Capítulo 18

~*S2*~

A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: Apaga o pequeno, inflama o grande. (Roger Bussy-Rabutin)

~*S2*~

Colocando o uniforme, Hinata sentia-se fraca e desanimada. Imaginar que logo estaria no colégio e Sasuke ignoraria sua existência, era o principal motivo para seu estado.

Terminou de colocar o casaco e, em vez de sair do quarto, se jogou sobre a cama. Os olhos úmidos e uma dor forte travando sua garganta. Sentia-se vazia, muito mais do que quando vira Naruto beijando Sakura. Por que nunca conseguia ser feliz?

Batidas em sua porta lhe chamaram a atenção, mas não se levantou, sentia-se fraca, em pedaços, então só pediu para a pessoa entrar. Era Neji.

- Seu pai quer falar com você no escritório, sobre o ocorrido no colégio.

Ergueu o corpo e encarou Neji em choque.

- Você contou?

- Foi preciso. – Ele respondeu, explicando em seguida: - Posso ser bom para uma reunião sobre "aulas extras", mas não posso assinar nada como seu responsável.

*S2*

- Inoshi contou-me como agiu na reunião. – Soltou Hiashi após sentarem frente a frente, somente uma escrivaninha de madeira maciça entre eles.

Hinata abaixou a cabeça à espera da bronca.

- Fico orgulhoso de sua atitude. Seria péssimo ter um Hyuuga exposto dessa forma.

O encarou, ficando ainda mais surpresa quando ele disse com os olhos cravados nos dela:

- Sua diplomacia será útil para a corporação Hyuuga no futuro.

Boquiaberta, Hinata beliscou a parte interna do braço para ter certeza de que estava acordada. A dor não deixava dúvida. Era real. Seu pai não somente aprovara seu rompante no colégio, como dizia claramente que esperava que ocupasse um cargo na empresa da família. Tal reconhecimento sempre lhe parecera impossível.

- Obviamente não me agradou saber o que te aconteceu através de terceiros. – Reprovou com dureza. - No futuro quero ser informado imediatamente.

- Sim...

- Como precaução, marquei uma consulta com Kakuzu. – Disse referindo-se ao médico da família. - Será depois do horário de aulas. Ele passará modos de prevenção atuais.

- Sim... – Hinata sentiu os olhos umedecerem novamente, dessa vez de felicidade. O distante Hyuuga Hiashi, seu pai, estava demonstrando preocupação por ela.

- Também inscreverei você e Hanabi em um curso de defesa pessoal na academia que eu e Neji frequentamos. – Ele levantou e Hinata o copiou. - Deveria ter feito isso antes, mas nunca é tarde.

Quando ele passou por si, Hinata não resistiu e o abraçou com força.

- Obrigada por se preocupar comigo otousan!

Hiashi a fez ergue a face, seus olhos, normalmente frios e indiferentes, tinham um calor incomum.

- Você é minha filha, tenho que cuidar para que sempre esteja segura. – Ele a abraçou de forma desajeitada, mas que aqueceu o coração de Hinata.

Em meio ao caos algo bom emergira.

*S2*

Espumando de raiva, Ino saiu da sala da diretora e foi ao encontro dos colegas: Shikamaru, Naruto e Sakura. Eles aguardavam o resultado de sua conversa, e ao verem sua expressão desanimaram.

- Pelo jeito não deu certo. – Supôs Naruto, apertando de leve o abraço em volta da cintura da namorada como forma de consolo.

- Aquela bruxa velha nem quis me ouvir.

- E as filmagens?

- Disse que demoraria dias para verificar, e ela não pretende colocar seus funcionários atrás de uma "invenção" minha para sair impune. – Respondeu irritada, completando com desgosto. – Ela acha que menti até sobre o caso da Karin com o irmão.

- O quê?!

- Ontem uma garota contou-me que os viu se agarrando, além de ouvir aquela ruiva maligna praticamente admitir que envenenou a Hinata. – Contou, recordando da garota que a abordara no final das aulas do dia anterior.

- Com qual dos irmãos? – Quis saber Naruto.

Antes que Ino respondesse, Shikamaru se adiantou:

- Suigetsu. – Ao ser alvo do olhar surpreso de Ino, explicou dando de ombros: - Os vi certa vez.

- E porque não me disse?

- Não gosto de me envolver nos problemas alheios, é complicado demais.

Ino bufou. Essa inércia do amigo a irritava.

- E agora? Questionou Sakura.

- Agora só nos resta transformar o último ano daquela... Filhote de cobra em um inferno.

- Quando fizeram isso com a Hinata acabou em confusão. – Recordou Shikamaru bocejando entediado. – Aliais, não deviam ajudar o pessoal da limpeza?

Ino lhe lançou um olhar fulminante e se afastou pisando fundo.

Seus colegas a seguiram. Nenhum deles notou que, envolvido pelas sombras, alguém os observava com olhos e ouvidos atentos.

*S2*

A aula preferida de Hinata começou com Kurenai olhando intrigada para o lugar vazio, que antes era ocupado por Sasuke.

- Ele faltou? – Perguntou preocupada.

Hinata negou e informou que ele estava no fundo da sala.

Com um gesto de mão, Kurenai chamou Sasuke.

- Peque seu material e sente ao lado de sua parceira. – Ordenou quando ele parou a sua frente.

- Prefiro fazer a aula sozinho. – Retrucou com pouco caso. - A Hinata é cuidadosa, não vai queimar ou esquecer algo.

Kurenai arqueou uma fina sobrancelha.

- Quando formou a dupla estava consciente que não ocorreriam trocas e que não desejo ninguém sozinho.

- Mas...

- Sem "mas..." e sem troca. – Sentenciou retornando para sua mesa.

Zangado por ser obrigado a manter a dupla com Hinata, Sasuke fez o que Kurenai ordenara, com a expressão fechada.

Embora por fora transmitisse tranquilidade, por dentro Hinata estava eufórica. Kurenai conseguira reuni-la a Sasuke por alguns minutos.

- Hoje aprenderemos a fazer um alimento prático, nutritivo e rápido, que alimentou povos nômades.

Os ingredientes foram distribuídos e a professora começou as explicações.

Mesmo gostando da aula, Hinata não conseguia se concentrar. Estar perto de Sasuke novamente aumentara sua ansiedade e deixara suas mãos trêmulas. Não foi surpresa deixar o recipiente que utilizava para jogar farinha cair aos pés de ambos, derrubando um pouco de seu conteúdo sobre seus sapatos.

Abaixou-se para pegar o pote e, ao fazê-lo, teve a mão coberta pela de Sasuke, que também se abaixara para resgatar o objeto.

Ergueu a face corada ao mesmo tempo em que ele erguia seu rosto. Seus olhos se encontraram no processo. Ônix e pérola. A escuridão profunda e a lua refletindo expectativa.

Hinata sentiu a boca seca e umedeceu os lábios com a ponta da língua. Sasuke seguiu seu movimento suave e grunhiu baixinho, voltando a olha-la nos olhos. Seus rostos se aproximaram. Um corpo atraindo o outro, seus narizes roçando de leve. Momentaneamente alheio ao que o rodeava, Sasuke aproximou os lábios da boca de Hinata.

- Está tudo bem?

Sasuke levantou-se surpreso, batendo a cabeça no tampo da mesa, o que o forçou a se agachar novamente, dessa vez massageando a área atingida.

- Droga!

Hinata tentou ajuda-lo, mas sua mão foi repelida com um safanão. Com um suspiro magoado, voltou-se para Kurenai.

- Deixei o pote cair e o Sasuke-kun me ajudava a limpar a bagunça.

- Compreendo. Assim que terminarem podem pegar mais ingrediente comigo. – Disse retornando ao seu lugar.

Hinata e Sasuke fizeram isso. Hinata observando Sasuke com um sorriso pequeno, pois, mesmo com a expressão irritada, ele não conseguira disfarçar que ainda gostava dela. E ele evitando cruzar com o olhar perigoso dela novamente.

*S2*

Nas primeiras aulas, Ino não deixara a mente descansar, procurando uma forma de punir Karin. Necessitava da retaliação com urgência. Mas só após vestir o uniforme de limpeza e seguir para a quadra da escola que um plano brilhou em sua mente vingativa. Iria acabar com a reputação de boa moça de Karin.

