Capítulo 17

Todos caem, mas apenas os fracos continuam no chão. (Bob Marley)

~*S2*~

Sentada ao lado de Hanabi, para tomar o café da manhã, Hinata balançava o copo, observando sem interesse o conteúdo laranja girar, a mente longe, sem o menor traço de fome.

– Hinata?!

Ergueu a face e encarou o pai, dando-se conta que não era a primeira vez que ele a chamava.

– Quero saber por qual motivo a diretora Tsunade solicitou a minha presença no colégio hoje?

Não se surpreendia pela diretora requisitar a presença de Hiashi no colégio, com certeza preocupada com o que poderia acontecer a reputação do Senju caso seu pai denunciasse a tentativa das colegas de envenena-la. O que era bobagem, Hiashi jamais se preocupava com algo além do trabalho. Esperava que, como sempre, ele ignorasse o chamado e pedisse para alguém ir em seu lugar.

– Eh... Talvez seja sobre as aulas extras para o vestibular. – Mentiu, direcionando a Neji um rápido olhar suplicante, esperando que ele não revelasse o real motivo de Tsunade.

Aquela altura dos acontecimentos sabia que Neji não mostrara o vídeo para Hiashi, simplesmente porque seu pai não a chamara para ter uma conversa séria sobre o assunto, que normalmente fixava-se no que todos concordavam a respeito dela: Era fraca.

Neji ficou em silêncio, mas está disposto a contar tudo se Hiashi o questiona-se.

– Estarei ocupado o dia todo. – Hiashi comentou - para alívio de Hinata – e voltou-se para Neji. – Neji, me represente nessa reunião.

Embora não fosse necessário, uma vez que Hiashi não pedira, ordenara, Neji concordou com a cabeça.

– O Sasuke está demorando hoje. – Comentou Hanabi quando terminaram o café e levantaram para saírem.

– N-nós terminamos... – Contou desviando o olhar para um ponto entre seus pés, a garganta apertada pela tristeza.

Com a testa franzida, Hiashi olhou para a cabeça abaixada da filha com desgosto.

– É uma pena que deixou um partido tão bom escapar. Lamentável!

Hinata levou o punho fechado a altura do coração, os lábios crispados para segurar a vontade de chorar, ou gritar de raiva, pois sentia que seu pai lamentava mais a perda da "aquisição" de um Uchiha na família do que o seu sofrimento.

Sentia uma mão em seu ombro, pressionando de leve com carinho, e sentiu o calor do primo junto ao seu corpo.

– Vamos juntos, Hinata!

Deixou-se levar por Neji, evitando levantar o olhar para ver a expressão aborrecida do pai ou a de pena de Hanabi.

– Obrigada por não ter mostrado o vídeo e nem ter dito o que aconteceu na sexta. – Disse após o carro de Neji sair pelo portão da mansão.

– Não agradeça. Só não mencionei nada porque Hiashi-sama não perguntou o motivo de sua ida ao hospital. – Informou com honestidade e um traço de desagrado com o desinteresse do tio. Para Hiashi se todos estivessem em casa no horário significava que não havia problema para se preocupar. Neji não gostava dessa atitude omissa, que aprovara o namoro bizarro de Hinata e Sasuke e, indiretamente, contribuíra para o ataque que a prima sofrera. – Pelo menos você entendeu que o namoro com o Uchiha não tinha futuro.

Hinata moveu a cabeça em direção ao perfil do primo, que estava concentrado na estrada.

– Não entendi nada, sequer fui consultada. – Retrucou irritada com o comentário. – Ele terminou nosso namoro... Mas o convencerei a mudar de ideia. – Completou determinada.

As sobrancelhas de Neji se juntaram, formando um vinco em sua testa.

– Pretende voltar com ele apesar do que te aconteceu? - Ignorando o tom áspero, Hinata confirmou e Neji freou bruscamente, encarando-a com a expressão carregada. – Você quase morreu por culpa dele.

– Não foi culpa dele.

– Claro que foi. Ele não te protegeu como deveria...

Irritada com o que estava subtendido nas palavras do primo, que era fraca demais para se proteger sozinha, Hinata o interrompeu com brusquidão.

– Ele terminou comigo para me proteger, só que não preciso da proteção e sim do amor dele.

– Hinata...

– Não nii-san! Ninguém vai conseguir me convencer a desistir do que quero, posso ser inútil como todos acham, mas não vou aceitar a decisão do Sasuke sem lutar.

Surpreso pelo rompante e determinação da prima, Neji voltou à atenção para frente, colocou o carro em movimento e ficou envolto pelo completo e incomodo silêncio o restante do caminho.

