Impressões e Lembranças
O jantar terminou. Sofie se levantou e caminhou até a mesa de Grifinória. Harry sentiu um frio na barriga, a bela garota ia exatamente em sua direção.
- Salut! - disse ela abrindo um sorriso para Harry e seus amigos - Viram para onde eu fui selecionada?
- Sim, Sofie, nós vimos. - respondeu Hermione. Harry ficou olhando para ela embasbacado - Que pena! Pensávamos que viria para Grifinória.
- Principalmente o Harry. - disse Jorge.
- Ele já até havia arrumado seu dormitório em Grifinória. - continuou Fred.
Harry e Sofie ficaram rubros de vergonha. Os gêmeos Weasley saíram rindo da mesa.
- Não ligue para meus irmãos, Sofie. - disse Rony - São assim o tempo todo. Indiscretos.
- E inconvenientes. - acrescentou Gina - Quando comecei a namorar Neville, eles quase nos enlouqueceram. Agora vão pegar no pé de vocês dois.
Harry e Sofie ficaram mais vermelhos ainda. Hermione percebeu e tentou mudar de assunto.
- O que achou de sua casa, Sofie? - como se ela já não soubesse a resposta.
- Os alunos me olharam de um modo estranho e aquele Malfoy é um tanto grosseiro, mas gostei muito. Eu me simpatizei com o directeur de maison.
- O quê? - exclamaram Hermione, Rony, Gina e Neville incrédulos ao que ouviram. Harry não, ele estava enfeitiçado pela beleza de Sofie e não ouvira o elogio a Snape.
Sofie achou que não havia falado direito. Talvez soltara um pouco demais o sotaque e repetiu alta e pausadamente.
- Gostei muito, me simpatizei com o diretor da casa.
Os Grifinórios se espantaram. Ela realmente havia dito aquilo e ainda continuou.
- Conversei com ele durante o fim da tarde, ele é muito amável e gentil.
Rony cutucou Harry que parecia em transe.
- Harry, ela disse que Snape é amável e gentil - Harry continuou sem ouvir, então Rony lhe deu um beliscão. Que o acordou. Ou quase.
- Sim! Achei-o mesmo muito gentil. - disse Harry e querendo agradar a garota mais ainda sem saber sobre o que falavam - Realmente Sofie, ele é muito gentil. - ela lhe deu um doce sorriso.
- Oh, céus! - exclamou Rony - Ele está apaixonado mesmo! - Harry arregalou os olhos e ficou roxo desta vez - Você acabou de chamar o Snape de gentil. - Harry se assustou mais ainda e pareceu cair em si.
- Ferraù! - alguém chamava Sofie, ela se virou e viu Malfoy - Além de tudo é surda. Não ouviu o que eu lhe disse na mesa? - ele se aproximou do ouvido dela e disse quase gritando - Sobre os Grifinórios!
Harry se enfureceu e se levantou.
- Afaste-se dela, Malfoy ou arranco sua cabeça fora! - ele gritou tão alto que todo o salão o escutou. As atenções se voltaram a mesa de Grifinória.
- Vocês e quantos mais, Potter? - gritou Malfoy de volta, encarando-o e batendo a mão na mesa.
- Monsieurs! - disse Sofie com calma e suavidade - Que comportement absurde. Somos todos colegas. Deveríamos nos respeitar.
Harry ficou envergonhado e Malfoy olhou para ela com cara de enfado.
- Venha, Ferraù! O professor Snape vai mostrar a você Sonserina. - Malfoy deu as costas aos Grifinórios e saiu.
- Bien! Até amanhã. - despediu-se Sofie - Pardon! - ela seguiu Malfoy que não trocou nenhuma palavra com ela até Sonserina.
Na porta de entrada da casa Malfoy disse a senha, a passagem se abriu e eles entraram. Sofie vislumbrou a Sala Comunal, e a achou interessante, as paredes eram rústicas, de pedra. As luzes pendiam do teto e eram presas em correntes que lembravam aquelas que os fantasmas (de histórias trouxas) arrastavam. As cadeiras tinham os mais altos espaldares que ela já vira e uma gostosa lareira crepitava ao fundo. Sofie percebeu que todos ali a observavam. Malfoy parou de andar e tornou a ela.
- Escute aqui garota, sei que sua mãe é bruxa, mas seu pai é realmente trouxa?
- Oui, Malfoy, ele é.
- Então aquele chapéu realmente enlouqueceu. O que ele quis dizer com "tal pai, tal filha", "o sangue falou mais alto e a linhagem é mantida"?
- Vraiment, Malfoy, não sei o que ele quis dizer. Achei que fosse comum ele falar tais coisas.
- Não, ele não fala! - retrucou Malfoy - Somente às vezes comenta algo, mas só para pessoas interessantes e de puro-sangue. - ele a olhou novamente com cara de nojo - Mas você? Uma sangue-ruim? É um absurdo...Ele... - Malfoy parou de falar, percebeu que a garota não lhe dava atenção e olhava sorrindo para alguém que se aproximava por trás dele.
- Senhorita Ferraù. - era Snape que chegava - Então nos dará o prazer de sua companhia. - Snape também lhe dava um sorriso, só que discreto.
- Fiquei muito contente, professeur, será um prazer poder fazer parte de Sonserina.
- Draco, como monitor-chefe de Sonserina já deve ter providenciado o dormitório da senhorita Ferraù. Não? - Malfoy gelou, é claro que ele não arrumara. Primeiro porque não sabia que ela iria para lá e segundo porque ficou de conversas no refeitório ao invés de fazê-lo logo.
- Irei providenciá-lo imediatamente professor. - e saiu para o lado dos dormitórios femininos. Snape indicou uma cadeira a Sofie para que ela se sentasse e sentou também.