- Ei, Ino! Vai ficar admirando o quadro de aviso por quanto tempo enquanto tiro essas... Coisas? – Reclamou Sakura raspando com uma espátula uma massa acinzentada que esperava ter sido de chiclete um dia.

- Tive um lampejo.

- Ótimo! Enquanto "lampeja", que tal colocar as mãozinhas pra trabalhar? – Retrucou raspando com força uma massa enorme de procedência desconhecida.

Com um sorriso vitorioso, Ino foi limpar os bancos, imaginando a cara de Karin quando colocasse seu plano em ação. Sua felicidade só cessou quando, ao retirar as luvas, viu que uma de suas delicadas unhas estava trincada.

- Ela me PAGA!

*S2*

Fora uma semana quase improdutiva.

Não conseguira falar com Shino. Ele simplesmente sumia nos intervalos e na saída do colégio, nem mesmo no fim de semana o encontrara. Também não conseguira falar com Sakura ou Ino, ambas passavam os intervalos e meia hora após as aulas aos serviços do colégio. Por celular tudo lhe parecia tão frio que parara de telefonar.

Em compensação, Naruto, com quem passava todos os intervalos, lhe dissera que Ino tinha um plano que colocaria em ação o mais rápido que conseguisse, porém não explicara para Sakura – que fora quem passara a informação para Naruto - o que era e nem quando de fato ocorreria. Kiba, que também ficava ao seu lado nos intervalos, após pedir desculpas, prometera não impor seus sentimentos e nunca mais insultar Sasuke. Ele também estranhava o sumiço do Aburame. E, por fim, teve aquele breve momento em que Sasuke quase a beijaria.

Ajeitou o uniforme e se olhou no espelho, a centelha da esperança a fez sorrir minimamente. Era o dia da aula de Tarefas Domésticas e Sasuke teria que sentar ao seu lado. Era tolice esperar que essa proximidade forçada fizesse Sasuke mudar de ideia? Se fosse, era a maior tola do universo.

*S2*

O tumulto e o burburinho da entrada do colégio estavam piores naquela manhã de terça-feira. Havia um garotinho distribuindo um panfleto para todos que seguiam até o portão aberto. Sem a menor vontade de carregar um papel desnecessário, Karin o ignorou e seguiu seu caminho.

Nos últimos dias caprichava na maquiagem, exalava um perfume exótico e fazia tudo para atrair a atenção de Sasuke. Infelizmente o uniforme não ajudava, mas tinha de trabalhar com o que podia. Desejava conquista-lo antes do fim de semana, assim no sábado poderiam passear como dois enamorados.

Estava absorta nas cenas românticas em sua mente e não reparou nos pescoços que viravam, nos risinhos e nos comentários indelicados e maliciosos que eram soltos ocasionalmente por onde passava.

- Karin! – Ouviu a voz de Suigetsu ao longe. Fez questão de ignorar. – Karin!

Percebendo que não adiantava só chamar, Suigetsu a alcançou e segurou seu braço.

- O que foi imbecil?

- Só queria mostrar como somos fotogênicos. – Respondeu com um sorriso abusado.

- Pirou?!

Ele estendeu um papel na altura de seus olhos.

- Que porcaria é essa?! – Questionou incrédula, agarrando a folha para picota-la em mil pedaços.

- Destruir esse não vai adiantar. – Comentou Suigetsu com a zombaria que lhe era comum e a irritava. - Todo mundo recebeu um e agora somos o assunto do momento.

Observou ao seu entorno. Era o centro das atenções.

- Karin e Suigetsu, que bom encontra-los juntos. – Ouviu a voz insuportável de Danzou, que se materializando a sua frente. – A diretora os chama.

*S2*

Depois de receber a maior bronca de sua vida, Karin retornou a sala de aula e evitou olhar para os colegas. Mas o falatório era audível até para quem não tinha interesse no assunto.

- Hoje a aula será especial. – Informou Kurenai. – Todos me acompanhem ao auditório.

Cabisbaixa, Karin seguiu os colegas, fazendo questão de ficar muitos passos atrás deles.

- Desculpe retira-los de suas salas. – Começou a diretora em frente a uma tela branca. – Devido a um acontecimento lamentável e o conselho de um aluno. Decidi passar o filme A Classe para todas as turmas no dia de hoje, começando pelo terceiro ano. - Desceu do palco e sentou na primeira fila.

As luzes se apagaram e o filme começou. Todos ficaram atentos ao desenrolar da história e, ao fim, os alunos continuaram em seus lugares, a espera das luzes acenderem e terem permissão para voltar às aulas, mas, pouco depois da cena final, a tela ficou preta, piscou com um chiado e outro filme, em preto e branco, começou. Porém, para surpresa de todos no auditório, as cenas se passavam no refeitório do colégio.

Karin afundou em sua poltrona quando uma imagem de si apareceu subindo em uma mesa, ficando de frente para Sakura e Naruto, seu corpo inclinado em direção ao casal. Ficou mortificada quando a cena se repetiu, agora com um close em suas mãos que, habilidosas, espetavam a caixinha de suco atrás de si com a fina agulha de uma seringa. A tela chiou novamente, apareceu Hinata bebendo o líquido, close no horário. Novo chiado, Hinata sendo carregada por Sasuke e um close no horário. As imagens cessaram e, pelo olhar que a diretora tinha ao procura-la nas fileiras, Karin antecipou o que aconteceria e tremeu de medo.

*S2*

Na saída, acompanhada pelos colegas, Hinata, Sakura, Naruto, Shikamaru e Chouji, Ino era só felicidade. Não só afundara a reputação de Karin, como foi abençoada com a revelação de que era inocente na crise alérgica de Hinata. Além disso, apesar de ter passado o intervalo limpando a sala de ciências, Tsunade as dispensara do "castigo" no fim das aulas. Esperava que em pouco tempo fossem dispensadas totalmente.

- O que acha que vai acontecer agora? – Sakura questionou, apertando o corpo contra o do namorado, que a abraçava pelos ombros.

- O óbvio: Karin vai ser expulsa e nos receberemos nossa carta de liberdade.

- Ela não expulsou vocês. – Recordou Naruto.

- Por falta de provas, e porque tivemos o melhor advogado do mundo do nosso lado: Meu pai.

- A Hinata também ajudou. – Disse Sakura olhando agradecida para a amiga parada ao lado de Chouji.

- Como conseguiu as imagens? - Quis saber Hinata.

- As fotos foram fáceis. Ficamos de olho naqueles dois. Demorou, mas conseguimos fotografar os momentos íntimos dos "irmãos". – Contou. Ao que Shikamaru bufou entediado e Chouji resmungou algo sobre pagar um churrasco para ele.

- E as filmagens?

- Ah... Não fui eu...

- Por quê? Porque Ino não sabe ser sutil.

- Por Kami! Como consegue aparecer do nada, cara? – Reclamou Naruto, a mão sobre o peito, onde o coração batia acelerado devido o susto.

- Foi você? – Ino perguntou para a figura encapuzada alguns passos atrás de Naruto, acompanhada por Kiba.

Ele anuiu.

- Ouvi quando disseram que Hinata podia ter sofrido o atentado em frente às câmeras do colégio. Conversei com a diretora e a convenci a me deixar verificar as fitas. – Explicou. – Depois só foi editar e utilizar no fim do filme que indiquei para a Tsunade passar para a turma.

- Você é um gênio! – Gritou Ino e, sem cerimônia, pulou no pescoço dele e lhe deu um beijo barulhento que deixou os colegas constrangidos.

- Esquisito! – Murmurou Naruto. Em sua mente Shino era inamorável e incapaz de dar um beijo desentupidor de pia como aquele.

Hinata estava feliz por Ino. Ao que parecia, Shino a perdoara, ou a Yamanaka o forçaria a continuar aquele beijo até que a perdoasse.

Sentiu a nuca se arrepiar, olhou para trás e seu olhar encontrou o de Sasuke por um segundo antes dele o desviar. Ele seguiu seu rumo sem dar sinal de que o que acontecera mudaria sua resolução de terminar o relacionamento.

Suspirou profundamente e sentiu um toque em seu ombro.

- Conseguiremos convence-lo, Hina. – Garantiu Sakura com um sorriso confiante, que não alcançou à amiga.

