N/A: Crepúsculo não me pertence, mas essa história sim! Se liga hein!
Olá! Essa fic faz parte do Projeto One-Shot Oculta, um amigo oculto entre autoras do fandom de Crepúsculo. Confira as regras e todas as participantes na página bit (ponto) ly (barra) POSOffnet
Você também encontra o link diretamente no meu perfil, na aba de Favorite Authors. Essa fanfic é dedicada à minha amiga oculta Ela Masen Cullen ( cadelinhabeward).
Espero de coração que essa história faça você se emocionar tanto quanto eu me emocionei escrevendo. Tentei entregar a você uma boa história e que (como você pediu) a fizesse chorar haha! Mas tem momentos fofos também, viu?! Então é isso, aproveite o seu Edward, a sua Bella e o maior cupido dessa história, o Mike!
Gostaria de agradecer a minha beta maravilhosa, a Berry. Sem as suas revisões, questionamentos e a sua paciência com os meus surtos, eu não teria acontecido terminar essa história. Obrigada por tudo Berry!
Querido leitor, antes de começar sua leitura, tenho que lhe avisar duas coisas: a primeira, é necessário prestar atenção nas datas! Elas são importantes para a passagem de tempo da história. A segunda, é que o combo escolhido pela autora foi o número 1. Agora, caro leitor, você está preparado para começar sua leitura.
Atenciosamente,
Lady Kim!
Você saberá quem eu sou ao longo desta história… ou não ;)
28 de outubro de 2019 - Chicago, IL.
The Twilight Published - Primeira Página
Um clique. Uma foto. Um acidente.
Vale tudo por uma foto? Para a grande maioria dos paparazzi a resposta é sim. A princesa Diana que o diga! Eles são temidos e odiados pelas celebridades. Arriscam as suas vidas e, principalmente, as dos outros pela foto perfeita. Foi o que ocorreu na madrugada de ontem (27).
A América se comoveu com o terrível acidente envolvendo a estrela do pop Edward Cullen, 31 anos, e sua esposa, a competente jornalista e colunista deste jornal, Isabella Cullen, 30 anos. O casal estava saindo de sua residência, localizada em Streeterville, a caminho do aeroporto Chicago O'Hare para umas merecidas férias depois do último show da turnê mundial do cantor, quando dois paparazzi, os perseguiram em uma moto durante o trajeto.
O motorista de longa data de Edward, Félix Williams e os dois paparazzi, vieram a óbito no local do acidente. O casal foi levado ao hospital e tudo que se sabe até o momento é que o cantor se encontra bem e sofreu apenas escoriações leves. Isabella foi submetida a uma cirurgia e todo o seu estado de saúde é mantido em segredo pela família.
Toda a equipe do The Twilight Published deseja uma rápida recuperação ao casal.
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Bella
Sexta, 24 de junho de 2022 - Nova York, NY.
Vim ao Central Park esta tarde e não pensei que fosse gostar tanto de ficar sentada, aproveitando o ar fresco da primavera em meu rosto e poder observar as pessoas ao redor. Turistas, corredores, ciclistas e o adorável casal de idosos que, involuntariamente, dividia um cachorro-quente com os pombos que comem as migalhas em volta. A atmosfera meio mágica deste lugar me inspira a escrever, apenas para lembrar com é ... era. Inevitavelmente, sinto a irritação tomar conta de mim e volto a observar o casal de velhinhos à minha frente.
Não deveria ter deixado minha câmera em casa, gostaria de pedir para fotografá-los. Tirar fotos se tornou uma terapia no último ano. Depois de terem um ataque de risos, eles trocam um beijo rápido. Parecem felizes e me pego sorrindo com a cena, mas minha mente traiçoeira me leva a tentar imaginar como um certo casal era. Eles eram felizes assim?
Meu celular vibra em minha mão, é Rose querendo confirmar nossa "noite das garotas". Fazemos isso desde a infância; obviamente, não vemos mais desenho, nem há guerra de travesseiro e não comemos cream pie de chocolate. Tudo bem, ainda comemos sim, mas a minha não é tão boa quanto a de Charlie - o único prato que meu pai sabe fazer.
Confirmo nossa noite para Rose e convido Alice, minha vizinha e amiga meio maluca. A conheci logo no dia em que me mudei para Nova York, há três meses. Hoje seria um bom momento para que minhas duas únicas amigas se conhecessem melhor. Me levanto recolhendo minha bolsa e indo em direção ao metrô para ir para meu apartamento em Inwood, no extremo norte de Manhattan.
— Mike! — Ouvi um grito.
Estava tão distraída fazendo uma recapitulação mental se possuía todos os ingredientes necessários para fazer a torta, que não reparei o Golden Retriever correndo em toda a velocidade na minha direção, me fazendo cair no chão ao pular em mim.
— Mike, não! — gritou o dono do cachorro, que começou a lamber a minha cara com muito fervor. — Cachorro safado.
— Tudo bem, garotão, já entendi que gostou de mim — disse, sorrindo com a felicidade de Mike em me lamber.
Isso só poderia acontecer comigo, não é? Adoro cachorros, mas nunca imaginei ser atacada por um.
— Droga! Me desculpe por isso. Mike, sai! — O cachorro impedia que pudesse dar um rosto à voz. — Pode dar adeus aos seus biscoitos fedorentos por hoje.
Assim que o dono falou a palavra "biscoito", Mike se virou para ele, provavelmente querendo ganhar seu petisco favorito.
— Deixe-me ajudá-la — disse ele.
Segurando meu braço com uma mão e tentando controlar Mike com a outra, ele me ajudou a levantar. Me senti incomodada com a eletricidade que veio com o seu toque. De pé, olhei para minhas roupas e comecei a passar as mãos pela blusa e calças jeans numa tentativa de me limpar um pouco, enquanto o homem se desculpava.
— Por favor, me desculpe por isso. Mike aparentemente gosta de me deixar em situações delicadas como esta — murmurou algo que entendi como "Jasper me paga por isso". — Como posso recompensá-la por ser vítima de Mike tanto quanto eu? — Ri de seu desespero.
— Não precisa. Está tudo bem, foi apenas um acidente e ninguém saiu ferido — disse, mesmo que a palavra "acidente" ainda me dê calafrios às vezes.
— Tem certeza que não se machucou? Foi uma queda e tanto. — Não estava olhando para ele, mas tenho certeza de que estava se divertindo.
— Está tudo bem comigo, lhe asseguro — disse, terminando de sacudir minhas roupas.
Levantei o rosto para olhá-lo. Ele usava um conjunto de moletom cinza, boné preto e óculos escuros de fundo avermelhado, que ainda permitiam ter um vislumbre de seus olhos. Quando encarei o seu rosto marcado, eu sabia quem ele era.
— Bella. — Sua voz saiu fraca, como um sussurro, como se ele não acreditasse que eu estava bem na sua frente agora.
Merda! Sabia que isso poderia acontecer, na verdade já deveria tê-lo procurado para… Bem, para lhe dizer algumas coisas. Havia meses que sabia que morávamos na mesma cidade.
O dia que descobri, meu próprio corpo já mandava sinais de que algo estava prestes a acontecer. Culpei aquela inquietação à ansiedade de recomeçar em um lugar novo. Ao medo que percorria minhas veias de que alguém poderia me reconhecer a qualquer momento, mas no fim acabou sendo mais do que isso.
Rose me acompanhou durante todo o trajeto de Seattle a Nova York e, sinceramente, eu esperava algum tipo de alívio quando chegamos à decolagem, mas minha impaciência frenética não se atenuou. Na verdade piorou quando minha amiga, no meio daquele voo, achou que era um belo momento para me contar que ele estava na mesma cidade que eu agora chamaria de lar.
— Bella? Você está bem? — perguntou preocupado.
— Estou bem. — O tranquilizei antes que entrasse em colapso. Não mereço sua preocupação. Ele assentiu, mas a sua expressão não relaxou.
Sabe aqueles momentos constrangedores que assistimos nos filmes ou lemos em um livro, onde os personagens ficam em silêncio apenas olhando um para o outro sem ter ideia do que dizer? É exatamente o que estamos fazendo agora. Seria uma boa oportunidade de conversar com ele de uma vez, mas é tão tentador ignorar o que eu deveria fazer e em vez disso sair correndo, por exemplo. Mas não faria isso, claro que não.
Seu olhar parecia tentar redecorar cada traço meu, cada linha, cada imperfeição, como se eu fosse sumir se ele não o fizesse. E doeu ver a saudade e o amor estampado neles. Como ele pode me olhar assim, mesmo depois de anos? Mesmo depois do que eu fiz? Não consegui mais encará-lo e desviei o olhar para meus pés a tempo de ver Mike se aproximando e cheirando minha perna com o rabo balançando enlouquecidamente.
— Ele é lindo. Quantos anos tem?
— Dia 30 ele completa 9 meses.
— Meses? Você tem certeza?
— Claro que tenho. — Fez uma careta fingida de indignação com a minha pergunta. — Acho que ele gostou de você.
— Também gostei dele. — Faço carinho na cabeça de Mike.
— Mesmo que ele tenha atacado você? - perguntou com um sorriso de lado.
Tinha esquecido o quanto ele é bonito, principalmente quando sorri assim.
— Mesmo assim — afirmei. — Ele é seu?
— Sim. Jasper me deu, ele acha que um cachorro pode me deixar menos ranzinza. — Deu de ombros.
— Está funcionando?
— Ele é uma boa companhia. — Sorriu, fazendo carinho nas costelas de Mike. — Mesmo que tente destruir a casa, goste de comer minhas meias, roube minha comida se eu estiver distraído e também não me obedeça nem um pouco, ainda sim é bom ter companhia para variar.
Seu olhar encontrou o meu e abri a boca, mas fechei em seguida. Suspirei, tomando coragem para pedir que ele me acompanhasse a algum lugar.
— Eu… — Engoli em seco. — Você teria tempo para… — Parei, quando ouvi uma voz feminina falar atrás de mim.
— Edward? Edward Cullen?
— É ele! Tenho certeza!
— Droga — murmurou Edward, olhando por cima do meu ombro.
Ah, não! Ser vista ao lado dele não seria nada bom, me colocaria nos holofotes de novo. Murmurando um '' tchau '' breve e sem esperar por uma resposta, segui em direção ao metrô, sem dar chance de alguém me reconhecer.
Na segurança e no silêncio do meu apartamento, começo a preparar a torta. Coloquei uma playlist para tocar no volume máximo em meu fone de ouvido, na tentativa de afastar certos pensamentos.
Depois de pronta, tomei um banho e esperei minhas amigas, que chegaram quase ao mesmo tempo. Comemos, conversamos e percebi que as duas se deram muito bem, o que me deixou feliz. O resto da noite passou voando, estava distraída demais pensando em Edward e em nosso desastroso reencontro.
— O que você tem? — perguntou Rose, levantando-se da mesa onde conversava e comia seu grande pedaço de torta com Alice. — Está calada demais para meu gosto.
— Encontrei com ele hoje, na rua.
— Ele quem? — perguntou Alice de boca cheia, comendo o seu terceiro pedaço.
— Edward — respondeu Rose, entendendo de imediato.
— Seu ex? — perguntou Ali, olhando diretamente para mim agora.
— Sim? ... É complicado.
— O que é complicado? Ele é seu ex, ora essa! — Terminou de mastigar antes de completar — Por quê? Ele era um escroto ou algo assim?
Me encostei no sofá, inclinando a cabeça para trás. Não sei como responder a essa pergunta. Como poderia? Alice, que é uma pessoa muito perspicaz, percebeu que algo estava me incomodando e tentou mudar de assunto.
— Esqueça. Não precisa me contar nada e nem reviver algo que seja doloroso para você. — Abriu um sorriso caloroso e sentou-se ao meu lado.
— É só que eu não sei como responder a sua pergunta.
— Geralmente eu sou bem inteligente, mas não consigo entender o que você quer dizer.
— Você vai — disse Rose. — Vou pegar um pouco de álcool, você vai precisar.
Respirei fundo e fechei os olhos, contando brevemente tudo que aconteceu a quase três anos.
— Espera aí — pediu, estendendo a mão para que eu parasse minha explicação. — Você está me dizendo que você era casada com Edward? Edward Cullen? O cantor?
— Sim.
— Cacete! — exclamou, aceitando a cerveja que Rose havia pegado. — Lembro de ouvir um murmurinho sobre o acidente, mas nunca fui muito ligada na vida das celebridades. Não imaginava que tinha sido grave assim.
— É, eu sei.
— Posso imaginar como foi difícil para você acordar e ter sua vida virada de cabeça para baixo.
— Já foi pior. Hoje eu consigo viver um dia de cada vez sem surtar completamente.
Antes que o ambiente ficasse ainda mais melodramático, mudamos de assunto. Alice nos contou do cara que encontrou no mercado e como os dois foram expulsos de lá por discutirem por causa de um pacote de biscoito.
— Era meu favorito! — exclamou quando começamos a rir. — E só tinha um pacote! Um mísero pacote! Estou prestes a entrar na TPM, preciso dos meus biscoitos para sobreviver.
Depois de terminar sua história e de como ainda ficou quarenta minutos discutindo com o pobre sujeito do lado de fora do mercado, Rose nos contou que foi ao médico hoje. Faz algum tempo que ela e Emmett estão tentando ter um filho e o fato de ainda não terem conseguido está deixando-a triste e me parte no coração vê-la assim. Eles estão juntos há 9 anos e ainda fazem o relacionamento dar certo, mesmo sendo bem diferentes, e os admiro por isso.
Era quase uma da manhã quando ambas foram embora me deixando sozinha com meus pensamentos, que hoje só eu levavam a uma pessoa: Edward. Preciso encontrá-lo novamente, tem coisas que preciso dizer a ele, coisas que merece saber. E eu mereço dizê-las, porque talvez assim consiga parar de sentir culpa.
O problema é que não tive coragem de fazer isso há quase três anos, por que teria agora? Suspirei indo em direção ao banheiro para fazer meu ritual noturno: tomar um banho rápido, vestir meu pijama de flanela vermelho, fazer minha skin care e dormir. Mas não dormi tão rápido quanto gostaria, porque estava ocupada demais pensando em como o encontraria de novo.
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04 de abril de 2020 - Nova York, NY
Your Daily Gossip por Lady Kim
O fim de Be / ward!
Ah, querido leitor, é com imenso pesar que lhes dou uma péssima notícia. Chegou ao conhecimento desta autora que o casal mais amado e querido da América não é mais um casal!
Após seis meses do lamentável acidente envolvendo nosso astro Edward Cullen e a adorável Isabella Cullen o relacionamento dos dois chegou ao fim e o motivo do rompimento é um completo mistério, mas se me permitem um palpite, caros leitores, esta autora acredita que tudo está ligado com o segredo absoluto sobre a recuperação e o atual estado de saúde de Isabella.
É claro que a morena já deixou o hospital e todos podemos ver, no final de novembro, fotos dela — e de Edward com a restante da família — perfeitamente bem e aparentemente saudável. Porém, o que os olhos não veem o coração não sente, não é mesmo? Haha! Poderia ter acontecido algo mais sério com a amada do nosso astro que é escondido do grande público? Está autora acredita que sim!