- Não quis lhe dizer esta tarde, mas imaginei que não viria para cá. Geralmente só os bruxos puros-sangue vêm. Mas fico contente, observei que é muito habilidosa com o manuseio dos ingredientes, recebi suas notas de Beauxbatons, vi que são excelentes e é uma aluna exemplar. Será muito bem vinda a Sonserina.
- Merci, professeur Snape, farei de tudo para corresponder a suas expectativas, espero não decepcioná-lo. - respondeu Sofie no tom que estava habituada a falar com seu pai.
- Senhorita Ferraù, por que esse tom tão formal? Ainda a pouco rimos muito juntos e de nós mesmos. - Snape realmente gostara dela.
- Excuse. Realmente, às vezes pareço um robô, papa me educou assim. Mas prometo não tornar a fazê-lo. - ela relaxou e sorriu - Minhas bochechas ainda doem de tanto rir.
Snape lhe sorriu. Realmente ela era igualzinha àquela moça do passado, exceto pela altura, Sofie era muito mais alta, e os cabelos, os da moça de suas lembranças eram louros e cacheados.
- Professor Snape, - voltou dizendo Malfoy - arrumei o terceiro quarto à esquerda no dormitório feminino. Estava desocupado. - Snape se voltou a ele, mas quase não o olhou.
- Pequeno demais! - exclamou o professor, Malfoy deu a volta e Snape acrescentou - Não seja tão rápido, Draco. - o garoto bufou, ele ia ter que arrumar o quarto direito.
- Fiquei intrigado com o que o chapéu-seletor disse, senhorita. Sabe de algo a respeito?
- Non, professeur, Malfoy me perguntou a mesma coisa. Não sei lhe dizer sobre o que ele falava. Aliás, não entendi nada, meu pai é trouxa, então como é essa história de sangue e linhagem, direito de conquista e direito de nascença? Maman estudou em Beauxbatons e nunca esteve aqui.
- Bem, talvez ele tenha falado de algum ancestral seu que estudou aqui. Mas já que está aqui, estou contente. - Sofie sorriu encabulada. Ela também gostara do professor que lhe lembrava seu pai, mas Snape era de longe muito mais gentil e amável com ela. Eles ficaram conversando sobre o antigo colégio dela e sobre as restrições que seu pai fazia em relação a ela e a sua mãe.
- Ele não permite que maman e eu pronunciemos qualquer palavra mágica. Não podemos falar sobre nenhum bruxo ou acontecimento mágico. Maman mãe ignora tudo o que se passa comigo quando estou estudando, não podemos nos comunicar e ela sequer sabe quem me dá aulas. Ela não sabe nem quem é o Ministro da Magia. Eu até que tento contar as coisas a ela, mas meu pai vive grudado em mim e quando tem que se ausentar de casa e não pode me levar, deixa o motorista ou os outros empregados da casa nos vigiando. Não nos atrevemos a dizer nada e ela nem pode ler as edições do Profeta Diário.
- Como então, ele permitiu que estudasse magia?
- Maman o convenceu. Não sei bem como, mas depois de muita insistência ele concordou e aí eu entrei dois anos atrasada em Beauxbatons. Tive que estudar muito para compensar o tempo perdido, mas finalmente consegui. Só que para poder ingressar na escola de magia eu tive também que cumprir minha parte do trato.
- E qual era?
- Bem, ele me deixava estudar magia e "eu" estudaria o que mais ele quisesse. - ela falou com um tom de descontentamento.
- Pela sua expressão, não são coisas que lhe agradam.
- Na verdade eu gosto, mas é tanta coisa, música, canto, literatura erudita, idiomas. ("Estranho! - pensou Sofie - Não estou falando com sotaque com ele e nem me importo") Às vezes cansa ter que estudar tudo isso de uma só vez, parece que ele quer me eu me canse e desista da magia, o que eu não vou fazer nunca... e tem também o orgulho maior dele... Defesa Pessoal.
- O que é isso? - indagou Snape curioso.
- É como DCAT, mas não tem monstros ou magia. Defende-se usando os músculos e algumas táticas.
- Interessante, mas uma varinha talvez seja mais eficiente. - brincou Snape.
- De fato! Ele me fez aprender isso assim que minha mãe pediu para que a deixasse me ensinar magia. Ele recusou e disse que me ensinaria a me defender a maneira "normal", por que para ele ser trouxa é ser normal e ser bruxo é ser anormal. - ela disse rindo. - Eu tinha apenas cinco anos quando comecei a praticar, mas para minha sorte, depois ele permitiu que eu viesse estudar nos colégios.
- Mas do que a senhorita mais gosta? Dessas... matérias trouxas...
- Bem, o que, mais gosto... não é tão trouxa assim. Eu adoro cantar, maman diz que eu puxei a voz potente, porém suave de mon père. Embora eu não me lembre de ouvi-lo cantar muito. Maman mãe às vezes canta comigo, mas a voz dela é tão fraquinha que some perto da minha.Gosto também de farmácia, papa me levava ao laboratório dele desde pequena e me ensinava a fazer misturas, loções e remédios. Eu achava aquilo fascinante.
- Talvez por isso vá tão bem em Poções. - afirmou Snape. Sofie sorriu, pensou um pouco e disse:
- É estranho como o senhor e meu pai têm tantas coisas em comum, o tipo físico o timbre de voz, as aptidões. É uma coincidência e tanto, são parecidíssimos, maman tinha que ver isso.- Snape sorriu sem jeito, Sofie percebeu a gafe que cometera, provavelmente o professor era casado. - Bem, é... O senhor tem filhos? - ela tentou disfarçar.