*S2*

Sasuke levantou mais cedo que o normal, pegou uma fruta e saiu de casa antes que seu irmão acordasse. Não desejava ser alvo das chacotas e provocações de Itachi naquele dia, que sabia que seria o pior daquele ano. Precisava de mais tempo sozinho, para pensar nas mentiras que dissera para Hinata, que teria de sustentar apesar da dor que infligiria em ambos, na conversa que tivera com Itachi e com Naruto.

Sua mente estava perturbada demais para que utilizasse sua moto, também não havia necessidade uma vez que não buscaria Hinata e morava muito perto do colégio, portanto seguiu a pé, o pensamento longe, deixando toda a responsabilidade de chegar ao seu destino para suas pernas e pés que conheciam muito bem o caminho que deveriam percorrer. Porém, estava tão distraído que passou direto pelo colégio, tendo de retornar vários passos para se posicionar ao lado do portão fechado, as costas tensas se apoiando no muro de pedra.

Conforme os colegas chegavam percebeu que cometera um grave erro: Ficara em evidência. Todos o fitavam com interesse, cochichavam, apontavam discretamente em sua direção e não lhe era muito difícil notar que estranhavam não ver Hinata ao seu lado. Ignorou todos, porém não conseguiu se desviar do interrogatório de Kiba, cuja insistência, que nem mesmo Shino conseguiu conter, o obrigou a quebra o silêncio.

– Terminamos. – Contou forçando sua voz a soar indiferente, mas algo em seu interior queria feri-lo, pois logo comentou com amargor: - Agora pode correr atrás dela com sua cara de cachorro sem dono.

Ignorando a ofensa, Kiba sorriu.

– Farei exatamente isso, Uchiha.

Sasuke deu de ombros, controlando seu instinto possessivo. Tinha de deixar Hinata seguir sua vida sem ele. Uma resolução que parecia perfeita e possível de se aguentar, até Ver Hinata caminhar em direção ao portão com Neji ao seu lado.

Alheia ao que a rodeava, imersa em suas próprias resoluções, Hinata não o viu, mas Neji sim e rodeou a cintura da prima com um braço. Hinata ergueu a face surpresa pela aproximação inesperada e corou ao receber um beijo na bochecha.

Com dentes cerrados, Sasuke forçou-se a não ceder ao desejo de afastar Hinata de Neji, desviou o olhar e aproveitou a abertura do portão para sumir colégio adentro. Não que isso o tranquilizasse, afinal, Hinata era sua colega de classe e sentava ao seu lado. Era estúpido, mas lamentou não poder alterar seus sentimentos como pretendia mudar de lugar na sala.

*S2*

Incomodada com o braço que envolvia sua cintura, Hinata aproveitou que chegaram à diretoria e delicadamente afastou-se do abraço.

A mesa de Tsunade tinha a sua frente seis cadeiras, sendo que quatro estavam ocupadas: Inoichi, pai de Ino, que era a sua perfeita versão masculina da flha com direito a um longo cabelo loiro preso em um rabo de cavalo, sentado na ponta da direita, seguido pela filha, depois Sakura e por fim, Mebuki, a senhora Haruno, uma loira de cabelo mediano e olhos semelhantes ao da filha. Neji praticamente a escoltou para a cadeira da ponta e sentou entre ela e Mebuki, porém não antes de lançar as suas colegas um olhar cortante que incomodou até mesmo ela.

Após ser informada que Neji representaria Hiashi, Tsunade tomou a dianteira da reunião e narrou tudo o que sabia sobre os acontecimentos da sexta, mostrando por fim o vídeo que haviam deixado sobre sua mesa com um aviso de que tentaram envenenar Hinata.

Sakura remexeu-se incomodada, sabia que seu destino seria selado naquela reunião, mas não era isso que a preocupava, ou o olhar assassino de Neji, e sim a expressão magoada e sofrida de Hinata. Precisava convencer a amiga que dessa vez não participara do complô contra ela, só não sabia como com tantas provas contra si.

– Exijo a expulsão imediata delas. – Neji pronunciou quando Tsunade desligou o DVD Player.

Inoichi logo se opôs e com sua costumeira calma indicou seus motivos:

– Sem provas concretas de que foram elas que atentaram contra a Hyuuga, considero a expulsão um exagero que prejudicará o futuro de ambas. Uma mancha no currículo escolar que impedirá que ingressem em uma boa faculdade. – Completou perspicaz.

– Exagero? Minha prima foi levada ao hospital às pressas por culpa delas e esse vídeo prova isso.

– O vídeo foi claramente editado. Podemos leva-lo a um especialista para analise caso ache necessário. – Ofereceu Inoichi.

– O vídeo sendo editado ou não, o fato é que elas prejudicaram a minha prima em diversas ocasiões. Negam? – Questionou olhando inquisidor primeiro para Sakura e depois para Ino.