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Edward
Quarta, 10 de agosto de 2022 - Nova York, NY.
— Mike, não! Anda, vem. — Tento, sem muito sucesso, fazer meu cachorro entrar no pet shop. — Você precisa de um banho, garoto. Colabore comigo, por favor.
Ele começou a latir, puxando a coleira com força, olhando para mim e depois virando a cabeça para o outro lado da rua, como se dissesse: ''Qual o seu problema, cara? Ela está do outro lado da rua! Vamos lá falar com ela.".
— Sei o que você quer, acredite, também quero ir lá. Mas ela tem seu próprio tempo, entende?
Suspirei pensando no quanto devo parecer ridículo conversando com meu cachorro no meio da rua.
— Ela vai falar conosco quando estiver pronta.
Realmente sou patético porque posso jurar que ele entendeu o que eu quis dizer e parou de tentar fugir.
Depois de deixá-lo para um banho, observei a rua novamente e encontrei um vazio atrás do carro do outro lado da rua, onde antes estava Bella com óculos escuros e um chapéu preto. Suspirei e fui em direção ao Central Park para correr.
Faz algumas semanas desde que a vi pela primeira vez em dois anos e meio, foi tão rápido e distante que me perguntei se não passou de um surto da minha cabeça. Mas sei que foi real, ela estava lá na minha frente e nunca agradeci tanto por Mike ser uma fera descontrolada quanto naquele dia, se não fosse por ele, como eu poderia saber que ela está aqui em Nova York?
Desde então, percebi que Bella está me seguindo. Porque? Não tenho a mínima ideia. Não acredito que ela de repente acordou e se lembrou de tudo... Seria perfeito, mas já me convenci de que isso nunca vai acontecer. Hoje foi a terceira vez que a vi ''escondida'', e em todas as vezes penso que vai falar comigo, mas isso nunca acontece.
Ainda mantenho contato com Charlie, e também com Emmett, marido de Rosalie e um amigo que ganhei quando conheci minha esposa. Ex-esposa, me corrigi mentalmente. Não sei o que Bella quer ou pretende me perseguindo por aí, mas não ousei perguntar a Emmett, porque sei que ele falaria com Rose, que falaria com Bella e ela provavelmente pararia o que quer que esteja fazendo e não quero que ela se afaste de novo .
Também nunca os perguntei onde ela estava durante todo esse tempo, porque obviamente ela não queria que eu soubesse, mas eles me mantinham informado sobre seu estado de saúde e se estava bem. Não sei como, mas Bella conseguiu se tornar anônima novamente. Nunca mais saiu uma notícia sequer nos sites de fofoca sobre ela, seu paradeiro ou o que faz hoje em dia. É como se tivesse virado um fantasma. Um fantasma que só eu me lembro e sinto falta todos os dias.
Sei que ser a companheira de alguém famoso como eu não facilitou em nada a sua vida, e tudo ficou ainda pior após o acidente e, meses depois, com o divórcio sem qualquer nota pública. A mídia ficou enlouquecida e era um verdadeiro inferno. Na verdade, até hoje tenho problemas com alguns jornalistas sem noção querendo uma matéria em primeira mão sobre o assunto.
Quando Tyler, da Volturi Records, me descobriu naquele karaokê há quase 12 anos, minha vida mudou e pude realizar um sonho que nem sabia que tinha até aquele momento: viver da música, de mostrar ao mundo minhas canções. Foi maravilhoso na maior parte do tempo. Depois que comei a namorar Bella, as minhas prioridades mudaram. Queria protegê-la disso, do assédio, dos paparazzi, mas foi impossível, principalmente depois que nos casamos. Às vezes, acho que a culpa de tudo que aconteceu é minha, porque fui eu que a trouxe para esse mundo, não foi? De certa forma aquele acidente também é minha culpa.
Me policiei para não ruminar esse pensamento, mas era difícil. Ponderei sobre tudo que poderia ter feito diferente e, mesmo horas depois, já em casa, tentando distrair a mente com um filme, tudo que ocupava minha mente era Bella. Por que ela não conversava comigo? Também acreditava que a culpa era minha?
Fui afastado desses pensamentos com o latido de Mike ao meu lado, ele sempre faz isso quando meu celular vibra ou toca. Pego o aparelho jogado do outro lado da cama. É Charlie, querendo saber se os biscoitos funcionaram com Mike e se Bella parou de me seguir. É bom ainda ser amigo dele, ele não me culpa pelo que aconteceu e é um dos que mais tem esperança de que um dia a memória de Bella volte .
— Mike, você tem a sua própria cama. Para o chão! — ordenei, quando meu cachorro subiu e se aconchegou ao meu lado, recebo um suspiro e um choramingo em troca. — Está bem, mas não se acostume. É só por hoje.
Faço carinho em sua barriga. Encarando o teto iluminado pela lua, me pego cantarolando uma de minhas músicas, a preferida de Bella, a que cantei no nosso casamento. Sorri com a lembrança e, embalado por ela, eu adormeci e tive bons sonhos… todos com Bella.
Dois dias depois…
Sexta, 12 de agosto de 2022 - Nova York, NY.
É sexta-feira, significa que é dia de ir ao Coffee House , uma cafeteria e livraria pequena, mas muito aconchegante próximo ao meu prédio. Vou lá há quase dois anos. Depois de tomar banho, pego meu caderno de rascunhos para sair de casa, e volto assim que lembro de deixar comida e água para Mike, que me olha com aqueles olhos de cachorro que caiu da mudança.
— Na próxima sexta eu levo você — prometo a ele, fazendo uma nota mental de perguntar se lá aceita a entrada de animais.
Durante os primeiros cinco minutos de caminhada até a cafeteria, percebi que alguém me seguia no primeiro semáforo que atravessei. Tive certeza da presença de Bella, quando vi seu reflexo na vitrine de uma loja e, por mais que fosse tentador deixar evidente que sabia de sua presença, me conformei em absorver sua forma e companhia em cada reflexo no meio do caminho. Alguns minutos mais tarde, entro pela porta de madeira da cafeteria.
Gosto de vir aqui pela manhã, porque nunca é lotada neste horário, e me faz pensar que sou um cara comum de novo, me sentir normal desperta inspiração para escrever e quero tentar voltar a fazer o que gosto.
Sou eternamente grato a Katy, minha agente e a Volturi Records por não me pressionarem a voltar aos palcos ou a produzir novas canções. A verdade é que poderia passar o resto da vida sem fazer nada graças ao dinheiro que ganhei ao longo dos anos, mas amo cantar e sinto falta dos shows, do público.
— Bom dia, Edward. Acordou com as galinhas ou algo assim? — brincou Benjamin, o dono desse lugar e um amigo.
— Algo assim.
— Vai escrever de novo, cara? — perguntou depois que me sentei na minha mesa de sempre, nos fundos, quase escondida da vista de todos.
— Tentar pelo menos.
— Legal, vou deixar você e sua sexta criativa em paz. Quando quiser pedir é só chamar.
Sozinho na mesa, olhei para a porta e depois para as janelas. Será que ela planeja entrar ou vai ficar parada do lado de fora? Sorri, vendo seu rosto em confusão ao longe e voltei meu olhar para baixo quando ela virou na minha direção. Tentei não pensar nela tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Abri meu caderno na canção que parei semana passada.
Por um tempo, realmente me concentrei no que vim fazer aqui. Escrevia, apagava, pensava e escrevia de novo, até começar a ficar irritado com a péssima letra que estava compondo. Suspirei, sentindo meu estômago roncar, mas antes de chamar alguém para anotar o meu pedido, senti sua presença.
Sabia que ela havia entrado na cafeteria mesmo mantendo meu olhar voltado para o caderno, a eletricidade percorrendo meu corpo fez meu coração disparar. Com a visão periférica a vi caminhando em minha direção e fingi continuar o que estava fazendo, até que a vi parar e dar meia volta.
— Bella — chamei, fazendo-a parar onde estava. — Você algum dia pretende falar comigo? Ou vai apenas continuar me seguindo?
Lentamente ela se virou e seus olhos encontraram os meus. Deus do céu, como pode continuar tão linda? Não, não é verdade. Ela parece mais radiante do que antes, talvez seja seus fios dourados agora, mas foda-se ela ainda é a mulher mais bonita que eu já vi.
Tive que usar cada fio de autocontrole para não ir até ela e tomá-la em meus braços. Estou com tanta saudade dela que a dor no peito faz parecer que meu coração vai parar e bater a mil quilômetros por hora ao mesmo tempo.
Às vezes, no silêncio constante do meu quarto, costumava imaginá-la comigo e na maioria delas, ela parecia um sonho. Um sonho irreal e distante, no qual eu inventei e que nunca cheguei de fato a viver.
— Não estou seguindo você! — retrucou, formando um leve franzir de sobrancelhas e um bico adorável nos lábios.
— Bella. — Sorri, me agraciando com o som do seu nome saindo dos meus lábios. — Você quer me dizer que não era você que estava atrás daquele arbusto no Central Park há duas semanas? Ou que não era você esbarrando naquele homem semana passada na frente do Starbucks? Que não era você atrás daquele carro há dois dias na frente do pet ...
— Tudo bem! Sim, era eu. — Bufou. — Pelo amor de Deus! Eu nem estava tão óbvia assim, como sabia que era eu?
— Reconheceria você em qualquer lugar, com qualquer tonalidade de cabelo e com qualquer roupa diferente do seu estilo ...
— Esse é meu estilo agora. Algum problema com ele? — perguntou, com uma sobrancelha arqueada.
Droga! É difícil para mim absorver três coisas. Um: passamos quase três anos separados e muita coisa mudou em nossas vidas. Dois: ela está diferente desde que acordou no hospital. E três: ela nunca me deu a chance de conhecer esse seu novo eu.
— Claro, desculpe. E não, não tenho problema nenhum com chapéu, roupas pretas e couro. — Sorri de lado, olhando seu corpo de cima a baixo e voltando a encarar seus olhos. — Para falar a verdade, eu gosto bastante.
Para a minha surpresa ela corou , o que significa que uma parte da Bella que eu conheço, ainda está aí.
— Me desculpe, por seguir você. É que eu tenho que… Tem coisas que eu ... — Ela balançou a cabeça como que para afastar seus pensamentos. — Não, não é nada. Desculpe, Edward. Até qualquer dia.
Ela se virou para ir embora e me levantei de supetão, porque não tem a mínima possibilidade de deixar que ela vá embora assim. Não depois de tantos anos longe e de receber notícias suas por terceiros.
— Bella — chamei, tocando-a de leve no braço.
Como de costume, a corrente elétrica que sempre sinto ao tocá-la deixou minha garganta seca. Ela também sentiu, sei disso porque os pelos do seu braço se arrepiaram e ela logo cortou o contato, virando-se para mim.
— Podemos ser amigos de novo, sabia? — Comecei. — Entendo que sou um estranho para você, mas sabe, você não é uma completa estranha para mim. Sei que algumas coisas mudaram em você e gostaria que me desse a chance de conhecer quem você é agora. Nós éramos bons amigos antes de sermos um casal e sinto sua falta… e da nossa amizade. — Suspirei, tentando reorganizar meus pensamentos, porque não é apenas de sua amizade que sinto falta. — Você está aqui, agora, e acho que não seria tão ruim assim sentar comigo nesta mesa e tomar um café, seria?
Sustentei seu olhar esperando sua resposta pelo que pareceu uma eternidade.
— Não. Acho que não.
Relaxei os ombros, tensos pelo silêncio. Indiquei a cadeira na minha frente e me segurei para não ir até lá e afastá-la para que ela se sentasse, como sempre fiz. Me sentei sem tirar os olhos dela, ainda sem acreditar que aceitou passar um tempo comigo. Devidamente acomodada na cadeira, uniu as mãos sobre a mesa e não pude deixar de reparar na tatuagem de Dragão, serpenteando alguns lírios rosas em seu braço.
— Bela tatuagem a propósito. — Indiquei seu braço esquerdo.
— Ah, obrigada. Foi a primeira que fiz.
— Tem quantas?
— Só três.
— "Só". — Ri. — É demais, visto que tem que enfrentar uma agulha.
— Você tem medo de agulhas? — perguntou sorrindo.
— Não é medo! Só não curto ser picado por um pedaço longo e fino de metal. — Justifiquei e ela abriu um sorriso maior ainda. — E ainda tem o peso da mão da pessoa que segura a agulha! Já pensou no quanto elas se divertem com a nossa dor? É angustiante e desumano até.
Ela estava tentando manter a compostura, mas sabia que não conseguiria segurar a gargalhada por muito tempo. E foi como música para meus ouvidos ouvi-la gargalhar depois de tanto tempo. Foi tão contagiante que a acompanhei até que a minha mente me levasse a um déjà vu.
27 de dezembro de 2015
Faltam quatro dias para o ano novo e odeio o fato de estar longe de Bella, estou pensando em voltar para Chicago e passar a virada do ano com ela. Minha mãe não se importaria, já passei o Natal em casa com ela e Carlisle.
Estou com saudades de Isabella e quero ficar com ela. Deus, eu só a conheço há dois meses e acho que estou completamente rendido por essa mulher, faria qualquer coisa por ela.
Deitado em minha cama na casa dos meus pais, ligo para ela, querendo ouvir sua voz e é tão fácil conversar com ela sobre qualquer coisa, sinto que posso contar tudo a ela, até o que não me orgulho muito.
— Não acredito que você, Edward Cullen, o astro da música, tem medo de uma simples agulha! — conseguiu dizer entre gostosas gargalhadas.
Perguntei o que ela esperava ou queria fazer de diferente nesse novo ano e ela me disse que gostaria de fazer uma tatuagem, se tivesse coragem e eu lhe disse que também gostaria de fazer uma se gostasse um pouco mais de agulhas.
— Ah, qual é Bella! E não é medo… eu só não gosto muito delas, ok?
— Certo! — Riu ainda mais. — Pelo amor de deus, como você toma vacina? Espera, você já tomou vacina, né? Não posso ficar com alguém que não toma vacina.
— É claro que já tomei vacina. É horrível, inclusive. Então você quer ficar comigo, Isabella?
— Mais do que deveria admitir para você…
— Isso é ótimo, porque também quero ficar com você. Estava pensando se você gostaria de passar o ano novo comigo.
— Claro que quero! Sinto… sinto sua falta — admitiu, com um sussurro tímido. — É cedo demais para isso, não é?
— Não, não é, baby, eu também sinto a sua falta, muita na verdade — afirmei sentindo um nó no peito. — Eu tenho um presente para você…
— Edward, já disse que não quero presentes. Eu não tenho como retribuí-los.
— Será que você pode me deixar terminar? — perguntei, a fazendo suspirar e murmurar um '' continue ''. — Não é um presente presente, é algo que escrevi para você… uma música, talvez tenha saído enquanto escrevia uma carta de Natal para você, então está meio confuso, mas acho que você pode gostar mesmo assim.
— Por que estava me escrevendo uma carta?
— Porque sou romântico ?!
— Então você escreve cartas para todas? — perguntou com um tom de provocação.
