sentia-me como um enorme louva-a-deus com botas para a neve- botas com solas grossas como pneus de camião.
A mãe perguntou-lhes se estavam com fome, mas responderam que tinham jantado pelo caminho, poucas horas antes.
-Então que tal uma bebida quente?
-Chá russo, espero- disse o Ron.
A mãe disse que sim com a cabeça e voltou para a cozinha.
-Ginny preciso que me ajudes um instantinho- disse-me.
O pai ofereceu-se para ajudar a ir buscar a bagagem, e todos se dirigiram para a porta da frente. Gostaria de os ter seguido até lá fora, mantendo-me um pouco atrás do Harry Potter, que não via desde há quatro anos, para saber se ele olharia para trás na minha direcção, para sabre se sentiria algo semelhante ao que eu sentia, mas a minha mãe livrou-me dessa situação.
-O Ron não mudou nada- disse ela quando entrámos na cozinha.- Continua o mesmo de sempre, trazendo tudo da sua casa na Califórnia para vir passar o Natal e sem avisar- abriu o frigorífico.- Deita isto para o lixo, está bem?- passou-me para as mãos um molho de alface já castanha.- Devias tê-lo visto; percorreu a casa toda assim que chegou- voltou a enfiar a cabeça no frigorífico.- Acho que não há lençóis na cama do quarto de hóspedes; só a colcha.
-Já vou ver- disse eu.
-Vou por a Hermione e o Ron no antigo quarto dele, claro- disse, tirando os limões e as laranjas- O Harry pode dormir no quarto de hóspedes- passou-me as frutas.- Achas que ele e aquela rapariga querem compartilhar um quarto? Ele apresentou-a como uma amiga. Seria um eufemismo? É claro que, se são apenas amigos, então...
-Não sei- encolhi os ombros.- A propósito, o nome dela é Snitch- comecei a partir a fruta ao meio, com uma faca.
-Bem, podemos pôr a Snitch- os seus lábios curvaram-se ligeiramente para cima- a dormir na outra cama do teu quarto. Importas-te?
Não, não me importava. Melhor comigo que com ele.
-Se eles quiserem ficar juntos, basta irem ao encontro um do outro. Não achas?
Cortei-me.
-Suponho que sim- respondi, chupando o sangue do meu polegar. Estava a detestar todo aquele assunto.
A minha mãe deu-me um lenço de papel.
-Tens de dar mais atenção ao que estás a fazer- censurou, tirando o frasco de açúcar da prateleira por cima da minha cabeça.- Por acaso, a Snitch Ev. Ridelle até nem parece do tipo do Harry.
-Ev. Riddle- corrigi.- Ela é muito bonita, não achas?
-Uma beleza «californicável»- a minha mãe é muito contundente nas suas críticas.
Sorri e sussurrei:
-Não me parece que tenha sido criada na Califórnia. Ela pronuncia os seus «r» tão levemente.
A minha mãe fez uma expressão céptica.
-Não, a sério- continuei.- Cá para mim ela é do Norte dos Estados Meridionais ou do Sul das Midland. Charleston ou Baltimore, talvez.
Limpou um bocado de água que transbordara da panela.
-Cada vez te pareces mais com o teu pai.
-Obrigada!
-Bem- pousou-me a mão no ombro-, detesto dizer-te isto, senhora linguista, mas ela sempre viveu em Newport Beach, na Califórnia. Estivemos a falar sobre isso antes de tu chegares.
Observei a sua cara para ver se estava séria. A ironia faz parte da nossa família.
-Estás a brincar- afirmei.- Isso não é verdade!- e fui verificar as camas.
A minha mãe tinha razão acerca da cama do quarto de hóspedes: não tinha lençóis. Escolhi uns de tom azul pálido para o Harry. Depois arranjei espaço no meu roupeiro para algumas coisas da Snitch e fui examinar a casa de banho, que estava bastante aceitável. Apenas tinha de pendurar mais toalhas. Ouvia o Ron e o Harry a subir e a descer as escadas com as malas, a lembrarem-se de coisas do passado, como dois velhotes.
-Olha! Este é o armário onde perdemos o teu ratinho de estimação, o Peter Pet Scabbers (A/N: Que nome foleiro!), lembras-te?- perguntou o Harry.
-Provavelmente ainda lá está...- respondeu o Ron.