Sakura abaixou a cabeça, envergonhada por suas atitudes anteriores.

– Fiz muito do que disse no vídeo, mas não envenenei ninguém, foi a ordinária da Karin...

– Ino, fique em silêncio! – Inoichi ordenou segurando sua mão com força. Voltou-se para Tsunade. – Esse é o último ano delas, que possuem notas impecáveis e, antes desse incidente, um histórico de bom comportamento. Creio que podemos chegar a um acordo.

– Depois do que assisti, concordo com o Hyuuga e acho pouco uma expulsão. – Pronunciou-se Mebuki, para desespero de Sakura, que começou a temer pelo pior, visto que sua própria mãe estava contra ela. – Porém, só aceito que minha filha irresponsável seja expulsa se todas as que foram citadas no vídeo, ou contribuíram nessa bobagem adolescente, sejam castigadas da mesma forma.

– Fora os que são citados no vídeo, não têm como saber sobre outros envolvidos.

– Ah, tem sim! – Ino retirou um caderno de capa preta com o símbolo do clã Uchiha de sua bolsa. – Guardo os nomes de todos que fazem parte do fã clube, juntamente com um pequeno cadastro e assinatura, são mais de duzentas pessoas segundo a última contagem, a maioria ajudou de alguma forma a boicotar a Hinata e devo ter citado umas vinte nesse vídeo.

– Duzentas?!

– Mais de duzentas.

– Não posso expulsar tantos alunos sem provas. – Disse pensando no escândalo que se seguiria caso fizesse. – Somente Ino, Sakura e todos que foram citadas no vídeo. – Voltou-se para Hinata, que desde que entrara em sua sala se mantivera em completo silêncio. – É isso o que deseja Hinata? A expulsão de todos os envolvidos?

Hinata abriu a boca para responder, mas Neji foi mais rápido.

– É lógico que ela quer a expulsão.

Hinata sentiu a vista escurecer momentaneamente, tamanha a raiva que a dominou diante da atitude de Neji.

– Não é isso que desejo. – Garantiu ao levantar e, contrariada, encarar o primo. Estava farta de todos tomarem decisões em seu lugar, sem levar em consideração o que tinha a dizer. – Não preciso que esse assunto saia do colégio, que é o que vai acontecer caso tantos alunos sejam expulsos. Não preciso que mais pessoas me vejam como fracassada, inútil e delicada para sempre. Eu. Não. Preciso. – Frisou sem desviar seus olhos claros do primo. Fechou os olhos por alguns segundos, respirou fundo e aos reabri-los voltou-se para Tsunade. – Além disso, acredito que Ino está certa a respeito de Karin. Ela me ameaçou dias antes do meu ataque alérgico. Na mesma ocasião fiquei sabendo, tanto através da Karin quanto pela Sakura, sobre o que o fã clube do Sasuke fez contra mim. Perdoei a Sakura e acredito na inocência dela. Quanto a Ino, não sei o que pensar, mas prefiro que ambas tenham outro tipo de punição. – Concluiu e voltou a sentar, sentindo o comum calor na face ao ser alvo de tantos olhares surpresos.

Inoichi, Sakura e Ino respiraram aliviados.

– Compreendo... E que tipo de punição merecem?

Hinata deu de ombros, não tinha a menor ideia do que dizer.

Rápido, Inoichi retirou um documento da pasta de couro marrom, que deixara ao lado da cadeira que ocupava, e o colocou sobre a mesa.

– Pensando na possibilidade de entrarmos em um acordo que agrade ambas as partes, redigi esse documento, que espero que aprovem e assinem.

– Do que se trata? – Quis saber Tsunade pegando o documento e lendo a primeira folha.

– É um contrato em que nós, os responsáveis, concordamos que Sakura e Ino ficaram a cargo de trabalhos manuais do colégio, limpeza, jardinagem, qualquer serviço que possam fazer nos intervalos e algumas horas após as aulas, até o fim desse ano. Também há especificações do que ocorrerá caso faltemos com a palavra, entre elas que, caso uma delas não cumpra o compromisso fixado, será imediatamente expulsa do colégio sem direito a qualquer tipo de represaria por parte da aluna e de seus pais.

– É legal, válido? – Perguntou uma surpresa Tsunade com a velocidade de ação de Inoichi.

– Após nossas assinaturas e reconhecimento de firma, será totalmente legal e inviolável. Podem ler antes de tomarem uma decisão. – Respondeu com o corpo relaxado contra a cadeira, transpirando confiança, até sua filha voluntariosa se queixar:

– Limpeza? Isso destruirá as minhas unhas.

