Capítulo 15
Na vingança e no amor a mulher é geralmente mais bárbara que o homem. (Nietszche)
*S2*
Sasuke olhou as horas pela décima vez desde que sentara junto aos amigos no intervalo, arrumou o lanche da namorada, um suco de caixinha e uma maça, e terminou de comer o bolinho que ela lhe fizera antes de voltar a verificar o relógio.
Sakura e Naruto observavam com curiosidade a agonia do colega, divididos entre a vontade de rir e de despreocupá-lo.
– Qual é cara, Hinata disse que chegaria em até dez minutos, não precisa se estressar.
Sasuke encarou o colega com raiva, ainda não perdoara o Uzumaki pela situação difícil em que o colocara dois dias antes.
– Afinal, sobre o que ela foi falar com a Shizune? – Sakura quis saber após terminar de beber seu suco.
– Não sei. Parecia bem e até pediu para não acompanha-la.
– Olhe, ela chegou. - Sakura apontou a entrada do refeitório, a alguns metros de onde estavam, onde Hinata acabara de passar e sorriu ao ver o Uchiha, em vez de aguardar a Hyuuga se aproximar, preferir ir ao encontro dela.
Atentos, Sakura e Naruto perceberam, mesmo distantes, o quanto Sasuke zelava pela namorada, a forma como segurou suas mãos dela junto ao peito, e a preocupação com que a olhou ao falar algo, provavelmente querendo saber o motivo dela ter procurado a enfermeira do colégio.
Hinata corou e disse algo, provavelmente muito baixo, pois Sasuke inclinou o corpo na direção dela como para ouvir melhor. Ao voltar à posição de antes, sorriu e abraçou a namorada, embalando-a em seus braços e aguçando a curiosidade dos amigos.
– Como vai Sakura-chan?
Sakura voltou à atenção para a mesa, que Karin ocupara quase que totalmente ao praticamente deitar sobre o móvel.
– Estava ótima até você aparecer.
– Não seja tão cruel. - Se inclinou em direção à rósea, o rosto praticamente encostando ao dela. - Ou pode acabar se arrependendo.
– Isso é uma ameaça?
– Um aviso. – Voltou à atenção para Naruto, que estava concentrado na conversa entre as duas. – Sua namorada é bem estressadinha, não acha querido?
– Garota é melhor sumir da minha frente ou a arremessarei daqui até a lata de lixo. - Sakura avisou ao levantar irada com o descaramento de Karin.
– Calma Sakura! – Naruto pediu segurando os ombros da namorada para chamar-lhe a atenção. – Ela só quer te irritar, esqueça.
– E conseguiu. Quem ela pensa que é pra te chamar de querido? – Voltou à atenção para Karin, disposta a levar a briga adiante, porém a ruiva já sumira de seu campo de visão. – Onde ela foi?
– Que diferença faz? – Naruto beijou a face da namorada e sorriu de orelha a orelha. – Você fica linda com ciúmes.
– Te arrebento se proteger novamente uma garota que te chamar de querido na minha frente.
Naruto riu sem graça, coçando a nuca com desconforto. Às vezes Sakura era assustadora.
*S2*
O sinal tocou estridente ao mesmo tempo em que Hinata chegou à mesa com Sasuke. Sem alternativa, Hinata pegou seu lanche e saiu caminhando enquanto bebia seu suco de uva e mordia apressada sua maçã. Antes de chegar a sua sala, sentiu o braço molhado, reparando que o suco vazara da embalagem e sujara a manga de sua camisa e a saia, por isso jogou fora o suco e o que restou da maça, parou em um bebedouro para lavar as mãos e seguiu para a classe. Ao chegar a sua casa cuidaria do uniforme.
Sentou em seu lugar e instantes depois o professor de matemática entrou.
Na metade da aula sua garganta começou a coçar e, mesmo se esforçando, não conseguiu conter a vontade de tossir.
Sasuke a olhou e Hinata sorriu para tranquiliza-lo. Odiava atrair olhares para si, mesmo que de forma involuntária, mas à medida que os minutos foram passando a tosse foi ficando mais forte e prolongada, além disso, sua face começou a coçar, sua boca formigava e a língua parecia dobrar de tamanho.
Percebendo o que tinha puxou de leve o braço de Sasuke.
– S-Sasuk-ke... – Cobriu com a mão o estomago, que começara a doer e revirar, e se apoio em Sasuke quando tudo pareceu girar.