- Não! Nunca me casei! Sempre tive outras prioridades, certa vez tive a oportunidade de me casar e montar uma família. Se eu tivesse tido algum filho, ele poderia ter a sua idade. - Sofie ficou mais envergonhada ainda e Snape ficou pensativo, sua vida poderia ter sido tão diferente se...
- Pronto! - era Malfoy - Arrumei o segundo quarto à direita. - Snape o mirou bem com seus negros olhos.
- Frio demais! - Malfoy se indignou, Snape lhe fez um sinal para que se aproximasse, ele se abaixou e o professor lhe disse algo que o fez arregalar os olhos e encarar Sofie com uma expressão de ódio - Algum problema, Draco?
- Não, senhor. Problema algum. - Malfoy foi para os dormitórios cabisbaixo.
- Não ligue para Draco senhorita, ele é um pouco esnobe, mas não lha fará mal algum.
- Professor, como nasci e fui criada na França, não conheço bem as expressões que utilizam aqui, não compreendi quando Malfoy me chamou de "sangue-ruim". - Snape se mexeu na cadeira.
- Ele lhe disse isso? Já era de se esperar, ele é como o pai, esnobe e orgulhoso de seu sangue-puro. - Snape se incomodou pelo insulto a Sofie - Sangue-ruim é uma expressão ofensiva para designar bruxos filhos de pais trouxas, ou mestiços, como a senhorita. Mas não se preocupe com ele, não a ofenderá mais.
- Obrigada, professor, mas não me ofendi.
- Mesmo assim o repreenderei, ele deve aprender a ter modos. - insistiu Snape - Especialmente diante de uma senhorita tão encantadora. - Sofie ruborizou.
Tornaram a conversar, ficaram lá por um bom tempo. Até que Malfoy finalmente voltou.
- Está pronto! - Malfoy disse entre os dentes - A bagagem da senhorita também foi colocada lá.
Snape sorriu satisfeito e se levantou.
- Deixarei que se acomode, vou me retirar, mas se precisar de qualquer coisa peça a Draco e ele providenciará. - disse Snape a Sofie, Draco bufou - Boa noite, senhorita Ferraù, boa noite Draco.
- Boa noite, professor. - disse Sofie sorrindo.
- Boa noite. - disse Malfoy indignado enquanto olhava para Sofie. Ele queria esganá-la, mas pelo que percebera Snape gostara dela e não poderia satisfazer seu impulso homicida. - Venha, Ferraù! - Malfoy subiu as escadas que levavam aos dormitórios e Sofie o seguiu. Havia três portas no final da escada, a da direita levava aos dormitórios femininos e a da esquerda aos dormitórios masculinos. E aquela porta no meio? Para onde levava?
- Seu dormitório é aqui! - Malfoy abriu a porta do meio e entrou, Sofie viu um grande e confortável quarto, entrou também, Malfoy olhou ao redor com cara de coitado e saiu batendo a porta.
Sofie ficou sozinha, olhou bem o quarto e o achou bom, era grande, espaçoso e estava bem arrumado.
- É realmente confortável! - exclamou ela e foi arrumar sua bagagem, guardou suas roupas, os utensílios e os livros de magia.
Sofie colocou tudo em ordem rapidamente, ela era muito organizada e separou tudo cuidadosamente, então olhou para a última e maior mala. Era a mala com os objetos trouxas, ela sozinha era maior que todas as outras malas de Sofie. Era incrível como seu pai arrumava coisas para ela estudar. Resignada foi até ela e a abriu, mas para sua surpresa não encontrou nenhum livro de poesia, nenhuma partitura, nenhum quimono. No lugar de suas coisas havia roupas de menino, livros de magia, doces, sacos cheios de coisas compradas em lojas de logros e um uniforme de Quadribol, ela olhou a etiqueta e viu a quem pertencia aquelas coisas.
- Harry Potter! - exclamou Sofie. Ela pegou uma das camisas e cheirou, ela saberia que era dele mesmo que não estivesse etiquetada, já reconhecia o cheiro dele. Ela ruborizou, havia mesmo se interessado por ele, gostara de seu jeito um pouco tímido, com os cabelos desarrumados, daqueles óculos redondos escondendo seus belos olhos, verdes com os dela. Sofie jamais havia olhado para um rapaz daquela maneira. Além de nunca se interessar por ninguém seu pai a proibira de namorar um bruxo. Ele queria escolher um marido para Sofie, em marido rico, influente e "normal".
Sofie se arrumou para dormir e deitou, pensou um pouco em Harry e em Snape. Ela de fato gostara muito dos dois e achou que se daria muito bem em Hogwarts. Logo adormeceu.
* * * * * * * * * * * * * * * * *
- Nossa, Harry, quantas coisas legais! Meu pai ia adorar tudo isso. - dizia Rony mexendo na mala de Sofie que fora enviada erroneamente para o dormitório de Harry - Para que serve isso? - ele tirou uma caixa preta com um ponteiro dourado da mala.
- Isso é para marcar o tempo, é para música, Rony. - explicou Hermione - Lê- se as partituras, toca-se ou canta-se de acordo com o tempo que ele marca.
- Lê-se isto? Como? Em algumas quase não há letras, algumas tem apenas traços, bolinhas e rabisquinhos esquisitos.
- É notação musical, Rony. Tem que estudar para aprender e não precisa ser trouxa para fazer isso, os bruxos também tocam música a partir dela.
- E isso? - Rony tirou uma grossa e branca roupa da mala.
- É um quimono, para lutas. Parece que a nossa nova amiga pratica artes marciais, mas ela parece ser tão frágil e delicada. - ponderou Hermione.
- Case son cambiate. Voci son`diverse. Era la mia... mia... O que é isso? Feitiço estranho! Para que serve?
- Não é feitiço, Rony. É um livro de poesia em italiano. Sofie conhece vários idiomas, veja só estes livros, estão todos em suas línguas originais. Italiano, Alemão, Latim...