O olhar feroz de seu pai teve o efeito de recorda-la do que lhe dissera após contar o motivo que teriam de comparecer na diretoria naquele dia:

O que fez ao permitir que suas colegas perseguissem, implicassem e isolassem sua colega repetidamente tem nome: Bullying. Mesmo que seja inocente na crise alérgica, tudo o que fez antes pode render um processo, tanto para você quanto para o colégio, caso a família da sua colega decida agir. Em que pensou? Provavelmente não nas consequências de seus atos.

Ele podia ajuda-la a escapar da expulsão, mas não estava satisfeito em fazê-lo e suas unhas não teriam misericórdia.

– Creio que as garotas podem assistir às aulas enquanto nós - os responsáveis - lemos todas as cláusulas e entramos em um consenso.

Tsunade assentiu e permitiu que as alunas saíssem.

– Seu pai foi rápido, Ino. – Sakura comentou ainda impressionada com o que acontecera na sala da diretora.

– É, mas agora teremos de limpar o colégio. – Resmungou.

Sakura voltou-se para Hinata, que andava ao seu lado.

– Hina... Juro que sou inocente, mesmo quando desejava vingança, jamais pensei em ir tão longe... – Deixou os ombros caírem cansados. – Essa armação pode ter custado o meu namoro.

Hinata parou de repente, o olhar colérico.

– O seu namoro? E o meu namoro? – Sakura a encarou sem entender nada. – Sasuke decidiu acabar com o nosso namoro por causa de vocês.

– Pode ficar zangada o quando quiser Hyuuga, mas não temos culpa dessa vez. – Defendeu-se Ino. – Faz dias que desisti do Sasuke, e estava ficando com outro rapaz quando aquela palhaçada de vídeo veio à tona. Estamos no mesmo barco agora e, se queremos recuperar nossos relacionamentos, teremos que nos unir.

– Sem essa Ino. Você é louca pelo Sasuke, quase me fuzilou quando decidi sair do seu plano idiota.

Ino revirou os olhos.

– O mundo gira, as pessoas mudam e eu posso desejar outro cara, não posso?

– Quem? – Sakura quis saber, ainda duvidando, e ao ouvir a resposta acreditou ainda menos no que a colega declarava.

– Shino?!

Hinata se unira ao coro de surpresa, impressionada com a revelação. Ino não fazia o tipo de Shino. Não que tivesse visto o amigo com alguém romanticamente, sequer o imaginava namorando, mas sempre imaginara que ele escolheria alguém discreta, o que Ino estava longe de ser.

– Exatamente. Portanto, imagina o quanto ele está feliz comigo agora por tentar matar sua adorada amiga, Hyuuga Hinata. – Comentou irônica e ressentida. – Olhe, vocês têm todas as razões do mundo para duvidar, mas podemos nos ajudar mutuamente para reconquistar nossos amores.

– Não sei... – Murmurou Sakura desconfiada.

– Estou sendo sincera e, dessa vez, tenho as melhores intenções do mundo. – Garantiu.

Hinata analisou suas opções, que não eram muitas, e se deu conta de que precisaria de toda a ajuda possível caso não conseguisse convencer Sasuke a reconsiderar sua decisão.

– Tudo bem. Falarei com Shino a seu favor. – Prometeu.

– Ótimo! – Alegrou-se Ino. – Chega de pessimismo e tristeza, dessa vez tudo var dar certo.

*S2*

Sentado no fundo da sala, Sasuke observou Hinata entrar na sala, franzido o cenho ao ver que conversava normalmente com Sakura e Ino, as últimas pessoas com a qual deveria se envolver. Ela caminhou até a carteira que estava acostumada a ficar e, ao notar que ele não estava no lugar de sempre, o buscou nas outras carteiras até encontra-lo, o olhar triste e magoado por perceber que ele não deseja mais ocupar o lugar ao seu lado.

Sasuke desviou a atenção para o melhor amigo, que deixou Sakura sentar ao lado dele. Naruto era realmente muito idiota.

Ino também sentou no lugar de sempre, o que não impressionou Sasuke. O colega Shikamaru era puxa-saco da loira e, provavelmente, jamais a abandonaria a própria sorte. O que ela merecia.

Agora, o mais impressionante foi uma das garotas de seu fã clube maldito se oferecer para sentar ao lado de Hinata, quase quebrou o pescoço ao ouvir as palavras da colega e voltar toda a sua atenção para a resposta da ex.

"Diga que não, diga que não." Torceu mentalmente e, como se o escutasse, Hinata olhou em sua direção, capturando-o com seus olhos lilases. Se ela não houvesse se voltado para a colega, que insistia em se oferecer para ocupar o lugar que antes era seu, temia que ficassem naquela troca de olhares por horas, o que abalaria sua determinação de deixa-la.

Ficou admirado quando, sem responder a colega, Hinata colocou sua bolsa na cadeira ao seu lado, ignorou a outra garota e voltou-se para a professora Anko. Deduziu que ela não queria ninguém, além dele, ao seu lado. Era errado e egoísta de sua parte, mas ficou satisfeito com essa reação.