— Não. Você é a primeira. Na verdade você é a primeira em muitas coisas para mim, Bella ...
Eu sou um emocionado? Acho que sim, mas o que posso fazer se não falar o que sinto de uma vez? Vi minha mãe demorar anos até ficar com Carlisle pelo simples medo de dizerem o que sentiam um pelo outro. Não quero ser assim, quero falar o que sinto quando sinto. E Deus me ajude, mas eu amo essa mulher e pretendo dizer isso a ela assim que a tiver nos meus braços novamente.
— Certo, Cullen, vou fingir que acredito em você.
— Vou fazer você acreditar, Swan.
— Edward? — chamou, me trazendo de volta ao presente. — O que foi? Não precisa fazer essa cara. Eu também tenho um medo bobo. Não gosto de trovões, nem de raios.
— É mesmo? — Sorri. — Não é um medo bobo, muitas pessoas o tem.
Quando a chuva era carregada de raios e trovões, eu costumava envolvê-la em meus braços e cantarolar a música que ela pedisse até que adormecesse.
— Você já sabia, não é? — Bufou irritada. — Desculpa, eu esqueço que você me…
— Não peça desculpas para mim, Bella — a cortei. — Tenho certeza que tem muitas coisas sobre você que eu não sei e se você deixar, eu gostaria de saber.
Ela abaixou o olhar para a mesa, pegando o menu. Quando estava pronta para pedir, chamei Seth com um aceno e o garoto veio rapidamente com um sorriso satisfeito. Eu venho muito aqui, assim como Benjamin se tornou um amigo, os seus dois irmãos Seth e Jane, também se tornaram bons e divertidos amigos.
— E aí, cara? — cumprimentou ele ao chegar à nossa mesa. — O mesmo de sempre?
— Sim, Seth, obrigado.
— E você, moça? Vai querer café preto também?
— Ah não, eu vou querer um cupcake de chocolate e… — Fez um bico nos lábios pensativa, mas eu sabia qual a bebida horrorosa que ela iria escolher, chá preto com blueberry. — Chá preto com blueberry!
— Com limonada? — perguntou Seth. Meu Deus, tem como essa bebida ficar pior do que já é?
— Não, só blueberry. Obrigada!
O garoto ficou vermelho com o sorriso que ela deu a ele. Isso me fez sorrir, eu devo parecer tão idiota quanto ele quando se trata da mulher a minha frente.
— Tudo bem. Como quer fazer isso? — disse depois de Seth sair com nossos pedidos.
— Que tal apenas conversar? Você me pergunta o que quer saber e vice-versa.
— Muito bem — concordou. — Você sempre quis ser cantor? Fazer shows, etc.
— Na verdade, não. Queria ser médico como meu pai. — Ri com a sua expressão de surpresa. — Cardiologista. Mas a música sempre esteve presente na minha vida. Meu pai, Carlisle, vem de uma família de médicos e músicos, foi ele que me ensinou a tocar violão e piano na minha adolescência.
— Eles te apoiaram na carreira artística? Seus pais, quero dizer.
— Sim… — Suspirei. — Foi mais difícil para minha mãe. Meu pai biológico era guitarrista de uma banda qualquer e não queria uma mulher e um filho, então a deixou grávida de 4 meses. Acho que ela tinha medo de que eu me tornasse parecido com ele.
— Sinto muito.
— Não tem pelo que sentir, nunca o conheci e nunca quis, na verdade. Meu pai sempre foi e sempre será Carlisle. — Sorri, pensando em meus pais. — A história deles é interessante.
— Gosto de histórias interessantes. — Sorriu hesitante, mas curiosa. — Como eles se conhecem?
— Eles eram vizinhos, estudaram na mesma escola e perderam o contato quando foram para faculdade. Se reencontraram no metrô, anos depois, e é bem agora que a história fica boa, porque foi no momento exato em que a bolsa de minha mãe rompeu. É isso mesmo que você está pensando ... — afirmei vendo seus olhos arregalados. — Ele fez o meu parto.
— Nossa! Isso daria um bom filme. — Rimos, porque sim, daria mesmo.
— Depois ele virou meu padrinho e sempre, sempre mesmo estava lá em casa, o que se tornou estranho e confuso para mim porque eu queria chamá-lo de pai e tinha os olhares entre eles… era admiração e amor que havia ali. Até hoje é assim, algo tão puro que sempre quis ter o que eles têm, quer dizer na verdade eu ti… — Parei de falar porque não é uma boa ideia falar que eu tive isso com ela, limpei a garganta e continuei. — Quando eu tinha 12 anos perguntei a ele porque ele, meu pai, não falava para minha mãe, o que era óbvio para todo o mundo. Que eles se amavam.
— Você foi o cupido dos seus pais, aos 12 anos de idade?
— Levei as alianças no casamento deles com asas e flechas de coração e tudo. — Arqueei a sobrancelha com um sorriso brincalhão.
— Que imagem horrorosa: você de fralda e asas. — Rimos. — Seus olhos brilham quando fala deles — disse com um sorriso afetuoso.
— E seus pais? — perguntei e ela estreitou os olhos, com acusação neles. — Só conversar, lembra?
— Não tem muito o que saber. — Desviou o olhar para as mãos unidas em cima da mesa. — Minha mãe morreu no meu parto e meu pai me criou sozinho, em Forks. Até os meus 15 anos, quando conheceu Mary. Uma mulher legal, bonita, gentil e que o faz feliz até hoje.
Voltou a me olhar antes de mudar o assunto de volta para mim, ela nunca gostou de ser assunto numa conversa, isso não mudou.
— Você sempre compôs?
— Cantar e compor veio depois, foi algo tão natural que nem me lembro do tempo que não o fazia. Nunca pensar em viver disso, sempre achei que ninguém em sã consciência iria gostar das minhas canções.
— Porque? Elas são lindas! — Sorri. Então ela já ouviu minhas músicas depois do hospital? Interessante. — É sério, são lindas sim, acho que Turning Page é a minha favorita.
Fechei os olhos para que eles não me entregassem. Essa música foi meu presente de casamento para ela. Cada frase dessa canção ainda é verdade e meu peito dói de não poder dizer isso a ela agora.
— Essa é especial — disse, com visão dela vestida de noiva invadindo minha mente.
— Porque? — Como devo responder a isso? — E pare de me olhar assim.
— O quê?
— Esse olhar, pare com isso.
— Desculpe?
— Tudo bem. Por que essa canção é especial?
— Porque ela é. — Dei de ombros. — Foi quando eu a escrevi e continua sendo, para mim pelo menos.
— Entendo… — Desviou olhar para o lado e fiquei admirando o seu perfil. — O que foi? — perguntou quando voltou a olhar para mim.
— Nada — respondi sorrindo e ela estreitou os olhos.
— Você está fazendo isso de novo.
— Fazendo o quê?
— Esse olhar! Deixa as pessoas tontas, sabia ?!
— Eu deixo você tonta ?
— Não! — respondeu rápido demais e não consegui controlar o enorme sorriso que surgiu em meus lábios. — Mas aquela pobre garçonete está quase babando no balcão olhando para você. Ela já passou por aqui umas quinze vezes!
Segui seu olhar, encontrando uma Jane que fingia limpar o balcão e não olhando na nossa direção, meu sorriso se tornou ainda mais largo. Ela e Seth vão me encher de perguntas depois.
— Aquela pobre garçonete se chama Jane e ela não está olhando para mim. Ela está olhando para você. — Bella arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços — Ela está se perguntando o que uma mulher bonita como você está fazendo sentada aqui comigo. É um milagre ela não ter vindo até aqui para lhe dar uma cantada.
— Porque acha que eu vou acreditar nisso?
— Vamos chamá-la e ver quem tem razão aqui, Swan. — Me inclinei sobre a mesa piscando para ela.
— Você está me desafiando?
— Estou.
— Você tem certeza? — disse, imitando minha postura. — Eu não costumo perder.
— Que bom ter alguém à minha altura finalmente.
Ficamos assim por um tempo, apenas encarando um ao outro, esperando quem iria quebrar o contato visual primeiro. Seu rosto estava tão perto do meu, sua boca tão perto da minha… Desviei meu olhar de seus olhos para sua boca. Porra! Como eu queria beijá-la agora. Queria beijá-la com cada gota de sangue correndo pelo meu corpo, até esquecermos de quem somos, esquecer de tudo de ruim que nos aconteceu ou até fazer ela lembrar .
Ouvimos uma tosse fingida e nos afastamos, vendo Seth com um sorriso muito malicioso de pé ao lado de nossa mesa. Não pude deixar de reparar o quanto ela ficou nervosa em perceber o quanto estávamos perto um do outro.
— Desculpe, não queria atrapalhar. — Seu sorriso se alargou e seus olhos estavam frenéticos olhando para nós dois e parando em Bella. — Mas não temos mais chá preto.
— Ah… então um cappuccino, por favor.
— Claro, com licença.
— Seth? — chamou Bella. — Seu nome é Seth, certo?
— Sim. — Coitado, está igual um tomate agora.
— Poderia chamar aquela moça atrás do balcão para nós? — Ela olhou para mim antes de continuar. — Tenho um desafio para ganhar aqui.
Gargalhei verdadeiramente, faz tempo desde a última vez. Logo depois Jane estava parada em nossa mesa e é óbvio que ela não perdeu tempo em jogar seu charme e usar uma de suas cantadas em Bella.
— Merda! — murmurou Bella irritada, depois de Jane voltar para o seu lugar atrás do balcão. — Eu a vi olhando para você.
— Eu ganhei, aceite isso Bella.
— Muito bem, o que você quer?
Tantas coisas, mas vamos começar com o mais simples.
— Ver você mais uma vez depois de hoje.
Rápido demais? Porra , com certeza foi rápido demais! Consigo ver as engrenagens de Bella funcionando em como me colocar no meu lugar da forma mais educada possível. Estava prestes a pedir que desconsiderasse, quando enfim respondeu.
— Feito. — Respirei aliviado, se ela não quisesse me encontrar de novo, teria negado.
Comemos em um silêncio agradável antes de conversarmos sobre nossas coisas favoritas: comidas, filmes, livros, lugares e coisas aleatórias, como Mike e o clima, por exemplo, que não percebemos o tempo passar.
— Então… — começou quando já estávamos do lado de fora. — Tchau?
— Podemos trocar telefones? — Me sinto um adolescente chamando a menina que gosta para um encontro. — Você me deve mais um passeio, lembra?
— Claro — disse rolando os olhos, mas estava sorrindo ao fazê-lo.
Depois de trocarmos números, nos despedimos meio sem jeito, sem saber ao certo o que fazer. Me aproximo de forma instintiva e deixo um beijo casto em sua testa. Me dei conta do que fiz assim que me afastei, mas em vez de encontrar espanto ou mesmo repulsa, pelo meu ato impensado, ela me devolveu um sorriso hesitante com bochechas coradas, fazendo meu peito se aquecer.
Em casa, posso jurar que Mike farejou seu cheiro e ficou chateado de não tê-la visto também. Dei cinco biscoitos a ele como consolo. Talvez esteja o mimando demais, mas estou de bom humor hoje. Passo o restante do dia olhando seu número, lutando para não apertar o botão ligar.
Sei que fui eu quem sugeriu essa troca de telefones, mas não iria ligar para ela. Nem hoje, nem nos próximos dias, seria demais, sei disso. Hoje foi um passo enorme, um que eu nem ousei sonhar um dia dar de novo.
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27 de outubro de 2021 - Nova York, NY
Your Daily Gossip por Lady Kim
Por onde anda…
É 27 de outubro mais uma vez. Dois anos após o acidente com nosso amado e falecido Beward. Querido leitor, eu sei o que você está pensando no dia de hoje, porque acredite, eu também estou pensando o mesmo. Por onde anda Edward Cullen e Isabella Swan?
Se você estava em Marte e acabou de voltar ao planeta Terra, ou pior, não acompanhava a página desta autora — o que me parte o coração! —, e não sabe quem são eles, aqui vai um rápido resumo para você.
Edward Cullen, foi descoberto em um bar de Chicago por um dos caça talentos da Volturi Records em 2010, na época o astro tinha 22 anos. Sua ascensão no meio da música foi arrebatadora. E vamos ser sinceros, uma mistura daqueles olhos verdes, mandíbula quadrada e esculpida pelos deuses aliados a sua belíssima voz, tinha como ser diferente? Claro que não!
Depois de quatro anos frenéticos, recheados de premiações, turnês nacionais e uma mundial, e até a participação em um filme, o astro resolveu dar uma pausa. Foi durante esta pausa, em 2015, que ele conheceu Isabella ou Bella para os íntimos.
Isabella Swan, na época com 26 anos, era jornalista — mais tarde se tornou uma das principais colunistas editoriais — de um dos maiores jornais do país, o The Twilight Published. Dona de belos cabelos e olhos castanhos e um rostinho de anjo. Não é difícil imaginar o porquê de Edward ter ficado babando por ela, não é?
O casal veio a público pela primeira vez em março de 2016 e era inegável o amor e carinho que se via nos olhos e nas atitudes dos dois. Eles pareciam imersos um no outro, era de fazer os solteiros chorarem de depressão!
No ano seguinte veio o casamento que parou este país. Parou porque ninguém, absolutamente ninguém, além da família e amigos íntimos dos noivos sabiam e foram convidados para a união do casal. A internet quebrou no dia 27 de outubro de 2017 com as fotos divulgadas na conta oficial do cantor. Eu fui, eu tava!
Ufa! Era para ser apenas um resumo, mas se eu não tivesse vivido o surto e a euforia que foi esse casal, poderia até ter realmente resumido. O fato é que desde a separação do casal, não se tem notícias concretas sobre ambos. Edward um dia voltará aos palcos? Isabella seguiu carreira em outra profissão? A fila já andou para eles? São tantas perguntas sem resposta, querido leitor. Esta autora gostaria de ser uma mosquinha para saber todas elas.
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Bella
Sexta, 26 de agosto de 2022 - Nova York, NY.
Não são nem 9 horas da manhã ainda e eu estou furiosa. Como se não bastasse o meu notebook ter parado de funcionar, o cara do suporte técnico me informou que só poderia devolvê-lo daqui a 10 dias. Dá para acreditar? Não posso ficar tanto tempo sem meu instrumento de trabalho. Agora, estou no " lugar super aconchegante que possui ótimos computadores que a senhora poderia usar" , que ele indicou. Adivinha onde é? Na Coffee House. A mesma cafeteria onde tive uma manhã surpreendentemente agradável com Edward.
Quando aceitei me sentar com ele naquele dia, foi por me sentir culpada de perceber o quanto o magoei, vi em seus olhos quando disse que sentia minha falta. Apesar de não me sentir totalmente pronta para conversar com ele, foi fácil '' apenas conversar '', como ele disse. Gostei de me permitir finalmente conhecê-lo, sem tentar afastá-lo a cada minuto, mesmo que apenas uma pequena parte sua.