- Que culta! - troçou Rony - Mas e aquele cabelo dela, hein? Igual ao do ... - Rony parou de falar, viu algo muito interessante - Olhe só, Harry! Um vidro cheio de feijões de todos os sabores. Quer um?
- Não são feijões de todos os sabores, Rony. São remédios e vitaminas, me dê, podem ser perigosos. Sofie disse que seu pai era fármaco, ele deve ter lhe dado isso. - Hermione olhou para Harry e o achou estranho - Harry, você está bem?
Harry parecia estar em transe estava deitado no chão olhando para a mala com as coisas de Sofie.
- Ele está bem sim, Mione. É apenas paixão aguda.
Harry ficou sem jeito, olhava para aquelas coisas e imaginava Sofie as usando. Gostaria de vê-la novamente. Mas teria que esperar até a manhã seguinte, ainda bem que o dia seguinte era sábado e não teriam aulas, assim teria o dia todo livre e poderia falar o quanto quisesse com Sofie.
* * * * * * * * * * * * * * * * *
Nas masmorras, Snape estava sentado, olhando para o fogo e lembrando da garota que conhecera há muito tempo atrás. Ela sempre gostara dele e ele, sempre apaixonado por Lílian, não lhe dava atenção, quanto mais amor. Quando se formaram e ele se deixou levar para o lado das trevas, ela estivera com ele, em todos os momentos, sempre ao seu lado, mais do que ele merecia e menos do que ela queria.
Quando Lílian e Tiago Potter se casaram ele se afundou mais e mais na escuridão e ela ia até ele todos os dias, tentando convencê-lo a mudar, a voltar à vida e a ficar com ela. Ele recusou e ela ficou com ele mesmo assim. Snape não conseguiu evitar a garota, ela era bonita, inteligente e o amava, então permitiu que ficasse.
Snape envolveu-se com ela mais do que devia. A garota lhe dava amor e ele lhe devolvia revolta, tristeza e rancor. Lembrou-se de quando tinha pesadelos horríveis e acordava apavorado durante a noite, ela estava lá do lado dele e o confortava. Ela fazia tudo por ele, tudo. Até mesmo não reclamava quando ele a chamava de Lílian nos momentos de intimidade. Devia tê-la afastado, não a amava, mas ela era sua amiga e não queria que nada de ruim lhe acontecesse. Seus "amigos" Comensais acharam que ela era um ponto fraco que o impedia de cumprir todas as suas obrigações para com seu mestre.
Um dia, voltando para casa, não a encontrou mais. Ele a procurou por toda parte, mas não conseguiu encontrar nenhum sinal de vida dela. Lúcio Malfoy contou a ele que ela fora morta. Entristeceu-se mais ainda, afundou-se totalmente nas trevas. Mas depois de algum tempo, o remorso por ter sido o causador da morte dela, mesmo que indiretamente, o fez se arrepender e ele voltou a luz com o coração partido e a consciência pesada.
Durante muito tempo ele se culpou pela morte dela. Pela morte de Verônica Owen. Ela poderia ter tido tudo na vida. Era de uma família rica, puro- sangue e era muito corajosa. Mas ela escolheu ficar com ele, escolheu ter uma vida simples e às vezes até difícil, pois seu pai não a ajudou quando ela deixou o lar e ainda tirou tudo o que tinha herdado de sua mãe. Ela dizia que não se importava com luxo ou conforto, desde que estivesse do lado dele, Severo Snape e mesmo sabendo que ele não a amava, apenas lhe queria bem.
Verônica arrumou um emprego em uma escola trouxa e passou a cuidar da casa e de Snape como se ela fosse realmente uma dona do lar e ele seu marido. Enquanto ela trabalhava e mantinha o sustento da casa, pois não admitia receber dinheiro vindo do Lord das Trevas, ele executava as ordens de seu mestre, Lord Voldemort. Ela nunca brigara com ele por isso, apenas tentava convencê-lo a deixar tudo aquilo. Ele recusou diversas vezes e ela apenas sorria e dizia que o amava mesmo assim.
- "Eu deveria tê-la afastado". - pensava Snape.
Ele sempre se acusava assim.
Mas hoje ele desejou que tivesse escolhido ficar com ela. Desejou que tivesse desistido antes ou que nunca tivesse ido para as trevas. Assim teria tido uma vida descente e quem sabe, feliz. Verônica era radiante, apesar de ser Sonserina, ela era como o sol, alegre, brilhante e calorosa. Snape sempre desejou tê-la afastado e agora desejava ter ficado com ela. Ele fora o primeiro homem da vida dela e ela a primeira mulher que se entregara a ele. Não era mais a falta do amor de Lílian que lhe doía no peito, era o amor que Verônica lhe dera, e ele, tolamente, não soube valorizar e corresponder.
- Na época fui tão estúpido! - exclamou Snape zangado consigo mesmo. Ele sentiu o coração apertar. Era remorso? Tristeza? Ou uma paixão tardia que começava a se formar? Aquela nova aluna o fizera se lembrar de Verônica, tão radiante, gentil e bonita. Os olhos das duas eram idênticos. Ele balançou a cabeça tentando afastar esses pensamentos.
O que ele menos queria agora era se apaixonar. Conseguira a cadeira de professor de Defesa Contra Artes das Trevas neste ano, a cadeira que ele sempre almejara e havia muito que fazer. Não podia se deixar levar por um sentimento desses por uma aluna. Ou será que era pela lembrança que a aluna lhe trazia?
Ele não se envolvera com mais nenhuma mulher depois de Verônica. Primeiro porquê ainda amou Lílian por mais algum tempo e depois porquê se sentia culpado pela morte da única mulher que o amara na vida. Snape deixou algumas lágrimas caírem de seus olhos e adormeceu.