Tirando a atenção da explicação do professor para a namorada, Sasuke e se surpreendeu ao ver a face avermelhada, os lábios inchados e os olhos lagrimejando. Já vira aquilo antes, quando tinha nove anos e fora parar na enfermaria ao se machucar durante uma partida de futebol. Hinata fora colocada ao seu lado quase desfalecida por ter comido um doce a base de amendoim que outra colega oferecera. Lembrava-se de ter ficado impressionado com a forma que a face normalmente branca ficara cheia de marcas avermelhada, assim como se assustara ao ouvir que se não tivessem percebido a tempo Hinata poderia ter morrido.
– Merda! – Sasuke a ergueu nos braço e saiu correndo em direção à porta para surpresa dos colegas e do professor, que só ouviu o Uchiha gritar antes de desaparecer de sua vista. – A Hinata esta tendo uma crise alérgica.
O caminho até a enfermaria nunca parecera tão longe para Sasuke. Correu pelos corredores ignorando quem se colocasse em seu caminho, precisava chegar logo ao seu destino, o único lugar no colégio que sabia que salvaria Hinata.
Entrou na enfermaria sem bater surpreendendo Shizune.
– O que...?
– Crise alérgica. – Sasuke disse colocando Hinata sobre a cama.
Vendo o estado da Hyuuga, que continuava a tossir e parecia ter falta de ar, Shizune pegou o molho de chaves que deixava preso no cinto, abriu o armário de remédios, pegou uma ampola de adrenalina e uma seringa que encheu com o líquido, indo apressada até Hinata para aplicar o medicamento na perna dela.
– Isso vai interromper os sintomas, mas terei que leva-la ao hospital para mais exames e acompanhamento.
– Eu vou com você.
Shizune concordou e chamou por interfone sua auxiliar na enfermaria, para informar Tsunade de sua saída e solicitar que avisasse os parentes de Hinata.
*S2*
Fazia algum tempo que Sasuke saíra correndo com Hinata no colo, gritando que ela estava tendo um ataque alérgico, e, mesmo tentando, a preocupação não deixava Sakura se concentrar. Queria que as aulas daquele dia terminassem para que pudesse sair atrás de notícias do colega.
Seu celular começou a tocar e, surpreendente, não foi o único. A sala foi dominada por diversos toques e musicas. Alguns alunos verificavam os celulares enquanto outros desligavam em respeito à aula e a expressão severa do professor Asuma. Sakura desligou, mas Naruto não. Ia repreender o namoradão, quando ouviu batidas na porta e Danzou entrou após Asuma permitir.
– Alunas Haruno Sakura e Yamanaka Ino, me acompanhem até a diretoria.
– Por qual motivo? – Ino exigiu saber desviando os olhos da tela de seu celular antes de verificar a mensagem que recebera.
Danzou a encarou intensamente, sem acreditar que a jovem questionara uma ordem.
– Venham comigo imediatamente! – Ordenou ficando satisfeito ao ser obedecido sem uma nova contestação.
Sem entender o motivo de ser chamada na diretoria, ainda mais junto de Ino, Sakura se colocou a perguntar que atitude sua despertara o interesse da diretora e onde Ino entrava nessa história. Porém não encontrava nenhuma justificativa, nas últimas semanas sequer conversava com a loira, preferindo ficar o mais longe possível da colega que ameaçara seu namoro.
Entrou nervosa na sala de Tsunade ficando pior ao reparar na expressão carregada da diretora.
– Qual das duas vai me explicar isso? – Tsunade virou um pequeno dvd player para as jovens.
Sem entender nada, Sakura e Ino fitaram a tela e, conforme as imagens iam se sucedendo, ambas ficaram boquiabertas e inquietadas com o a conclusão que a diretora tirara após assistir aquilo.
O vídeo mostrava as duas falando mal de Hinata, contando sobre como a Hyuuga ficara assustada com os ratos em sua bolsa, rindo ao lembrarem dos grito que ela soltara quando a água do chuveiro que usara no vestiário esfriara e planejando novas formas de tortura-la e tornar os dias dela no colégio os piores possíveis. E, para fechar com chave de ouro e apertar a corda no pescoço de Sakura e Ino, aparecia à última conversa que a rósea tivera antes de se afastar das maquinações do fã clube do Uchiha.
~S2~
– Como foi o programa de casais? – Ouviram uma voz fina questionar cm desdém.
– Bom e muito esclarecedor. – Sakura respondeu situada bem em frente a câmera.
– O Sasuke pareceu furioso com a Hinata? – Ino quis saber, sentada sobre um puff logo atrás de Sakura.
– Um pouco. - Sakura respondeu. - Nunca o vi olhar para uma garota daquela forma.