Tenho pensado bastante nele nos últimos dias, o que me deixou incomodada, mas não consigo não pensar. Será que estou tão diferente assim? Por que não ligou? Ele parecia tão ansioso em ter outro momento comigo, que achei que me ligaria no mesmo dia. Uma parte minha quer vê-lo novamente, mas é bom manter distância. Não quero que ele confunda as coisas e crie expectativas que não sou capaz de alcançar.
— Aqui está seu chá preto blueberry, senhorita — disse Seth.
— Me chame de Bella, Seth. Obrigada. — Sorri para ele e tomei um gole da minha bebida favorita.
Aqui realmente tem bons aparelhos, que não havia reparado da última vez, mas todos estão ocupados e só sobrou um computador. Para piorar — se é que tem como —, ele é de tubo! Não faço ideia de como esse dinossauro ainda funciona, mas o importante é eu conseguir fazer essa tradução antes do meio dia e enviar para Pierre.
Vendo pelo lado positivo, está indo tudo bem até agora, só falta um parágrafo. Chamo Seth novamente e peço um pedaço da torta de chocolate que vi no balcão. Com bastante açúcar correndo em meu sangue, me sinto menos irritada e consigo terminar rapidamente o que vim fazer aqui, agora é só enviar e…
— Mais que merda! — A tela ficou toda preta. Dou umas batidinhas na lateral do computador antigo. — Ah, qual é! Não faz isso comigo. Eu preciso entregar esse texto hoje, inferno!
— Problemas com lata-velha que esse lugar chama de computador? — disse ele perto demais, me fazendo pular da cadeira. Ele riu. — Assustei você?
— O que você acha?
— Desculpe — pediu, ainda rindo.
— Isso não tem graça!
— Você diz isso porque não consegue se ver vermelha de raiva, discutindo com um computador — provocou com seu sorriso irritantemente atraente. — É adorável.
— Adorável? Acabei de perder todo o meu trabalho! — Ele teve a audácia de rir ainda mais. — Se você continuar rindo, eu juro por Deus que vou descontar a minha raiva em você.
Isso o fez parar de rir e se inclinar, deixando nossos rostos na mesma altura.
— Talvez eu goste. — A eletricidade que senti da última vez que estivemos juntos me atingiu e mordi meu lábio inferior instintivamente, o que não passou despercebido por ele. — Só estou brincando com você, Bella. E você não perdeu o seu trabalho, a tela só está bloqueada. Essa lata-velha bloqueia sozinha — explicou, se afastando e fazendo o computador voltar à vida.
— Obrigada.
Envio o arquivo e desligo o computador. Recolho minhas coisas e chamo Seth com a conta. Cada movimento meu sendo observado por Edward, encostado à parede de braços cruzados, cabelos rebeldes, uma barba por fazer e com o rosto de quem acabou de acordar. Perfeitamente desalinhado com suas roupas de corrida e ainda assim, lindo.
— Não é legal ficar observando as pessoas, sabia? — disse para tentar pensar em outra coisa que não fosse a sua forma física.
— Sério? — Riu. — Você fez isso há duas semanas.
— Você nunca vai esquecer isso, não é? — Ele balançou a cabeça em negativa e revirei os olhos. — De qualquer forma, eu tenho que ir agora. Tchau, Edward.
Me despedi, quase correndo da cafeteria, tudo para manter distância dele. Mas a sorte não está do meu lado hoje.
— Estava pensando — começou ele, caminhando ao meu lado. — Já que ajudei você a salvar o seu trabalho. Você poderia me ajudar em troca. — Estreitei os olhos em sua direção.
— O que você quer?
— Você ainda sabe fazer aquele nhoque ao mascarpone e presunto Parna?
— É Parma ! Você está falando da receita secreta da vovó Cisne? — Ele assentiu em confirma. — Claro que sei. Porque?
— Porque sábado que vem é aniversário da minha mãe e eu estava pensando em fazer para ela.
— Por que nhoque? E você sabe que é uma receita de família, não é? Não posso simplesmente dar a você.
— Porque eu lembro o quanto é gostoso e acho que ela gostaria. Veja, vai ter um jantar, e como eu sou péssimo em escolher presentes, quero dizer, presentes para minha mãe, queria tentar algo novo. Charlie já me deu uma receita, Bella. O problema é que não fica igual, já tentei várias vezes e nunca fica bom. Então, obviamente, o problema é o chefe aqui — disse, apontando para si mesmo.
— Ele deu a receita à você? Quando? — perguntei, parando para olhá-lo.
— Ano passado, eu acho.
— Você ainda mantém contato com o meu pai?
Era para ser apenas uma pergunta, mas saiu como uma acusação. E me repreendi por isso. Sempre soube que meu pai o adora, não sei porque esperei que eles perdessem o contato. Deus como eu sou hipócrita! Não tenho me comunicado com a mãe dele há quase um mês? Qual o problema dele ainda ser amigo de Charlie?
Mês passado, tinha ido a uma floricultura comprar um novo cacto para o meu pequeno jardim, quando ouvi uma voz doce chamar meu nome. Depois de um momento constrangedor, veio o reconhecimento de quem estava bem à minha frente. Era Esme Cullen, mãe de Edward. Uma mulher linda, gentil e amorosa. Foi ao encontrá-la e ao passar a tarde com ela que percebi que não machuquei só Edward, mas ela também. Vi no sorriso largo e nos olhos, carregados de carinho e afeto. Droga, se não fosse pelo meu encontro com Esme, talvez eu não tivesse tido coragem suficiente de ir atrás dele. Mesmo que tenha pedido que mantivesse nosso encontro em segredo.
— Não se preocupe querida, será um segredo nosso. — Piscou para mim, sorrindo. — Se cuide, está bem? E prometa me ligar ou mandar uma mensagem de vez em quando.
Foi uma promessa fácil de cumprir. Naquele dia mandei uma mensagem para ela, agradecendo pelo dia que passamos juntas. E, desde então, trocamos mensagens ocasionalmente.
— É um problema para você eu ser amigo do seu pai? — perguntou.
— Não, é claro que não. Desculpe, foi uma pergunta boba.
— Já disse que não precisa pedir desculpas para mim, Bella.
— Você usou mascarpone italiano? — mudei de assunto. — Faz muita diferença. E a farinha 00? — Pela sua cara de paisagem já sabia a resposta. — Não precisa responder, já vi que não, né ?!
— Farinha 00? Isso não estava na receita que seu pai me mandou. Não tinha ideia que isso sequer existia. Eu encontro no supermercado ou tenho que encomendar? — Ri de sua total falta de noção.
— E você ainda se chama de chefe.
— Mas eu sou. Espere até provar o meu macarrão com queijo. — Arqueou a sobrancelha, o deixando a personificação da presunção. — Então, você vai me ajudar?
Eu deveria? Poderia apenas lhe dizer que o segredo está no mascarpone, na farinha e no tempero. Porque claramente isso é apenas uma desculpa esfarrapada dele para passar um tempo comigo. Ou talvez ele realmente queira acertar a receita. Seja lá qual for o real motivo, não seria ruim passar um tempo com ele. Eu não queria conhecê-lo? Tentar entender o que me fez casar com ele em menos de um ano de namoro, quando eu nem sonhava em casar?
Depois do acidente, quando minha mente estava revirada e me contaram como tinha sido minha vida nos últimos 5 anos, eu não conseguia entender. Eu, Isabella, que só tinha um sonho: ser colunista no The Twilight Publicado. Eu que fugia de relacionamentos, fugia de tudo que fosse complicado demais. Como pude casar tão rápido? O que eu sentia por ele era tão forte assim? Mas como, se eu nunca senti isso por ninguém antes? E por que ele? Justo ele, um cantor mundialmente famoso. Como eu lidei com a fama dele e os holofotes em mim por consequência?
Suspirei, sabendo que não vou conseguir dizer não a ele. Primeiro porque quero respostas e acho que conhecê-lo melhor pode me ajudar a entender. Segundo, como posso dizer não para esse sorriso? Para esses olhos brilhantes como esmeraldas? Será que foi assim que me senti quando nos conhecemos? Uma boba completa?
— Tudo bem, eu ajudo você. — Meu coração deu um leve salto com o sorriso largo que recebi dele. — Mas vou logo avisando, não vou colocar a mão na massa! Isso e comprar os ingredientes vão ficar por sua conta. Os itens corretos desta vez.
Combinamos que eu iria até o seu apartamento no sábado no final da tarde e nos despedimos em seguida. Ao longo da semana, trocamos algumas mensagens e minha sexta-feira foi bastante divertida com suas fotos em uns 5 mercados diferentes em busca de mascarpone italiano.
Acho que não é tão difícil assim ser amiga de Edward.
Sábado, 03 de setembro de 2022 - New York, NY.
— Mike, volta aqui. Você vai sujar a casa inteira! — gritou Edward antes de cair de bunda no chão.
Os músculos do meu abdômen estão doloridos de tanto que estou rindo dele correndo pelo apartamento tentando recuperar o pacote de farinha que está na boca de Mike.
— Você poderia parar de rir e me ajudar aqui — reclamou, se levantando.
— Desculpe, mas não consigo — disse, rindo e ganhando um olhar irritado em troca. — E para começo de conversa, foi você quem começou a guerra de farinha.
Por mais que eu tenha dito que não iria colocar a mão na massa, é exatamente o que estou fazendo. Tínhamos preparado e cortado a massa e eu tinha acabado de coloca-la na panela para ferver, quando Edward resolveu me atacar com a farinha. E eu revidei, até Mike entrar nessa bagunça.
— Mike — chamei, antes que Edward quebre um braço, e ele veio obediente até mim.
Depois de tirar o pacote todo babado da boca de Mike e jogá-lo no lixo, fui ao banheiro, para tentar me limpar e me peguei com um sorriso bobo nos lábios. Não é nada demais, Isabella, foi apenas uma brincadeira infantil. Volte lá, termine a receita e vá embora!, disse a mim mesma ao sair do banheiro, antes de entrar em pânico por nada.
— Por que você não faz o que eu peço? Eu não sou tão ruim assim pra você, sou?
Parei na porta da cozinha, vendo Edward agachado limpando o pelo de Mike e conversando seriamente com ele.
— Sempre levo você para tomar banho naquele pet shop só porque você gosta da moça que te dá banho, a Leah. — Ele respondeu com seu latido alto e forte. — Te levo para passear regularmente, dou carinho, deixo você dormir na minha cama e te dou biscoitos. Muitos biscoitos fedorentos! — Mais latidos se seguiram depois da palavra mágica. — Exatamente! Eu sou um bom dono. Poderia se comportar de vez em quando, né? — Mike apenas deu um choramingo.
Edward sorriu e continuou a falar com ele com uma voz melosa. E aqui estou eu, de novo, sorrindo como uma boba. Por que ele tem que ser tão fofo?
Entro na cozinha, e depois de implicar com ele pelo papo com o animal, voltamos a cozinhar. Retirei o nhoque assim que começou a flutuar, enquanto Edward cortava o presunto em cubos e o colocava na frigideira.
— Já estão douradas, e agora? — perguntou e eu peguei o creme de leite, adicionando-o em seguida.
— Pronto, agora eu vou adicionando o mascarpone aos poucos e em hipótese alguma pare de mexer .— Ficamos trabalhando juntos, em um silêncio agradável.
Acho que estou começando a entender o que a Bella de 25 anos viu nesse cara. Olhando-o agora todo concentrado com uma tarefa que lhe foi dada e depois das conversas que tivemos, quando notei o amor com que ele fala da família e presenciar o carinho dele com Mike, percebo como é fácil amar uma pessoa assim. Você não está aqui para se apaixonar e sim para entender um pouco a Bella do passado, disse a vozinha irritante na minha cabeça. Sei que é verdade, mas ainda posso ser amiga dele.
— Consigo ouvir seus pensamentos daqui — afirmou ele, sorrindo.
— Ah, é? — Ele assentiu — Então me diga.
— Você está pensando no quanto sou um cara legal e… no quanto é bom ter um amigo bonito e charmoso como eu.
Não era isso que ele ia dizer, sei pela forma como hesitou em falar a última parte.
— Sinto dizer, mas você está errado — neguei, mesmo que ele tenha acertado… em partes.
— É mesmo? Então porque você está corada?
— Sempre fico corada! — afirmei. — Por que não voltou aos palcos?
Uma das coisas que fiz quando saí do hospital foi pesquisar sobre a nossa vida. E era visível o amor dele com a música, os shows, os fãs. Me perguntei porque nunca havia voltado a fazer o que amava.
— Porque não fazia sentido para mim. Deveria voltar com um álbum novo, com canções novas, que já estavam prontas antes mesmo da última turnê acabar... mas, como poderia? — A pergunta soou tão baixa que ele deve ter falado apenas para si mesmo.
— Não pare de mexer, o mascarpone tem que derreter. — Alertei e ele voltou a se concentrar. — Mas como poderia, o quê? — Por um longo tempo achei que ele não iria responder.
— Como eu iria conseguir emocionar as pessoas com aquelas canções sobre amor? — disse, deixando minha garganta seca. — Não fazia sentido. E depois, eu estava quebrado de tantas formas, que não parecia certo voltar.
— Mas você sente falta?
— Sinto — admitiu. — Era mágico. Subir no palco, ouvir as pessoas cantando e se emocionando com o meu trabalho. — Riu, entrando em nostalgia. — Era louco também. Muito louco, na verdade. Pessoas que nunca me viram, gritando meu nome e falando o quanto minhas músicas significavam para elas. O quanto me amavam. Era louco, mas eu gostava. Quero voltar a fazer isso. — Olhou para mim ao dizer isso. — A proporcionar essa magia de novo às pessoas e a mim mesmo. Mas minha relação com a música está meio conturbada no momento.
— Está conturbada ou você que se cobra demais? Você me parece uma pessoa perfeccionista ao extremo. O quê? — perguntei, notando como me olhava.
— Tive um déjà vu — explicou. — Você já me disse isso antes.
Significa que estou começando a conhecê-lo de verdade ou é uma parte intrínseca do meu cérebro falando por mim?
— Só prova o quanto tenho razão — provoquei.
— O que tem de errado em querer dar o melhor sempre?
— Será que já não deu e você só não percebeu? Aposto que deve ter milhões de canções incríveis escondidas dentro desse apartamento.
— Apenas tentativas frustradas.
— Me mostre — pedi impulsivamente.
— Outro dia, quem sabe? — Riu e piscou para mim.
— Então, basicamente os seus dias são baseados em cuidar da casa, ser pai do Mike e tentar fazer as pazes com a música?
— Falando assim parece que eu sou um vagabundo. — Rimos. — Mas, sim, basicamente é isso. E eu não sou o pai de Mike.
— Sério? Não era você a alguns minutos atrás falando com vozinha e o limpando com lenço umedecido? Aceite que você é pai de pet, Edward.
— Tudo bem, posso talvez mimá-lo demais. Mas e você? Algum trabalho? Hobby novo?
Quando nos divorciamos, eu estava tão desesperada que ele assinasse aqueles papéis que aceitei todas as suas condições. Então poderia simplesmente responder que com o dinheiro que ele me obrigou a aceitar, nunca mais precisaria trabalhar.
— Trabalho como freela. Faço tradução de textos com foco em economia.