O jantar terminou. Sofie se levantou e caminhou até a mesa de Grifinória. Harry sentiu um frio na barriga, a bela garota ia exatamente em sua direção.
- Salut! - disse ela abrindo um sorriso para Harry e seus amigos - Viram para onde eu fui selecionada?
- Sim, Sofie, nós vimos. - respondeu Hermione. Harry ficou olhando para ela embasbacado - Que pena! Pensávamos que viria para Grifinória.
- Principalmente o Harry. - disse Jorge.
- Ele já até havia arrumado seu dormitório em Grifinória. - continuou Fred.
Harry e Sofie ficaram rubros de vergonha. Os gêmeos Weasley saíram rindo da mesa.
- Não ligue para meus irmãos, Sofie. - disse Rony - São assim o tempo todo. Indiscretos.
- E inconvenientes. - acrescentou Gina - Quando comecei a namorar Neville, eles quase nos enlouqueceram. Agora vão pegar no pé de vocês dois.
Harry e Sofie ficaram mais vermelhos ainda. Hermione percebeu e tentou mudar de assunto.
- O que achou de sua casa, Sofie? - como se ela já não soubesse a resposta.
- Os alunos me olharam de um modo estranho e aquele Malfoy é um tanto grosseiro, mas gostei muito. Eu me simpatizei com o directeur de maison.
- O quê? - exclamaram Hermione, Rony, Gina e Neville incrédulos ao que ouviram. Harry não, ele estava enfeitiçado pela beleza de Sofie e não ouvira o elogio a Snape.
Sofie achou que não havia falado direito. Talvez soltara um pouco demais o sotaque e repetiu alta e pausadamente.
- Gostei muito, me simpatizei com o diretor da casa.
Os Grifinórios se espantaram. Ela realmente havia dito aquilo e ainda continuou.
- Conversei com ele durante o fim da tarde, ele é muito amável e gentil.
Rony cutucou Harry que parecia em transe.
- Harry, ela disse que Snape é amável e gentil - Harry continuou sem ouvir, então Rony lhe deu um beliscão. Que o acordou. Ou quase.
- Sim! Achei-o mesmo muito gentil. - disse Harry e querendo agradar a garota mais ainda sem saber sobre o que falavam - Realmente Sofie, ele é muito gentil. - ela lhe deu um doce sorriso.
- Oh, céus! - exclamou Rony - Ele está apaixonado mesmo! - Harry arregalou os olhos e ficou roxo desta vez - Você acabou de chamar o Snape de gentil. - Harry se assustou mais ainda e pareceu cair em si.
- Ferraù! - alguém chamava Sofie, ela se virou e viu Malfoy - Além de tudo é surda. Não ouviu o que eu lhe disse na mesa? - ele se aproximou do ouvido dela e disse quase gritando - Sobre os Grifinórios!
Harry se enfureceu e se levantou.
- Afaste-se dela, Malfoy ou arranco sua cabeça fora! - ele gritou tão alto que todo o salão o escutou. As atenções se voltaram a mesa de Grifinória.
- Vocês e quantos mais, Potter? - gritou Malfoy de volta, encarando-o e batendo a mão na mesa.
- Monsieurs! - disse Sofie com calma e suavidade - Que comportement absurde. Somos todos colegas. Deveríamos nos respeitar.
Harry ficou envergonhado e Malfoy olhou para ela com cara de enfado.
- Venha, Ferraù! O professor Snape vai mostrar a você Sonserina. - Malfoy deu as costas aos Grifinórios e saiu.
- Bien! Até amanhã. - despediu-se Sofie - Pardon! - ela seguiu Malfoy que não trocou nenhuma palavra com ela até Sonserina.
Na porta de entrada da casa Malfoy disse a senha, a passagem se abriu e eles entraram. Sofie vislumbrou a Sala Comunal, e a achou interessante, as paredes eram rústicas, de pedra. As luzes pendiam do teto e eram presas em correntes que lembravam aquelas que os fantasmas (de histórias trouxas) arrastavam. As cadeiras tinham os mais altos espaldares que ela já vira e uma gostosa lareira crepitava ao fundo. Sofie percebeu que todos ali a observavam. Malfoy parou de andar e tornou a ela.
- Escute aqui garota, sei que sua mãe é bruxa, mas seu pai é realmente trouxa?
- Oui, Malfoy, ele é.
- Então aquele chapéu realmente enlouqueceu. O que ele quis dizer com "tal pai, tal filha", "o sangue falou mais alto e a linhagem é mantida"?
- Vraiment, Malfoy, não sei o que ele quis dizer. Achei que fosse comum ele falar tais coisas.
- Não, ele não fala! - retrucou Malfoy - Somente às vezes comenta algo, mas só para pessoas interessantes e de puro-sangue. - ele a olhou novamente com cara de nojo - Mas você? Uma sangue-ruim? É um absurdo...Ele... - Malfoy parou de falar, percebeu que a garota não lhe dava atenção e olhava sorrindo para alguém que se aproximava por trás dele.
- Senhorita Ferraù. - era Snape que chegava - Então nos dará o prazer de sua companhia. - Snape também lhe dava um sorriso, só que discreto.
- Fiquei muito contente, professeur, será um prazer poder fazer parte de Sonserina.
- Draco, como monitor-chefe de Sonserina já deve ter providenciado o dormitório da senhorita Ferraù. Não? - Malfoy gelou, é claro que ele não arrumara. Primeiro porque não sabia que ela iria para lá e segundo porque ficou de conversas no refeitório ao invés de fazê-lo logo.
- Irei providenciá-lo imediatamente professor. - e saiu para o lado dos dormitórios femininos. Snape indicou uma cadeira a Sofie para que ela se sentasse e sentou também.