- Nem sei se vale a pena. – Retrucou cansada e magoada com a atitude do Uchiha. – Se me deixou é porque não me ama mesmo. – Comentou acariciando distraída o amuleto com o símbolo Uchiha.

- Ou por ser um idiota. – Pronunciou Kiba. Diante do olhar contrariado da amiga, corrigiu: - Não quis ofende-lo. Só acho que só um idiota deixaria a garota que ama solta para outros garotos paquerarem, sendo que, a garota em questão, deseja ficar com ele.

- Já sei! – Gritou Ino atraindo a atenção dos colegas, os braços ainda em torno do pescoço do Aburame. – Tive uma ideia. – Diante do resmungo de Shino, voltou-se ofendida. – Confie em mim. Também sou um gênio. – Sorriu enigmática e piscou marota. – Mas meus métodos são mortíferos como o de uma abelha rainha.

Shino sorriu minimamente e os outros não entenderam a graça da piada. Se é que era uma piada.

*S2*

Desanimada, Hinata subiu as escadas devagar, como se suas pernas não aguentassem o peso de seu corpo, talvez não aguentassem mesmo, fazia um tempo que não se alimentava bem, especificamente desde que Sasuke terminara com ela, que nem ao menos lhe dirigia o olhar. Era estranho após tantos meses tendo conversas animadas com Sasuke, vê-lo sorrir e se habituar aos carinhos dele, ter que ficar calada ao lado dele, que voltara a ser frio, indiferente e distante.

Entrou em seu quarto, se jogou em sua cama e, não aguentando mais a dor em seu peito, deixou as lágrimas caírem livremente. Saske pulou na cama e aconchegou o corpo no seu, choramingando e lambendo seu braço, como se soubesse que ela estava quebrada por dentro e desejasse conforta-la. Porém, as últimas palavras de Ino giravam em sua mente, fazendo com que esquecesse a fofura do cachorrinho e seu estado de humor piorasse. A loira fora taxativa e até um pouco cruel. Seria tudo ou nada, se depois daquele plano de choque Sasuke não voltasse atrás, significava que ele não se importava com ela.

- Hina...?

Entrando no quarto após alguns minutos, Neji se espantou por ver Hinata tão desolada, não pensara que ela amasse tanto o Uchiha.

Sentou-se ao lado dela e acariciou os cabelos da prima com carinho.

- Hinata, não chore. Era inevitável. Eu te disse que ele cansava fácil...

Hinata o encarou com raiva. Como, em um momento como aquele, em que seu coração estava em pedaços, Neji podia ficar lembrando-a de que a avisara a não ter nada com Sasuke?

- É. Você disse. - Hinata deu um sorriso triste. - Posso te pedir uma coisa nii-san?

- Claro. - Neji passou os dedos sobre a face molhada com carinho. - Tudo o que você quiser.

Hinata se afastou do primo e virou na cama, ficando de costas para ele.

- Me deixe sofrer sozinha.

As palavras tinham sido duras aos ouvidos de Neji, e tinha certeza que fora de propósito. Hinata estava claramente dispensando-o. Levantou-se se sentindo um verdadeiro idiota, percebia agora que Hinata nunca o veria como outra coisa que não um irmão.

- Como queira Hinata-sama.

Saiu, fechou a porta e encostou o corpo nela, inspirando fortemente o ar para dentro dos pulmões e espirando devagar, derrotado. Era isso, assumia que perdera sem nem mesmo ter a oportunidade de lutar. Percebeu que, querendo ou não, a felicidade de Hinata estava com Sasuke. Entendeu que nunca poderia mostrar o quanto a amava como mulher, pois Hinata sempre o veria como um irmão mais velho e nada mais.

Retirou o celular do bolso da calça jeans e procurou na lista de contatos um número que há muito não utilizava. Sem dar tempo para a pessoa do outro lado da linha falar, soltou:

- Você venceu!

Desligou e seguiu para o próprio quarto.

*S2*

Endireitando as costas na cadeira em frente à mesa de computador, encarou intrigado o celular em sua mão, tentando entender o significado do que ouvira antes da ligação encerrar bruscamente. O que Neji queria dizer com: "Você venceu!". Estava em casa, amargurando a falta de Hinata, e o fato de que nenhuma garota lhe parecia boa o suficiente quando comparada a ex, e o Hyuuga aparecia com essa mensagem sem sentido. Não se sentia vencedor, era justamente o contrário.

Jogou a cabeça para trás e fitou o teto, o pensamento longe.

Tinha uma vida tranquila, dedicada aos estudos, aturar seu irmão, ter namoricos ocasionais e a amar a si mesmo acima de todas as coisas... Até beijar Hinata. Por que cometeu o erro de abrir o coração para ela?

Relanceou o olhar para o aparelho em sua mão. Podia ligar, nem precisava dizer nada, só ouvir a voz dela talvez suavizasse sua necessidade crescente. Não! Ela identificaria seu número e isso poderia lhe dar falsas esperanças. Além disso, não bancaria o idiota apaixonado... Mesmo que fosse um.

Frustrado, apertou os lábios e fechou os olhos. Precisava apaga-la de sua mente e de seu coração, caso contrário enlouqueceria antes do fim do ano letivo.

- Deixe-me adivinhar... Pensando na Hyuuga.

Continuou com os olhos cerrados, a expressão fechada.

- Não tem aula hoje?

- Falta uma hora para começar.

Ouviu passos se aproximando, mas só abriu os olhos quando teve o celular surrupiado pelo mais velho. Segurou a vontade de levantar e fazer o que o irmão desejava: Papel de idiota para resgatar seu celular.

- Qual é o número da Hina?

Trincou os dentes diante da intimidade de Itachi ao dizer o nome de Hinata.

- Não é da sua conta.

- Pelo menos me diga sua senha, assim procuro sozinho.

Olhou de esguelha para o irmão que apertava teclas aleatórias para desbloquear seu celular.

- Vai quebrar meu celular, imbecil.

- Vamos, seja gentil uma vez na vida e diga o telefone da Hina. Preciso muito marcar um encontro com ela... – Ele colocou a mão no queixo pensativo. – Sabe, me dei conta que uns beijinhos não podem ser crime e, bem, se passar um pouco disso...

Sasuke levantou em um pulo, agarrou o celular, o guardou no bolso e encarou o irmão com a fúria flamejando em seus olhos.

- Saia do meu quarto, agora!

- Calma, não fique nervosinha.

Rindo Itachi fitou o irmão atentamente, então cruzou os braços em frente o tórax e adquiriu uma expressão séria.

- Irmãozinho tolo, se fica assim só por causa de um comentário, imagina o que vai acontecer quando Hinata decidir namorar outro. – Observou a confusão cruzar a face do mais novo. – Você é a minha única família, te amo mais que tudo nessa vida e o desejo a sua felicidade, por isso lhe darei um conselho...

- Vai bancar o irmão preocupado? – Interrompeu Sasuke desviando o assunto. Preferia trilhar o caminho da animosidade, do que enveredar pelo da compaixão.

- Me preocupo com você, mais do que imagina. Só por isso gasto meu tempo tentando colocar nessa sua mente néscia que, se gosta da garota deveria lutar para ficar com ela, em vez de bancar o pobrezinho lambendo as feridas que se auto-infligiu. – Ele esticou um braço e cutucou a testa do menor com o indicador. - Esse seu orgulho e teimosia infantis podem lhe custar muito caro. - Saiu, deixando o irmão mais novo irritado com seus comentários.

Perturbado pelas palavras do mais velho, que ecoavam em sua cabeça, afundou as dedos nos cabelos bagunçando-os. Se ficava alterado só de imaginar Hinata com outro, temia do que seria capaz se de fato ela se relacionasse com alguém.

Droga! Era infantilidade querer que ela o esperasse sem precisar pedir?

*S2*

A diretora conseguira a proeza de marcar uma reunião de última hora com seus pais logo após o fim das aulas, com certeza devido a amizade que tinha com seu pai Orochimaru. Eles chegaram à diretoria com evidente preocupação pelo que ocorrera com seus filhos, mas, após Tsunade mostrar a xérox estampando três fotos deles aos beijos no colégio, logo o que tinham na face era surpresa.

- É o Suigetsu que vive me azucrinando e perseguindo. – Acusou, apontando para o rapaz sentado na outra ponta, ao lado de Kabuto.