*S2*

Aproveitando o intervalo, Hinata se encheu de coragem e foi a procura de Sasuke, que estava encostado em uma parede, as mãos no bolso da calça e o olhar fixo na terra que remexia com a ponta do sapato.

– Oi Sasuke...!

Ele ergueu o rosto, a surpresa inicial sendo substituída pela irritação ao afastar o corpo da parede para se afastar.

– Espere... – Pediu segurando a manga do blazer do uniforme dele.

O olhar frio que ele lhe endereçou a fez soltar sua roupa.

– E-eu s-só quero c-conversar...

Antes que qualquer um dos dois tivesse a chance de dizer algo, Kiba apareceu e se colocou defensivamente ao lado de Hinata.

Sasuke o encarou momentaneamente irritado, depois voltou a se afastar.

Hinata quis segui-lo, determinada a fazê-lo pelo menos ouvi-la, mas Kiba a segurou pelo braço.

– Deixe-o ir, você merece alguém melhor. Se me der uma chance...

– Kiba, já disse que só consigo enxerga-lo como amigo. – Disse estressada com o comportamento protetor de Kiba, que era a última coisa que necessitava no momento.

– Hina, esse cara é um imbecil que não merece o seu amor.

– Já chega, Kiba! - Sua voz saiu mais alta que o normal.

Sua exaltação atraiu a atenção dos colegas próximos, entre eles Sasuke, que os observava discretamente, notando que Kiba exagerara em sua tentativa ou era um péssimo conquistador, pois o clima em volta deles estava carregado e Hinata, a pacífica Hyuuga, parecia prestes a explodir. O que, para surpresa geral, aconteceu.

– A vida é minha, o namorado imbecil é meu, a droga do coração também é meu e eu o dou para quem eu quiser. – Gritou nervosa, puxando o braço para se afastar irradiando raiva por cada poro.

Era injustiça demais, até um monge tibetano não suportaria se estivesse em seu lugar, estava cansada de todos dizerem o que era ou não bom pra ela. Já nem se importava em falar com Sasuke, no estado em que estava se ele a tratasse mal seria capaz de esmurra-lo, o que obviamente não o machucaria e tampouco o faria mudar de ideia, mas talvez aliviasse a sensação ruim que oprimia seu coração.

– Hinata, espere!

Parou ao ouvir a voz de Naruto, mas seu olhar devia transmitir tudo o que sentia, pois ele vacilou um passo quando se voltou para encara-lo.

– O que foi? Também acha que sou uma inútil e veio ao meu socorro?

– Não, claro que não, longe disso, juro. – Naruto negou com veemência, assustado com a expressão e a pergunta irritada dela. – Quero falar sobre o Sasuke.

– O que tem aquele idiota?

Naruto riu e de repente Hinata se deu conta do que acabara de dizer, somado a tudo que fizera antes, e sentiu uma enorme vergonha de seu comportamento.

– Desculpa... Eu não queria...

– Você queria. – Naruto retrucou sorrindo. Pegou a mão da abalada Hyuuga para leva-la até um banco do pátio, onde sentaram lado a lado. – Sei que está chateada com o Sasuke, e tem razão, mas o teme te ama e só se afastou por causa do medo do que poderia te acontecer.

Hinata soltou um riso baixo e desprovido de humor.

– Claro, para me proteger.

– Isso mesmo, para te proteger. – Naruto confirmou, feliz por Hinata entender os motivos de Sasuke, mas logo reparando que dissera algo errado, pois ela parecia prestes a chorar. Disposto a amenizar o ar melancólico da amiga, desatou a falar: – Entenda, ele só quer o seu bem, até me disse para pedi-la em namoro. Ele acha que seria fácil porque você sempre foi apaixonada por mim, acredita?

Riu descontraído, mas a expressão séria e o olhar penetrante dela fizeram com que a encarasse intrigado.

– Você é apaixonada por mim?

– Era antes de namorar o Sasuke.

– Oh, puxa, nunca percebi! – Disse coçando a nuca totalmente sem graça.

– Eu sei. – Retrucou com desgosto.

– Mas... Você não... – Apontou rapidamente de um para o outro, constrangido com a possibilidade dela ainda sentir algo por ele.

– Não.

Respirou aliviado. Hinata era bonita e gentil, mas, mesmo sendo terrivelmente agressiva, Sakura era a única que ocupava sua mente e coração.

– Desculpa, como disse para o Sasuke, não poderia correspondê-la.

– Você ama a Sakura.

– Sim. Sei que deve odiá-la pelo que te aconteceu, mas acho que ela é inocente.