- Não quis lhe dizer esta tarde, mas imaginei que não viria para cá. Geralmente só os bruxos puros-sangue vêm. Mas fico contente, observei que é muito habilidosa com o manuseio dos ingredientes, recebi suas notas de Beauxbatons, vi que são excelentes e é uma aluna exemplar. Será muito bem vinda a Sonserina.
- Merci, professeur Snape, farei de tudo para corresponder a suas expectativas, espero não decepcioná-lo. - respondeu Sofie no tom que estava habituada a falar com seu pai.
- Senhorita Ferraù, por que esse tom tão formal? Ainda a pouco rimos muito juntos e de nós mesmos. - Snape realmente gostara dela.
- Excuse. Realmente, às vezes pareço um robô, papa me educou assim. Mas prometo não tornar a fazê-lo. - ela relaxou e sorriu - Minhas bochechas ainda doem de tanto rir.
Snape lhe sorriu. Realmente ela era igualzinha àquela moça do passado, exceto pela altura, Sofie era muito mais alta, e os cabelos, os da moça de suas lembranças eram louros e cacheados.
- Professor Snape, - voltou dizendo Malfoy - arrumei o terceiro quarto à esquerda no dormitório feminino. Estava desocupado. - Snape se voltou a ele, mas quase não o olhou.
- Pequeno demais! - exclamou o professor, Malfoy deu a volta e Snape acrescentou - Não seja tão rápido, Draco. - o garoto bufou, ele ia ter que arrumar o quarto direito.
- Fiquei intrigado com o que o chapéu-seletor disse, senhorita. Sabe de algo a respeito?
- Non, professeur, Malfoy me perguntou a mesma coisa. Não sei lhe dizer sobre o que ele falava. Aliás, não entendi nada, meu pai é trouxa, então como é essa história de sangue e linhagem, direito de conquista e direito de nascença? Maman estudou em Beauxbatons e nunca esteve aqui.
- Bem, talvez ele tenha falado de algum ancestral seu que estudou aqui. Mas já que está aqui, estou contente. - Sofie sorriu encabulada. Ela também gostara do professor que lhe lembrava seu pai, mas Snape era de longe muito mais gentil e amável com ela. Eles ficaram conversando sobre o antigo colégio dela e sobre as restrições que seu pai fazia em relação a ela e a sua mãe.
- Ele não permite que maman e eu pronunciemos qualquer palavra mágica. Não podemos falar sobre nenhum bruxo ou acontecimento mágico. Maman mãe ignora tudo o que se passa comigo quando estou estudando, não podemos nos comunicar e ela sequer sabe quem me dá aulas. Ela não sabe nem quem é o Ministro da Magia. Eu até que tento contar as coisas a ela, mas meu pai vive grudado em mim e quando tem que se ausentar de casa e não pode me levar, deixa o motorista ou os outros empregados da casa nos vigiando. Não nos atrevemos a dizer nada e ela nem pode ler as edições do Profeta Diário.
- Como então, ele permitiu que estudasse magia?
- Maman o convenceu. Não sei bem como, mas depois de muita insistência ele concordou e aí eu entrei dois anos atrasada em Beauxbatons. Tive que estudar muito para compensar o tempo perdido, mas finalmente consegui. Só que para poder ingressar na escola de magia eu tive também que cumprir minha parte do trato.
- E qual era?
- Bem, ele me deixava estudar magia e "eu" estudaria o que mais ele quisesse. - ela falou com um tom de descontentamento.
- Pela sua expressão, não são coisas que lhe agradam.
- Na verdade eu gosto, mas é tanta coisa, música, canto, literatura erudita, idiomas. ("Estranho! - pensou Sofie - Não estou falando com sotaque com ele e nem me importo") Às vezes cansa ter que estudar tudo isso de uma só vez, parece que ele quer me eu me canse e desista da magia, o que eu não vou fazer nunca... e tem também o orgulho maior dele... Defesa Pessoal.
- O que é isso? - indagou Snape curioso.
- É como DCAT, mas não tem monstros ou magia. Defende-se usando os músculos e algumas táticas.
- Interessante, mas uma varinha talvez seja mais eficiente. - brincou Snape.
- De fato! Ele me fez aprender isso assim que minha mãe pediu para que a deixasse me ensinar magia. Ele recusou e disse que me ensinaria a me defender a maneira "normal", por que para ele ser trouxa é ser normal e ser bruxo é ser anormal. - ela disse rindo. - Eu tinha apenas cinco anos quando comecei a praticar, mas para minha sorte, depois ele permitiu que eu viesse estudar nos colégios.
- Mas do que a senhorita mais gosta? Dessas... matérias trouxas...
- Bem, o que, mais gosto... não é tão trouxa assim. Eu adoro cantar, maman diz que eu puxei a voz potente, porém suave de mon père. Embora eu não me lembre de ouvi-lo cantar muito. Maman mãe às vezes canta comigo, mas a voz dela é tão fraquinha que some perto da minha.Gosto também de farmácia, papa me levava ao laboratório dele desde pequena e me ensinava a fazer misturas, loções e remédios. Eu achava aquilo fascinante.
- Talvez por isso vá tão bem em Poções. - afirmou Snape. Sofie sorriu, pensou um pouco e disse:
- É estranho como o senhor e meu pai têm tantas coisas em comum, o tipo físico o timbre de voz, as aptidões. É uma coincidência e tanto, são parecidíssimos, maman tinha que ver isso.- Snape sorriu sem jeito, Sofie percebeu a gafe que cometera, provavelmente o professor era casado. - Bem, é... O senhor tem filhos? - ela tentou disfarçar.