Voltou-se para a Ino.
– Ofereci um chocolate com amendoim... Nossa, a Hyuuga é alérgica ao maldito amendoim.
Ino se levantou do puff que ocupava.
– O que não posso é fantasiar e vocês deveriam fazer o mesmo. – Sakura recomendou e novamente a voz fina se fez ouvir.
– O que vamos fazer agora?
– Não se preocupe, vou resolver. – A loira garantiu.
A tela ficou escura, mas ainda se pode ouvir a voz de Sakura pronunciar:
– Temos que elimina-la.
~S2~
– A colega de vocês está no hospital por culpa de uma paixonite juvenil? – Tsunade perguntou após desligar o aparelho.
– Diretora, juro que não tenho culpa... – Sakura começou a se defender, mas Tsunade a cortou rapidamente.
– Quer dizer que não fizeram nada do que aparecessem dizendo que fizeram?
– Bem... Eu fiz, mas tem muita coisa alterada nesse vídeo e...
– Assumem que perseguiram a Hyuuga nos últimos meses?
– Sim, mas...
– Tinham conhecimento de que ela é alérgica?
– Sim, porém...
– Envenenaram sua colega?
Sakura abriu a boca para negar, mas Ino foi mais rápida e até mais ousada em sua resposta.
– Por favor, né! Sou loira, mas não burra. Que tipo de idiota deixaria provas de seu crime? Tá na cara que é armação, e das bem óbvias.
– Ah, claro! A senhorita gostaria de dizer quem "armaria" isso com as duas.
– A Karin, lógico.
– Lógico! E por quê?
– Pra nos encrencar.
Só naquele instante Sakura lembrou que o local em que as imagens foram filmadas era o quarto da ruiva. A maldita dera um jeito de incrimina-las e, pelo que tudo indicava, causara a alergia de Hinata.
Observou com apreensão o cenho franzido e o sorriso forçado de Tsunade. A diretora queria esgana-las.
– Tem provas disso Yamanaka?
Ela primeira vez desde que começara a falar, Ino titubeou.
– Eh... Não, mas é óbvio...
– A única coisa óbvia é que as duas serão expulsas. – Bradou ao se erguer e esmurrar a mesa.
Sakura imaginou que a mesa substituirá a cabeça delas.
– Não pode nos expulsar. – Ino se ergueu. – Se o fizer terá que expulsar todas as garotas do fã clube que contribuíram conosco, que não são poucas te garanto.
– Posso expulsa-la agora mesmo. Tenho imagens de vocês duas tramando contra uma colega.
– Essas imagens foram adulteradas. Meu pai é um advogado brilhante, não vai ser difícil provar que sou inocente. – Sorriu desafiante. - No entanto, se persistir com a expulsam, terá que fazer o mesmo com as garotas que menciono no vídeo e com todas do fã clube.
Tsunade a encarou com raiva, mas Ino não transpareceu medo. Não podia deixar a diretora expulsa-la por algo que não fizera, pelo menos não totalmente.
– As duas estão suspensas até que possa conversar com seus pais. Voltem as suas salas, peguem suas coisas, vão para casa e só voltem com seus pais do lado. – Tsunade proferiu voltando a sentar. – Agora saiam da minha frente!
Saíram apressadas e no trajeto de volta a classe Sakura não conseguiu mais segurar sua ira para com a colega.
– O que deu na sua cabeça pra envenenar a Hinata?
– Ficou doida? Você tem muito mais acesso a Hyuuga, nem por isso estou te culpando.
– Nunca faria algo assim.
– Muito menos eu. – Retrucou Ino. – Karin fez isso, só temos que provar e nos livraremos do castigo.
– Não posso ser expulsa, isso fica gravado no histórico. – Arregalou os olhos ao lembrar a exigência de Tsunade. – Minha mãe vai me matar quando contar o que aconteceu.
– Não se preocupe Testuda, conseguiremos provar nossa inocência.
– Acontece que não somos totalmente inocentes.
– Uma coisa de cada vez. – Cantarolou a loira antes de entrarem na sala.
Cada uma seguiu para seu lugar para recolher o material.
Sakura sentou, pegou a bolsa e começou a colocar tudo que havia sobre a mesa nela, após terminar, voltou-se para o namorado para explicar que teria que sair mais cedo, mas a forma que Naruto a encarou fez seu coração parar e sua boca abriu e fechou sem que por ela passasse qualquer som. Ele nunca a olhara daquela forma, como se borbulhasse de raiva.