– Acredito nisso também e quero que continuem juntos. Sakura te ama e está com muito medo de te perder.

Os lábios de Naruto se estenderam em um grande sorriso e, espontâneo, apertou Hinata em um abraço.

– Você é sensacional, Hina-chan! – Lhe deu um beijo estalado, tão perigosamente perto da boca dela que a face lívida de imediato ficou vermelha, o rubor se estendendo até o pescoço. – O dobe vai se arrepender do que fez, tô certo!

*S2*

Sasuke já estava arrependido, pelo menos de incentivar Naruto a namorar Hinata. Grande amigo ele era, custava esperar uma semana antes de agarra-la na frente de todos? E, pelo jeito, Hinata ainda era apaixonado por Naruto, pois estava muito a vontade ao lado dele.

Balançou a cabeça. Não tinha direito de reclamar, ele jogara Hinata nos braços de Naruto e, mesmo que doesse, tinha que lembrar que a felicidade dela era o que importava.

– Rápida a Hyuuga, não é? - Karin postou-se a frente do Uchiha sorrindo, as mãos pousando sobre o tórax dele, que observou o gesto com indiferença. – E ainda por cima te trocou pelo seu melhor amigo. Ai, ai, ai, que atitude baixa a dela. – Umedeceu os lábios com a ponta da língua. – Que tal sair comigo hoje, para espairecer após as aulas? Um passeio lhe fará bem. – Aproximou o corpo com o olhar faminto.

Sasuke colocou as mãos em seus ombros e a afastou.

– Não quero nada com você e com nenhuma garota desse colégio. – Pronunciou alto o bastante para que os curiosos de plantão ouvissem.

Foi embora com passos largos, farto dos avanços de seu fã clube dispensável, da "amizade" de Naruto e do amor passageiro de Hinata.

*S2*

– Uau! Rejeitada de novo. Somando todas dá quanto? Mil?

Karin encarou Suigetsu com a raiva luzindo em seus olhos carmim.

– Me deixe em paz! – Ordenou desviando do rapaz, furiosa com o comentário dele e com o que Sasuke lhe dissera.

Após observar o requebrado de Karin ao distanciar-se dele, Suigetsu foi até Tayuya.

– Oi gata! – Cumprimentou pousando o braço sobre os ombros estreitos dela.

Ela lhe lançou um olhar atravessado e lhe deu uma cotovelada.

– Fique longe! Quero distancia de um sujeito que tem um caso com a própria irmã.

– Adotiva. Karin é minha irmã adotiva, sem qualquer laço de sangue. – Explicou.

– Isso deveria me tranquilizar? – Questionou cruzando os braços.

– Não tive essa intenção, mas se quer encarar assim... – Deu de ombros.

– É impressionante que goste dessa louca desvairada, que quase matou uma colega... Deveria contar tudo para a diretora.

– Conte então.

Abismada, Tayuya encarou Suigetsu.

– Quer que revele para a diretora o que vi e ouvi na sua casa?

– Se deseja contar, não serei eu a impedi-la. – Esticou os lábios deixando os dentes afiados a mostra em um sorriso sádico. – Mas, em minha opinião, será mais divertido contar para as garotas que a Karin incriminou.

*S2*

Observando suas mãos pousadas nas pernas, Sakura remoía a cena que vira minutos antes: Naruto todo alegre com a Hyuuga e, pior, a abraçando e beijando. Afinal, Hinata não iria ajuda-la? Talvez houvesse decidido dar o troco por tudo que a fizera passar. Embora essa atitude não combinasse com Hinata, naquele dia nada estava no seu normal e a tímida, doce e retraída Hyuuga era a mais fora de sua personalidade. Tomara a frente do primo na reunião na diretoria, ignorara as tentativas de reaproximação de algumas garotas do fã clube e até gritara e quase agredira Kiba. Não seria surpresa se também se tornasse vingativa.

Mordeu o lábio inferior, incerta do que deveria fazer e se deveria fazer algo. Suspirou vencida. Dessa vez só podia esperar para saber exatamente o que estava acontecendo, não queria cometer um novo erro, pagava muito caro pelo anterior.

"E se Naruto decidir ficar com a Hinata?". Sairia com o coração em frangalhos, mas teria de aceitar. Aprendera a lição, não podia obriga-lo a continuar com ela, tampouco buscaria revanche.

– Sakura-chan!

Ergueu a face e se surpreendeu ao ver Hinata e Naruto de mãos dadas. Engoliu a seco. Até onde Hinata pretendia ir com sua desforra?

– Ah...! Vejo que decidiram ficar juntos... – Disse com a voz embargada. Levantou e desviou a atenção das mãos unidas. – Eu tenho que ir...

– Sakura, não acredito que tirou conclusões precipitadas de novo. – Reclamou Hinata.