-Sim, provavelmente do tamanho de um Cocker Spaniel!
As suas vozes ecoavam na casa de banho, onde eu me olhei ao espelho para ver como tinha mudado desde os treze anos, altura em que o Harry me vira pela ultima vez. O cabelo estava mais curto, e os ganchos tinham desaparecido. Os óculos permaneciam por questão de necessidade. Seria bonita? É difícil avaliar a nossa própria cara. O pai diz sempre que sou inteligente e isso é o mais importante. A minha mãe diz que tenho um visual perfeito. Tenham dó. Enquanto estava lá na casa de banho, a ouvir a voz do Harry, o seu «riso forte e masculino»- copiei do prontuário, mas é verdade- dava de boa vontade vinte e cinco pontos do meu QI para me parecer exactamente como a Snitch Ev. Riddle.
Mais tarde tomámos o chá russo, preparado com pauzinhos de canela emprestados pelos vizinhos, bebendo em canecas com desenhos do Pai Natal, frente ao lume vivo da lareira da sala. O Ron reparou logo na árvore de Natal, a pequena obra de arte da minha mãe, cuidadosamente colocada em cima do piano.
-O quê?!- a sua voz esganiçou-se como a de um adolescente- Aquilo é que é a árvore?- Ele estava de pé junto dela.- É patética.
-Diz o que te apetecer , querido, não sejas tímido- proferiu a minha mãe.
A Hermione, que estava sentada ao lado dela no sofá, disse:
-Trata dos teus assuntos, Ron!
O meu irmão fez uma cara zangada.
-Desculpem, mas isto é assunto meu! Corrijam-me se estiver enganado, mas não é verdade que nós sempre tivemos uma árvore bem grande, enfeitada com todos aqueles maravilhosos ornamentos? Não era essa a tradição da família Weasley?
-Estás a referir-te a ornamentos maravilhosos como aquele pequeno trenó feito com paus de gelados, que construíste quando andavas nos escuteiros?- as sobrancelhas da minha mãe arquearam-se, formando vincos na testa.
A Hermione, com um sorriso cúmplice, deu-lhe um toque com o cotovelo.
-Não- disse o Harry- ele refere-se àqueles enfeites em forma de bengala, ás riscas vermelhas e brancas, a imitar chupa-chupas, e que nos deram tanto trabalho a fazer. Lembro-me que esses eram os que a minha mãe preferia.- E sorriu para a minha, ironicamente.
-Realmente esse foi um ano muito bom.- concordou ela.
-Mas aqueles de que mais gostei foram as figuras do Pai Natal que fizemos com pinhas, nas aulas da professora Sprout, quando estávamos no quinto ano. Lembras-te?- perguntou o Ron ao Harry- utilizámos feltro vermelho e branco.
-E uma lata grande de cola branca. Mas era suposto fazermos duendes- comentou o Harry.
-Não era nada.
-Era, era.
-Parem com isso, não interessa a ninguém- disse a Hermione.
-Na minha escola fizemos ratos com pinhas quando eu estava no terceiro ano- a Snitch assustou-me quando falou. Nós tinhamos estado sentadas juntas ao pé da janela, e não sei porquê- talvez por osmose- eu ficara com a impressão de que ela era tímida e que seria preciso fazermos-lhe perguntas para que ela falasse.
«Ratos» foi a palavra que desencadeou tudo. O Ron e o Harry, ao mesmo tempo, taparam a boca com as mãos.
-Nunca pronuncies essa palavra em frente da Boo!- disse o Harry.
-Seja no singular ou no plural, essa palavra põe-lhe os nervos em franja- acrescentou o Ron.
A Snitch voltou-se para mim com ar de espanto- Porquê?
-Vocês são horríveis!- gritei. Para eles, era como se eu continuasse sempre a ter treze anos. Não havia nada a fazer.
-R-A-T-O-S- proferiu o Harry, muito devagar- ou R-A-T-O. Nunca- reforçou, olhando-me de soslaio- digas tal coisa na presença da Boo.
-Vocês os dois são completamente parvos. Não lhes ligues, Snitch,- disse eu- não lhes perguntes mais nada.
A Hermione ergueu a mão a pedir silêncio.
-É melhor deixar simplesmente o Tico e o Teco contar a história. Talvez isso os faça sentir realizados- ela sorriu-me.- Contem-na, mas em poucas palavras.