De repente sentiu algo acerta-la na cabeça e viu uma bolinha de papel cair sobre sua mesa, virou e se deparou com vários pares de olhos que se revezavam entre ela e Ino com a mesma fúria presente nos olhos de Naruto e Tsunade.
Logo ambas eram alvo de mais bolinhas de papel, o professor, sem entender nada, ordenou que parassem, mas os alunos gritavam insultos enquanto continuavam os ataques.
– Parem com isso! – Naruto gritou protegendo a namorada com o corpo e ameaçando. – Se mais alguém se atrever a jogar algo nela vai ter que se entender comigo.
– Olhe isso, elas feriram a Hina-chan. – Uma garota disse estendendo seu aparelho celular.
– Eu vi. – Naruto disse com tom desgostoso. – Mas não somos as pessoas certas para puni-las, principalmente você Sakai que faz parte desse fã clube idiota.
A jovem voltou a sentar com a face abaixada.
– Obrigada, Naruto! – Tentou beija-lo no rosto, mas Naruto a afastou.
– Não me agradeça Sakura. – Pediu ao sentar sem lhe dirigir mais nenhum olhar.
O silêncio opressor incomodou Sakura muito mais que as bolinhas de papel e os insultos. Segurando a vontade de chorar saiu da sala seguida por Ino.
*S2*
Sentado em frente ao quarto em que Hinata era medicada, com os olhos fixos na tela de seu celular, Sasuke crispou os lábios e desejou nunca ter entrado na vida dela. Quisera protege-la, mas falhara.
– Seu maldito! – Ouviu, segundos antes de ser erguido do lugar pelo colarinho da camisa. – Ela poderia ter morrido por sua causa. – Disse com a feição enfurecida. – Está satisfeito com o que suas fãs malucas fizeram com a Hina? – Perguntou antes de joga-lo de volta ao banco que ocupava antes do acesso de raiva do Hyuuga. – Diga alguma coisa. – Exigiu chutando a perna do Uchiha que não reagiu.
Neji estava furioso. Primeiro vira o vídeo de duas lunáticas declarando em alto e bom som que fariam tudo para machucar sua prima, depois recebera uma ligação avisando que Hinata passara mal no colégio e foi levada para o hospital. Não fora difícil ligar uma coisa na outra, assim como não era preciso muito esforço para saber que o Uchiha era o maior culpado do que acontecera com sua prima.
– Avisei Hinata de que você era uma fonte de problemas, mas ela não me ouviu, agora tentarei uma nova forma de lidar com esse namoro absurdo. Se afaste da Hinata. – Pediu.
Sasuke levantou e, sem olhar para o Hyuuga, caminhou devagar em direção ao longo corredor que levava pra saída.
– Me ouviu Uchiha? Quero você longe da minha prima.
Sasuke não parou, mentalmente considerava que Neji estava sendo suave, merecia um tratamento muito pior, mil vezes mais cruel. E teria. Iria se encarregar disso.
*S2*
Como sempre fazia ao chegar em casa, Itachi foi até o quarto do irmão e estranhou ao abrir a porta e se deparar com ele deitado no escuro, em cima das cobertas, um braço sobre os olhos e outro pousado sobre o peito.
– Sasuke, está bem? – Se aproximou preocupado ao não ouvir resposta. – Está com dor de cabeça?
– Deixe-me sozinho.
– Vamos, irmãozinho, me diga o que tem pra ficar enfurnado no quarto como um morcego. – Sentou ao lado do irmão que nem se moveu. – Já jantou?
– Não é da sua conta.
– Tenho sua tutelar, então é da minha conta. – Retrucou e sorriu ao imaginar o motivo da depressão do menor. – Brigou com a Hinata. Tolo, seja o que tenha acontecido tudo se resolve. O charme Uchiha nunca falha. – Completou com humor na esperança de animar o caçula.
– Nem sempre as coisas acontecem do jeito que desejamos.
– O que isso significa?
– Não te interessa. – Sasuke sentou somente para empurrar o irmão pra fora de sua cama. – Eu não me meto na sua vida, então não se meta na minha.
– Certo, certo! – Itachi levantou e foi em direção à saída. – Espero que seu humor melhore.
Somente ao ver a porta fechada, Sasuke acendeu o abajur ao lado de sua cama e observou a foto que tinha na mão. Ele e Hinata se olhando como se só existissem eles dois no mundo.
Apagou a luz, fechou os olhos negros com força e voltou a deitar apertando a fotografia contra o peito, como se ela pudesse amenizar a confusão em seu interior, dissipar as nuvens que cobriam seu relacionamento, tornar tudo perfeito novamente. Doía tomar consciência de que aquele era o fim.