— Era isso que estava fazendo naquele dia? — Assenti em Confirmação. — O que aconteceu com o seu computador?
— Problemas na placa, levei para a assistência e tive que ficar 10 dias sem ele. E vou ter que ficar sem por mais uma semana, porque o cara não achou a peça para trocar. Então vou frequentar bastante a cafeteira. E antes que você pergunte, não. Não quero comprar outro. Gosto do meu notebook. E respondendo a pergunta anterior, gosto de tirar fotos.
— Fotos? De quê?
— Do que eu estiver com vontade, mas principalmente das pessoas. Cada rosto, cada sorriso, cada olhar tem a sua própria história, o seu próprio significado. Gosto de tentar imaginar como foi ou é a vida delas só pela fotografia.
Ri, da ironia completa que é esse meu novo passatempo.
— O que é engraçado? — perguntou.
— Nada… — Ele fez uma careta. — Só é irônico que eu goste justamente de tirar fotos, não é?
— Você me mostraria? Suas fotografias? — mudou de assunto.
— Quando me mostrar suas canções, Cullen — retruquei, arrancando um revirar de olhos e um sorriso.
— Touché, Swan.
Terminada a receita, não demoramos mais que 20 minutos para organizar sua cozinha e discutir sobre eu não precisar de um táxi e muito menos do seu notebook emprestado. Mas no momento em que ele me olhou com intensidade suficiente para me fazer virar um tomate, sabíamos que eu havia perdido.
Odiei o sorriso insistente que me acompanhou até em casa. E mesmo agora, quando estou terminando de traduzir mais um texto, não consigo parar de sorrir. Não consigo entender porque inferno ele tem esse efeito sobre mim. E por mais que eu tente, não consigo parar de pensar sobre nós . O nós do passado, do que erramos, do qual eu jamais vou lembrar. Claro, que depois de bisbilhotar uma pasta intitulada como '' Beward '' em seu computador, não me ajudou em nada a pegar no sono horas depois. Foi com pensamentos nesse passado em branco, que lhe enviei uma mensagem.
Bella
Edward?
Edward
Oi.
Aconteceu alguma coisa?
Bella
Não… só queria lhe perguntar algo.
Mas não tenho certeza se quero mais.
Edward
Porque?
Sabe, eu sou bastante curioso…
Você não pode fazer isso comigo, Bella.
:(
:(
:(
Bella
Hahaha
Você é mt dramatico, sabia?
Edward
Dramático não.
Agora curioso, romântico, charmoso e mortalmente lindo, sim.
;)
Bella
Hahaha
Tão modesto!
Como estava o nhoque? Ela gostou?
Edward
É claro que gostou. Foi o seu filho preferido que fez.
Bella
Ser o filho único não te faz o preferido Edward.
Edward
Claro que faz.
E obrigado por me ajudar.
Há tempos não me divertia tanto na cozinha.
(e que fazia algo tão bom quanto meu macarrão com queijo)
Bella
De nada! Fico feliz que ela tenha gostado.
(e seu macarrão com queijo não é tão bom assim ;))
Edward
Engraçado… não foi você quem levou metade dele para casa?
Bella
Só porque foi meu pagamento pela a ajuda.
Edward
Humrum… sei.
Bella
kkkk ta bom, é só um pouquinho delicioso.
Edward
Sei disso...
Bella? Você não vai mesmo me contar o que era né?
Bella
Não era nada demais...
Edward
Não vou conseguir dormir de curiosidade :'(
Bella
Tudo bem...
Você era feliz?
Eu fiz você feliz?
Edward
Sim.
Todos os dias em que tive o privilégio de ser seu, eu fui feliz.
Bella
Até quando brigávamos?
Edward
Claro! A melhor parte era a reconciliação.
Posso garantir. ;)
Por quê?
Bella
Nada…
Era só algo que estava na minha cabeça.
Edward
Gosto de pensar que fiz você feliz tanto quanto você me fez.
Bella
Boa noite, Edward.
Edward
Desculpe, não deveria ter lhe dito isso.
Bella
Não, está tudo bem.
Eu só não tenho como confirmar ou não.
Nos vemos depois?
Edward
Se você ainda quiser, sim.
Bella
Você me deve uma visita à Estátua da Liberdade.
Edward
Sempre cumpro minhas promessas, Bella.
Semana que vem, então?
Bella
Combinado!
Boa noite, Edward.
Edward
Boa noite, Bella.
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12 de setembro de 2022 - Nova York, NY
Your Daily Gossip por Lady Kim
A fila andou ?!
Parece que a fila finalmente andou para nosso astro Edward Cullen. No último sábado, o cantor foi visto fazendo um passeio na belíssima Estátua da Liberdade com alguém. Fontes no local não conseguiram identificar quem era esse alguém — mas afirmaram que nosso Edward estava bastante sorridente e feliz, uma coisa que não vemos há tempos!
Mas querido leitor, esta autora não dá ponto sem nó! Hoje, o astro foi visto em uma loja caríssima de joias e não saiu de lá com as mãos vazias… Posso não lhe dar certeza, porém tudo indica que muito em breve teremos um novo casal no ar — ou quem sabe um antigo? — há quem ainda acredite na volta de Beward haha! Ficaremos de olho nas cenas dos próximos capítulos da vida amorosa do nosso astro.
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Sábado, 17 de setembro de 2022 - New York, NY.
Alice
Você está vendo isso?
Rosalie
O quê?
Você me mandando mensagem mesmo estando do meu lado?
Ou você que não tira o olho do amigo do Edward?
Jasper não é? kkkk o cara do biscoito.
Alice
HAHAHA Eu? Olhando para esse ladrão de biscoitos?
Claro que não!
Estou falando da Bella e do Edward!
Eles parecem dois imãs, olha só pra eles.
Rosalie
É… eu sei.
Alice
Sempre foi assim?
Rosalie
Humrum, sempre!
Alice
Ainda bem que ela aceitou comemorar o aniversário.
Estava doida para conhecê-lo, é uma pena q ele trouxe esse ladrão junto, mas são apenas detalhes.
Rosalie
Foi surpresa Alice!
Ela não tinha muito que aceitar ou não.
Alice
Você é muito negativa as vezes sabia?
Ela ficou feliz com a festinha, não ficou?
Então tá tudo certo u.u
Rosalie
Como foi que você conseguiu convidar ele?
Alice
Tenho meus contatos.
E ela nem desconfiou de nada haha
Sou um gênio por fazer essa festinha depois
do dia do aniversário dela mesmo.
Rosalie
Sei…
Foi bem pensado mesmo, sempre fiz no dia e ela nunca ficou tão surpresa como dessa vez.
Se bem que eu acho que isso se deve ao fato da presença de outra pessoa...
Ela ficou radiante quando viu ele, vc percebeu?
Alice
SIMMMM.
Talvez você não concorde comigo, mas eu sinto
que eles vão voltar a ficar juntos.
Olha a cara dela! Ela ta mt apaixonada.
Rosalie
Achei que eu estava vendo coisas, mas é, se ela ainda não está, tudo tá caminhando para que ela fique com os quatro pneus arriados.
O problema vai ser ela reconhecer e aceitar esse fato.
Alice
Ela é mt teimosa.
Rosalie
Sim.
Adoro o Edward, de vdd. Ele é um cara legal, sempre amou a Bella de forma incondicional e é amg de Emmett até hoje.
Eu só tenho medo do que pode acontecer, sabe?
Sei lá, eles passaram por tanta coisa.
E a Bella tem questões abertas em relação a ele.
Alice
Tipo?
Rosalie
E eu sei?
Ela nunca quis conversar de vdd sobre isso comigo.
Só diz que "preciso conversar com ele" mas ela nunca teve essa conversa. Conheço meu eleitorado.
Alice
Sei como é. Vai protelando tudo q é difícil.
Já percebi isso.
Só sei q eu shippo demais eles.
Por Deus! Olha como ele olha pra ela!
Rosalie
Kkkkkk ele é um gado, emocionado isso sim.
Agr, deixando beward de lado…
O ladrãozinho é bem gatinho né?
E não para de olhar pra vc…
Alice
Vai a merda Rose!
Rosalie
KKKKKKKKKKK
xxx
Edward
— Você percebeu o clima entre o Jasper e a Alice? — perguntou Bella de repente.
Tínhamos saído do apartamento de sua amiga e estávamos conversando na frente da porta do seu apartamento.
— Quem não percebeu? — Rimos. — Como a vida é engraçada. Quando pedi para trazer um amigo, nunca pensei que estaria trazendo Jasper para a casa da "doida do biscoito".
— É assim que ele a chama? — concordei com a cabeça. — Ela o chama de ladrão — disse rindo.
É inevitável não parar para admirá-la, pela milésima vez hoje. Parece irreal que ela está mesmo aqui, ao meu lado. Que posso ver o seu rosto iluminado e levemente corado, seus olhos castanhos brilhando e ouvir o som da sua risada.
— Que foi? — perguntou notando que eu a encarava.
— Nada.
— Você está com aquele olhar de novo.
— Que olhar? — Fingi inocência. Fazendo-a rolar os olhos. — Você percebeu que a Rose e a Alice estavam direto no celular?
— Você é muito fofoqueiro, sabia? — provocou — Percebi sim, aposto que era Rose implicando com a Alice, sobre Jasper.
— Não tenho dúvidas disso. Inclusive, já faz um tempo que estamos aqui e nada do Jasper aparecer.
Não que eu quisesse sair daqui de qualquer forma, poderia passar a noite inteira conversando ou simplesmente olhando para ela.
— Também não vi a Alice quando saímos.
Trocamos olhares e caímos na gargalhada em seguida, percebendo que nossos amigos estão juntos em algum lugar.
— Então é aqui que você mora?
— Bem em frente a porta de Alice. Realmente é bastante longe e perigoso para você ter vindo me acompanhar até aqui — provocou com um sorriso divertido.
— Quem sabe os perigos que você poderia encontrar ao atravessar um longo corredor como esse sozinha? Aranhas venenosas, meteoros, terremotos, quem sabe até um ladrão de verdade. — Isso a fez gargalhar.
— Por deus Edward! Não seja tão dramático.
— Estou apenas zelando pela sua segurança.
— De um meteoro? Sério? Como me protegeria disso? Por acaso você é algum super-herói e não me contou? — debochou com a sobrancelha arqueada.
— Não sei, mas eu daria um jeito.
— Certo.
— Ria o quanto quiser, mas eu continuo sendo um cavalheiro, Bella.
— Você é um cara de pau, isso sim — disse Emmett rindo, atrás de mim.
— Você não tinha ido embora? — retruquei, me virando para olhá-lo.
— Rose esqueceu a bolsa — explicou balançando o acessório em sua mão. — E não entrem nesse apartamento ou vão ficar traumatizados, Alice e Jasper estão se pegando lá dentro. Mas podem continuar flertando como se eu não estivesse atrapalhado. — Piscou para nós com os braços cruzados, esperando o elevador.
— Estamos apenas conversando, Emmett — respondi, dando um passo para trás.
Queria muito ter a visão raio laser do Superman e matá-lo por esse comentário. Estou caminhando a passos de tartaruga com ela, não sei como reagiria com brincadeiras desse tipo.
— E eu sou o Papai Noel. — Riu entrando no elevador. — Belinha, ele está tentando ter mais uns minutinhos a sós contigo, não se deixe enganar por esses olhos bonitos.
— Não me chame de Belinha! E eu sei disso, Emm. Não se preocupe, sei me cuidar. — Ela o respondeu antes das portas se fecharem.
— Sabe é? — questionei, quando notei que estava sorrindo ao dizer isso.
— Você é muito previsível Cullen. — Riu, tirando as chaves do bolso e abrindo a porta. — Obrigada por ter vindo hoje.
— Então você não odiou que eu tenha vindo?
Achei que seria uma péssima ideia aparecer. Estamos mais próximos, desde que ela me ajudou com o nhoque, ouso dizer que somos amigos, mas mesmo assim fiquei com receio de vir. Mas no fim das contas, não importava, porque é claro que eu viria, iria para qualquer lugar no mundo só para comemorar seu aniversário.
Pode parecer loucura da minha cabeça, mas posso jurar que fui a primeira pessoa que ela olhou ao entrar no apartamento e a sorrir, abertamente e calorosamente, fazendo toda a minha preocupação sumir, mas eu ainda queria uma resposta verbal.
— Claro que não! Na verdade eu gostei — confessou, arregalando os olhos em seguida.
Ela não pensou antes de dizer isso, apenas saiu e eu não consegui controlar o sorriso que veio ao concluir isso.
— Boa noite, Edward — despediu-se quase correndo para dentro de casa.
— Espere, eu tenho um presente para você.
— Edward, nã…
— ''Não precisava'' — a cortei —, eu sei que não, mas eu comprei mesmo assim. — Dei de ombros, pegando o pacote dentro da minha mochila e a entreguei. — Lembrei de você assim que vi e não consegui não comprar. Então, por favor, aceite.
Sustentei seu olhar e sabia o que ela provavelmente estava pensando, que havia uma joia caríssima dentro da caixa que a tal Lady Kim disse que eu comprei. Realmente comprei um colar, mas foi para minha mãe. Depois de alguns segundos, ela fez seus trejeitos tão característicos de quando foi vencida por mim: morder o lábio inferior e balançar levemente a cabeça em negativa, e rasgou o papel de presente.
— Uma câmera?!
— É a Polaroid One Step e já vem com o flash. Comprei os filmes também, não sabia se você gosta de colorido ou preto e branco, então comprei os dois. Sabia que foi esse modelo que inspirou a primeira logotipo do Instagram?
— Sim — concordou, sorrindo e colocando um filme dentro dela.
— Espero que ela funcione porque a pessoa que me vendeu não sabia me informar, mas ela é bonita, né? Se não funcionar, você pode usar de decoração. E se funcionar, você vai ter eternizado suas fotos e as histórias que elas contam no momento em que as tirar… o que você está fazendo?
— Testando — disse posicionado a câmera. — Agora sorria.
— A ideia não era eu servir de modelo. — Cruzei os braços — Meu cachê é caro, Swan. — Sorri, meio sem graça. — É sério, faz tempo que não faço isso, você vai estragar um filme — avisei, mas ela já havia apertado o botão.
— Funciona! — exclamou feliz.
— Ainda bem que funcio... — Parei, quando ela me surpreendeu jogando os braços em volta do meu pescoço.
Depois do choque, passei meus braços pela sua cintura e a abracei apertado, me agraciando com o calor do seu corpo no meu.
— Obrigada! — agradeceu me apertando de volta.
Encaixo minha cabeça na curva de seu pescoço. Quero sentir o seu cheiro, saber se continua o mesmo cítrico de morango vindo dos seus cabelos e o doce da baunilha do seu perfume. Sorri quando o senti. Ainda é o mesmo. Tão único, tão seu, tão Bella. Suspirei me sentindo feliz, em casa, com a sensação de pertencimento. Meu lugar é aqui, ao seu lado, com ela nos meus braços. Levando meu rosto para olhá-la e observo seus lábios ainda rosados do vinho e me vejo querendo mais disso, mais dela que me inclino em direção a sua boca.