- Não foi à primeira vez. – Ele comentou dando de ombros, revelando com um sorriso malicioso. – E você nunca se importou que eu a beijasse, tanto aqui quanto em casa.

- Ora, seu abusado! – Esticou o corpo querendo esgana-lo, pouco ligando para o fato de que tinham os pais entre eles.

- Comporte-se! – Pediu Orochimaru a forçando a voltar a sentar corretamente no lugar.

- Eu o odeio. – Choramingou.

- Tsu, é comum nessa idade se deixar dominar pelos hormônios. – Comentou Orochimaru, considerando exagero a diretora tê-los retirado de seus respectivos trabalhos por causa daquilo. – Conversarei com ambos em casa e resolveremos essa situação. – Prometeu querendo encerrar o assunto.

- Não os chamei só por causa do comportamento inadequado de seus filhos. Conversei com eles e deixei claro que não admito que essa atitude se repita dentro do colégio. – Acrescentando ao direcionar o olhar para Suigetsu. - Suigetsu nem mesmo precisava ficar para essa reunião.

- Sabia que iriam falar sobre mim, então decidi ficar. – Explicou com pouco caso.

Karin o olhou atravessado. Apostava que ficara só para se divertir com sua eminente desgraça.

- De qualquer forma, fico satisfeita de ter a oportunidade de falar com vocês sobre esse assunto, e espero que o resolvam da melhor forma possível para seus filhos.

- Qual é o motivo dessa reunião afinal? – Interrogou Kabuto ajustando seus óculos, claramente ansioso em terminar a reunião e voltar ao trabalho.

Tsunade pegou o DVD Player que guardava na gaveta de sua escrivaninha, ligou e rodou a tela para que as pessoas a sua frente pudesse ver a breve filmagens do que Karin fizera.

Surpreso, Orochimaru encarou a filha ao perceber que ela utilizara seus materiais e o que aprendera com ela prejudicar uma colega. Ficou dividido entre o desapontamento e o orgulho por ela ter aprendido algo consigo. Por fim, decidiu-se colocar o cientista de lado e assumiu a posição mais adequada para um pai.

- Filha, entende que o que fez é errado?

Cabisbaixa, ela assentiu.

- Garanto que esse episódio lamentável não irá se repetir. – Prometeu Kabuto.

- Oh, não duvido, afinal Karin não fará mais parte da grade estudantil do colégio. – Antes que Kabuto ou Orochimaru pudesse se manifestar, explicou: - A filha de vocês não só causou uma forte crise alérgica na aluna Hyuuga Hinata, como, ao que parece, contribuiu para incriminar duas outras colegas para sair ilesa. – Rapidamente contou o castigo dado a Ino e Sakura, completando com o olhar severo direcionado a ruiva: - Tudo para afastar a aluna Hyuuga do rapaz por quem está apaixonada. E não me refiro ao filho de vocês e sim ao colega de turma dela: Uchiha Sasuke.

- Ah, ele realmente é lindo, assim como o irmão! – Recordou Orochimaru deslumbrado com a lembrança da beleza morena dos irmãos Uchiha.

- Não os acho grande coisa. – Comentou Kabuto, ofendido pelo companheiro babar só de ouvir o sobrenome Uchiha.

Divertido com o ciúme de Kabuto, Orochimaru segurou a mão dele, acariciando-a de leve para reafirmar que o único que amava era ele.

Voltou-se para Tsunade.

- Em nome da nossa amizade, será que podemos chegar a um acordo? Não é bom ter a palavras expulsão no histórico.

- Karin não pode continuar no colégio, seu comportamento passou dos limites. – Explicou antes de sentenciar categórica. - A partir de hoje, Karin não é mais aluna do colégio Hashirama Senju.

- Entendemos. – Disse Kabuto, antes de ajeitar os óculos e propor: - Mas, em vez de expulsão, poderia aprovar uma transferência.

Tsunade encostou as costas tensas no estofado de sua cadeira, pensando rapidamente antes de dizer:

- Tudo bem. – Concordou. – Amanhã passem na secretaria do colégio que todos os documentos estarão prontos.

- Virei pessoalmente buscar. – Prometeu Kabuto.

Agradeceram e, aliviados, saíram com os filhos. Cada um seguindo para o próprio carro, Orochimaru sozinho e Kabuto com Suigetsu e Karin.

- Entendem que estão encrencados e teremos uma longa conversa sobre a relação de vocês quando chegarmos em casa?

Suigetsu deu de ombros. A ameaça não lhe atingia, sabia que no máximo ouviria mil conselhos amorosos, alguns que já escutara, e exigiriam que respeitasse Karin, nada que se comparasse ao sermão que recebera ao repetir de ano. A bronca maior cairia sobre sua "irmã", que receberia o mesmo discurso que ele e uma bronca adicional por ter sido expulsa do colégio.

- Não temos uma relação. – Retrucou Karin. – Quero manter distância desse idiota.

- Seu desejo logo será uma realidade. – Disse Kabuto enigmático.

Karin pressentiu que, seja lá o que passava pela mente do pai, odiaria o que lhe aconteceria.

*S2*

Aproveitando que Tsunade a deixara descansar naquele dia, Sakura aceitou o convite de Naruto para assistirem um filme na casa dele.

Passou rapidamente em sua casa para pedir permissão à mãe, que, por alguma obra do destino, estava de bom humor e permitiu. Talvez fosse por, ao questionar o motivo de não estar no colégio, ouvira sobre a descoberta de que Karin que tramara contra Hinata. Isso aliviara a expressão zangada e decepcionada que sua mãe carregava nos últimos dias.

Correu para a casa do namorado para juntos alugar um filme. Voltaram com uma pilha enorme em mãos, fruto da ansiedade de ficar mais tempo juntos após tantos dias separados, tanto por causa dos serviços no colégio, quanto pelo mau humor da senhora Haruno, que proibira Sakura de sair de casa e tratava Naruto pior que um cachorro toda vez que ele aparecia.

Era comum assistirem filmes na sala, mas, temendo que Jiraya chegasse e fizesse comentários indelicados e desejasse assistir algum programa de modelos ou mulheres peitudas trancadas em uma casa, decidiram ficar no quarto de Naruto.

Ele colocou o DVD no aparelho Blu-ray e deitou ao lado da namorada na cama de solteiro.

Sakura apoiou a cabeça em seu peito, recebendo os carinhos do namorado em seus cabelos. Ergueu a face. Ele a olhou e sorriu, aquele sorriso enorme e caloroso que ela aprendera a amar desde que dera uma chance ao sentimento que ele nutria por ela.

Usou o cotovelo contra o colchão para erguer o tronco e assim beija-lo. Ao afastar seus lábios, as íris azuladas brilhavam, combinando com o sorriso apaixonado. Tocou a face do namorado com ternura e voltou a beija-lo.

Apreciando a iniciativa de Sakura, Naruto a puxou pela cintura de modo que ficasse sobre ele, as mãos subindo devagar pelas costas, acariciando o pescoço até afundar nos cabelos róseos, aprofundando o beijo.

Gemeu contrariado quando ela cessou o beijo e afastou o rosto quando ele tentou beija-la. Observou-a curioso. Mesmo no escuro podia notar que havia algo de diferente no rosto de sua amada. O tocou de leve e sentiu que estava quente.

- Sakura...?

- Você é o maior idiota que conheço. – Ela soltou pontuando para o surpreso Uzumaki: - É hiperativo, atrapalhado e fala bobagens que me deixam louca de raiva.

- Hein?! – Estranhou ser insultado após um beijo cheio de paixão. O que fizera de errado dessa vez?

- Mas também é atencioso, dedicado e companheiro comigo. – Inclinou o corpo e roçou os lábios nos dele. – E tem o sorriso mais lindo do mundo, capaz de transmitir uma alegria contagiante. Ao seu lado cada dia parece mais luminoso. – Inclinou o rosto e sussurrou na ouvido dele: Eu te amo!

Naruto sentiu o corpo em chamas quando ela mordeu de leve sua orelha. Podia ser imaginação, mas parecia que a namorada estava seduzindo-o. Sua dúvida foi embora quando ela lhe deu um beijo de tirar o fôlego enquanto as mãos esgueiravam-se por debaixo de sua camisa, acariciando seu tórax com movimentos que deixavam claro sua intenção.