-Foi no início da Primavera- começou o Harry.
-Fim do Inverno- corrigiu o Ron.- Nesse ano o degelo tinha começado mais cedo do que é habitual.
-Qual de vocês é o Teco? É só isso que quero saber- perguntou a Snitch.
-Eu sou o Tico, ele é o Teco- disse o Ron.
-Essa é a opinião de um homem que não sabe distinguir o Pai Natal de um duende- respondeu o Harry, segurando a caneca com as duas mãos para as manter quentes. (E que mãos tão prefeitas...)
-Eu cheguei lá primeiro- disse ele, continuando a história..- Ouvi-a dar um grito horrível.
-Foi no início da Primavera- esclareci.
-E?- espicaçou a Snitch.
-Estávamos todos na casa do Sirius- continuou o Harry.- Ele era o treinador de ténis da escola secundária , mas também ensinava toda a vizinhança a jogar.
-Ele mora do outro lado da rua- expliquei. Preferi não mencionar o cancro.
-Bem, mas a Gin, que nessa altura ainda não era Boo,- e o Harry lançou-me um olhar que me fez sentir «percorrida por uma onda de calor», como diz o prontuário- a Gin estava lá com aquela sua amiga...
-A Cho- informei.
-A Cho Chang- acrescentou o Ron.- Ela sempre pareceu ter uma atracção por ti, Har.
O Harry estremeceu.
-E a Boo, quero dizer a Gin, perguntou ao Sirius se podia usar a Lobster para praticar as batidas com a palma da mão virada para trás.
-A Lobster é a maquina de ténis automática?- perguntou a Snitch.
O Harry acenou afirmativamente.
-O Sirius disse-lhe que a máquina não tinha sido utilizada durante todo o Inverno e que ela teria de ir tirá-la do telheiro e levá-la pra o campo de ténis. E ela foi, sozinha...
O Ron não conseguia suportar que fosse o Harry a contar a história toda e interrompeu-o:
-Ela tinha ido mais ou menos havia dez minutos, quando ouvimos o seu grito horrível, vindo do campo de ténis; um grito verdadeiramente horrendo. E o Harry foi a correr ver o que se passava.
O Harry continuou:
-Lá estava a Gin, gritando desalmadamente, enquanto iam saindo da máquina ratinhos bebés, uns atrás dos outros. Os ratos deviam ter lá feito um ninho durante o Inverno. Alguns deles passaram a voar por cima da rede e foram aterrar aos pés dela. Outros andavam por cima a correr a toda a velocidade. Houve uns poucos que se estatelaram em cima da rede, e um agarrou-se mesmo á sua raqueta de ténis; e ela agitava a raqueta, tentando sacudi-lo, ao mesmo tempo que berrava como louca.
-E ele ali parado a olhar para mim- disse eu.
-Não conseguia agir- e lançou-me um «sorriso rasgado»- Estavas tão cómica com todos aqueles ratos a correr á volta dos teus pés.- Percebi que recordava este episódio com gosto.- Mas o mais engraçado foi quando estávamos já todos lá fora ao pé dela, perdidos de riso, e a Gin ficou furiosa e começou a espantar os ratos com a raqueta como se fossem bolas e ela estivesse a jogar num torneio de ténis.
Seria a minha imaginação romântica, ou havia mesmo uma ponta de ternura na voz do Harry enquanto contava esta história? Recordo-me de ele me ter gritado «Força!» quando comecei a dar com a raqueta nos ratos.
-Acho que ninguém se lembrou sequer de desligar a máquina- disse eu.
-Tu bateste em ratinhos inocentes?- perguntou a Snitch.
-Foi em legítima defesa- respondi.
-Estávamos demasiado ocupados a observar na cena para nos lembrarmos de a desligar- explicou o Harry.- Foi a partir daí que começámos a chamar-lhe Boo- acrescentou.
A Snitch poisou a mão no meu joelho.
-Devias ter-lhe batido a ele com a raqueta - disse ela, fazendo um gesto com a cabeça na direcção do Harry.
Eu ri-me.
-Tu serias capaz de o fazer?- perguntei.
-Seria capaz de o passar a ferro com o meu carro- respondeu ela.