— Edward…
Me afasto, percebendo o quanto passei dos limites, mas incapaz de quebrar totalmente o contato. Então, deslizo minhas mãos pelos seus braços até segurar suas mãos nas minhas, depositando um beijo em sua testa.
— Fico feliz que tenha gostado. — Descanso minha testa na sua.
— Eu amei. — Sorriu fechando os olhos, como se estivesse apreciando o contato tanto quanto eu. — Obrigada.
Ficamos em silêncio, apenas sentindo o calor, a respiração um do outro. Poderia passar horas, dias apenas olhando para ela, cada detalhe seu.
— Edward? — disse, ainda de olhos fechados.
— Hum?
— Já está tarde… — começou, quebrando o contato e abrindo os olhos.
— É melhor eu ir — completei por ela. — Mike já deve ter quebrado a casa inteira a essa altura.
— Vai ser bem feito por tê-lo deixado em casa. Não sei mais ver você sem ele. — Cruzou os braços — Fiz biscoitos naturais para ele, de cenoura e banana. Você vive reclamando que o de carne cheira mal.
— Podemos fazer os dois, comemorar seu aniversário com ele e você levar esses novos biscoitos. Amanhã, às 17 horas na minha casa?
Deveria me sentir mal por usar meu cachorro como desculpa? Acho que sim, pela forma como ela está me olhando agora.
— Vamos lá, podemos assistir 'Questão de Tempo' que é o seu preferido e eu nunca assisti. Podemos cozinhar também. Lasanha de abóboras? Compro até leite para você tomar com a lasanha. — Faço uma careta, porque se tem uma combinação gastronômica ruim, é essa. Mas ela gosta de combinações estranhas.
— Ei! Não faz essa cara, é bom. Deveria provar, confie em mim. — Foi assim que tive uma intoxicação alimentar, confiando no gosto duvidoso dela. — E você me convenceu na hora em que mencionou o filme.
— Combinado.
Me despeço com um beijo, um pouco mais demorado do que seria considerado normal, em sua testa.
— Boa noite, Bella.
xxxxxxxxxx
Bella
Sexta, 30 de setembro de 2022 - New York, NY.
Amanhã é o primeiro dia do pior mês da minha vida. Tudo que outubro me traz é a lembrança de que nunca vou recuperar a memória. E eu fico com essa horrível sensação de falta de controle, de ansiedade, de culpa, de… saudade. Deus eu sou tão idiota! Passo a mão no rosto e vou para o banheiro, deixando a água cair numa tentativa de clarear minha mente.
Não deveria ter tido todos esses encontros com Edward, é isso que está deixando a minha cabeça confusa. Não tem como eu sentir saudade dele, da nossa vida de antes, porque não posso sentir saudade do que não lembro. Saio do banheiro ainda mais irritada comigo mesma. Escolho as primeiras peças de roupas que encontro, vou até a cozinha preparar meu café da manhã. Por mais que eu tente, não paro de pensar em tudo que me foi tirado. O que aquela Bella gostava? O que achava da vida? Ela era feliz? Quais eram seus sonhos?
O que mais me irrita é não lembrar de nada, nenhum mísero fragmento da minha história com Edward. Alice diz que estou apaixonada, e isso me faz sentir saudade dele, de estar com ele no agora, no presente, e não saudade do passado. Ela não está totalmente errada, gosto de estar com ele... é fácil quando não estou tentando afastá-lo. Mas "apaixonada" parece uma palavra forte demais.
Não nego que sinto desejo me consumir toda vez que o vejo. De que quero desesperadamente passar as mãos por seu pescoço, colocá-las em seu cabelo ruivo e puxá-lo até sua boca estar na minha. Inferno! Não posso pensar nessas coisas, não posso fazer isso, mas parece que é inevitável.
Ouvi dizer que o nosso corpo tem memória, é verdade, já que não foi difícil andar de bicicleta com Edward semana passada, depois de anos. Mas nunca pensei que meu corpo, meus sentidos, se lembrassem de coisas que a minha mente recusa, é como se eu soubesse como seria se o beijasse. Como é o seu gosto, de sentir seus lábios em toda parte, de sentir o seu toque. É irritante porque essas coisas nunca aconteceram. Pelo menos não depois do acidente, não fora da minha imaginação. Merda, definitivamente estou ficando louca.
Antes, vivia de encontros rasos e baseados em sexo casual. Gostava desse arranjo, da falta de compromisso e liberdade. Era fácil e sem complicação, mas a verdade era que não conseguia me apaixonar por ninguém. Talvez o problema fosse eu ou apenas não tinha encontrado a pessoa certa.
Dou uma risada. Pessoa certa. Desde quando comecei a acreditar nisso? Não importa, porque ele parece acreditar. Sei, pela forma como se preocupa comigo, como tenta cuidar de mim mesmo que eu não deixe. Como sabe a hora certa de manter distância, respeitando o meu espaço ou de me irritar, brincar comigo até me fazer querer bate-lo. De me fazer sorrir com suas piadas sem graça e com suas milhões de perguntas, mesmo sentindo que ele já sabe as respostas. E mais do que tudo, pela forma como ele me olha.
Vejo tanta intensidade, carinho, afeto… amor neles. Quando estou com ele é como se só existisse eu no planeta, como se ele estivesse pronto para levar um tiro por mim, que ele faria qualquer coisa por mim e isso me deixa apavorada. Como ele ainda pode sentir algo tão forte? Como ainda pode achar que eu sou a pessoa certa para ele? Já se passaram anos, e é como se ele estivesse me esperando esse tempo todo.
Não sou digna dessas coisas, desse amor. Não consigo me lembrar de como nos conhecemos, do nosso primeiro encontro, do nosso primeiro beijo, de como foi amá-lo. Eu consegui retribuir todos esses sentimentos que vejo em seus olhos?
Quando estou com ele agora é como se tudo estivesse onde deveria estar, onde eu deveria estar, como se eu tivesse "voltado" para onde eu nunca deveria ter saído. E o problema é justamente esse, porque eu não voltei.
Preciso acabar com isso antes que minha cabeça fique ainda mais confusa. Antes que eu faça uma cara legal com Edward sofrer… de novo.
Respiro fundo e mando uma mensagem para ele, perguntando se está em casa. Sei que é dia dele ir à cafeteria, mas não quero ter essa conversa em um lugar público.
Uma hora mais tarde, estou de frente para a sua porta.
— Ah. — Digo ao ver Jasper abrir a porta antes que tivesse a chance de bater. — Bom dia, Jazz.
— Bom dia. Você chegou cedo, achei que só viria mais tarde. — Do que ele está falando? Nem iria vir aqui hoje se não tivesse decidido acabar com… com o que quer que eu esteja fazendo. — Mas isso é bom. É ótimo, na verdade, porque eu tenho que trabalhar e não posso ajudar Edward com isso. — Riu.
— Ajudar com o quê?
— Ele não te contou?
— Contou o quê?
— Entre. — Sorriu largamente ao dizer isso. — Entre e veja você mesma.
Nos despedimos e entro no apartamento em seguida, me deparando com uma... Ai, meu Deus! Cubro a boca com as mãos para não fazer nenhum barulho. A sala de Edward está decorada com balões azuis, vermelhos, amarelos e brancos com patinhas de cachorros desenhados neles, uma faixa de ''Feliz Aniversário'' e mais balões de gás hélio.
— Você não pode comer o bolo antes de bater os parabéns. — Resmungou de algum lugar da casa. — E não coma a decoração! Vamos deixar para destruir as coisas depois que a Bella chegar, está bem? — Mike respondeu com um latido forte.
Me escondo atrás da parede que leva para o corredor quando ouvi seus passos vindo em direção a sala.
— Não vamos começar a festa sem ela. Você vai adorar esse bolo, garoto, é de cenoura com banana. Igual o biscoito que ela fez pra você.
Pego a câmera de dentro da bolsa e me viro devagar, bem a tempo de pega-lo agachado colocando um lenço azul com estampa de sorvete no pescoço de Mike e recebendo lambidas no nariz em troca. Registro esse momento, sentindo meu coração amolecer. Como eu posso ficar longe deles?
— Há quanto tempo você está escondida aí? — perguntou, quando ouviu o barulho da câmera que ele me deu.
— Não sei. O que é tudo isso?
— Mike está fazendo 1 aninho hoje — começou, olhando para ele, que estava pulando na parede, tentando pegar um dos balões de gás hélio. — Resolvi fazer uma festinha, para comemorar. Sei que ele faz muita bagunça e nem sei se merecia essa festa, mas não teve jeito, quando vi essa decoração, pensei "Porque não?" — Olhou para mim ao dizer isso. — Não ouse tirar onda comigo por causa disso.
Acusou, assim que eu abri a boca para fazer justamente isso.
— Seria só de noite — continuou —, mas você disse que queria falar comigo agora então adiantei as coisas. Bem, o bolo para humanos ainda não chegou, mas podemos aprontar alguma coisa. Anda, vem me ajudar.
O segui para uma manhã incrível ao lado dos dois. Fizemos bagunça na cozinha preparando petiscos para nós, batemos os parabéns de Mike e ganhamos muitas lambidas dele, que comeu com felicidade seu bolo. Assistimos Beethoven, o Magnífico que segundo Edward é o preferido de Mike, mas tive a impressão de que é o preferido dele. Tirei muitas fotos do aniversariante, de Edward e de nós três. No final da tarde, me pego olhando as polaroids espalhadas pelo apartamento.
Sabe aquelas propagandas de margarina, onde tem um casal, em sua casa brincando com seu cachorro? Como uma família? É o que vejo quando olho essas fotos. Estamos felizes, parecendo uma família. O que eu estou pensando? Não somos uma família. Deveria parar de ser uma completa covarde e falar com ele de uma vez. Mas não posso, não hoje, não depois de um dia tão bom como esse. Não quando ainda nem terminou.
Só percebo que estava aconchegada em seus braços no sofá, quando sinto falta do seu corpo embaixo do meu e seus braços a minha volta, me fazendo carinhos preguiçosos. Estávamos terminando de assistir Beethoven 2, quando o bolo, para humanos, que Edward encomendou finalmente chega. Na realidade são dois, um de chocolate para ele e um de cream cheese com manteiga de amendoim e amoras para mim. Nem sabia que gostava dessa combinação de recheio, mas ele sim. E mais uma vez fico tão distraída pensando sobre isso — as pequenas coisas que ele sabe sobre mim —, que não percebo Mike comendo minha fatia de bolo e, para não perder o costume, me sujando toda.
— Acho que me sujei mais do que consegui me limpar — declarei, saindo do banheiro e vendo o estado deplorável da minha camisa.
— Pegue uma minha — gritou Edward da cozinha. — Segunda porta à direita, é meu quarto. Entre e escolha uma.
Faço isso, porque não tem como voltar com essa blusa toda manchada pra casa. E uau! Às vezes esqueço que ele é rico e que mora em uma cobertura. Seu quarto é incrível, espaçoso, decorado com tons escuros e grandes janelas de vidro que vão do teto ao chão, com uma vista deslumbrante de Nova York.
Vejo as portas que dão para o seu closet, procuro por entre os cabides alguma camiseta simples mas tudo que encontro são roupas de ginástica, camisas sociais e ternos muito bem passados e guardados.
— Onde estão suas camisas? — grito.
— Nas gavetas.
Abro a primeira e pego uma camisa cinza meio surrada, com beastie boys estampado em amarelo na frente. Antes de sair, minha blusa manchada fica enganchada em uma caixa pequena. Com cuidado tento desprendê-la, mas acabo derrubando-a. Abaixo-me para pega-lá, porém paro quando vejo uma carta. Meu nome está escrito nela.
— Bella? Tudo certo aí? Escutei um barulho.
— O que é isso? — perguntei assim que ele entrou.
Confusão era o que seu rosto transparecia, que sumiu assim que percebeu o que eu segurava. Nunca o vi com vergonha, mas seu rosto enrubesceu. O constrangimento o deixou sem palavras.
Por mais que eu esteja confusa e curiosa sobre o conteúdo desta carta e do porquê nunca soube da sua existência, não consigo deixar de reparar o quanto ele fica lindo sem graça.
— Uma carta — admitiu o óbvio. — Escrevi há alguns anos para você, mas nunca enviei.
— Por quê? Por que a escreveu se não pretendia enviar?
— Primeiro porque eu não sabia o seu novo endereço. E não — negou, premeditando que eu diria que poderia ter pegado com meu pai. — Não perguntaria a Charlie ou a Emmett. Você não queria me ver, não queria que pensasse que eu estava forçando uma aproximação. E, sendo honesto, eu precisava escrevê-la. Precisava colocar tudo para fora, tudo que queria dizer a você. Faz um tempo que pretendia te entregar. Mas nunca pareceu o momento certo e depois comecei a achar que não seria uma boa ideia. — Isso eu entendo bem. — Mas ela é sua — apontou para o papel e a caixa em minhas mãos —, a caixa também. Pode levar se quiser ler... um dia.
— Você lembra o que escreveu?
— Cada palavra. Tudo que eu escrevi ainda é verdade. — Merda. — Se você não estiver preparada para ler, tudo bem. Pode jogá-la fora ou deixar guardada aí.
— Claro que não vou descartar!
— Tudo bem, como eu disse, ela é sua, você decide o que fazer com ela. Só não quero que se sinta pressionada a ler ou a corresponder o que tem escrito aí. Está bem?
Assenti em confirmação e ficamos nos olhando em silêncio, senti uma vontade avassaladora de chorar, de abraçá-lo e pedir desculpas. Para minha sorte, Mike passou por nós, correndo com o que poderia ser um pedaço do meu bolo na boca. Edward correu atrás dele e aproveitei para guardar a carta e a caixa na minha bolsa.
Em casa, horas depois e sem conseguir dormir, não paro de pensar no conteúdo desta carta, seu olhar quando disse que tudo que está nela ainda é verdade me deixou desnorteada. Aquele era o momento perfeito para ter a conversa que fui ter. Mas não consegui fazer as palavras saírem. Se eu falasse, não iria conseguir olhar em seus olhos e… não quero deixar de vê-lo, de sair com ele, de estar com ele.
Deus, eu sou tão egoísta. Mas não posso e nem quero me afastar dele, pelo menos não agora. Não quando estou finalmente à vontade com a sua presença, quando estou conhecendo cada detalhe seu, quando me sinto em paz com o som de sua risada.
Quem eu quero enganar? Estou me apaixonando por Edward Cullen e estou gostando disso.
xxxxxxxxxx
Edward
Sexta, 15 de outubro de 2022
— O que está incomodando você? — pergunto, sem conseguir me conter mais.
Estamos numa sorveteria perto da casa de Bella, tínhamos acabado de sair do teatro. Pedi a Katy que conseguisse um bom lugar e escondido o suficiente para que pudesse a levar para assistir ao musical Heathers e para minha surpresa, ela adorou. Claro que já a havia levado para assistir um musical, porque adoro musicais, mas ela sempre achava chato e sem graça. Agora ela está tomando seu sorvete com uma cara que conheço bem.
— Não tem nada me incomodando.