– E eu não acredito que está me entregando de bandeja para outra. – Inteirou Naruto. – Caramba, Sakura-chan, isso magoa!

– Eu vi você a beijando.

– No rosto, como amigo.

Sakura se viu alvo de dois pares de olhos claros chateados.

– Vocês não estão juntos?

– Não. – Responderam.

– Então por que...? – Apontou para as mãos que continuavam entrelaçadas.

Envergonhada, Hinata soltou a mão de Naruto e desculpou-se.

– Queria trazê-lo até você, só isso. Naruto te ama e a mais ninguém. – E concluiu com um sorriso triste: - Pelo menos uma de nós terá quem ama de volta.

A alegria de Sakura foi eclipsada pela infelicidade de Hinata, sem pensar muito a abraçou para transmitir conforto.

– Calma Hina! Vamos convencer o Sasuke a desistir da ideia ridícula de separação.

– Vamos mesmo, tô certo! – Reiterou Naruto espremendo Hinata entre ele e Sakura em um abraço empolgado.

*S2*

Transbordando júbilo, para Karin aquele dia era o mais ensolarado do ano e os pássaros cantavam com maior sintonia, porque, embora Sasuke ainda não fosse seu, pelo menos não havia mais nenhum empecilho entre eles. Agora era só questão de tempo e insistência.

Seus pés flutuavam enquanto seguia para a vaga que o motorista de sua família ocupava no estacionamento próximo ao colégio, quando teve o cabelo puxado com brutalidade, ficando cara a cara com uma loira furiosa.

– Pensou que iria se safar?

Antes que tivesse tempo de defesa, Ino a empurrou em uma parede próxima sem soltar seu cabelo.

– Enlouqueceu? – Murmurou com as costas doloridas contra a parede fria.

– Pode apostar que sim, pilantra descarada. – Ela respondeu com as feições transtornadas. - Por sua culpa vou virar faxineira no colégio.

– Eu não fiz nada... – Defendeu-se tentando soltar os fios dos dedos de aço da Yamanaka.

– Não tente me enganar. – Retrucou Ino chacoalhando-a. - Sei que você causou a alergia da Hinata e armou contra mim. Reconheci seu quarto naquele vídeo sem vergonha que fez.

– Tem provas? – Riu do silêncio da colega. – Imagino que a resposta é: Não.

– Minha resposta é: Ainda tenho unhas.

*S2*

– Aê, galera! Tem duas garotas se pegando no estacionamento!

Em segundos Ino e Karin, que rolavam e se estapeavam no chão, foram cercadas pelos estudantes que saiam do colégio, nenhum se prontificou em separa-las, somente observavam, assobiavam e faziam apostas de quem sairia vencedora da batalha de arranca cabelo, tapas e unhadas.

Suigetsu e Juugo, que viram a briga desde o começo, faziam parte da multidão a observar, o primeiro por achar divertido e não ter a menor vontade de enfrentar a ira da Yamanaka, o segundo por considerar que Karin merecia uma lição pelo que fizera, como ele não podia dá-la não impediria outra pessoa, que possuía razões muito mais fortes que as dele. Nem mesmo Kimimaro conseguiu convence-los a intervir.

– Entrar no meio delas é pedir pra apanhar junto. – Suigetsu disse e riu quando viu Karin receber outro tapa. - Aposto toda a minha mesada que a loira ganha.

Por fim dois rapazes apareceram para separa-las.

– Que problemático! – Shikamaru resmungou puxando a amiga enfurecida de cima da ruiva.

Karin teria aproveitado a oportunidade para revidar o ataque que sofrera, no entanto Shino a segurou por trás, mantendo-a firmemente presa com os braços atrás das costas.

– ME SOLTA! – Ino exigia aos berros, tentando se libertar dos braços que envolviam sua cintura.

– Calma Ino! – Shikamaru fez uma careta ao ter o braço arranhado, mas não a soltou. - Não é assim que se resolve um problema.

– Quem disse que quero resolver alguma coisa? Quero acabar com a vida dessa cretina venenosa. – Refutou, antes de direcionar sua ira para o outro rapaz. – Vai protegê-la? Foi ela que feriu a Hinata.

Como não conseguia interpretar alguém de óculos escuros e boca fechada, não sabia que efeito sua acusação causará no Aburame. Teve de se contentar em observa-lo se afastar com Karin.

– Estará encrencada se a diretora souber o que fez. – Disse escoltando a amiga para longe da confusão. – Teve sorte de não terem ido busca-la.

– Foi a Karin que envenenou a Hinata.

– Essa desculpa não faria diferença para ela.

– Preciso provar que dessa sou inocente. -

Parando em frente ao carro da família Yamanaka, Shikamaru a soltou.