Este capítulo é dedicado a Tomoyo Hiiragizawa(está bem escrito?), que revisou o segundo capítulo. Algumas notas aos que revisaram a 1ª parte desse capítulo...
Anna Potter- Mt obrigada! Espero que vc goste desse capítulo!
MarcelleBHalliwell- Aqui está o resto do cap. 2, eu vou começar já, já a trabalhar no cap. 3.
Miss Lyric- Eu também ñ gosto mt da ideia de G/H, mas é o único modo da fic fazer sentido, para além de que quando eu comecei escrevendo era uma fã de G/H. Prefiro a Gin com o Draco.
~Hermione Weasley~
Capítulo 2- Família Reunida
É no capítulo dois de um romance que a antagonista é introduzida. Sabem, aquela personagem que vai «atazanando» a protagonista, neste caso, eu. A tarefa da antagonista é tentar irrita-la para impedir que a heroína e o herói fiquem juntos e que os leitores cheguem demasiado depressa a um final feliz. Um romance, no fim de contas, deve conter pelo menos cem páginas de pura tensão. Alguém tem que conspirar contra a heroína e o herói.
Como eu disse, ela era linda de morrer.
-Que tropeção! Magoaste-te?- perguntou numa voz que podia derreter um queijo com quinze anos.
Eu podia jurar que ela mal pronunciava o «r».
-Essas botas são um perigo dentro de casa- disse o meu pai. Teria ouvido também? Ele e a mãe foram os últimos a chegar á sala de jantar, vindos da cozinha.
-Peço desculpa- murmurei. Não podia deixar de contemplar a cara da rapariga. A cara de um anjo.
-Ela está bem- disse o Ron.- Desde pequena que costuma andar aos tropeções.
-Tira essas botas, querida- disse a minha mãe.
O Harry deu um murro no peito como para se refazer da pancada que eu lhe tinha dado.
-É bom voltar a ver-te, Boo.- Ele usou a minha alcunha dos treze anos, mas sorriu, e nós trocamos um olhar breve. Os nossos olhos não foram atraídos nem nada, mas foi fácil perdoa-lo. Depois, como se estivesse distraído, acrescentou- Oh, esta é a minha amiga Snitch Ev. Riddle.
Juro, aquele era o seu verdadeiro nome. Snitch Ev. Riddle. Inventaria eu um nome daqueles?
-O Harry não tem estado no Minnesota desde que a família se mudou para a Califórnia- disse o Ron.
Eu já sabia.
-Por isso convidámo-lo a vir connosco. Além disso, o seu carro trabalhava e o nosso não- sorriu o Ron- Ele também está no curso de literaturas comparadas.
Eu já sabia.
-E a Snitch também está.
Bolas. Não conseguia deixar de a fitar. Era o seu cabelo, uma juba preta (o que não era vulgar na Califórnia), combinada com um bronze e olhos verdes.
-Olá!- disse-lhe. Ela era sua amiga. O que queria isso dizer exactamente? A sua bonita pele bronzeado fazia-me sentir um limão.
-Estou tão contente por terem decidido vir todos!- exclamou a minha mãe. E eu podia sentir que aquilo era verdade. O seu nível de energia tinha aumentado desde que eu saíra, havia pouco.- Ia ser um Natal tão solitário só com nós os três!
Isso já era exagero. Nós os três nunca nos tínhamos sentido sozinhos na vida.
-Devíamos ter avisado...- desculpou-se a Hermione- mas o Ron queria fazer uma surpresa.
A Snitch enrolou o casaco á volta do pescoço.- Se for preciso, eu posso ficar num hotel.
-Podíamos os dois- disse o Harry.
Havia excitação na sua voz ou era impressão minha? No mesmo quarto de hotel? Na mesma cama? Possivelmente. Imagens deprimentes deles os dois, com pernas e braços enrolados flutuaram na minha imaginação.
O Ron sacudiu a cabeça como se fosse a coisa mais idiota que tivesse ouvido, e a minha mãe levantou as mãos agitando-as, como se quisesse afastar tal ideia.
-Não, não, há espaço suficiente para todos- insistiu.
Não pude deixar de notar como a Snitch e o Harry formavam um par prefeito para uma história de amor. Ela era relativamente baixa e magra, mas não demasiado, e a sua cabeça mal chagava ao ombro dele. Ele tinha mais um ou dois centímetros que eu, se tanto. Sentia-me como um enorme louva-a-deus com botas para a neve- botas com solas grossas como pneus de camião.