— Conheço esse seu sorriso, Bella. E sei que tem alguma coisa deixando você desconfortável, agora me conte o que é.
— Já disse que não tem nada de errado. E o que tem o meu sorriso?
— Você tem 7 tipos de sorrisos, Bella, sei o que cada um deles representa. Esse — apontei para o que estava em seus lábios agora —, quer dizer: estou incomodada, mas vou fingir que não estou. Geralmente é quando está com ciúmes. — Ri ao pensar nisso.
— Ciúmes? De você? Vai sonhando, Cullen.
Como tenho sonhado com isso Bella, você nem faz ideia. Ela desviou o olhar, mas ainda consigo vê-la ficar vermelha.
— Quais são os outros? — mudou de assunto.
— Há aquele que você faz quando está cansada, um pequeno, mas particularmente adorável. Tem o meu segundo favorito que é o largo e intenso, que faz seus olhos quase se fecharem porque você está sorrindo com eles também, deixando o seu rosto iluminado de plena felicidade.
"Tem o sorriso de quando você está com vergonha, que deixa seu rosto corado e você faz um leve movimento com a cabeça para baixo, desviando o olhar. Tem aquele largo, em que você abre a boca, quase formando um "o", quando fica surpresa com algo. E tem o falso, que você usa quando quer ser educada."
Ela está com o sorriso de vergonha agora, mas não desvia o olhar. Deslizo o dorso da mão em sua bochecha, sentindo seu calor e coloco uma mecha teimosa atrás da sua orelha para poder ver seu rosto completamente. Faz algumas semanas que trocar carícias com Bella não fazem parte apenas da minha imaginação.
Nossa relação, está cada dia mais forte, intensa e natural, tão natural que ela nem percebe quando vem se aconchegar nos meus braços ou procura a minha mão ou qualquer forma de contato, apenas para ficar junto, sentindo o calor e o conforto que a companhia do outro traz. E quando não estamos juntos, passamos horas no telefone, conversando sobre qualquer coisa, e principalmente, quando vamos nos ver novamente.
— Está faltando um, o seu favorito. Você disse que são 7 tipos, e você só falou 6.
— Quer mesmo saber? Não é o tipo de sorriso que eu posso falar em voz alta Bella.
Estreitando os olhos, ela se inclinou, aproximando sua boca do meu ouvido. Sua voz baixa e o ar gelado que sai de sua boca, por causa do sorvete, fazem as coisas ficarem meio complicadas lá embaixo.
— Melhor agora? — murmuro um sim, tentando desesperadamente não ter uma ereção. — Agora, fale.
Bella coloca a mão no meu joelho, apertando-o um pouco. O que não ajuda em nada com o meu problema.
— Tão mandona. — Brinco, levando um tapa na coxa. — Tudo bem. Meu preferido é quando você sorri com os cantos da boca, maliciosa e com tesão. — Me aproximo ainda mais e a escuto engolir em seco, mas não se afasta. — É o mesmo de quando você está plenamente saciada. Você não sabe o quanto essa visão é linda: de você deitada, nua e com a pele vermelha, seu cabelo bagunçado, seus olhos brilhando junto com o suor em sua testa. E então você sorri. Ah Bella, eu mataria para poder ver esse sorriso mais uma vez.
Quero desesperadamente beijá-la, mas para preservar o mínimo de autocontrole que ainda me resta, me afasto e a vejo morder seu lábio inferior, encarando minha boca. Ela avançou hesitantemente encostando seus lábios nos meus. Tão leve, quase inexistente, mas o suficiente para me incendiar. Levo meus lábios aos seus com a certeza de que ela quer isso tanto quanto eu. Aos poucos vamos encontrando nosso ritmo, ela colocando as mãos em meu cabelo, o puxando, eu mordiscando seu lábio inferior, pedindo passagem para intensificar nosso beijo.
— Edward… é melhor nós irmos — disse abruptamente.
Estou cansado de fingir que não a quero de volta, que não estou lutando para fazê-la se apaixonar por mim. Por mais que ela tente negar, vejo como ela me olha, não é apenas desejo, tem algo a mais. Não espero que seja amor, mas queria que ao menos ela abaixasse todas as barreiras e me desse uma chance.
— Tenho que ser sincero com você, Bella. — Volto a olhar em seus olhos, seu rosto a poucos centímetros do meu. — Não estou lhe cobrando nada, nunca fiz e jamais farei isso. Mas quero que saiba que ainda tenho sentimentos por você.
— Edward, nós não… Isso não deveria ter acontecido.
— Você quis também, Bella, não negue isso. Não negue o que está sentindo. O que está bem aí em seus olhos agora. — Ergo seu queixo, a fazendo olhar para mim novamente.
— Não nego, Edward. Mas é tudo muito confuso para mim. Entende? — Suspirou, cansada. — Tem coisas que eu preciso… — E aí está, o momento em que ela trava uma luta pessoal, como se estivesse decidindo me contar ou não algo. — Só me deixe em casa agora, está bem?
Terminamos nossos sorvetes em silêncio e a deixo em casa, como ela pediu. Não me culpo por tê-la beijado, por deixar as coisas claras. Quero reconquista-la e construir uma vida nova ao seu lado. Bella é o amor da minha existência e não vou desistir de nós novamente, vou lutar com todas as minhas forças para tê-la de volta.
xxxxxxxxxx
22 de outubro de 2022 - New York, NY
Your Daily Gossip por Lady Kim
Loira Misteriosa.
Esta autora tem o prazer de dizer que os rumores sobre o novo affair do nosso queridinho Edward Cullen, não são apenas rumores! Nas últimas semanas, o cantor foi visto — mais de uma vez — ao lado de uma loira misteriosa. É uma pena que não temos maiores informações sobre ela, mas parece que Mike — o Golden Retriever mais brincalhão de NY — aprovou a escolha do dono. O doguinho, aprontou horrores no Central Park essa semana quando avistou a loira. E parece que uma certa sorveteria nos arredores de Inwood, ficou bastante quente com o casal, na semana passada. Quando será que o nosso astro irá revelar quem é a sua nova amada? Não se preocupe, querido leitor, porque se ele não nos der essa informação, eu vou buscá-la para nós.
xxxxxxxxxx
Bella
Quarta, 26 de outubro de 2022 - New York, NY - 20:57
Desço uma estação antes da que deveria e sigo a pé para casa de Edward. Talvez um pouco de ar fresco me ajude a colocar os pensamentos em ordem. Caminho pelo que parece horas, tentando reunir toda a minha coragem para finalmente ter a conversa que estou evitando a meses. Atravesso a rua e quase sou atropelada por um táxi.
— Olha por onde anda, sua maluca! — gritou o motorista.
— Desculpe! — gritei de volta, da calçada.
Vejo uma cafeteria à frente e entro, peço uma água e respiro fundo várias e várias vezes para me acalmar, não consigo pensar, nem respirar direito. Agradeço aos céus por está quente aqui dentro, estava congelando lá fora. Hoje está mais frio que nos outros dias e o céu está bastante nublado. Só espero que a chuva não seja com raios e trovões.
"Sinto falta de cantar no seu ouvido quando está chovendo forte e você está tremendo com medo dos trovões." Coloco as mãos no rosto, numa tentativa falha de não chorar, lembrando da carta de Edward.
Amanhã é 27, e no meu típico surto na véspera dessa data, li a carta dele. Não consigo parar de chorar desde então, de pensar no quanto esse homem me amou… por Deus, o quanto ele ainda ama. E o quanto sou egoísta e deprimente.
Não deveria ter deixado ele ter qualquer tipo de esperança. Não deveria ter sido cruel ao ponto de entrar em sua vida de novo, sabendo que sou incapaz de retribuir, que não sou digna de um amor tão puro.
Quando ele disse que iria lutar por mim, por nós, eu deveria ter sido forte e ter aberto o jogo. Porque ele não estava brincando e tem sido tão difícil resistir à tentação, ao desejo de ser sua, de me deixar levar e me perder nas sensações de quando estou em seus braços… Balanço a cabeça afastando esses pensamentos, sentir desejo por ele é diferente de amá-lo como ele merece.
Volto para a calçada, faltam apenas alguns quarteirões agora, tento observar as pessoas ao redor. Há um velhinho passeando com seu cachorro, crianças brincando, uma senhora com cara de poucos amigos, um estudante bastante concentrado em seu notebook e casais. Muitos casais, de mãos dadas, caminhando, sorrindo, trocando carícias e beijos apaixonados. Não é louco o quanto um simples toque pode nos fazer perder a lucidez? Ser beijada por ele foi arrebatador, um toque tão suave de seus lábios foi como ser atingida por um raio, um daqueles com carga máxima, um daqueles que tenho tanto medo.
Medo. Se tem uma palavra que me define bem, é essa. Tenho medo do que sinto por Edward, e é por isso que vou embora de sua vida, mas dessa vez vou ter a decência de conversar com ele primeiro.
Já são quase dez horas quando chego em seu prédio, James, o porteiro, já me conhece e Edward deixou avisado que eu não preciso ser anunciada. Não uso minha chave, merda, eu tenho a chave da casa dele! Até que ponto eu ia com essa história? Bato na porta, ao mesmo tempo que Mike começa a latir, provavelmente sentindo meu cheiro. Tenho que me despedir dele também esta noite.
— Oi — diz, assim que abre a porta, com seu sorriso de lado, deixando meu coração muito apertado.
Mike passa pela porta e pula em cima de mim, como já estou acostumada, não caio mais no chão com o seu peso. Ele está com o brinquedo que dei a ele, sinto meu coração se comprimir ainda mais. Eu amo tanto essa bola de pelo amarela.
— Esse safado está tão mal acostumado com a sua presença quanto eu — diz Edward rindo, enquanto eu entro e jogo o brinquedo longe. — Por que não usou sua chave?
Mike volta correndo com o brinquedo na boca e tiro um osso enorme que trouxe e lhe entrego, é grande o suficiente para lhe manter entretido. Não posso me distrair com a sua fofura, seu dono já é distração suficiente.
— Uau! O que ele fez para ganhar um presente desses? — Brincou — Mike, no sofá não! Desce! Muito bem, seu safado. Até que ele começou a me obedecer… o que aconteceu? — pergunta preocupado, quando olha nos meus olhos. — Você estava chorando? Está tudo bem?
— Sim. Não. Li sua carta — admito, engolindo em seco. — Precisamos conversar — digo antes que ele fale qualquer coisa que me faça perder o foco. Sento na poltrona de frente para o sofá onde ele se senta logo depois. — Não podemos mais nos ver.
Vou direto ao ponto, deixando-o com uma expressão de surpresa, mas logo dá lugar a uma irritada.
— É por causa da última matéria da Lady Kim? Não conversamos sobre isso? Não tem como ninguém saber que voltamos a nos ver. — Ele entendeu tudo errado.
— Não! Não é por causa disso.
Não sou inocente ao ponto de esperar que saindo com tanta frequência com ele, as pessoas não iriam reparar e que não sairia nenhuma especulação sobre, afinal ele ainda é uma pessoa pública.
Sabia que iria acontecer mais cedo ou mais tarde, e ao contrário do que eu esperava, não surtei com isso. Nada mais perturbador do que uma pessoa que odiava a mídia, não se importar nem um pouco com ela agora. Desde que ele estivesse comigo, eu não me importo nem um pouco com as especulações.
— Qualquer uma poderia ser a "loira misteriosa" — bufou irritado. — Poderia ser a minha agente Katy, minha prima Tanya, merda, poderia até ser a minha mãe! Esses sites de fofoca são sensacionalistas Bella, só querem vender informação, seja ela verdadeira ou não. Nós sempre tomamos cuidado quando saímos, não tem como saberem que é você.
— Edward não tem nada a ver com o presente! Tem a ver com o passado.
— Desculpe, o quê?
— Estou falando de ter abandonado você, sem ter ao menos a decência de explicar o porquê! — explodi, o deixando chocado.
Ficamos nos encarando por um longo tempo, ouvindo apenas o som de Mike roendo o osso, até ele quebrar o silêncio entre nós.
— Por que isso é importante agora? É passado Bella. Não precisamos reviver isso.
— Precisamos! Eu preciso — confesso. — Sinto que preciso falar, colocar para fora coisas que eu deixei guardadas apenas para mim. E eu devo uma explicação a você Edward, não negue isso. Você nunca se perguntou o porquê?
— Sim, é claro que sim — admitiu. — Mas eu entendi que você precisava de tempo, de espaço Bella. Você mesma me pediu isso naquele bilhe…
— Deixar um bilhete e ir para outro estado enquanto você ia ao mercado, não é exatamente um pedido de tempo. Isso é fugir — o cortei pela milésima vez.
— Você me pediu tempo naquele bilhete e...
— E depois eu mandei Rosalie como minha advogada, com os papéis do divorcio para você assinar — retruquei, irritada comigo mesma.
— Isso não importa — afirmou, olhando em meus olhos e vi sinceridade neles.
Como ele pode não se importar? Qualquer um ficaria com raiva de ser abandonado pela esposa! Por que ele tem que ser assim? Tão bom e gentil quando eu não mereço nem isso dele. Numa tentativa de esconder minha vergonha, cubro o rosto com as mãos, respiro fundo, reorganizando meus pensamentos. Enquanto ele espera pacientemente que eu continue.
— Quando eu acordei… Estava tudo confuso na minha cabeça, aí eu vi você — comecei de olhos fechados, apenas deixando as palavras fluírem. — O que Edward Cullen, está fazendo aqui? Por que meu pai está chorando? Por que estou no hospital? — Paro e começo de novo. — Imagine acordar nessa situação, sem saber o que aconteceu para você estar lá cercada de tubos e médicos...
— Não preciso imaginar, Bella, eu estava lá. Eu vi você ficar em coma por quase uma semana. E sinceramente não gosto de lembrar dessa parte. É angustiante e doloroso demais.
Sim, ele estava. E não saiu de perto de mim nem por um segundo, nem quando eu era terrivelmente grossa com ele. Mas não foi ele quem ficou sem memória, sem lembrar de cinco anos da sua vida e ter que lidar com isso.
— Desculpe, só… Sua vida é a seguinte: você tem 25 anos, acabou de ser efetivada no seu emprego dos sonhos, com direito a um bom aumento de salário, tem zero planos de se casar, possui um apartamento aconchegante no centro de Chicago. Mas aí você acorda e está num hospital e todos ao seu redor te dizem que não, que você não está nesse estágio da sua vida.
"Você agora tem 30 anos, é casada com um puta cantor famoso e tem até sua própria coluna no maior jornal do país. E que você veio parar naquela cama de hospital por causa de um acidente, provocado por uma perseguição de dois paparazzi. 'É apenas uma perda de memória recente, causada pelo trauma, em poucos dias sua memória irá retornar. Dê tempo ao tempo', os médicos disseram. Mas sabemos que não foi bem assim, não é? Minha mente simplesmente apagou 5 anos da minha vida. Já fazem três anos e ainda assim, nada. Nenhum fragmento desses anos retornou, apenas um vazio, uma escuridão.