- Não! Nunca me casei! Sempre tive outras prioridades, certa vez tive a oportunidade de me casar e montar uma família. Se eu tivesse tido algum filho, ele poderia ter a sua idade. - Sofie ficou mais envergonhada ainda e Snape ficou pensativo, sua vida poderia ter sido tão diferente se...
- Pronto! - era Malfoy - Arrumei o segundo quarto à direita. - Snape o mirou bem com seus negros olhos.
- Frio demais! - Malfoy se indignou, Snape lhe fez um sinal para que se aproximasse, ele se abaixou e o professor lhe disse algo que o fez arregalar os olhos e encarar Sofie com uma expressão de ódio - Algum problema, Draco?
- Não, senhor. Problema algum. - Malfoy foi para os dormitórios cabisbaixo.
- Não ligue para Draco senhorita, ele é um pouco esnobe, mas não lha fará mal algum.
- Professor, como nasci e fui criada na França, não conheço bem as expressões que utilizam aqui, não compreendi quando Malfoy me chamou de "sangue-ruim". - Snape se mexeu na cadeira.
- Ele lhe disse isso? Já era de se esperar, ele é como o pai, esnobe e orgulhoso de seu sangue-puro. - Snape se incomodou pelo insulto a Sofie - Sangue-ruim é uma expressão ofensiva para designar bruxos filhos de pais trouxas, ou mestiços, como a senhorita. Mas não se preocupe com ele, não a ofenderá mais.
- Obrigada, professor, mas não me ofendi.
- Mesmo assim o repreenderei, ele deve aprender a ter modos. - insistiu Snape - Especialmente diante de uma senhorita tão encantadora. - Sofie ruborizou.
Tornaram a conversar, ficaram lá por um bom tempo. Até que Malfoy finalmente voltou.
- Está pronto! - Malfoy disse entre os dentes - A bagagem da senhorita também foi colocada lá.
Snape sorriu satisfeito e se levantou.
- Deixarei que se acomode, vou me retirar, mas se precisar de qualquer coisa peça a Draco e ele providenciará. - disse Snape a Sofie, Draco bufou - Boa noite, senhorita Ferraù, boa noite Draco.
- Boa noite, professor. - disse Sofie sorrindo.
- Boa noite. - disse Malfoy indignado enquanto olhava para Sofie. Ele queria esganá-la, mas pelo que percebera Snape gostara dela e não poderia satisfazer seu impulso homicida. - Venha, Ferraù! - Malfoy subiu as escadas que levavam aos dormitórios e Sofie o seguiu. Havia três portas no final da escada, a da direita levava aos dormitórios femininos e a da esquerda aos dormitórios masculinos. E aquela porta no meio? Para onde levava?
- Seu dormitório é aqui! - Malfoy abriu a porta do meio e entrou, Sofie viu um grande e confortável quarto, entrou também, Malfoy olhou ao redor com cara de coitado e saiu batendo a porta.
Sofie ficou sozinha, olhou bem o quarto e o achou bom, era grande, espaçoso e estava bem arrumado.
- É realmente confortável! - exclamou ela e foi arrumar sua bagagem, guardou suas roupas, os utensílios e os livros de magia.
Sofie colocou tudo em ordem rapidamente, ela era muito organizada e separou tudo cuidadosamente, então olhou para a última e maior mala. Era a mala com os objetos trouxas, ela sozinha era maior que todas as outras malas de Sofie. Era incrível como seu pai arrumava coisas para ela estudar. Resignada foi até ela e a abriu, mas para sua surpresa não encontrou nenhum livro de poesia, nenhuma partitura, nenhum quimono. No lugar de suas coisas havia roupas de menino, livros de magia, doces, sacos cheios de coisas compradas em lojas de logros e um uniforme de Quadribol, ela olhou a etiqueta e viu a quem pertencia aquelas coisas.
- Harry Potter! - exclamou Sofie. Ela pegou uma das camisas e cheirou, ela saberia que era dele mesmo que não estivesse etiquetada, já reconhecia o cheiro dele. Ela ruborizou, havia mesmo se interessado por ele, gostara de seu jeito um pouco tímido, com os cabelos desarrumados, daqueles óculos redondos escondendo seus belos olhos, verdes com os dela. Sofie jamais havia olhado para um rapaz daquela maneira. Além de nunca se interessar por ninguém seu pai a proibira de namorar um bruxo. Ele queria escolher um marido para Sofie, em marido rico, influente e "normal".
Sofie se arrumou para dormir e deitou, pensou um pouco em Harry e em Snape. Ela de fato gostara muito dos dois e achou que se daria muito bem em Hogwarts. Logo adormeceu.
* * * * * * * * * * * * * * * * *
- Nossa, Harry, quantas coisas legais! Meu pai ia adorar tudo isso. - dizia Rony mexendo na mala de Sofie que fora enviada erroneamente para o dormitório de Harry - Para que serve isso? - ele tirou uma caixa preta com um ponteiro dourado da mala.
- Isso é para marcar o tempo, é para música, Rony. - explicou Hermione - Lê- se as partituras, toca-se ou canta-se de acordo com o tempo que ele marca.
- Lê-se isto? Como? Em algumas quase não há letras, algumas tem apenas traços, bolinhas e rabisquinhos esquisitos.
- É notação musical, Rony. Tem que estudar para aprender e não precisa ser trouxa para fazer isso, os bruxos também tocam música a partir dela.
- E isso? - Rony tirou uma grossa e branca roupa da mala.
- É um quimono, para lutas. Parece que a nossa nova amiga pratica artes marciais, mas ela parece ser tão frágil e delicada. - ponderou Hermione.
- Case son cambiate. Voci son`diverse. Era la mia... mia... O que é isso? Feitiço estranho! Para que serve?
- Não é feitiço, Rony. É um livro de poesia em italiano. Sofie conhece vários idiomas, veja só estes livros, estão todos em suas línguas originais. Italiano, Alemão, Latim...