Segurou os quadris dela com força, aceitando deixar o controle das carícias e dos beijos nas mãos de Sakura, até por medo de assustá-la com a dimensão do desejo que ela lhe despertava. Como uma raposa a espera que uma uva caísse em sua boca sedenta, seguraria o próprio desejo para ir até onde ela desejasse que fosse.

Aos poucos as caricias se intensificaram. Naruto já não conseguia conter suas mãos, que exploravam o corpo de Sakura, provocando na jovem sensações novas e intensas em cada parte que tocavam.

Livraram-se das roupas com pressa e desajeitados, devido o desejo ardente de sentir o encontro de suas peles nuas. Naruto girou o corpo, ficando por cima, distribuindo beijos apaixonados na pele perfumada do pescoço da Haruno, deslizando os lábios pelos ombros, colo até chegar aos seios, pequenos montes que ele desejava há muito tempo.

- Você é toda linda, cada parte. – Comentou beijando suavemente um dos seios enquanto acariciava o outro.

Sakura gemeu, arqueando as costas e puxando a cabeça dele contra seus seios, deixando o prazer daquela carícia envolve-la como brasa, confiando seu corpo ao rapaz.

Esticando a mão para o criado mudo, Naruto tateou a primeira gaveta para pegar uma das várias camisinhas que ganhara de Jiraya após começar namorar Sakura, que viera com várias explicações constrangedoras que esperava que o ajudasse naquele momento.

- Naruto... – Sakura chamou quando ele se distanciou para colocar o preservativo.

Estava tão ansioso que, de alguma forma bizarra, o objeto elástico saiu voando de suas mãos. Resmungou consigo mesmo e ouviu Sakura rir baixinho. Pegou outro, dessa vez obteve sucesso. Retornou para os braços de Sakura, recomeçando os beijos e caricias, aninhando seu corpo ao dela até penetra-la devagar.

Sakura sentiu uma leve dor. Naruto percebeu pela tensão em seu corpo, ficou imóvel e beijou seus lábios com ardor, acariciando sua cintura e quadris devagar até que o desconforto passou, dando lugar a necessidade de mais. Instintivamente enlaçou as pernas em torno dos quadris de Naruto, que começou a mover-se lentamente, aumentando o ritmo aos poucos. Ela acompanhava seus movimentos, extasiada e assustada com a intensidade das sensações que possuíam seu corpo.

Tudo sumira. A confusão no colégio, os planos mirabolantes de Ino, a pilha de filmes e o que colocaram para assistir. Só existiam eles dois, seus corpos unidos, os beijos ardentes e o júbilo de amar e ser amado. Murmuravam palavras carinhosas, as mãos de Sakura apertando a pele suada das costas Naruto, seus corpos em sincronia até sentirem que toda pressão explodia em pequenos espasmos.

Saciados, suados e sonolentos, se aninharam na pequena cama, ouvindo vagamente o som das vozes dos atores do filme que tinham decidido assistir.

- Sakura...

- Hum...

- Foi a minha primeira vez também. – Confidenciou com sinceridade.

Sakura riu.

- Não deveria rir. – Resmungou, sem realmente estar zangado. Não tinha como alguém ficar com raiva tendo a garota que se ama entre os braços.

- É que imaginei que fosse quando a camisinha caiu na minha cara.

Então foi a vez dele gargalhar, alto e com uma alegria que Sakura supôs que sempre se lembraria daquele momento quando o ouvisse rir.

- Sou mesmo muito atrapalhado. – Ele repetiu um dos adjetivos que ela lhe dera, ao que ela acrescentou sonolenta:

- É o meu atrapalhado e amado namorado, Uzumaki Naruto.

*S2*

Depois de um banho revigorante, que levou embora um pouco de sua melancolia, informou seu pai sobre seus planos para aquela noite e colocou seu material e uniforme em uma mochila. Com a mochila nas costas, inflou o peito com determinação e desceu as escadas apressada, não parando nem quando Neji, que vinha no sentido contrário, lhe perguntou aonde ia. Respondeu rapidamente enquanto terminava de descer os últimos degraus e acenou em despedida. Seu coração ansioso pelo resultado do plano de Ino, e esperançoso de que fosse positivo.

*S2*

A primeira aula daquele dia era do professor de literatura, Hatake Kakashi, que estava atrasado, o que fazia com que todos os alunos ficassem fora de seus lugares. Mas não era o atraso do Hatake ou a bagunça dos colegas que preocupava Sasuke, e sim o fato de que Hinata ainda não chegara, ela nunca se atrasara antes.

- Ei, Sasuke, o que tanto olha para porta? – Quis saber Naruto encostando o quadril na carteira do amigo. - O professor se atrasar é normal, tô certo!

- A Hinata também está atrasada e ela nunca se atrasa. – Comentou, não conseguindo conter a inquietação pela demora da Hyuuga.

- É mesmo. - Naruto olhou para a carteira da colega. - Será que ela foi sequestrada pelos marcianos? Ouvi dizer que eles só abduzem pessoas inteligentes e a Hinata é super inteligente.

- ...?

Era impressionante o quanto Naruto falava besteira.

- Tô brincando cara, daqui a pouco ela chega. – Sorriu de orelha a orelha. – Admita, essa preocupação toda é porque você é louquinho por ela.

Antes que Sasuke pudesse mandar Naruto pastar, a atenção deles foi capturada por vários assobios e frases do tipo: "Oh, lá em casa!", "É a nora que mamãe pediu", "Nossa, que espetáculo". Olharam para o que atraia a exaltação dos colegas, Naruto babando e Sasuke prestes a enfartar, tamanha foi à surpresa que o atingiu.

Hinata finalmente chegara e estava parada no vão da porta, bonita como sempre, só que não com sua beleza natural. A boca carnuda brilhava com algo rosa e gosmento, que a maioria das garotas utilizava e Sasuke não aprovava. Embora nela lhe parecesse atraente, realçando os lábios tentadores que lhe davam tanta saudade. Porém, mesmo estando tão bonita, Sasuke tinha certeza que não era para o rosto dela que os colegas olhavam e sim para o corpo cheio de curvas. Hinata parecia ter decidido vir sem o casaco, no que aprovava, o que ele reprovava era a saia que ela usava, bem acima dos joelhos, mostrando as coxas atraentes para quem quisesse ver e a blusa apertada demais, os botões pareciam querer saltar na altura dos peitos. Pelos olhares masculinos, todos os garotos ansiavam para que saltassem. Kami! Aquela saia era menor que o short de educação física e, definitivamente, aquela blusa não fora feita para o tipo de corpo da Hyuuga. De que maldito lugar ela tirara aquele uniforme?

Corada da raiz do cabelo, preso em um rabo de cavalo e com a franja presa de lado por uma presilha, até o colo, cuja blusa do uniforme não cobria o suficiente, Hinata caminhou devagar até sua carteira. Tempo suficiente para alguns garotos avaliarem o movimento de sua bunda.

Ergueu o corpo, as mãos espalmadas no tampo de sua carteira, tentando refrear a vontade de esganar os colegas que quase perdiam os olhos no decote da Hyuuga.

- Mas que... Diabos!

- Nossa! A Hinatinha tem umas pernas... - Naruto começou a dizer calando em seguida ao receber um olhar rubro de raiva do amigo. - Ela ficou uma graça com o novo visual não acha?

Sasuke não respondeu. Fora de si foi até Hinata, que o fitou ruborizada e surpresa.

- Caramba, hoje vou ter uma visão e tanto para apreciar!- Falou Sai sem desgrudar os olhos das pernas da Hyuuga.

- A não ser que queira ficar sem os olhos é melhor que aprecie somente o seu caderno. - Ameaçou Sasuke trincando os dentes, uma aura maligna o rodeando quando parou ao lado da Hyuuga.

Sai, que não era muito amigo de Sasuke, afundou o corpo na cadeira e abriu seu caderno.

Tirou o blazer do uniforme e o estendeu para Hinata.

- Vista! – Ordenou.

Ela o encarou e depois fixou rapidamente a vista na peça de roupa.

- O quê...?

- Vista, agora!

Hinata não gostou do tom autoritário de Sasuke. Era daquela forma que seu pai, Neji e a maioria das pessoas a sua volta agiam com ela. Sempre comandando e achando que ela deveria obedece-los em silêncio. Não gostava de discutir, mas não aceitaria aquela atitude nunca mais.