Foi muita coisa para processar, claro que com o acompanhamento psicológico ficou mais fácil, com o passar dos dias melhorou bastante. Ainda tenho meus surtos de vez em quando, geralmente perto da data do acidente, mas naquela época, eu me sentia sufocada, como se todo mundo tivesse perdido a cabeça e estivessem querendo me levar junto para essa loucura.
E tudo parecia cada vez mais sem sentido. Ligava a TV e lá estava o meu rosto estampado em todos os jornais. Havia inúmeras pessoas na porta do hospital querendo saber como eu estava, gritando enlouquecidas desejando melhoras e incontáveis presentes delas.
Depois, nós voltamos para casa, um lugar que eu não reconhecia como meu lar. Um lugar cheio de memórias, de fotografias que não tinham valor nenhum para mim. E tinha você. Alguém que eu conhecia apenas pelas redes sociais, pelas músicas e revistas. Um cara legal, gentil, lindo, que tem os olhos mais atraentes que eu já vi e que me tratava com tanto cuidado, afeto… amor. Era ridículo. O que você estaria fazendo com alguém como eu? Uma ninguém, uma pessoa totalmente normal, uma anônima sem graça."
— Você não é nenhuma dessas coisas Bella.
— Eu tentei entender — continuei, o ignorando. — Como eu lidei com tudo, sua fama, a mídia, com essa nova vida no geral. Mas eu não consegui, não conseguia ficar no mesmo cômodo com você por mais de 10 minutos. Porque era irreal demais e… você tentava tanto.
— Eu tornei as coisas difíceis para você? — Perguntou angustiado.
— Não! Não é isso… droga. Você nunca me pressionou Edward, nenhuma vez. Pelo contrário, você tentava tornar a vida mais fácil para mim, mas me incomodava o fato de você saber mais sobre mim do eu mesma. Era frustrante, porque parecia que eu estava vivendo a vida de outra pessoa e não a minha. Eu não sabia mais quem eu era.
''Eu via todos os dias você tentar e esperar que no dia seguinte as coisas fossem melhores, e com o passar daqueles seis meses, eu não conseguia olhar para você, para os seus olhos. Porque eu via esperança neles. Esperança de que eu iria lembrar de tudo ou pelo menos de alguma coisa, de qualquer migalha de nós dois. E isso… isso me matava, porque eu estava fazendo alguém que eu não conhecia, um estranho, sofrer. Mas sabe o que é pior? É que mesmo vendo você sofrer, eu fui embora sem nem lhe dizer o porquê eu precisava.
Lembro daquele dia, de como você ficou feliz, de como você sorriu para mim porque eu falei com você, porque notei você em dias, mesmo que para pedir para ir comprar a porcaria de um macarrão específico. Esperei você virar a esquina e sai, deixando um bilhete ridículo. Fui egoísta e cruel com você, sei disso. E peço perdão por isso."
— Não tem nada para perdoar Bella. Isso não… importa mais — disse com a voz embargada.
Por favor não chore, não vou conseguir ver você chorar sem terminar de quebrar o que ainda resta de mim.
Falar sobre isso, me traz um certo alívio, uma sensação de que tirei um peso das costas. Mesmo que o que eu preciso fazer agora não me dê conforto algum. Sendo a pessoa deplorável que sou, comecei a recolher minhas coisas. Deixei a cópia da sua chave em cima da poltrona e me dirigi à porta.
— É por isso que fui embora, porque aquela vida não me pertencia Edward. E é por isso que não podemos mais nos ver agora. Ficar perto de você me deixa confusa e eu não quero magoá-lo ainda mais ficando na sua vida.
— Bella, espere, você não pode simplesmente ir embora.
— Edward, eu preciso ir. Será melhor para nós dois.
— Não! Você está se escutando? Isso é absurdo! — disse se colocando na minha frente, me impedindo de ir a qualquer lugar. — Já passou pela sua cabeça que a culpa é minha?
— Do que você está falando?
Edward
23:27
Então era isso? Sabia que ela tinha alguma coisa guardada, algo que precisava colocar para fora. Senti isso em todas as vezes que nos encontramos, e em todas elas, sabia que não estava preparada. Mas nunca pensei que fosse isso.
— Do que você está falando?
— Foi eu quem trouxe você para essa bagunça que é o mundo da mídia, do assédio das pessoas, da internet, dos malditos paparazzi.
— Tenho certeza de que se eu aceitei entrar na sua vida, foi porque aquela Bella queria. E sabia onde estava se metendo.
— Não tem um dia em que eu não me culpe pelo o que aconteceu com você. Ou que não pense em Félix, ou naqueles dois paparazzi. Porque poderia ter sido você no lugar deles. — Engoli o bolo se formando em minha garganta. — Você poderia ter morrido.
Não controlei a lágrima solitária que cai pelo meu rosto. Viver sem sua presença foi um martírio, mas viver num mundo no qual ela não existe… é inimaginável. Sinto sua mão em meu rosto, seu olhar aflito e de total choque.
— Edward, você não tem culpa de nada. Absolutamente nada, entendeu?! Foi um acidente, você não tinha como prever que isso não aconteceria pela manhã ou em qualquer outro dia, horário e lugar. Foi uma fatalidade!
— Se não fosse por minha culpa e teimosia, você não estaria naquele carro. Nós não estaríamos naquele carro. — Continuei me desvencilhando do seu toque. — Você me pediu tantas vezes para viajar pela manhã, que não precisávamos sair correndo do último show da turnê para pegar aquele avião. Que não se importava que o nosso dia 27 fosse comemorado dentro do voo, você só queria que estivéssemos juntos, não importava o lugar. Só precisávamos um do outro.
''Também concordava com isso, mas mesmo assim eu não ouvi você, e a convenci de sair na madrugada, porque queria que amanhecemos em Veneza, porque tinha a porcaria do dia todo programado.
Foi tudo tão rápido, num segundo eu beijei você e no outro, nós estávamos presos nas ferragens, e você estava com a cabeça coberta de sangue… achei que você estivesse morta. Achei que tinha perdido você. Depois veio o hospital e o coma.
Passou tanta coisa pela minha cabeça naquela semana, pensei que acordaria em um ou dois dias, depois achei que dormiria para sempre, então fiz a única coisa que jamais fiz na vida, eu rezei. Rezei para qualquer ser sobrenatural que exista que trouxesse você de volta. Então você acordou, mas não sabia quem eu era. O Edward Cullen cantor, sim, mas não o Edward seu marido.
Eu perdi você duas vezes em uma semana e isso me destruiu. Tentei acreditar que você lembraria, mas percebi que não se sentia pertencente a nossa casa, ao meu lado, então eu esperei, o dia em que você partiria. E você quebrou meu coração quando se foi e a odiei por isso.
Depois da raiva, do ressentimento, entendi que você precisava se afastar para se reconectar consigo mesma e tentei seguir com a vida sem a sua presença. Mas de algum jeito aquele cachorro safado achou você por mim, e foi como respirar ar puro depois de anos no subsolo. Então não me diga que: será melhor para nós dois ficarmos separados. Porque não vai.''
— Edward… — Sei o que ela está fazendo, e não vou passar por isso de novo.
— Olhe nos meus olhos, Bella, e diga que você não me quer. Que não sente nada por mim.
— Edward, por favor, não torne as coisas mais difíceis — pediu, cobrindo o rosto com as mãos.
— Deixa eu ver se entendi direito, você quer fugir porque não quer admitir para si mesma que me quer? Por que tem medo do que sente e não sabe lidar com esse sentimento?
Deixei que a pergunta ficasse entre nós e sem conseguir ficar longe, me aproximo, afastando delicadamente suas mãos do seu rosto.
— Diga, olhando nos meus olhos que não me quer na sua vida e eu sumo dela para sempre.
Ela não quebrou o contato visual. Vejo tantas dúvidas desnecessárias nesses olhos. Por que lutar tanto com algo que está bem na sua frente? Engraçado. Ela não consegue se lembrar de nada do nosso passado, mas está fazendo a mesma coisa de quando a pedi em namoro.
— Diga. — Beijo sua testa.
— Não posso…não…
— Diga e eu deixo você em paz.
Segurei seu rosto com as mãos, e limpei as lágrimas que começavam a cair. E a abracei apertado, a permitindo chorar o quanto fosse necessário.
— Você está certo, eu tenho medo, Edward. E não sei lidar com o que sinto por você, porque nunca senti isso antes — começou, com a voz embargada — Não sei o quanto mudei, e se você não gostar de quem eu sou agora? Se você não conseguir esquecer a pessoa que eu fui um dia? E se eu estiver tão quebrada que não consiga amar você com a mesma intensidade que vejo em seus olhos? E se eu machucar você ainda mais agora?
Senti suas lágrimas voltarem e a abracei mais forte.
— Sabe o que não mudou? A sua bondade. Você é boa, Bella, sempre foi e sempre vai ser. Essa é uma das características que mais amo em você. — Levantei seu rosto com o dedo, fazendo-a olhar para mim. — Não me importo de ser machucado por você. — Ela balança a cabeça em negativa, pronta para retrucar. — Bella, você não percebe que eu já conheço o seu eu de agora? Você fala como se tivesse se transformado em uma pessoa totalmente diferente, mas são apenas pequenas mudanças e elas não alteram a sua essência, quem você é Bella. E eu amo você. Deus! Parece que eu amo ainda mais do que antes.
— Mesmo assim…
— "O oposto do amor não é o ódio, mas o medo de amar, e medo de amar é medo de ser livre", Bella. — Repito a mesma frase que lhe disse há tantos anos de um filósofo brasileiro. — Espere aqui.
Pego o violão que deixei em cima da cama. A música sempre me ajudou a colocar o que não consigo com palavras soltas. É a forma que tenho de tentar fazê-la entender que só existe um caminho para nós.
— Você vai cantar? Isso é jogar muito baixo, sabia? — falou com leve irritação do sofá onde estava sentada agora. — E isso serve para você também bola de pelo. — Disse a Mike que estava com a cabeça em seu colo, como se soubesse o que deveria fazer para me ajudar.
Respiro fundo e deixo a música fazer o resto.
Querida, venha para casa
Eu ainda estou aqui
Por você
Eu ainda estou aqui
Você se lembra de cada momento?
De amor? De briga? De reconciliação?
Ou dos sonhos que sonhamos juntos?
Nós éramos tão jovens, tantos anos atrás.
O tempo pareceu parar e me vi de novo no quarto ao lado seu, na nossa casa, de quando nós vivíamos como dois estranhos. De quando fiz essa canção um dia antes dela partir.
Volte para casa
Não me importo se você não lembra
Vamos construir tudo de novo
Do começo, de novo, para sempre
Baby, eu me apaixonaria de novo por você
Me dê uma chance
Apenas uma
De fazer você me amar mais uma vez
Não tiro os olhos dos seus, cheios de lágrimas que ela não consegue conter e nem eu. Canto as últimas estrofes com toda a verdade que essas palavras significam, com todo o amor que sinto por ela.
Eu estou implorando
Me dê uma chance
Apenas uma
De fazer você me amar mais uma vez
Querida, por favor, volte para casa
Volte para mim
Volte para mim
Meu amor, por favor, volte para mim
— Edward…
— Você é a mulher da minha vida, da minha existência Bella. Nada do você me disser vai fazer isso mudar ou me fazer desistir de você. Apenas me deixe amá-la — implorei, ajoelhado aos seus pés. — Eu amo você.
Bella desliza pelo sofá deixando seu rosto na altura do meu, suas mãos nas minhas, olhos nos olhos, ela assentiu levemente e trouxe seus lábios aos meus. Um beijo com gosto de saudade, de paixão e amor. Suave até não conseguirmos mais segurar o desejo, a necessidade de mais contato. Seguro sua cintura e puxo seu corpo para mais perto, com ela puxando meu cabelo, aprofundando nosso beijo até o ar se fazer necessário.
— Eu amo você, Edward Cullen — disse, ofegante. Beijo sua testa, seus olhos, suas bochechas e sua boca. — Desesperadamente e incondicionalmente, eu amo você. E isso me assusta.
Solto uma gargalhada sincera e incontrolável com o déjà vu dessa frase, o que a irrita bastante.
— Pela primeira vez estou sendo sincera com você e você ri? O que tem de engraçado nisso Edward?
— Não é a primeira vez que você me diz isso, Bella. É engraçado pensar que você tem medo de relacionamento, de compromisso e mesmo assim, me fez, me faz — corrijo — o homem mais feliz do mundo.
— Afastei você da primeira vez?
— E ainda sim a convenci de se casar comigo. — Ri — Amar é ter medo, mas também é um ato de coragem. Eu amo você demais, Isabella Swan, mais do que eu consigo colocar em palavras. E quero ter medo e coragem com você.
A beijo novamente até sermos separados por Mike, uivando por causa de um raio. Não é só ela que tem medo deles.
— Esse edifício tem pára-raios né? — pergunta Bella, olhando para a janela, percebendo que começou a chover.
Abro um sorriso enorme e depois de levar um tapa por isso, a tranquilizo e a levo para o sofá, onde ficamos juntos, até ela pegar no sono e eu a levar para o quarto de hóspedes.
— Fique comigo. — Pediu, quando a coloquei na cama. — Fique e cante até eu esquecer que está caindo o mundo lá fora.
Obedeço, notando que já passa da meia noite. 27 de outubro é bastante presente na nossa história: a conheci, me casei, a perdi e a tive de volta nesta data. Alegrias e dores, tudo com a marca dos 27. Vamos começar de novo agora e espero que os futuros 27 não nos causem mais dores profundas, apenas felicidade e amor.
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27 de outubro de 2022 - New York, NY
Your Daily Gossip por Lady Kim
Depois da tempestade, vem o arco-íris.
Queridos leitores, vocês dormiram esta noite? Nossa amada New York sofreu com uma tempestade avassaladora na noite passada, mas não se preocupem. Já é hora do arco-íris!
No tantra hindu e budista, o arco-íris é descrito como um corpo de luz que emana vida, esperança, transformação e harmonia com o universo. Nada como uma boa chuva com raios e trovões para trazer esperança de dias melhores, não acham? Limpa, limpa, tudo universo.
Ontem, um certo casal foi visto aos beijos durante os primeiros minutos de chuva — uma cena digna de filme — na entrada do elegante Four Seasons Restaurant. Quem era o casal? Eu lhes digo, os atores da série New Moon: Edythe Collins e Beau Stewart!
Ah caro leitor, esta autora acordou de ótimo humor. O motivo? Não é emocionante um casal amado e com química para dar e vender finalmente se acertam na vida real? Eu digo que sim!
Pode ser apenas o meu lado romântico ou sensitivo - ou talvez os vários olhos que tenho espalhados pela cidade - mas acredito que o arco-íris irá nos trazer de volta mais um casal de pombinhos. E eu? Eu estarei aqui, caro leitor, lhe trazendo a informação em primeira mão.
xxxxxxxxxx
Fim.
Essa foi a minha primeira história então compreendo caso não esteja tão boa, mas foi muito divertido, desafiador e gostoso conta-la. Quem quiser saber o conteúdo completo da carta do Edward, é só chamar que eu mando!
Obrigada por ler até aqui! Até breve.