A mãe perguntou-lhes se estavam com fome, mas responderam que tinham jantado pelo caminho, poucas horas antes.
-Então que tal uma bebida quente?
-Chá russo, espero- disse o Ron.
A mãe disse que sim com a cabeça e voltou para a cozinha.
-Ginny preciso que me ajudes um instantinho- disse-me.
O pai ofereceu-se para ajudar a ir buscar a bagagem, e todos se dirigiram para a porta da frente. Gostaria de os ter seguido até lá fora, mantendo-me um pouco atrás do Harry Potter, que não via desde há quatro anos, para saber se ele olharia para trás na minha direcção, para sabre se sentiria algo semelhante ao que eu sentia, mas a minha mãe livrou-me dessa situação.
-O Ron não mudou nada- disse ela quando entrámos na cozinha.- Continua o mesmo de sempre, trazendo tudo da sua casa na Califórnia para vir passar o Natal e sem avisar- abriu o frigorífico.- Deita isto para o lixo, está bem?- passou-me para as mãos um molho de alface já castanha.- Devias tê-lo visto; percorreu a casa toda assim que chegou- voltou a enfiar a cabeça no frigorífico.- Acho que não há lençóis na cama do quarto de hóspedes; só a colcha.
-Já vou ver- disse eu.
-Vou por a Hermione e o Ron no antigo quarto dele, claro- disse, tirando os limões e as laranjas- O Harry pode dormir no quarto de hóspedes- passou-me as frutas.- Achas que ele e aquela rapariga querem compartilhar um quarto? Ele apresentou-a como uma amiga. Seria um eufemismo? É claro que, se são apenas amigos, então...
-Não sei- encolhi os ombros.- A propósito, o nome dela é Snitch- comecei a partir a fruta ao meio, com uma faca.
-Bem, podemos pôr a Snitch- os seus lábios curvaram-se ligeiramente para cima- a dormir na outra cama do teu quarto. Importas-te?
Não, não me importava. Melhor comigo que com ele.
-Se eles quiserem ficar juntos, basta irem ao encontro um do outro. Não achas?
Cortei-me.
-Suponho que sim- respondi, chupando o sangue do meu polegar. Estava a detestar todo aquele assunto.
A minha mãe deu-me um lenço de papel.
-Tens de dar mais atenção ao que estás a fazer- censurou, tirando o frasco de açúcar da prateleira por cima da minha cabeça.- Por acaso, a Snitch Ev. Ridelle até nem parece do tipo do Harry.
-Ev. Riddle- corrigi.- Ela é muito bonita, não achas?
-Uma beleza «californicável»- a minha mãe é muito contundente nas suas críticas.
Sorri e sussurrei:
-Não me parece que tenha sido criada na Califórnia. Ela pronuncia os seus «r» tão levemente.
A minha mãe fez uma expressão céptica.
-Não, a sério- continuei.- Cá para mim ela é do Norte dos Estados Meridionais ou do Sul das Midland. Charleston ou Baltimore, talvez.
Limpou um bocado de água que transbordara da panela.
-Cada vez te pareces mais com o teu pai.
-Obrigada!
-Bem- pousou-me a mão no ombro-, detesto dizer-te isto, senhora linguista, mas ela sempre viveu em Newport Beach, na Califórnia. Estivemos a falar sobre isso antes de tu chegares.
Observei a sua cara para ver se estava séria. A ironia faz parte da nossa família.
-Estás a brincar- afirmei.- Isso não é verdade!- e fui verificar as camas.
A minha mãe tinha razão acerca da cama do quarto de hóspedes: não tinha lençóis. Escolhi uns de tom azul pálido para o Harry. Depois arranjei espaço no meu roupeiro para algumas coisas da Snitch e fui examinar a casa de banho, que estava bastante aceitável. Apenas tinha de pendurar mais toalhas. Ouvia o Ron e o Harry a subir e a descer as escadas com as malas, a lembrarem-se de coisas do passado, como dois velhotes.
-Olha! Este é o armário onde perdemos o teu ratinho de estimação, o Peter Pet Scabbers (A/N: Que nome foleiro!), lembras-te?- perguntou o Harry.