- Que culta! - troçou Rony - Mas e aquele cabelo dela, hein? Igual ao do ... - Rony parou de falar, viu algo muito interessante - Olhe só, Harry! Um vidro cheio de feijões de todos os sabores. Quer um?
- Não são feijões de todos os sabores, Rony. São remédios e vitaminas, me dê, podem ser perigosos. Sofie disse que seu pai era fármaco, ele deve ter lhe dado isso. - Hermione olhou para Harry e o achou estranho - Harry, você está bem?
Harry parecia estar em transe estava deitado no chão olhando para a mala com as coisas de Sofie.
- Ele está bem sim, Mione. É apenas paixão aguda.
Harry ficou sem jeito, olhava para aquelas coisas e imaginava Sofie as usando. Gostaria de vê-la novamente. Mas teria que esperar até a manhã seguinte, ainda bem que o dia seguinte era sábado e não teriam aulas, assim teria o dia todo livre e poderia falar o quanto quisesse com Sofie.
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Nas masmorras, Snape estava sentado, olhando para o fogo e lembrando da garota que conhecera há muito tempo atrás. Ela sempre gostara dele e ele, sempre apaixonado por Lílian, não lhe dava atenção, quanto mais amor. Quando se formaram e ele se deixou levar para o lado das trevas, ela estivera com ele, em todos os momentos, sempre ao seu lado, mais do que ele merecia e menos do que ela queria.
Quando Lílian e Tiago Potter se casaram ele se afundou mais e mais na escuridão e ela ia até ele todos os dias, tentando convencê-lo a mudar, a voltar à vida e a ficar com ela. Ele recusou e ela ficou com ele mesmo assim. Snape não conseguiu evitar a garota, ela era bonita, inteligente e o amava, então permitiu que ficasse.
Snape envolveu-se com ela mais do que devia. A garota lhe dava amor e ele lhe devolvia revolta, tristeza e rancor. Lembrou-se de quando tinha pesadelos horríveis e acordava apavorado durante a noite, ela estava lá do lado dele e o confortava. Ela fazia tudo por ele, tudo. Até mesmo não reclamava quando ele a chamava de Lílian nos momentos de intimidade. Devia tê-la afastado, não a amava, mas ela era sua amiga e não queria que nada de ruim lhe acontecesse. Seus "amigos" Comensais acharam que ela era um ponto fraco que o impedia de cumprir todas as suas obrigações para com seu mestre.
Um dia, voltando para casa, não a encontrou mais. Ele a procurou por toda parte, mas não conseguiu encontrar nenhum sinal de vida dela. Lúcio Malfoy contou a ele que ela fora morta. Entristeceu-se mais ainda, afundou-se totalmente nas trevas. Mas depois de algum tempo, o remorso por ter sido o causador da morte dela, mesmo que indiretamente, o fez se arrepender e ele voltou a luz com o coração partido e a consciência pesada.
Durante muito tempo ele se culpou pela morte dela. Pela morte de Verônica Owen. Ela poderia ter tido tudo na vida. Era de uma família rica, puro- sangue e era muito corajosa. Mas ela escolheu ficar com ele, escolheu ter uma vida simples e às vezes até difícil, pois seu pai não a ajudou quando ela deixou o lar e ainda tirou tudo o que tinha herdado de sua mãe. Ela dizia que não se importava com luxo ou conforto, desde que estivesse do lado dele, Severo Snape e mesmo sabendo que ele não a amava, apenas lhe queria bem.
Verônica arrumou um emprego em uma escola trouxa e passou a cuidar da casa e de Snape como se ela fosse realmente uma dona do lar e ele seu marido. Enquanto ela trabalhava e mantinha o sustento da casa, pois não admitia receber dinheiro vindo do Lord das Trevas, ele executava as ordens de seu mestre, Lord Voldemort. Ela nunca brigara com ele por isso, apenas tentava convencê-lo a deixar tudo aquilo. Ele recusou diversas vezes e ela apenas sorria e dizia que o amava mesmo assim.
- "Eu deveria tê-la afastado". - pensava Snape.
Ele sempre se acusava assim.
Mas hoje ele desejou que tivesse escolhido ficar com ela. Desejou que tivesse desistido antes ou que nunca tivesse ido para as trevas. Assim teria tido uma vida descente e quem sabe, feliz. Verônica era radiante, apesar de ser Sonserina, ela era como o sol, alegre, brilhante e calorosa. Snape sempre desejou tê-la afastado e agora desejava ter ficado com ela. Ele fora o primeiro homem da vida dela e ela a primeira mulher que se entregara a ele. Não era mais a falta do amor de Lílian que lhe doía no peito, era o amor que Verônica lhe dera, e ele, tolamente, não soube valorizar e corresponder.
- Na época fui tão estúpido! - exclamou Snape zangado consigo mesmo. Ele sentiu o coração apertar. Era remorso? Tristeza? Ou uma paixão tardia que começava a se formar? Aquela nova aluna o fizera se lembrar de Verônica, tão radiante, gentil e bonita. Os olhos das duas eram idênticos. Ele balançou a cabeça tentando afastar esses pensamentos.
O que ele menos queria agora era se apaixonar. Conseguira a cadeira de professor de Defesa Contra Artes das Trevas neste ano, a cadeira que ele sempre almejara e havia muito que fazer. Não podia se deixar levar por um sentimento desses por uma aluna. Ou será que era pela lembrança que a aluna lhe trazia?
Ele não se envolvera com mais nenhuma mulher depois de Verônica. Primeiro porquê ainda amou Lílian por mais algum tempo e depois porquê se sentia culpado pela morte da única mulher que o amara na vida. Snape deixou algumas lágrimas caírem de seus olhos e adormeceu.