– Preste atenção. – Pediu segurando a face da colega entre as mãos. – Não é batendo na Karin que provará sua inocência. Seria sempre a sua palavra contra a dela e, convenhamos, os fatos estão contra você.

– Então como? – A voz confiante se dissolveu, estava angustiada com a percepção de que Shikamaru tinha razão.

Shikamaru pensou rapidamente antes de responder:

– O colégio é repleto de câmeras. Existe uma chance de uma delas ter gravado o que causou a crise da Hinata. – Comentou, frisando que a possibilidade era pequena para não dar falsa esperança.

– Você é um gênio, Shika! – Exultou ao pular no pescoço do amigo e distribuir vários beijinhos em sua face. – Obrigada! Obrigada! Vou falar com a diretora...

Shikamaru segurou sua mão para impedi-la de correr para o colégio.

– Melhor procura-la amanhã. – Propôs temeroso de que Tsunade já soubesse a última de Ino e, em vez de escuta-la, lhe desse uma suspensão.

– Certo, amanhã. – Ino concordou, lendo no rosto do amigo os motivos de ter de aguardar.

– Se cuida Ino, e vê se fica longe de novos problemas. – Recomendou acariciando rapidamente o topo da cabeleira dourada antes de se afastar.

Abriu a porta do passageiro para entrar no carro, onde o motorista a aguardava pacientemente, mas foi impedida ao ter o braço segurado.

*S2*

Espumando de raiva, Karin entrou em seu quarto e foi até o espelho para analisar o estrago que Ino fizera em seu rosto. Arranhões estragaram a perfeição de sua pele, porém nada que uma boa maquilagem não pudesse ocultar. Deslizando um dedo em um arranhão mais profundo, não pode deixar de agradecer sua sorte por Sakura não ter se juntado a Ino, sabia por experiência que a Haruno não era adepta de tapas e unhadas, e sim de punhos cerrados que deixavam marcas roxas e dolorosas por semanas.

Respirou profundamente e deitou devagar o corpo dolorido na cama. Não bastasse a agressão, ainda tivera de escutar o sermão do garoto mais estranho de sua turma, além de uma ameaça que não lhe passara despercebida e, tinha certeza, não tivera a menor intenção de ser.

Sorriu. De qualquer forma, ela conseguira o que queria e ninguém estragaria sua vitória.

*S2*

Deitado de barriga para cima e com o celular junto à orelha, Sasuke não conseguiu evitar o alívio após ouvir Naruto dizer que, ele aprovando ou não, continuaria a namorar Sakura.

Não quero perder sua amizade, mas, como disse para a Hina-chan, Sakura é a única garota pra mim.

– Hum...

Cara, faça as pazes com a Hinata.

– Cuide da sua vida Naruto.

Naruto ignorou o tom rude.

Ela tá mal teme, qualquer um percebe isso. E você também não tá bem, assuma.

– Vou desligar, tenho algumas coisas pra fazer...

Tipo, ficar pensando na Hinata?

Apertando o celular com força, Sasuke se perguntava o que o impedia de desligar o aparelho na cara do colega.

Naruto, fala pra ele não desistir dela.

Eu tô tentando, mas você conhece a teimosia do dobe.

Diz que ela o ama.

Tá ouvindo isso, teme? Hinata te ama cara, você tem que pedir desculpas, explicar que você é um idiota insensível e... Aiii!

Ouviu um baque do outro lado da linha, e não pode evitar sentir certa satisfação ao imaginar o que acontecera.

Sakura...?!

Assim o máximo que vai conseguir é irrita-lo, e o que queremos é que ele volte para a Hinata.

Mas ele é muito cabeça dura, prefere ficar sofrendo calado...

Sasuke respirou fundo. Já era péssimo ter Naruto lhe dando conselhos amorosos, ouvi-lo comentar isso com Sakura era ainda pior.

– Vai namorar Naruto.

– Cara, coloca um pouco de juízo na sua cabeça, senão vai perder a garota que ama para outro.

Mesmo ciente que Naruto tinha razão, estava farto daquela conversa, por isso, encerrou a ligação sem se despedir.

Fechou os olhos, e logo a imagem de Hinata se tornava nítida a sua frente, o sorriso doce que sempre estava presentes nos lábios rosados... Tinha saudades dos sorrisos dela, se fosse bem honesto confessaria que sentia falta principalmente daqueles lábios rosados, que com um simples roçar o atiçava de uma forma que nenhuma outra conseguia.

Sentou na cama e retirou a foto deles do bolso da camisa, deslizando o polegar pela face dela, desejando poder retornar aquele momento. Talvez quando se formassem, quando não houvesse mais fanáticas entre eles, pudesse recupera-la... Se até lá ela permanecesse sozinha, o que Inuzuka Kiba e Hyuuga Neji pareciam dispostos a evitar...