- Me diga o motivo ou não vou vestir.

- Para cobrir esse uniforme... Minúsculo.

- Não é minúsculo. – Murmurou constrangida, pois concordava com ele, embora não pudesse verbalizar isso. – É do mesmo tamanho do da Sakura e da Ino. – Apontou para as colegas que observavam tudo, ocultando que era do mesmo tamanho, pois a saia era de Ino e a blusa de Sakura.

- Você não é elas.

Era aquele momento que Hinata esperava com certo receio, passara a noite toda pensando nele que, ao retrucar, as palavras fluíram com naturalidade:

- E você não é mais meu namorado.

Palavras podiam nocautear alguém? Sasuke tinha certeza que sim, pois o que Hinata dissera fora como um soco em seu estomago. A encarou surpreso. Ela o olhava de volta, fixamente com curiosidade. Parecia tão inocente e alheia ao efeito que suas palavras tiveram nele, que o desconcertou.

Sem palavras, Sasuke retornou ao seu lugar, os passos pesados e os punhos cerrados para conter a vontade de bater em si mesmo.

Hinata não entendeu muito bem o que acontecera, mas não pode deixar de notar que os conselhos de Ino tiveram algum impacto. Só não sabia direito se foram bons ou ruins.

*S2*

De sua carteira Ino vibrava com a "briguinha do casal". Conseguira jogar algumas pedras no telhado do Uchiha, finalmente. Sorriu cúmplice para Sakura e Naruto, que corresponderam. Tinham feito um bom trabalho daquela vez.

Assim como Hinata, não tinha tanta certeza se seu plano teria êxito e, visto que tantos outros falharam, não dera grandes expectativas para a colega. Era um chute no escuro, uma ideia baseada no comportamento de Sasuke após começar a namorar a Hyuuga, que, felizmente, parecia ter começado positivamente.

Seu dia só não seria perfeito porque Tsunade não anulará seu castigo. Segundo a diretora, o contrato que fora assinado seria cumprido até o último dia de aula.

Examinou suas pobres unhas, agora curtinhas, respirou profundamente e olhou para a carteira de Shino. Mesmo com os óculos dava para perceber que ele a observava. Ajudava o fato de que ele tinha de se virar de lado para fazer isso. Com certeza estava aliviado que seu plano, que ele taxara de absurdo, dava mostras de que daria certo.

Sorriu. Cada batalha tem seu tempo. Vão-se as unhas, ficam as pequenas vitórias.

*S2*

Conforme as aulas passaram, Sasuke foi se dando conta do papel de idiota que fizera. Hinata estava certa, não tinha o direito de reclamar, não eram mais namorados. No entanto, controlar o ciúme que ainda sentia pela Hyuuga não era fácil, não queria que mais ninguém, além dele, olhasse para as curvas tentadoras da Hyuuga.

- Sasuke!

- Que foi baka? – Resmungou guardando seu material, após o tocarem o alarme anunciando o intervalo.

Naruto ignorou a atitude hostil.

- Faça as pazes com a Hina-chan.

- Cuide da sua vida. – Pronunciou entre dentes.

- Você que sabe... – Naruto suspirou com falso ar inocente. – Acontece que a Hinata-chan tá muito fofa hoje... Sabe como são os caras, né?

Sasuke fuzilou o amigo com o olhar, mas Naruto não pareceu incomodado, riu e apontou na direção da Hyuuga. Olhou para o ponto indicado, Hinata estava em pé, concentrada em recolher seu material, e, atrás delas, três garotos estavam babando, olhando para o corpo de Hinata sem o menor pudor.

Quando ela se virou os rapazes a cercaram e Hinata ficou imediatamente vermelha. Levantou-se irado, caminhando apressado até a ex, podendo, poucos segundos depois, ouvir claramente o que a deixava envergonhada.

- Agora que você e o Uchiha terminaram, que tal sair comigo hoje à noite?

- Não! Saia comigo, sou melhor que o Sakaoo e o Uchiha.

- Uma moça bonita precisa de toda atenção, nesse caso sou a melhor escolha.

Hinata não sabia o que dizer. Lógico que não pretendia sair com nenhum deles, não gostava nenhum pouco da forma que a olhavam, principalmente porque nenhum a olhava nos olhos e sim para seu corpo, principalmente o vale de seus seios.

- A deixem respirar, bando de abutres oportunistas.

As palavras gélidas e o olhar de poucos amigos fizeram os rapazes se afastarem e a fez respirar aliviada, embora o olhar que ele lhe endereçou fosse ainda mais hostil do que dera aos colegas.

*S2*

Molhou o rosto para retirar um pouco da maquiagem que Ino aplicara com todo cuidado – e excesso – em sua pele acetinada, o que não adiantou muito já que eram a prova d'água, mas foi o suficiente pra sentir-se leve. Secou com papel toalha e fitou seu reflexo no enorme espelho do banheiro do colégio. Como a colega conseguia aguentar a sensação pesada e pegajosa que tanto pó, brilho e gloss produziam? Não se sentira ela mesma com aqueles produtos, tampouco estava à vontade com o uniforme.

Ajeitou a blusa, tentando fechar mais um botão, mas o que conseguiu foi que outro se abrisse. Tivera de aguentar a vontade de aceitar o casaco de Sasuke, e só não o fez por causa do tom rude que ele utilizara ao oferecer e as recomendações de Ino.

"Não importa o que ele diga, a menos que suplique de joelhos que volte a namora-lo, faça exatamente o contrário."

Shino dissera que era bobagem, que pessoas como Sasuke jamais cairiam no truque que Ino elaborara, mas, até o momento, a Yamanaka parecia entender mais do assunto que o Aburame.

Sasuke não só voltara a falar com ela, mesmo que para dar ordens malcriadas, como também estava ao seu lado no intervalo. Tudo bem que Naruto também estava com eles e Sasuke não abrira a boca desde que saíram da última aula, mas era um começo promissor.

Pegou a pequena bolsa de ombro e retirou os produtos para reaplicar o gloss, passando bem menos do que antes, não tinha a destreza da Yamanaka e não gostava da sensação que tanta maquiagem lhe dava.

Deu uma última olhada em seu visual artificial demais para seu gosto e virou, ficando cara a cara com sua inimiga mais persistente. Estranhou vê-la, pois ela não tinha aparecido em nenhuma das aulas naquele dia, e estranhou ainda mais que não estivesse usando o uniforme do colégio.

- É hoje que acertaremos nossas contas, Hyuuga.

Ignorando a hostilidade na voz da ruiva, Hinata tentou sair do banheiro, mas Karin se colocou a sua frente. Desviou. Karin seguiu seu movimento, barrando-a novamente.

- Vou ter de estudar em um internato por sua causa. – Disse Karin com raiva.

Reparando nos punhos fechados da ruiva, Hinata recuou alguns passos.

- Não te fiz nada, foi o contrário. – Recordou a Hyuuga. - Por favor, me deixe passar e perdoarei tudo o que me fez. – Pediu, procurando acalmar a ex-colega, mas Karin não lhe deu ouvidos e avançou em sua direção.

*S2*

Na primeira vez que decidia voltar a ficar perto de Hinata - para protegê-la dos franguinhos que tinha como colegas-, aparecia uma garota de seu odiado fã clube para avisar que Karin entrara no banheiro feminino logo depois da Hyuuga, e as duas estavam discutindo. Correu, imaginando qual seria a nova loucura da ruiva, mas o que viu o deixou paralisado de surpresa.

Karin estava no chão, gemendo com as mãos nas costelas e Hinata estava em pé, apoiada na pia, a blusa aberta até pouco abaixo dos peitos e os olhos arregalados, fixos na figura caída a sua frente. Estava tão chocada quanto ele.

- O que houve? – Naruto perguntou, entrando logo atrás do Uchiha.

- E-ela queria me agredir... E-então me defendi...

- Essa selvagem me bateu. – Gritou Karin sento levantada pela garota que chamara Sasuke.

- A Hinata bateu em você?! – Sasuke duvidava que uma pessoa delicada como Hinata pudesse machucar uma mosca.

- Tá de brincadeira, né? – Disse Naruto, também duvidando da ruiva.