-Provavelmente ainda lá está...- respondeu o Ron.
-Sim, provavelmente do tamanho de um Cocker Spaniel!
As suas vozes ecoavam na casa de banho, onde eu me olhei ao espelho para ver como tinha mudado desde os treze anos, altura em que o Harry me vira pela ultima vez. O cabelo estava mais curto, e os ganchos tinham desaparecido. Os óculos permaneciam por questão de necessidade. Seria bonita? É difícil avaliar a nossa própria cara. O pai diz sempre que sou inteligente e isso é o mais importante. A minha mãe diz que tenho um visual perfeito. Tenham dó. Enquanto estava lá na casa de banho, a ouvir a voz do Harry, o seu «riso forte e masculino»- copiei do prontuário, mas é verdade- dava de boa vontade vinte e cinco pontos do meu QI para me parecer exactamente como a Snitch Ev. Riddle.
Mais tarde tomámos o chá russo, preparado com pauzinhos de canela emprestados pelos vizinhos, bebendo em canecas com desenhos do Pai Natal, frente ao lume vivo da lareira da sala. O Ron reparou logo na árvore de Natal, a pequena obra de arte da minha mãe, cuidadosamente colocada em cima do piano.
-O quê?!- a sua voz esganiçou-se como a de um adolescente- Aquilo é que é a árvore?- Ele estava de pé junto dela.- É patética.
-Diz o que te apetecer , querido, não sejas tímido- proferiu a minha mãe.
A Hermione, que estava sentada ao lado dela no sofá, disse:
-Trata dos teus assuntos, Ron!
O meu irmão fez uma cara zangada.
-Desculpem, mas isto é assunto meu! Corrijam-me se estiver enganado, mas não é verdade que nós sempre tivemos uma árvore bem grande, enfeitada com todos aqueles maravilhosos ornamentos? Não era essa a tradição da família Weasley?
-Estás a referir-te a ornamentos maravilhosos como aquele pequeno trenó feito com paus de gelados, que construíste quando andavas nos escuteiros?- as sobrancelhas da minha mãe arquearam-se, formando vincos na testa.
A Hermione, com um sorriso cúmplice, deu-lhe um toque com o cotovelo.
-Não- disse o Harry- ele refere-se àqueles enfeites em forma de bengala, ás riscas vermelhas e brancas, a imitar chupa-chupas, e que nos deram tanto trabalho a fazer. Lembro-me que esses eram os que a minha mãe preferia.- E sorriu para a minha, ironicamente.
-Realmente esse foi um ano muito bom.- concordou ela.
-Mas aqueles de que mais gostei foram as figuras do Pai Natal que fizemos com pinhas, nas aulas da professora Sprout, quando estávamos no quinto ano. Lembras-te?- perguntou o Ron ao Harry- utilizámos feltro vermelho e branco.
-E uma lata grande de cola branca. Mas era suposto fazermos duendes- comentou o Harry.
-Não era nada.
-Era, era.
-Parem com isso, não interessa a ninguém- disse a Hermione.
-Na minha escola fizemos ratos com pinhas quando eu estava no terceiro ano- a Snitch assustou-me quando falou. Nós tinhamos estado sentadas juntas ao pé da janela, e não sei porquê- talvez por osmose- eu ficara com a impressão de que ela era tímida e que seria preciso fazermos-lhe perguntas para que ela falasse.
«Ratos» foi a palavra que desencadeou tudo. O Ron e o Harry, ao mesmo tempo, taparam a boca com as mãos.
-Nunca pronuncies essa palavra em frente da Boo!- disse o Harry.
-Seja no singular ou no plural, essa palavra põe-lhe os nervos em franja- acrescentou o Ron.
A Snitch voltou-se para mim com ar de espanto- Porquê?
-Vocês são horríveis!- gritei. Para eles, era como se eu continuasse sempre a ter treze anos. Não havia nada a fazer.
-R-A-T-O-S- proferiu o Harry, muito devagar- ou R-A-T-O. Nunca- reforçou, olhando-me de soslaio- digas tal coisa na presença da Boo.
-Vocês os dois são completamente parvos. Não lhes ligues, Snitch,- disse eu- não lhes perguntes mais nada.
A Hermione ergueu a mão a pedir silêncio.