- Só me defendi. – Repetiu Hinata com mais firmeza. – Foi só um golpe com as palmas abertas que aprendi nas minhas aulas de ninjutsu moderno. – Explicou querendo fechar a blusa que Karin abrira ao agarra-la pela roupa, mas alguns botões tinham sumido.

- Um golpe? Foram vários tapas, nem tive tempo de me proteger dessa bruta... Ai!

Sem conseguir visualizar Hinata batendo, ou se defendendo de um agressor, Sasuke analisou a ex. Fora a blusa, que a Hyuuga segurava pra manter fechada, nada denunciava que ela tivesse lutado com alguém. O cabelo sequer estava bagunçado.

- Ninjutsu moderno?

Ela assentiu.

- Meu pai me inscreveu após saber o que houve no colégio. – Voltou-se para Karin, que continuava encurvada de dor. Talvez, no susto, tivesse exagerado. – Me desculpe, não queria machuca-la...

Karin a encarou com ódio, mas Hinata não teve como voltar a pedir perdão, Sasuke bloqueou sua visão da ruiva e a forçou a vestir o blazer dele. Embora ela não tenha feito nada para impedi-lo, precisava mesmo de algo para cobrir a blusa sem os primeiros botões e, sendo maior que ela, o blazer cobria a falta de pano da saia. Além disso, era gostoso sentir o cheiro dele que emanava do vestuário.

- O-obrigada...!

- Não peça desculpas quando a errada não for você. – Censurou antes de beija-la na testa. Um beijo casto, mas que foi o suficiente para que ela sentisse as pernas moles e procurasse apoio nele.

O sinal tocou estridente, o que fez Hinata arregalar os olhos ao dar-se conta do absurdo da situação. Sasuke e Naruto estavam dentro do banheiro feminino, Karin andava até a porta, amparada por uma garota que não conhecia, e ela estava agarrada ao ex e sem vontade alguma de larga-lo.

- Vamos! – Comandou Sasuke indo em direção à saída, envolvendo o corpo dela em um abraço apertado.

Somente alguns alunos presenciaram eles saindo do banheiro, o que era um alívio. Dificilmente a diretora saberia do ocorrido, pelo menos Hinata desejava que não soubesse. Seria vergonhoso ser taxada de violenta quando sequer tivera vontade de agredir a ruiva.

*S2*

Do lado de fora, Suigetsu, que vira a ruiva entrar no banheiro e acompanhara com os olhos Naruto e Sasuke correrem para dentro do recinto para garotas pouco depois, ao ver Karin escorada, se aproximou e trocou de lugar com a garota que a ajudava a se manter erguida. Ao envolver a cintura da ruiva ela gemeu de dor, então a fez passar um braço sobre seus ombros e a segurou de leve pelas costas.

- O que houve?

Com os olhos úmidos, Karin contou o que acontecera, omitindo que ela que avançara primeiro e que Sasuke nem mesmo se importara ao vê-la machucada por culpa da Hyuuga.

- Aquela coisinha pequena e com cara de anjo te fez isso?

- Ela é um demônio com mão de ferro. – Choramingou sentindo o tronco dolorido.

- Aqui está você, te procurei por toda parte... – Karin e Suigetsu acompanharam Kabuto se aproximar e olhar desconfiado para os dois.

- Ela caiu no banheiro. – Mentiu Suigetsu para evitar que a ruiva ficasse ainda mais encrencada com os pais. Se a Hyuuga realmente ferira Karin era porque fora provocada.

Karin reclamou da dor e Kabuto a pegou no colo.

- Volte para sua aula. – Ordenou para Suigetsu, informando ao reparar na expressão preocupada do filho. - Levarei Karin comigo ao hospital para que seja examinada.

Andando com a filha reclamona nos braços, Kabuto respirou profundamente. E Orochimaru desejava adotar mais uma criança...

*S2*

Como tudo no colégio, o ocorrido no banheiro feminino não ficou em segredo e logo se espalhou pelos ouvidos e lábios dos alunos do Senju, porém, todos achavam que fora uma fantasia da Karin, mas uma trama ardilosa para prejudicar Hinata.

Hinata agradeceu sua fama de frágil, ninguém acreditava que ela tocara em um só fio de cabelo de Karin, nem mesmo a garota que saíra do banheiro a procura de Sasuke quando escutara Karin ameaça-la e, ao retornar, vira a ruiva rolando de dor no piso de azulejo. Segundo a menina, Karin fizera drama para atrair a atenção do Uchiha.

O sinal dando fim as aulas daquele dia soou, começou a gritaria no corredor e Hinata arrumou seu material na mochila, levantou ao se virar corou ao ver Sasuke parado a sua frente.

Tivera outro avanço naquele dia, na volta do intervalo ele voltara a ocupar o lugar ao seu lado. Tudo indicava que a acompanharia até a saída. E foi o que aconteceu, seguiu para a saída com ele ao seu lado, uma mão pousada de leve em suas costas. Ao ultrapassar os portões ficaram um de frente para o outro, Hinata corada até a alma, Sasuke com uma expressão que não denunciava o que se passava em sua mente. Então, sem dizer uma única palavra, ele lhe deu as costas e começou a se afastar.

Hinata engoliu em seco, andou decidida até ele e o segurou pela camisa, o coração palpitante lhe dando a impressão que sairia pela boca.

- P-podemos... C-conversar...?

Ouviu o som da expiração forte, os ombros do Uchiha abaixaram de leve e ele se virou, os olhos negros inexpressíveis caindo sobre sua figura, pateticamente rubra e usando o blazer dele por cima do uniforme danificado.

Ele assentiu com a cabeça e Hinata sorriu aliviada. Pelo menos dessa vez ele a escutaria.

Seguiram para a praça em frente ao colégio e sentaram em um dos bancos. De imediato a lembrança do primeiro beijo deles dominou a mente da Hyuuga, despertando a esperança de que Sasuke também sentia a sensação boa daquela recordação e abrisse o coração para ele poder entrar novamente em sua vida.

De volta ao princípio no que podia ser sua última oportunidade de reatar o namoro, a última e decisiva.

*S2*

Observando tudo de uma distância segura, Ino, Shino, Sakura e Naruto conseguiam só ver as costas do casal e que a única a falar era a Hyuuga, pois ela se voltava para o perfil do Uchiha a todo o momento, dando a eles a visão de seus lábios se movendo.

- Isso é bom? – Sakura perguntou para Naruto.

- Pode ser. – Respondeu recordando em seguida: - O Sasuke não é muito de falar.

- Parece uma estátua de tão rígido, nem olha pra ela. – Comentou Ino, temendo pela primeira vez que seu plano não desse certo.

- Talvez esteja com vergonha. – Disse Naruto.

- Sasuke com vergonha? Só um cabeça oca como você pra pensar isso.

- Só eu posso falar assim do meu namorado.

- Isso não é uma defesa, Sakura-chan. – Objetou Naruto chateado. Pelo jeito nunca teria o respeito dos amigos e nem o da namorada.

- Calma, querido, você é o cabeça oca mais lindo do mundo. – Sakura disse antes de lhe dar um selinho.

Naruto não se ofendeu. Enquanto ela lhe desse beijos amorosos, a namorada podia chama-lo do que fosse.

- Ah, o amor aceita qualquer coisa. – Provocou Ino, recebendo um olhar irado da Haruno.

- Verdade, só assim pra você arranjar alguém.

- O que tá insinuando.

- O que acha?

- Querem parar com a discussão infantil? – Pediu Shino assustando Naruto, que olhou para o lado e perguntou surpreso:

- Cara, você tá ai há quanto tempo?

Shino respirou profundamente. Pelo menos um deles quatro conseguia passar despercebido. As três matracas sequer perceberam que o Uchiha virara o rosto uma única vez e fora para verificar de onde vinha o som das vozes exaltadas.

*S2*

Ouvindo Hinata enumerar todos os motivos que fora estúpido terminar com ela, Sasuke perguntava-se o motivo dos colegas ficarem de espreita e por qual razão não interrompia o monologa da Hyuuga. Ela, mesmo que indiretamente, o insultara pelo menos umas doze vezes enquanto falava, no começo gaguejando, depois com segurança e até um pouco de fúria. Não conhecia esse lado dela, um lado que conseguia a proeza de deixa-la mais linda. Talvez por isso continuasse em silêncio, só por perceber que isso a irritava ainda mais.

Sorriu de canto quando ela disse com todas as letras que o considerava um cretino arrogante por terminar a relação deles sem conversar com ela corretamente. Antes daquela conversa, tivera certa desconfiança de que Karin exagerara no ocorrido no banheiro feminino, mas agora começava a acreditar na palavra da ruiva. E ficava feliz por isso.

Hinata parou de falar respirando com dificuldade. Nunca falara tanto em sua vida. Contara sobre a desolação que tivera desde que romperam; Disse como ele a fizera se sentir imprestável por considera-la fraca demais para se proteger sozinha; Explicara que as garotas do fã clube tinham pedido desculpas e dito que a deixariam namora-lo em paz; Que Karin não era mais um obstáculo, pois tinha dito que iria para um internato; Desatara a falar e nem tinha muita certeza do que falara, simplesmente colocara tudo que tinha entalado na garganta para fora.

- E-eu fui ao médico. – Contou sentindo a garganta seca. Esperou alguma reação do Uchiha e alegrou-se quando ele a observou curioso. Cansara de falar para um perfil de mármore. – Recebi várias recomendações, terei acompanhamento e sempre irei carregar o remédio para o caso da minha alergia atacar novamente. – Puxou para frente do corpo a pequena bolsa de pano em que guardara o remédio. – Esse problema não existe mais, tomarei cuidado redobrado de hoje em diante. – O encarou e concluiu: - Se persistir em não ser mais meu namorado é porque não me ama. Qual é a sua decisão?

O silêncio dele fez com que tivesse vontade de chorar, mas aguentou firme e levantou-se, seu movimento sendo seguido pelo olhar de Sasuke, que continuou no mesmo lugar. Ótimo, aquela posição lhe parecia perfeita, pois quem tinha de olhar para cima era ele.

- Essa não sou eu. – Murmurou com a voz embargada, ao que ele estreitou o olhar, confuso com o que dissera, então explicou: - Essas roupas podem atrair a atenção masculina, mas não são minhas...

- Reparei. – Ele a interrompeu com tom crítico, mas se calou novamente dando a ela a oportunidade de continuar.

- E essa maquiagem não combina comigo. Essa não sou eu. – Repetiu. – Eu não desejo ser assim.

Sasuke anuiu. Preferia a Hinata de antes, não que ela não pudesse usar roupas curtas, mas aquela blusa estourando os botões era um insulto à palavra roupa. E ela era linda, com ou sem maquiagem. Tivera vontade de degolar os colegas que não paravam de elogiar o novo visual dela apenas por desejarem seu corpo, quando ela merecia que alguém a amasse pelo que era por dentro. Quando ele queria ser esse "alguém".

- Amanhã serei Eu novamente, uma pessoa que pode até olhar de longe quem ama, mas não fica implorando por algo que não pode alcançar. – Abriu o blazer na altura do peito e retirou da blusa o broche que ganhara de Sasuke. Umedeceu os lábios para finalizar com algo que Ino lhe recomendará, algo que também não era "ela", afinal, naquele dia tinha dado um descanso para a antiga Hyuuga Hinata: - Talvez até aceite namorar o Kiba.

Estendeu a pequena peça para Sasuke.

Ele olhou para o amuleto pousado na mão pequena de Hinata. Toda simbologia do presente rodopiando em sua mente. Sentia como se ela lhe devolvesse o coração. Além disso, algo dentro de si se contorcia, fervilhava. Supôs ser a raiva por imaginar Hinata com Kiba, se acariciando, beijando e amando, enquanto ele era esquecido aos poucos.

- Não vou suportar... – Resmungou entredentes. Levantou de repente e segurou a face de Hinata, que o encarou espantada com o impulso arrebatado. – Você é minha!

Seus lábios desceram exigentes sobre os delas em um beijo intenso, passional e exigente. Ele soltou seu rosto e a enlaçou com força pela cintura, puxando seu corpo contra o dele, a excitação dele roçando em seus quadris. Hinata abraçou as costas dele em busca de apoio, não confiava nas pernas trêmulas.

As mãos dele acariciaram sua cintura, subiram por suas costas até chegar à nuca, o toque ardente descarregando por seu corpo correntes elétricas de excitação que a confundia ao mesmo tempo em que agradava, depois faziam o caminho de volta como se quisessem gravar cada curva de seu corpo. Entorpecida, Hinata gemeu quando os lábios sedentos do Uchiha deslizaram por seu rosto até seu pescoço em uma trilha de fogo, retornando para sugar seu lábio inferior e morde-lo de leve de uma forma que roubou um pouco de seu ar.

- Uau! Que bom que fizeram as pazes.

Sasuke cessou o beijo e olhou com cara feia para o melhor amigo, que sorriu de orelha a orelha.

- Só pra lembrar: Isso aqui é uma praça pública.

Sasuke olhou confuso a sua volta. Além dos colegas, havia outras pessoas que olhavam na direção deles com expressão espantada, contrariada e revoltada. Voltou à atenção para a jovem em seus braços, que permanecia com os olhos semicerrados, os lábios inchados pelos por causa dos beijos exaltados. Tentadora. Droga! Só de olhar para ela se esquecia do mundo e só desejava beija-la até perder o fôlego.

- É, vocês sabem fazer as pazes. – Ino gargalhou, o que teve o poder de despertar Hinata, e envergonha-la ao ponto de esconder o rosto no peito de Sasuke.

- Você não tinha que limpar o chão do colégio? – Perguntou seco, estreitando Hinata.

- Eu tenho, mas até o Danzou me achar...

- Só queríamos garantir que a Hinata ficaria bem caso o plano da Ino não desse certo.

- NARUTO!

- Plano?

- Deveria cortar a língua grande do seu namorado. – Recomendou Ino recebendo um olhar atravessado da Haruno.

Olhando para Hinata, que sorria encabulada, entendeu.

- A roupa e a maquiagem são da Ino. – Supôs.

- E da Sakura.

- Faz sentido...

Sakura teve certeza que Sasuke estava se divertindo com a descoberta, pois sorria. Era bizarro, apesar de ficar ainda mais bonito, simplesmente era difícil assimilar Sasuke com uma expressão alegre. Talvez Hinata fosse mesmo um anjo ou uma santa, pelo menos era a única capaz de efetuar o milagre de fazer o Uchiha sorrir. Um sorriso direcionado a jovem em seus braços, e unicamente para ela, já que ao erguer os olhos para eles o sorriso sumiu.

- Não se preocupem, vou cuidar dela. – Então ele voltou a olhar para Hinata e sorriu de canto. – E ela vai cuidar de mim.

Hinata suspirou apaixonada, os olhinhos brilhantes e desejosos atraindo o Uchiha, que depositou um selinho em seus lábios antes de começarem a caminhar em direção a casa dela. Ficava longe da sua e demoraria a chegarem lá a pé, mas precisavam daquele tempo juntos, de repetir aquele trajeto que tivera o poder de unir suas vidas meses antes.

- Esperem! – Pararam e aguardaram Shino se aproximar. – Isso deve ser de vocês. – Estendeu o braço, na palma da mão repousava o símbolo do clã Uchiha.

Depois que Sasuke pegou o objeto, o Aburame retornou para perto de Ino.

Sasuke se voltou para Hinata.

- Vamos fazer as coisas da maneira certa. - Disse sério, antes de pedir: - Hinata, aceita um cretino arrogante como seu namorado?

Hinata riu baixinho, as bochechas levemente coradas por se dar conta que em algum momento dissera aquelas palavras para ele.

- Sobrevivo a uma segunda experiência.

- Isso é um sim? – Ele questionou sorrindo de canto.

- Claro!

Ele colocou o alfinete no blazer e pontuou suas próximas palavras depositando um beijo em cada parte da face acetinada.

- Você é minha... – Testa. - E somente eu tenho o direito de toca-la... – Ponta do nariz. – Mima-la... – Bochecha. – E beija-la. – Completou roçando os lábios nos dela. Preferia beija-la na boca em algum lugar reservado. Depois de tanto tempo afastados, não podia confiar em si mesmo.

- E você é meu.

- Todo seu. – Concordou abraçando o corpo pequeno da namorada com força. Seus braços sentiam falta daquela garota que corava fácil, tinha sorriso miúdo e uma timidez que a fazia gaguejar quando pressionada. Aquela garota fascinante que era muito mais esperta que ele quando o assunto era o coração. Sua garota.