-É melhor deixar simplesmente o Tico e o Teco contar a história. Talvez isso os faça sentir realizados- ela sorriu-me.- Contem-na, mas em poucas palavras.
-Foi no início da Primavera- começou o Harry.
-Fim do Inverno- corrigiu o Ron.- Nesse ano o degelo tinha começado mais cedo do que é habitual.
-Qual de vocês é o Teco? É só isso que quero saber- perguntou a Snitch.
-Eu sou o Tico, ele é o Teco- disse o Ron.
-Essa é a opinião de um homem que não sabe distinguir o Pai Natal de um duende- respondeu o Harry, segurando a caneca com as duas mãos para as manter quentes. (E que mãos tão prefeitas...)
-Eu cheguei lá primeiro- disse ele, continuando a história..- Ouvi-a dar um grito horrível.
-Foi no início da Primavera- esclareci.
-E?- espicaçou a Snitch.
-Estávamos todos na casa do Sirius- continuou o Harry.- Ele era o treinador de ténis da escola secundária , mas também ensinava toda a vizinhança a jogar.
-Ele mora do outro lado da rua- expliquei. Preferi não mencionar o cancro.
-Bem, mas a Gin, que nessa altura ainda não era Boo,- e o Harry lançou-me um olhar que me fez sentir «percorrida por uma onda de calor», como diz o prontuário- a Gin estava lá com aquela sua amiga...
-A Cho- informei.
-A Cho Chang- acrescentou o Ron.- Ela sempre pareceu ter uma atracção por ti, Har.
O Harry estremeceu.
-E a Boo, quero dizer a Gin, perguntou ao Sirius se podia usar a Lobster para praticar as batidas com a palma da mão virada para trás.
-A Lobster é a maquina de ténis automática?- perguntou a Snitch.
O Harry acenou afirmativamente.
-O Sirius disse-lhe que a máquina não tinha sido utilizada durante todo o Inverno e que ela teria de ir tirá-la do telheiro e levá-la pra o campo de ténis. E ela foi, sozinha...
O Ron não conseguia suportar que fosse o Harry a contar a história toda e interrompeu-o:
-Ela tinha ido mais ou menos havia dez minutos, quando ouvimos o seu grito horrível, vindo do campo de ténis; um grito verdadeiramente horrendo. E o Harry foi a correr ver o que se passava.
O Harry continuou:
-Lá estava a Gin, gritando desalmadamente, enquanto iam saindo da máquina ratinhos bebés, uns atrás dos outros. Os ratos deviam ter lá feito um ninho durante o Inverno. Alguns deles passaram a voar por cima da rede e foram aterrar aos pés dela. Outros andavam por cima a correr a toda a velocidade. Houve uns poucos que se estatelaram em cima da rede, e um agarrou-se mesmo á sua raqueta de ténis; e ela agitava a raqueta, tentando sacudi-lo, ao mesmo tempo que berrava como louca.
-E ele ali parado a olhar para mim- disse eu.
-Não conseguia agir- e lançou-me um «sorriso rasgado»- Estavas tão cómica com todos aqueles ratos a correr á volta dos teus pés.- Percebi que recordava este episódio com gosto.- Mas o mais engraçado foi quando estávamos já todos lá fora ao pé dela, perdidos de riso, e a Gin ficou furiosa e começou a espantar os ratos com a raqueta como se fossem bolas e ela estivesse a jogar num torneio de ténis.
Seria a minha imaginação romântica, ou havia mesmo uma ponta de ternura na voz do Harry enquanto contava esta história? Recordo-me de ele me ter gritado «Força!» quando comecei a dar com a raqueta nos ratos.
-Acho que ninguém se lembrou sequer de desligar a máquina- disse eu.
-Tu bateste em ratinhos inocentes?- perguntou a Snitch.
-Foi em legítima defesa- respondi.
-Estávamos demasiado ocupados a observar na cena para nos lembrarmos de a desligar- explicou o Harry.- Foi a partir daí que começámos a chamar-lhe Boo- acrescentou.
A Snitch poisou a mão no meu joelho.
-Devias ter-lhe batido a ele com a raqueta - disse ela, fazendo um gesto com a cabeça na direcção do Harry.
Eu ri-me.
-Tu serias capaz de o fazer?- perguntei.
-Seria capaz de o passar a ferro com o meu carro- respondeu ela.
